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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 ANÁLISE DO CICLO DE VIDA

A análise do ciclo de vida (ACV) é uma metodologia para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias-primas elementares que entram no sistema produtivo à disposição do produto final, como mostrado na Figura 2.16.

Figura 2.16 – Ciclo de Vida de um Produto

Logo, pode-se dizer que a ACV é uma ferramenta técnica que pode ser utilizada utilizada em uma grande variedade de propósitos. As informações coletadas na ACV e os resultados da suas análises e interpretações podem ser úteis para tomadas de decisão, na

seleção de indicadores ambientais relevantes para avaliação do desempenho de projetos ou reprojeto de produtos ou processos. A ACV ajuda ainda:

- Identificar oportunidades de melhoramentos dos aspectos ambientais considerando as várias fases de um sistema de produção,

- Tomada de decisão, por exemplo, no estabelecimento de prioridades ou durante o projeto de produtos e processos, podendo levar à conclusão de que a questão ambiental mais importante para uma determinada empresa pode estar relacionada ao uso de seu produto, e não às suas matérias-primas ou ao processo produtivo.

2.3.1 Fases da ACV

A ISO 14040 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2006) estabelece que a Análise do Ciclo de Vida de Produtos deve incluir a definição do objetivo e do escopo do trabalho, uma análise do inventário, uma avaliação de impacto e a interpretação dos resultados, como mostrado na Figura 2.17.

Fases da ACV Objetivo e Escopo Análise do Inventário Avaliação de Impacto Interpretação - Propósito - Escopo (limites) - Unidade funcional - Definição dos requisitos de qualidade - Entrada + saída - Coleta de dados - Aquisição de matérias-primas e energia - Manufatura - Transportes - Classificação - Caracterização - Valoração - Identificação dos principais problemas - Avaliação - Análise de sensibilidade - Conclusões

Figura 2.17 – Fases da Análise do Ciclo de Vida (Adaptada de Chehebe, 2002)

2.3.2 Definição do Objetivo e do Escopo

A INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (2006) preconiza que na fase de definição dos objetivos seja esclarecida de forma clara e inequívoca a utilização que se pretende dar aos resultados do estudo, a que tipo de audiência se destina e o processo de revisão crítica que se pretende adotar. De forma geral, o conteúdo do escopo de

um estudo de ACV deve apresentar: onde iniciar e concluir o estudo do ciclo de vida (limites do sistema), quantos e quais subsistemas incluir, e o nível de detalhes do estudo.

Os limites da ACV são geralmente apresentados em fluxogramas que mostram a sequência principal do sistema de produto em estudo. A princípio o fluxograma deve começar na extração do material da natureza, quer seja uma etapa de mineração ou de agricultura e termina com as emissões e resíduos produzidos.

Porém, alguns fatores determinam os limites do sistema, são eles: as aplicações pretendidas do estudo, as hipóteses realizadas, os critérios de corte, as restrições de dados e de custo.

Outra etapa importante dentro do escopo de um estudo é estabelecer uma unidade funcional, que é a medida de desempenho das saídas funcionais do sistema de produto, com o objetivo de fornecer uma referência para a qual as entradas e saídas são relacionadas. A unidade funcional também deve ser mensurável e consistente com os objetivos e escopo do estudo.

2.3.3 Análise do Inventário do Ciclo de Vida

A análise de inventário é a fase de coleta e consiste na quantificação de todas as variáveis (matéria-prima, energia, transporte, emissões para o ar, efluentes, resíduos sólidos, etc) envolvidas durante o ciclo de vida de um produto, processo ou atividade.

De uma forma geral deve-se organizar a fase de análise do inventário de acordo com as seguintes atividades (Chehebe, 2002):

1 – Preparação para a coleta de dados: A preparação pode ser feita através da elaboração de fluxogramas específicos que mostrem todas as unidades de processo do estudo, incluindo suas inter-relações. Outra forma de auxiliar esta etapa é descrever detalhadamente cada unidade do processo e a lista das categorias de dados associados às mesmas, com também desenvolver um glossário que defina as unidades de medidas utilizadas.

2 – Coleta de dados: Esta é a etapa que mais consome tempo e recursos da ACV. Dados de boa qualidade podem algumas vezes somente ser obtidos através de medições locais, ou fontes de informações como: normas técnicas, estatísticas ambientais, literatura técnica, informação interna nas empresas, e banco de dados de Análise do Ciclo de Vida.

3 – Refinamento dos limites do sistema: Após a coleta de dados deve-se revisar todo o sistema relacionado ao produto, analisando e reavaliando os limites e os critérios de corte estipulados na fase de definição do objetivo e do escopo do estudo.

4 – Alocação: Normalmente os sistema de produto incluem múltiplos processos, alguns desses podem gerar mais de um produto, que são denominados de sub-produtos, logo há necessidade que o efeito ambiental seja alocado ao produto produto principal e aos co- produtos.

Entre os métodos de alocação existentes destacam-se (Soares, 2009):

Alocação por substituição (subtração): Neste método, tem-se por exemplo um sistema que realiza as funções A e B (sistema 1), considera-se então um novo sistema produzindo somente a função B (sistema 3). Os aspectos do inventário deste sistema são subtraídos do sistema 1 e o resultado comparado ao sistema 2 (que produz somente a função A), conforme está apresentado na Figura 2.18.

Figura 2.18 – Sistema de alocação por substituição (subtração) (Soares, 2009).

Alocação por substituição (adição): Neste método considera-se um novo sistema produzindo somente a função B (sistema 3). Os fatores de impacto deste sistema são adicionados ao sistema 2 e o resultado comparado ao sistema 1 (Figura 2.19).

Alocação por decomposição do sistema: neste caso existe dois tipos:

a) por propriedades físicas: Consiste em atribuir os fatores de impacto às diferentes funções oriundas do processo de acordo com uma propriedade física de referência (massa, conteúdo energético, equivalência química, exergia, densidade, etc.)

b) econômica: Semelhante ao caso anterior, onde a propriedade física é substituída pelo valor econômico da função.

2.3.4 Avaliação de Impacto

Algumas avaliações podem ser realizadas com base somente nos resultados obtidos na fase de inventário. No entanto, quando grandes diferenças nos vários parâmetros de impacto forem detectadas ou quando há necessidade de relacionar as intervenções ambientais aos problemas ambientais, a metodologia de avaliação de impacto pode ser de grande utilidade.

Atualmente há debates científicos em função das diferentes formas existentes para a realização de avaliações de impacto. No entanto, a INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (2006) fornece uma indicação dos elementos que podem constar nesta fase: