• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: MARCO TEÓRICO

3.1. CONFIGURAÇÃO DO CORPUS DE ANÁLISE

3.1.1. As revistas escolhidas: Carta capital e Veja

Segundo Carachesti e Abreu (2011) o principal compromisso do jornalismo é o de apurar, informar e divulgar fatos. Porém, é possível notar que um mesmo fato pode

ser ‘mostrado’ de diferentes modos. Isso se deve ao fato de que há a tão pregada ‘imparcialidade’, já que um mesmo acontecimento pode ser divulgado a partir de

diversos ângulos e com intenções e posicionamentos diferentes. Dessa forma, antes de um acontecimento tornar-se, de fato, uma notícia há todo um processo onde existem filtros que selecionam e modulam a informação. Esses filtros marcam a presença subjetiva da imprensa já que a própria escolha do que contar é relevante, e, mais ainda,

do ‘como contar’, que implica assertivamente a presença do jornalista-narrador.

Os autores reforçam que é a partir de um entendimento mais aprofundado da forma como a imprensa interpreta e divulga os fatos sociais, que haverá um entendimento também sobre as formas de poder que estão presentes na sociedade. Mostrou-se interessante para nós então, compreender como essas duas revistas tão difundidas divulgam, a partir de seus direcionamentos políticos contrários e linhas editoriais diferentes, as notícias sobre o papa, construindo imagens para sua figura bem como a para a da grande instituição que é Igreja Católica.

A relação entre mídia, cultura e poder está relacionada aos símbolos que constroem significados sociais, exercendo, inclusive, uma função política. Nesse sentido, o poder midiático consegue intervir no andamento dos acontecimentos sociais. Assim, Charaudeau (2012) corrobora também ao afirmar que, é a partir das escolhas subjetivas da mídia que ela irá atuar como formadora de opinião e influenciadora de massas. Porém, a opinião não é apenas uma formulação da mídia dada ao povo de forma totalmente pacífica. A formação da opinião perpassa pelos conhecimentos, crenças, apreciações e vivências dos indivíduos que por sua vez, não são de todo livres, já que se baseiam em imaginários compartilhados, como é o caso da justiça ou da honestidade, por exemplo.

Optamos nesse trabalho pelas revistas Veja e Carta Capital por possuírem posicionamentos políticos opostos e linhas editoriais diferentes, além de ambas serem bem representativas no Brasil e terem uma circulação bem significativa. A revista Veja

39

ao longo dos anos, se posicionou à esquerda em alguns momentos, porém, depois foi mudando seu posicionamento, sendo hoje uma revista de direita, ideologicamente falando. Isso se deu principalmente pelo fato de ela acompanhar e divulgar escândalos de corrupção ocorridos durante a atuação do PT (Partido dos Trabalhadores). A cobertura desses eventos fez com que ao longo desses anos, a revista fosse considerada, de fato, de direita. Já a revista Carta Capital é marcada por uma linha editorial assumidamente alinhada à esquerda política. Ela traz intelectuais de diversas áreas do conhecimento, mostrando-se nitidamente opinativa através de posicionamentos muitas vezes contrários aos das abordagens feitas pelas suas concorrentes. Outro aspecto bastante característico dessa revista é que ela se pauta mais na análise crítica do que na informação propriamente dita.

A título de contextualização, optamos por explorar um pouco mais a história de cada revista. A revista Veja, segundo Carachesti e Abreu (2011), foi fundada em 1968 por Roberto Civita e pelo jornalista italiano Mino Carta. No geral, as suas publicações são voltadas, principalmente, para assuntos políticos e econômicos. Segundo o próprio

site da revista: “VEJA é abrangente, cobrindo desde o mundo da política, economia,

internacional, até artes e cultura, com uma linguagem clara e atraente, gostosa de ser

lida”. Sobre a tiragem, e o público a revista diz:

“Juntas, as plataformas de VEJA contam com uma audiência de 12

milhões de pessoas. São 9,3 milhões de leitores na versão impressa, 150 mil na versão digital, 2,5 milhões de visitantes únicos no portal

Veja.com, 36 mil leitores no app VEJA Notícias, por semana”. (SITE

REVISTA VEJA, 2015).

Já em 1994 o jornalista Mino Carta (cofundador da revista Veja que fora demitido por questões de posicionamento político) funda a revista de circulação mensal nomeada Carta Capital. A proposta da revista feita pela editora Confiança foi trazer uma abordagem mais aprofundada e analítica, com um menor numero de páginas, diferente das semanais existentes no mercado, como IstoÉ e Veja. Segundo o próprio site da

revista: “A CARTA CAPITAL é considerada leitura obrigatória para todas as pessoas

que buscam não apenas informação exclusiva e qualificada, mas uma visão crítica dos acontecimentos da política, economia e cultura, no Brasil e no mundo”. Sobre o público alvo, as tiragens e as assinaturas:

“Hoje, CARTA CAPITAL conta com uma tiragem de 65 mil

exemplares semanais (...) atingindo uma audiência de mais de 230 mil leitores, de acordo com os dados dos Estudos Marplan/EGM. (...). O público leitor é altamente qualificado e gosta de conhecer a verdade

40

dos fatos e busca por pontos de vistas e opiniões diferenciados do mercado. Cidadão crítico que troca informações em seu ambiente de trabalho, inspirando-se na liberdade de expressão, transparência e

independência da revista”. (SITE REVISTA CARTA CAPITAL,

2015).

Vale acrescentar que a revista Veja desde 2009 passou a adotar também versões online e a publicar/ divulgar seu conteúdo nas redes sociais. Já a revista Carta Capital, ainda que já possuísse sua versão online há alguns anos, foi somente em 2013 que passou a investir mais em seu site e a utilizar-se das redes sociais como espaço de divulgação e local para retorno do conteúdo publicado.

Sendo assim, pretendemos analisar como vem sendo construídos os imaginários sociodiscursivos em torno da figura do Papa Francisco, especificamente através dessas mídias online e em suas respectivas redes sociais uma vez que comportam uma gama de notícias polêmicas e que chamam a atenção para esse novo líder da religião católica. A partir desse contexto, acreditamos ser esse corpus um eficiente instrumento de divulgação e visualização (multimídia) além de um veículo possuidor de credibilidade e legitimidade perante os leitores proporcionando, portanto, um campo fértil para análise.

3.1.2. As notícias selecionadas e as etapas para a definição do corpus

Para o propósito deste trabalho, foram escolhidas notícias das revistas Veja e Carta Capital publicadas nos seus sites e em suas páginas oficiais na rede social Facebook. A título de contextualização, vale lembrar que a página da revista Carta Capital conta hoje com mais de um milhão e meio de curtidas e a da revista Veja contabiliza mais de seis milhões de curtidas. Tendo em vista a vasta quantidade de

comentários optamos por utilizar a ferramenta “Principais comentários”- recurso do

próprio site Facebook que seleciona e prioriza os comentários mais debatidos e curtidos. Numa primeira coleta, selecionamos cerca de 500 notícias, porém como o número era visivelmente excessivo, estipulamos algumas categorias de seleção. O primeiro critério de escolha, que excluiu um grande número de notícias, foi selecionar

textos onde o termo ‘papa’ (ou algum referente como Francisco, sumo-pontífice, etc.)

estivesse presente no título ou no lead da notícia. O segundo critério se baseou na relevância dos assuntos e no agrupamento de temas.

Como o número ainda se mostrava bem alto, optamos pelo terceiro critério: excluir notícias onde a maior parte do conteúdo tratava-se de trechos de falas do papa, já que textos assim seriam mais apropriados para um estudo de ethos e não de imaginários

41 sociodiscursivos. Isso não implica, porém, que nas notícias selecionadas não haja momentos em que a voz do papa é trazida, no entanto, isso ocorre esporadicamente.

E por fim, o último critério aconteceu a partir da percepção de que muitas notícias, em especial do site da revista Veja, repetiam grande parte do conteúdo de notícias anteriores, acrescentando pouquíssimas informações novas. Dessa forma, priorizamos, dentre as notícias semelhantes, as mais completas e primeiras a serem publicadas. Terminamos a seleção com 152 notícias (33 da revista Carta Capital e 119 da revista Veja). É importante ressaltar que a discrepância do número de noticias entre as revistas se deve ao fato de a revista Carta Capital ter publicado em seu site (e nas redes sociais) um conteúdo essencialmente mais crítico sobre o Papa Francisco, através de artigos de opinião, editoriais, reportagens, etc. Assim, esses gêneros fugiriam ao gênero escolhido por nós: a notícia. O gráfico abaixo sintetiza a situação final do Corpus:

Gráfico 1- Total de notícias analisadas

3.1.3. As temáticas

O corpus dessa pesquisa, como dito anteriormente, foi separado por temáticas. Essas temáticas dizem respeito aos agrupamentos que fizemos das notícias coletadas. Os assuntos escolhidos foram cinco: 1) Primeiros momentos do papado; 2) A vinda do Papa ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude; 3) Homenagens, premiações e destaques; 4) O papa e a política; 5) Ações e mudanças realizadas pelo papa. O gráfico abaixo sintetiza o número de notícias por temática.

42 Gráfico 2- Quantidade de notícias por tema- Revista Carta Capital

Gráfico 3- Quantidade de notícias por tema- Revista Veja

Os gráficos acima nos permitem verificar que o tema predominante na revista Carta Capital, ou seja, aquele que traz mais notícias foi o tema 5, nomeado Ações e mudanças realizadas pelo papa. Já na revista Veja o tema que traz o maior número de notícias é o tema 3, que diz respeito à Vinda do papa ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude em julho de 2013.

3.2. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE: DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS