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CAPÍTULO 3 A EDUCAÇÃO NO GOVERNO DE FERNANDO HENRIQUE

3.4 Análise do colegiado da CES/CNE entre 1997 e 2002

Dentre os conselheiros escolhidos para a CES, passaram pelo colegiado no período do governo de FHC quatro membros natos, que eram secretários da educação superior: Abílio Afonso Baeta Neves, Antônio Macdowell de Figueiredo, Maria Helena Guimarães de Castro e Vanessa Guimarães Pinto. Dentre eles, o que permaneceu mais tempo no colegiado foi Abílio Afonso Baeta Neves: mais de três anos. Segundo seu currículo Lattes, ele fez doutorado em ciência política no exterior. Os outros três permaneceram menos de um ano, o que provavelmente se relaciona com seu tempo de permanência na função da Secretaria de Educação Superior do MEC. Destaque também para Antônio Macdowell de Figueiredo, com pós-doutorado no exterior na área de engenharia mecânica. A análise dos pareceres selecionados mostrou que apenas Abílio A. B. Neves redigiu um parecer juntamente com outro conselheiro, de modo que o trabalho de atendimento às demandas da sociedade civil se concentra nos conselheiros que a representam e não nos membros do governo. É importante ressaltar que não há uma lógica de pareceres por membro dentre os analisados, ou seja, os membros não se dividem para relatá-los por tema. Por isso, essa relação não foi estabelecida.

Além dos membros natos, passemos agora aos membros nomeados para o colegiado. Jacques Rocha Velloso, que fez pós-doutorado no exterior na área de educação, ficou apenas um mandato na CES, entre 1996 e 2000, e dentre os pareceres analisados ele foi o relator de 11 deles. Vilma de Mendonça Figueiredo, que também fez pós-doutorado no exterior, mas em sociologia, ficou menos de dois anos na CES, entre 2000 e 2001. Dentre os pareceres apresentados acima, ela relatou apenas dois. Tanto ela quanto Jacques Rocha Velloso eram provenientes da região centro-oeste, conforme dados informados pelo CNE. Os conselheiros que serão comentados a seguir eram todos advindos da região sudeste. O próximo conselheiro, José Arthur Gianotti, com pós- doutorado no exterior e livre-docência na USP em filosofia, permaneceu também por pouco tempo no colegiado: um ano e meio, relatando dois dentre os pareceres delimitados no governo FHC. Sua saída é atribuída por Silva (2005) às acusações ao CNE: “em agosto de 1997, o conselheiro Arthur Giannotti saiu da CES–CNE também

questionando a transparência dos processos de credenciamento e recredenciamento de instituições privadas de ensino” (SILVA, 2005, p.92).

Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras e que já foi conselheiro no CFE, ficou dois anos no Conselho, entre 1996 e 1998, cumprindo, conforme a Lei 9.131/1995, esse primeiro mandato mais curto para que pudesse haver alternância de metade do colegiado a cada dois anos. Nesse tempo, dos pareceres mencionados, ele relatou apenas dois. Hésio de Albuquerque Cordeiro, doutor em medicina pela USP, presidiu a CES entre 1998 e 1999 e assinou cinco resoluções, redigiu apenas um dos pareceres analisados, permanecendo também apenas os dois anos iniciais do CNE. Carlos Alberto Serpa de Oliveira, graduado em engenharia industrial e metalúrgica, foi um dos que permaneceu por mais tempo no governo FHC: ele foi nomeado para o primeiro mandato de dois anos e, em seguida, foi reeleito por mais quatro anos, redigindo nesses entre 1996 e 2002 doze dos pareceres apresentados.

A conselheira Myriam Krasilchik, doutora e livre-docente em educação na USP, permaneceu também nos dois anos iniciais da CES (1996-1998), mas não foi autora de nenhum dos pareceres analisados. Já Eunice Ribeiro Durham, também doutora e livre- docente pela USP em antropologia, cumpriu quase três anos de mandato na CES, entre 1997 e 2001, relatando sete dos pareceres mencionados. No início do governo FHC, com a polêmica da proposta de avaliação dos cursos, ela redigiu um artigo para a “Folha de São Paulo” defendendo a iniciativa:

Um dos problemas centrais do ensino superior é o da qualidade. A avaliação institucional que já está sendo feita é importante e necessária. Ela informa sobre a qualificação do corpo docente, a relação entre número de estudantes e professores, a adequação das instalações e dos equipamentos (prédios, salas de aula, laboratórios, bibliotecas).

[...]

O exame nacional de final de curso é a forma mais eficaz de se fazer essa avaliação. Ele se destina a avaliar os cursos e as instituições, não os alunos. Os resultados permitirão recredenciar boas instituições, exigir melhorias das medíocres e fechar as que cometem estelionato educacional (FOLHA DE SÃO PAULO, 25/03/1995).

Portanto, é possível notar que ela já era favorável às políticas educacionais a serem implantadas pelo Ministro Paulo Renato Souza, o que influenciou na sua nomeação para a Câmara de Educação Superior. Tal relação expressa a proeminência dos interesses políticos do Executivo na escolha dos conselheiros, de modo a mantê-lo condicionado a suas perspectivas de governo. Além disso, consta em seu currículo Lattes que ela pertencia ao MEC no momento em que integrou ao CNE. Contudo, segundo Silva (2005, p.92), ela saiu da CES por causa do Decreto 3.860/2001:

Essa alteração implementada pelo governo, sem discussão prévia, em um contexto de inúmeras denúncias ao caráter cartorial do CNE,22 principalmente em relação ao ensino superior privado, desencadeou o pedido de exoneração, da Câmara de Educação Superior do CNE, de Eunice Durham. Ao deixar o Conselho, Durham afirmou, em entrevista à Folha de

S. Paulo (23 jul. 2001), que a modificação das funções da CES–CNE

“concentra demasiado poder na mão do ministério” e que a redução do poder do conselho contribui para diminuir a transparência dos processos de instituições privadas.

O conselheiro Yugo Okida, mestre em fonoaudiologia pela UNIFESP e docente da UNIP, também permaneceu por seis anos no colegiado, cumprindo o primeiro mandato de dois anos e um segundo por mais quatro anos, e foi o relator de nove dos pareceres selecionados. Por fim, dentre os conselheiros que foram nomeados e encerraram mandatos no governo FHC, Silke Weber era a única representante de outra região além da Sudeste e da Centro-Oeste. Pós-doutora no exterior em psicologia social e docente da Universidade Federal de Pernambuco, também pertenceu à Secretaria Estadual de Educação do estado e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSEd) além de ter cumprido dois mandatos na CES: o primeiro, de dois anos, e o segundo, de quatro anos, entre 1996 e 2002. Dentre os pareceres analisados, ela foi a que redigiu o maior número: assinou dezoito deles, demonstrando ser mais ativa na Câmara, talvez por já atuar na época em conselhos relacionados à educação.

Os próximos conselheiros a serem apresentados cumpriram seus mandatos tanto no governo FHC quanto no governo Lula, sendo todos nomeados. O primeiro deles, Francisco César de Sá Barreto, com doutorado em física no exterior, cumpriu apenas um mandato de quatro anos e assinou quatro dos pareceres analisados entre 1997 e 2002, sendo proveniente da região Sudeste. Jacques Schwartzman, mestre em economia regional pela UFMG, ficou menos de quatro anos na CES, entre 2001 e 2004, assinando apenas dois dos pareceres selecionados. Marília Ancona-Lopez, autora de três dos pareceres apresentados, com doutorado pela PUC/SP, cumpriu oito anos de mandato: de 2002 até 2010. Sua primeira nomeação ocorreu no governo FHC, mas ela foi escolhida novamente pelo presidente Lula para continuar no colegiado. A próxima conselheira, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, pós-doutora em educação no exterior, e docente da UFSCar, alega em seu curriculum Lattes ter sido indicada para o CNE pelo movimento negro. No entanto, esta entidade não está prevista em nenhuma lista elaborada pelo MEC, conforme apresentado no capítulo anterior. Ela cumpriu quatro anos de mandato, que se iniciou em 2002, no governo FHC, e terminou em 2006, no governo Lula, redigindo dois pareceres em 2002 dentre os analisados. Teresa Roserley

Neubauer da Silva, doutora em educação pela PUC/SP, cumpriu aproximadamente dois anos e meio de mandato, entre 2001 e 2004, sendo relatora também de dois pareceres.

O conselheiro Arthur Roquete de Macedo é o recordista de permanência na Câmara de Educação Superior: além dos oito anos de mandato cumpridos no período delimitado nessa pesquisa, iniciando em 1998 e encerrando em 2006, presidindo a CES entre 2001 e 2003 e assinando 30 resoluções, ele foi renomeado em 2010 para mais um período de quatro anos, encerrando-o em 2014. Assim, ele somará, se concluir regularmente este último mandato, doze anos de permanência no colegiado. O ex-reitor da UNESP relatou cinco dos pareceres delimitados até o final de 2002. Isso expressa uma falta de rotatividade dentro da CES, o que prejudica a representatividade da sociedade civil no órgão. Por ser um Conselho, em que não há a constituição de carreiras profissionais por não se tratar de uma função remunerada, essa permanência é contraditória e reduz a capacidade da CES de consolidar a participação.

O próximo conselheiro, Edson de Oliveira Nunes, também presidiu a CES entre 2004 e 2006 e redigiu dezesseis resoluções. Ele foi escolhido por FHC em por 2002 para mandato de quatro anos, que se encerraria em 2006, e foi renomeado por mais quatro anos, encerrando suas atividades no Conselho em 2010 e somando oito anos de permanência. No ano em que foi nomeado, 2002, relatou dois dos pareceres escolhidos. O conselheiro Éfrem de Aguiar Maranhão, que presidiu a CES entre 1996 e 1997 e por dois meses em 2004 e assinou treze resoluções, é o primeiro representante do período de transição que não é proveniente da região Sudeste, sendo originário de Pernambuco. Ele também escreveu, como Eunice R. Durham, um artigo para a “Folha de São Paulo” sobre a ideia de avaliação nacional dos cursos de graduação. Ele primeiramente elogia o Ministério da Educação sob comando de Paulo Renato Souza, para em seguida expor suas críticas ao projeto em relação a suas finalidades:

Avalia-se a qualificação do concluinte, registra-se o resultado no histórico escolar, porém seja este qual for, ainda que nulo, ser-lhe-á expedido o diploma, que lhe facultará o exercício da profissão. Avalia-se, através do aluno, o desempenho do curso e este "será considerado quando do recredenciamento".

E enquanto isto? Permanecerá o mau curso despejando maus profissionais? E quando do recredenciamento? Fechar-se-ão, se não tiverem atingido o padrão nacional, todos os cursos de determinado Estado, que os tem recentes e onde são uma necessidade estratégica?

Todas essas perplexidades evidenciam que a proposta do MEC se ressente de mais aprofundada discussão. Por isso pode-se antever as dificuldades de implementação que encontrará. Quem duvida que o concluinte recalcitrante obterá ordem judicial que o exima de submeter-se a uma prova declaradamente irrelevante para a expedição de seu diploma? E quem evitará que órgãos estudantis recomendem a seus filiados a desmoralização da

prova, entregando-a todos em branco? (FOLHA DE SÃO PAULO, 25/03/1995).

Embora ele tenha criticado a falta de consistência da proposta, ele foi nomeado duas vezes por FHC como membro da Câmara de Educação Superior, o que contradiz a ideia de proeminência de interesses políticos na escolha dos conselheiros. Doutor em medicina pela UNIFESP, Éfrem pertencia à Universidade Federal de Pernambuco, ao Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSEd) e ao Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), entidade que provavelmente o indicou, de acordo com as informações de seu currículo Lattes. Ele também permaneceu oito anos na CES, num primeiro mandato de 1996 a 2000 e num segundo de 2000 a 2004. Desse modo, ele foi estritamente escolhido pelo governo FHC, e nesse período redigiu quinze das resoluções escolhidas.

Assim como Éfrem de A. Maranhão, José Carlos Almeida da Silva também é proveniente da região Nordeste, do estado da Bahia. Ele fez graduação em química na Universidade Federal do Maranhão e relatou catorze dos pareceres selecionados. Ao todo, permaneceu oito anos no Conselho, iniciando seu mandato em 1996 e sendo reeleito em 2000, de modo que também não foi escolhido por Lula para integrar a Câmara. Roberto Cláudio Frota Bezerra também provinha da região Nordeste, do estado do Ceará. Mestre pela USP em estatística, pertencia a Universidade Federal do Ceará ao assumir o cargo de conselheiro. No período em que cumpriu seu mandato, de 1998 a 2006, relatou oito dos pareceres analisados e assinou quatro resoluções enquanto foi presidente da CES, entre 1999 e 2001. Por fim, o Lauro Ribas Zimmer foi o único nomeado no governo FHC da região Sul, tendo especialização em administração no exterior e doutorado honoris causa. Também permaneceu oito anos no Conselho, entre

1996 e 2004, sendo duas vezes nomeado por FHC para o cargo; assinou quinze das resoluções analisadas.

É possível notar que na composição da CES prevalecem duas características principais: docentes de instituições públicas e da região Sudeste. Além disso, houve pouca rotatividade nos conselheiros, o que prejudica a representatividade da sociedade civil. De acordo com essa categoria, a Câmara não consolida a participação da sociedade civil, pois os conselheiros não expressavam a pluralidade dessa sociedade. Por outro lado, a análise dos pareceres e resoluções mostrou as responsabilidades atribuídas aos representantes, que atenderam às diversas dúvidas de grupos, pessoas físicas e instituições e estabeleceram normas sobre o ensino superior.

CAPÍTULO 4 - A ATUAÇÃO DA CÂMARA DE EDUCAÇÃO