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V. Propostas no Âmbito da Linguística do Texto para Melhoria dos Problemas

7. Sobre os Autores de Materiais Didáticos

7.1. Quadros de Referência

Para a elaboração de materiais didáticos, podemos tomar em consideração a orientação do “Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas – Aprendizagem, Ensino, Avaliação (QECR)”, assim como o “Quadro de Referência para o Ensino Português no Estrangeiro (QuaREPE)”, os quais constituem documentos orientadores para o ensino de línguas no espaço europeu.

Em relação ao primeiro caso, destaca-se: “O seu verdadeiro papel é encorajar todos aqueles que estão envolvidos como parceiros no processo de ensino/aprendizagem de línguas a enunciar o mais explícita e claramente possível as suas bases teóricas e os seus procedimentos práticos.” (Conselho da Europa, 2001: 41)

O segundo, sobre o ensino de PLE, embora também não exatamente destinado ao caso concreto nosso da China, ou melhor, ainda não enquadrado muito bem para o contexto chinês:

“Tal como o QECR, o QuaREPE fornece uma base comum para a elaboração de programas, definição de linhas de orientação curriculares, construção de materiais pedagógico-didácticos e de instrumentos de avaliação, explicitando objectivos, sugerindo conteúdos, mostrando-se flexível em relação aos métodos, reforçando a transparência para todos os utilizadores do QuaREPE, designadamente em relação aos cursos, programas e qualificações, promovendo a cooperação entre sistemas educativos e intervenientes no próprio processo de formação. Esta promoção visa a rentabilidade dos cursos do EPE, através do seu reconhecimento e acreditação junto dos outros sistemas educativos a fim de a aprendizagem da língua portuguesa ser considerada significativa nos percursos escolares dos alunos”. (Grosso, 2011: 7)

Conforme afirmado nesse segundo documento orientador (2011: 10), os seguintes grupos podem ser considerados como potenciais utilizadores:

• professores;

• organizadores de cursos; • conceptores de currículos;

• autores de materiais pedagógicos; • examinadores;

• encarregados de educação;

• autoridades educativas (locais, regionais e nacionais) dos sistemas educativos dos países onde existe oferta do EPE”.

Sendo professores, organizadores do Curso de Português da SISU e autores de materiais pedagógicos, a autora do presente trabalho e o colega que participou na elaboração do material didático em análise satisfazem os requisitos para os potenciais utilizadores do QuaREPE, como acima referido, e portanto, poderíamos utilizá-lo como referência na altura de elaboração do nosso material didático.

Por isso, antes de começar a elaboração dos materiais didáticos, poderíamos estabelecer os níveis de língua portuguesa, que poderiam incluir os conteúdos gramaticais, o campo lexical, os géneros textuais, os níveis de proficiência, entre outros elementos, a alcançar para cada nível de aprendentes. Com essa orientação, seria mais fácil escolher textos adequados para o respetivo nível.

Conforme afirma Bromberg (2007), um material didático dinâmico, composto de diferentes materiais de estudo e seguindo os parâmetros modernos de alta motivação e tecnologia, permite a construção do conhecimento a partir da experiência, algo nem sempre possível no momento das aulas. Dessa forma, a aprendizagem transcende o espaço da classe e da própria escola. Por outro lado, o material didático elaborado por professores que atuam diretamente em sala de aula permite que exerçam sua própria criatividade e individualidade. É por isso que insistimos que os docentes devem elaborar os materiais didáticos.

Como o ensino é mais vivo do que um material e o nosso objetivo é ensinar línguas vivas, em certo sentido, somos mais professores do que autores de materiais didáticos. Em relação ao professor, “o professor Twadell, de Brown University, requer da parte do professor de línguas vivas: ser um bom modelo, um bom juiz e um bom animador” (Girard, 1997: 159). Também sobre a formação ideal dos professores, a UNESCO definiu alguns critérios (apud. Girard, 1997: 160-161): excelente domínio da língua ensinada, bom conhecimento linguístico (científico) dos traços característicos da língua ensinada, passada e presente e capacidade de pôr estes conhecimentos em prática na aula, conhecimento profundo da literatura e da civilização do país estrangeiro, introdução à psicopedagogia e aos problemas teóricos e práticos do ensino, em especial aos métodos e técnicas do ensino de uma língua estrangeira e à utilização de auxiliares audio-visuais. É evidente que um professor, para chegar ao nível ideal estabelecido,

precisa de participar constantemente em diferentes tipos de formação. É um processo contínuo.

No ensino tradicional de chinês, encontra-se o monopólio da gramática, para além da importância de que se reveste a forma de escrita dos caracteres, dá-se sobretudo ênfase à formação das palavras e à organização das frases, entre outros elementos gramaticais. E para isso, têm de se memorizar as regras. Isso também acontece ao ensino de Inglês e de outras línguas estrangeiras, incluindo o de PLE. Não queremos dizer que não se precisa da gramática no processo de ensino. Não há línguas sem gramática e não há textos sem gramática. O problema é que a gramática não constitui condição suficiente para organizar um texto, que não resulta de uma simples junção de palavras ou de frases, ainda que gramaticalmente estruturadas. Simplesmente dito, para um aprendente chinês de PLE, é possível perceber o sentido de todas as palavras de uma frase em português, mas nem é sempre possível para o mesmo perceber o sentido da frase por falta do contexto. Por isso, precisa-se da elaboração/escolha de textos adequados para uma situação de interação, que seja fácil de compreender por parte ds aprendentes chineses, além de cumprir as normas gramaticais.

A análise de textos poderá, certamente, ajudar a identificar as diferenças linguísticas e culturais entre as duas línguas, para dar a conhecer eventualmente a importância da noção de texto na escolha/elaboração de materiais didáticos para o ensino/a aprendizagem.

Na perspetiva dos géneros, as formas gramaticais poderão ganhar o seu carácter funcional, uma vez que podem ser exploradas de acordo com as particularidades de cada género. O estudo dos géneros textuais poderá permitir perceber como a elaboração e a compreensão de um texto resultam da conjunção de fatores internos à língua e de fatores externos a ela, ou seja, de uma situação social que envolva uma prática de linguagem.

VI. Propostas no Âmbito da Linguística do Texto para Aperfeiçar o Ensino de