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4.1 QUEM É O PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR?

5.2.3 Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

Lefevre e Lefevre (2006) propuseram o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) como alternativa de análise que possibilite considerar a opinião coletiva.

Os autores ainda esclarecem que

o pensamento, materialmente falando, isto é, como matéria significante, é um discurso, e sendo esse discurso um resultado previamente desconhecido (pela pesquisa empírica) a ser obtido indutivamente, tal pensamento apresenta-se, indubitavelmente, como uma variável qualitativa, ou seja, como um produto a

ser qualificado a posteriori, como output, pela pesquisa.

[...] pensamento coletivo, configura-se também como uma variável quantitativa, na medida em que tem de expressar as opiniões compartilhadas por um quantitativo de indivíduos, que configuram a coletividade pesquisada. [...] um dos desafios a ser superado para que o pensamento coletivo possa se auto- expressar [sic] por meio da pesquisa empírica, seria a constituição de um sujeito portador desse discurso coletivo (LEFEVRE; LEFEVRE, 2006, p. 01, grifos dos autores).

Portanto, mesmo sendo paradoxal por se apresentar na primeira pessoa do singular,

depoimentos coletados em pesquisas empíricas de opinião por meio de questões abertas, operações que redundam, ao final do processo, em depoimentos coletivos confeccionados com extratos de diferentes depoimentos individuais cada um desses depoimentos coletivos veiculando uma determinada e distinta

opinião ou posicionamento, sendo tais depoimentos redigidos na primeira pessoa do singular, com vistas a produzir, no receptor, o efeito de uma opinião coletiva, expressando-se, diretamente, como fato empírico, pela "boca" de um único sujeito de discurso (JODELET, 1989, apud LEFEVRE; LEFEVRE, 2006, p. 01, grifos dos autores).

Neste ponto, recorremos novamente a Dubar (2005), que pontua a recusa em distinguir a identidade social da coletiva.

Neste trabalho, optamos por utilizar a proposta do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFEVRE; LEFEVRE, 2006) com auxílio do software WebQDA® para o procedimento das análises.

Figueiredo, Chiari e Goulart (2013, p. 130) esclarecem que

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) é uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos, desenvolvido por Lefevre e Lefevre no fim da década de 90, e tem como fundamento a teoria da Representação Social. O DSC é um discurso-síntese elaborado com partes de discursos de sentido semelhante, por meio de procedimentos sistemáticos e padronizados.

O software WebQDA® oferece “apoio à análise qualitativa que funciona num ambiente colaborativo e que poderá ser utilizado quer por estudantes, como por docentes, investigadores/pesquisadores” (FREITAS et al., 2016, p. 109). Baseados em Neri-de- Souza, Costa e Moreira (2011), Freitas e colaboradores (2016, p. 109, grifos dos autores) informam que o “software permite as definições de ‘categorias’ codificadas e os seus respetivos conteúdos”. Ainda é importante salientar que

Outra grande vantagem do webQDA® em relação aos demais softwares de análise qualitativa, prende-se com a sua compatibilidade com diversos sistemas operativos, possibilitando assim o acesso aos projetos em qualquer computador com conexão à Internet, o que acaba por se traduzir em enorme proveito no que concerne à mobilidade, bem como a possibilidade de adicionar e trabalhar com arquivos armazenados na “Cloud” (FREITAS et al., 2016, p. 110, grifo dos autores).

Outra vantagem a ser considerada no uso é que o webQDA® é um software baseado na internet, o que não necessita de instalações e, por esta razão, já facilita seu uso. Ao elaborar o projeto de pesquisa, outro software havia sido testado e eleito para auxiliar a análise, mas problemas de funcionamento impediram a continuidade. Outros softwares foram testados, e o WebQDA® foi selecionado por ser baseado na internet, suportar diversos formatos de arquivo, além de contar com um manual que pode ser acessado no momento do uso, dentro do próprio sistema, direcionado ao campo que está sendo utilizado. Foi desenvolvido pela Universidade de Aveiro, em Portugal, em parceria com o

Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores - CIDTFF, da própria universidade, além das empresas Microio, Ludomedia e Ciberdid@ct15.

No site do software ainda é possível encontrar uma aba com publicações “sobre investigação qualitativa, entre os quais estão alguns estudos desenvolvidos sobre/com o webQDA”, agrupados pelos tipos artigos, livros, teses e dissertações, e por ano, desde 2012.

Contudo, ainda é mister destacar que, embora a pesquisa nas bases de dados realizada no capítulo 3 tenha perspectiva construtivista (LACERDA; ENSSLIN; ENSSLIN, 2011), ao longo do trabalho demonstramos inclinação histórico-dialética (MARTINS, 2001), de perspectiva marxiana, que compreendemos por meio de Saviani (2003, p. 1), quando alerta que “a questão da subjetividade se manifesta como indissociável da intersubjetividade” [...] [e que] “O problema da subjetividade cujo conceito será considerado, neste texto, como correlato da individualidade, é central no pensamento de Marx”. Emprestamos o termo utilizado por Cunha (2001), e recorrente em outros autores estudados para desenvolver este texto (MOURA, 2014; SILVA, 2016; ORSANO, 2016) ao afirmar que, estudando a professoralidade de docentes de um curso de Engenharia Civil poderíamos compreender como se constrói sua identidade, visto que o que fazemos reflete-se profundamente naquilo que somos, e que é imprescindível buscar na individualidade dos professores a reverberação de seu discurso, que passa a ser coletivo. Neste caminho, não há como realizar um trabalho consistente sem considerar o aspecto sócio-histórico.

Ousamos afirmar que, para este trabalho, apenas flertamos com a teoria marxiana, a despeito de inúmeras leituras realizadas para as disciplinas do programa de pós-graduação em Educação, pois a carga semântica de seus escritos é muito mais densa do que parece e, justamente por esta razão, tantos incorrem em uma interpretação equivocada de seus escritos. Por meio de outros estudiosos parece mais simples compreendê-lo, e evocamos Santos Neto (2014), que enfatiza a necessidade de conhecer o caráter histórico e processual da Educação, sua subsunção aos imperativos do capital e sua restrição à mera mercadoria. Por não nascer pronto e acabado, o homem “se constitui dialeticamente pela mediação com a natureza e com os demais seres humanos” (SANTOS NETO, 2014, p. 91), em um desenvolvimento lento e gradual, caracterizando a

incompletude, também, da Educação, em razão do contínuo processo de formação do homem. Percebemos, até o momento, a economização ou mercantilização da Educação, em um processo lento e gradual de ainda incompletude que necessita de reflexão para que possamos pleitear e subsidiar mudanças. Cada estudo é uma pequena centelha de luz que busca clarear o conhecimento e a Educação, e por meio deles podemos ousar afirmar que estamos, a cada passo, completando uma pequena parte de nós mesmos e contribuindo socialmente.

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Conforme explanado anteriormente, para estudar o bacharelado é necessário delimitar o campo de estudo e, por esta razão, escolhemos um curso de Engenharia Civil para representar a formação dos bacharéis. A amostragem da pesquisa ocorreu em uma universidade no Sul de Santa Catarina, que oferece o curso bacharel em Engenharia Civil em dois campi. Iniciamos nossa análise pelos questionários, buscando traçar um perfil dos professores para, posteriormente, conhecer sua identidade pois, para Dubar (2005, p. 139), ancorado em Laing (1961, p. 114), a “incorporação ativa da identidade pelos próprios indivíduos [...] só pode ser analisada no interior das trajetórias sociais pelas e nas quais os indivíduos ‘identidades para si’, que nada mais são que ‘a história que eles contam sobre quem são’”.