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IV. Análise e Problemática do Material Didático Elaborado por Docentes Chineses

1. Análise do Índice do Material Didático em Causa

Para o processo de ensino/aprendizagem, é indispensável a escolha/elaboração de materiais didáticos adequados, que envolve uma intensa negociação em relação à estruturação dos materiais, ao tipo de linguagem a ser empregada e aos conteúdos e competências que devem ser trabalhados com aprendentes de determinado nível.

Na SISU, usa-se a série de material didático “Curso de Português para Chineses”, elaborado pela autora desta tese em co-autoria com o colega Zhang Weiqi, destinado aos aprendentes do primeiro e do segundo ano de licenciatura.

A maioria dos textos contidos no material didático acima referido foram escolhidos pelos autores, principalmente na Internet (apresentações sobre países ou locais de interesse, anúncios, notícias, entrevistas, comentários, etc.), mas reescritos com um vocabulário mais adequado para o nível dos aprendentes e em torno das estruturas gramaticais que mais dificuldades levantam; ao mesmo tempo, tomaram-se em consideração temas que pudessem interessar os aprendentes, quer dizer, que estivessem intimamente ligados às realidades sociais e culturais de Portugal e da China. Os outros textos foram elaborados de propósito para o ensino de determinada noção da gramática, tomando-se igualmente em consideração temas e vocabulário adequados.

Figura 26: Parte do Índice do Material Didático em Análise

Depois de observar uma parte (7 lições) do índice do volume 1 do material em análise (C.f. Figura 26: Parte do Índice do Material Didático em Análise), pode notar-se que o índice indica o número de unidades, o título dos diálogos e/ou textos11, o léxico e a estrutura que cada unidade apresenta, e o(s) tópico(s) de gramática a estudar em cada

unidade. Não é difícil detetar que o índice, através do qual se vê a intenção da organização do material, dá muita ênfase à gramática e, sobretudo, ao emprego dos verbos e locuções.

É verdade que, do ponto de vista dos autores, o material didático em causa não segue uma orientação associada à noção de géneros de texto nem, mais genericamente, à perspectiva da Linguística do Texto, sendo o eixo do material centrado na gramática, especialmente no tempo e no modo dos verbos. De acordo com a lógica geral do ensino de PLE na China, ensina-se em primeiro lugar o presente do indicativo, depois o presente progressivo (do indicativo); segue-se o imperativo, o pretérito perfeito do indicativo e o pretérito imperfeito do indicativo. O conjuntivo só se ensina mais tarde, depois de os aprendentes dominarem de forma razoável os tempos do indicativo. Por um lado, é em torno da gramática que se escolheram e se elaboraram os textos e diálogos, assim como outras secções das unidades; por outro lado, também foram foco dos autores os temas, os quais, aliás, não estão apresentados no índice.

A partir do índice do volume 1 do material em análise, pode constatar-se que os temas estão relacionados com a vida quotidiana: vida pessoal, negócios (trabalhos), apresentação de instituições, estudo e lazer. São temas diversificados, no entanto, também se verifica alguma repetição de temas, como na Lição 14 e na Lição 15, embora esteja em causa o estudo de diferentes línguas.

Como referimos antes, a escolha dos textos tomou em consideração noções gramaticais, com base em textos encontrados na Internet, na sua maioria. Trata-se de uma questão de modificação, e muitas vezes de simplificação, dos textos originais, no caso dos aprendentes do nível elementar. A simplificação, ou o texto simplificado, de acordo com Petersen & Ostendorf (2007), é um recurso frequentemente usado no ensino bilingue e em outros contextos de aprendizagem de línguas. Simensen (1987) apresenta 3 objetivos para a simplificação de textos: a) ilustrar uma característica específica de língua, como o uso de modos; b) modificar a quantidade de novo input lexical fornecido aos aprendentes; c) controlar o input proposicional, ou uma combinação disso.

Para além da simplificação de textos, os autores do material didático em análise (de que faz parte a autora do presente trabalho) elaboraram alguns textos artificiais com o

objetivo de melhor corresponder às noções gramaticais trabalhadas nas lições em causa. Para além destes aspetos, importa saber: o material didático em causa apresenta uma sequência lógica para dar a conhecer os géneros textuais e os parâmetros de textualidade, noções importantes para a compreensão e a produção de textos no processo de ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira? Para observar mais detalhadamente esta questão, podemos ir além do índice do livro, para ver os principais géneros textuais que poderiam ser ensinados, em função do texto de cada lição, que é composto por um diálogo e um texto. Mas vamos tomar só os textos como alvo de análise porque se trata de produção escrita. Pelo mesmo motivo, também só vamos associar um género textual principal a cada texto, embora em alguns dos casos possa estar envolvido mais de um género textual.

LIÇÃO TEXTO GÉNERO(S)

TEXTUAL(IS)

10 TEXTO

A minha filha Ana

- Narrativa literária 11 TEXTO Estou a pensar - Narrativa literária 12 TEXTO Um cliente importantíssimo - Notícia 13 TEXTO

Não perca a oportunidade

- Anúncio

14 TEXTO

Aprenda chinês

- Anúncio

15 TEXTO

Aprender português em Portugal

- Notícia (?) /História do dia- a-dia (?)

16 TEXTO

Nos tempos livres

- Notícia (?) /Comentário (?)

Quadro 2: Textos e respetivos géneros textuais da parte das lições do material “Curso de Português para Chineses 1”

A partir do quadro precedente, pode-se verificar que existe uma repetição de géneros textuais, como o caso das lições 10 e 11. E, mais importante ainda, nota-se que há dúvidas no que diz respeito aos géneros textuais, como é o caso das lições 15 e 16.

das lições, quer dizer, a gramática é considerada como uma questão isolada e não se interliga com outros elementos importantes para o funcionamento dos textos, como os géneros textuais, por exemplo.