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4. EM RESUMO EM ANÁLISE

4.1 A Análise do Discurso como método

4.1 A Análise do Discurso como método

Toda análise de discurso é ―um processo que começa pelo próprio estabelecimento do corpus e que se organiza face à natureza do material e à pergunta (ponto de vista) que o organiza‖ (ORLANDI, 2015, p. 61). Pensando nisso, em que há certos caminhos a serem tomados para se analisar um texto, a pesquisa em questão se utilizará do método da Análise do Discurso de linha francesa43. A análise será feita em torno do problema de pesquisa, no caso, a intenção é mapear as marcas discursivas para saber quais são os sentidos presentes na seção Em resumo, da revista Pif Paf e que características de gêneros textuais e jornalísticos a seção apresenta. O que importa, segundo Benetti (2007), é localizar essas marcas, ressaltando as que representam o sentido de modo mais significativo. Depois disso (de identificar e reunir esses sentidos), se buscará, fora do texto analisado, outros discursos que passam por esse discurso, ou seja, outras teorias que expliquem a construção dessas formações ideológicas que influenciaram e determinaram as formações discursivas44 identificadas no texto:

Levando em conta o homem na sua história, considera os processos e as condições de produção da linguagem, pela análise da relação estabelecida pela língua com os sujeitos que a falam e as situações em que se produz o dizer. Desse modo, para encontrar as regularidades da linguagem em sua produção, o analista de discurso relaciona a linguagem à sua exterioridade (ORLANDI, 2015, p.14).

Pensando na questão de métodos na análise de sentidos em jornalismo, Benetti (2007) aponta duas camadas no texto. A primeira é a camada discursiva, a qual é mais visível. Já a segunda é a camada ideológica, visível apenas quando o método de análise é aplicado. Na presente análise, seguindo a lógica da autora, identificar-se-á, primeiramente, as formações discursivas. Isso fará com que haja uma limitação no campo da interpretação, será criado um sentido nuclear (BENETTI, 2007), para então, depois, partir-se para a análise exterior, já comentada no parágrafo anterior.

43 Os princípios da análise do discurso possuem dupla paternidade: de Michel Foucault, que, em 1969, abordou as questões do discurso na obra Arqueologia do saber, mas que não reivindicou um método ou disciplina de análise do discurso; e a de Michel Pêcheux, que no mesmo período instituiu a chamada ‗escola francesa de análise do discurso‘, ancorada no marxismo althusseriano, na psicanálise lacaniana e na linguística estrutural (MAINGUENEAU, 2008).

44 ―Consideramos que uma FD [Formação Discursiva] é uma espécie de região de sentidos, circunscrita por um limite interpretativo que exclui o que invalidaria aquele sentido [...]. Por isso conceitua-se uma formação discursiva como aquilo que pode e deve ser dito, em oposição ao que não pode e não deve ser dito‖ (BENETTI, 2007, p. 112, grifo da autora).

Nas oito publicações da seção Em resumo, serão identificadas por FDs as formações discursivas que delimitam a interpretação do analista. Cada núcleo de interpretação será nomeado por FD1, FD2, FD3, e assim por diante, bem como será indicado o sentido principal (determinado por uma configuração ideológica, a ―segunda camada‖) de cada uma. Exemplo: FD1 – liberdade. Independente da identificação das FDs que é um movimento de interpretação secundário na análise, primeiramente, as marcas discursivas observadas no texto verbal serão nomeadas como sequência discursiva (SD) e numeradas a partir da sequência cronológica dos textos publicados da seção. Assim, teremos SD1, SD2, SD3 etc. a partir da primeira publicação da seção Em resumo, sem reiniciar a contagem nas demais, ou seja, as SDs são nomeadas em continuidade de um texto para o outro (BENETTI, 2007).

Em consonância com o método apresentado por Benetti (2007), utilizaremos também, como base para pesquisa, as fases apontadas por Orlandi (2015) para a análise de discurso:

 A primeira etapa, que é o contato inicial com o texto, uma análise linguístico enunciativa, onde o analista começa a visualizar a configuração das formações discursivas que dominam a prática discursiva analisada. É neste momento em que o analista deve se desfazer da ilusão de que o dito só poderia ser dito daquela tal maneira45.

 A segunda é quando o analista procura relacionar as formações discursivas encontradas com a formação ideológica que conduz essas relações.

 E, por fim, a terceira, é onde temos o processo discursivo, com uma formação ideológica.

Resumindo: teremos a 1ª etapa, que é a passagem da superfície linguística (texto) para o objeto discursivo (formação discursiva); depois a 2ª, a qual se refere à transição desse objeto discursivo em processo discursivo. É na 3ª etapa, pois, que será vista a formação ideológica, dentro do processo discursivo.

É preciso visualizar a estrutura do texto, compreendendo que esta estrutura vem ‗de fora‘: o texto é decorrência de um movimento de forças que lhe é exterior e anterior. O texto é a parte visível ou material de um processo altamente complexo que inicia

em outro lugar: na sociedade, na cultura, na ideologia, no imaginário. (BENETTI,

2007, p. 111).

Por fim, teremos em mente que a Análise de Discurso não procura um sentido verdadeiro, pois nela está em jogo também a interpretação de quem analisa: ―O que se espera do dispositivo do analista é que ela lhe permita trabalhar não numa posição neutra mas que

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Segundo Michel Pêcheux (1997), há duas formas de esquecimento no discurso. Na forma aqui referida se trata do esquecimento da ordem da enunciação, quando ―esquecemos‖ que podemos falar de outra maneira. Isso nos dá a impressão da realidade do nosso pensamento.

seja relativizada em face da interpretação" (ORLANDI, 2015, p. 59) e que não há um método fechado: ―Cada material de análise exige que seu analista, de acordo com a questão que formula, mobilize conceitos que outro analista não mobilizaria, face a suas (outras) questões. Uma análise não é igual a outra [...]‖ (ORLANDI, 2015, p. 25). Visto isso, a análise contará também com a utilização de conceitos da linguística, como gêneros textuais e jornalísticos, pertinentes ao tema de pesquisa proposto.