• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: DILEMAS, SOLUÇÕES E O

2.3 Síntese do Colegiado da Câmara de Educação Superior do CNE no período entre

2.3.3 Conselheiros da CES por tipo de instituição: pública/ privada

Esta categoria visa mostrar, de maneira sucinta, as instituições de origem dos 39 conselheiros, se são públicas ou privadas. No grupo “públicas” se enquadram as instituições de ensino superior mantidas pela federação, pelo estado ou pelo município, secretarias ou ministérios. No grupo “privadas” se incluem as instituições de ensino superior particulares ou comunitárias e associações da sociedade civil com ou sem fins lucrativos. Tal análise é significativa para averiguar se há pluralidade na composição da CES, ou seja, se os diferentes segmentos da sociedade civil são devidamente representados pelo colegiado, um dos pré-requisitos para consolidação da participação. Além disso, os dados são importantes para evidenciar a origem dos conselheiros, se eles realmente são oriundos dos grupos relacionados ao ensino superior do qual são encarregados de representarem. Esses dados foram obtidos, em sua maioria, por meio de informações disponíveis on line no Currículo Lattes dos conselheiros; apenas seis dos 39 não possuíam o cadastro eletrônico, de modo que as informações foram obtidas por outras fontes, mencionadas nas referências bibliográficas. A tabela a seguir mostra o número de conselheiros por instituição e por período de governo.

INSTITUIÇÃO/

GOVERNO FHC LULA TRANSIÇÃO

PÚBLICA 7 10 6

PRIVADA 4 3 4

AMBAS 3 1 1

39 14 14 11

Tabela 5 – conselheiros por instituição de origem.

É possível notar, a partir dos dados acima, que a maior parte dos conselheiros é proveniente de instituições públicas, sejam governamentais ou de ensino superior, sendo sete representantes no governo FHC, dez no governo Lula e seis no período de transição entre os governos. Isso não significa que os interesses dos grupos privados não tenham sido representados: foram quatro no governo FHC, três no governo Lula e quatro no período de transição, além daqueles conselheiros que pertenciam tanto a instituições públicas quanto a instituições ou associações privadas: três no governo FHC e um no governo Lula e na transição. Com essa composição, a pluralidade da Câmara, objetivo almejado pelo Ministro da Educação Paulo Renato Souza ao instituir o CNE, se mostra mais garantida do que no período do CFE em que, conforme discutido no capítulo anterior, somente os interesses privados eram priorizados na formação do colegiado.

Daí a possível explicação para uma composição mais pública da CES, com vistas a minimizar as críticas que foram feitas nesse período. No entanto, é importante ressaltar que não havia em todas as fontes desses dados especificação sobre qual entidade havia indicado aquele conselheiro para compor a Câmara, nem constava essa informação no arquivo fornecido pelo CNE sobre os conselheiros. Contudo, é interessante analisar as reais instituições de origem dos membros, mesmo que talvez não tenham sido indicados por elas, mas por entidades de direito privado, pois elas também expressam interesses sendo representados na pessoa do conselheiro.

As entidades que aparecem no perfil pesquisado de cada conselheiro no período em que ele integrou a CES estão agrupadas na tabela abaixo, sendo que para cada conselheiro há mais de uma instituição atribuída, de acordo com pesquisa efetuada. Por isso, não será colocada a soma total no final da tabela, pois resultará num número maior do que o de conselheiros. É importante lembrar que, como não há dados disponibilizados para esta pesquisa que identifiquem o conselheiro por entidade indicadora, o quadro abaixo mostra apenas as origens institucionais de cada conselheiro, mas sem especificar qual delas de fato o recomendou para a Câmara no período entre 1997 e 2007.

ENTIDADES NA COMPOSIÇÃO DA CES/ CNE

Órgãos públicos 24

Universidades Federais 17

Universidades Estaduais Públicas 9

Instituições com fins lucrativos 6

IES privadas (particulares, comunitárias, etc) 9

Conselhos, sociedades, academias e associações de grupos de interesse 17

Revistas de Pesquisa 2

Instituições privadas sem fins lucrativos 8

Organizações internacionais 5

Tabela 6 – entidades na composição do colegiado da CES.

É possível notar a diversidade de entidades dos quais os conselheiros se originam. No entanto, a maior parte deles pertencia a órgãos e universidades públicas no momento em que assumiram seus mandatos na Câmara, embora talvez tenham sido indicados por outros tipos de instituição. Isso evidencia uma preeminência de membros públicos na composição do colegiado, mas sem indicar uma sub-representação de outros grupos de interesse da sociedade civil, como é possível notar nos campos “Conselhos, sociedades, academias e associações de grupos de interesse” e “Instituições privadas

sem fins lucrativos”. É interessante notar que muitos dos conselheiros pertenciam a universidades federais quando assumiram seus mandatos, um número bem superior ao de instituições privadas. Abaixo, seguem tabelas mais detalhadas sobre as entidades que compõem cada um dos campos do quadro. A descrição aprofundada sobre a origem dos membros do colegiado por governo será apresentada nos capítulos seguintes.

O primeiro quadro mostra as entidades referentes ao campo “Órgãos públicos” citadas nos dados dos conselheiros da CES.

MEC 12 CAPES 2 EMBRAPA 1 Secretarias de Educação 3 CNPQ 1 MCT 2

Outras secretarias municipais e estaduais 2

FAPESP 1

Órgãos públicos

Tabela 7 – órgãos públicos na composição do colegiado da CES.

Os dados acima evidenciam uma proeminência do MEC na composição do colegiado, de modo que outros conselheiros, além dos membros natos, que são advindos do Ministério da Educação, já passaram de alguma forma por ele no período em que cumpriam mandato na CES. Ao total, foram doze menções ao MEC nas referências dos conselheiros, enquanto que o restante dos órgãos apresenta entre uma e duas citações, com destaque para as secretarias de educação, mencionadas três vezes.

O próximo quadro apresenta as universidades federais que foram mencionadas nos dados sobre os conselheiros eleitos para a CES.

UFCE 1 UFRJ 3 UFMG 3 UFPE 2 UFJF 2 UFPR 1 UFABC 1 UFRS 1 UFPA 1 UFSCar 1 UFSM 1 Universidades Federais

É possível notar a diversidade de universidades federais pelos quais os conselheiros pertenciam no momento em que assumiram seus mandatos, sendo que a UFMG e a UFRJ foram as mais mencionadas nos dados. Há predominância das regiões Sudeste, com a UFRJ, UFMG, UFJF, UFABC e UFSCar, e Sul, com a UFPR, UFRS e UFSM. Já o Nordeste e o Norte foram os menos citados, sendo apenas três IES pertencentes às regiões, além da região Centro-Oeste, que nunca teve um representante de uma instituição sua no colegiado. Abaixo estão relacionadas as universidades estaduais que já foram, de alguma forma, representadas no colegiado da CES.

UNB 1

USP 5

UNICAMP 1

UEFS 1

UNESP 1

Universidades Estaduais Públicas

Tabela 9 – universidades públicas estaduais na composição do colegiado da CES.

As três universidades estaduais paulistas já tiveram membros de seu corpo profissional presentes na Câmara, com destaque para a USP, com cinco menções nas referências. Mais uma vez, há prevalência da região Sudeste em relação às outras regiões na composição da CES.

Em seguida estão a instituições de ensino superior privadas dos quais alguns conselheiros pertenciam quando atuaram na Câmara.

PUC 3

Universidade Gama Filho 1

UNIP 1 Universidade Estácio de Sá 1 UCAM 1 UNIBAN 1 UNISO 1 IES privadas

Tabela 10 – universidades privadas na composição do colegiado da CES.

A Pontifícia Universidade Católica merece destaque, por ter sido a mais mencionada dentre as IES privadas e por não visar fins lucrativos. É possível notar que poucos conselheiros provinham desse tipo de instituição, sendo um número reduzido de particulares, evidenciando ainda mais a prevalência de membros oriundos de instituições públicas na CES.

A próxima tabela fornece dados sobre os grupos da sociedade civil que tiveram integrantes na CES, não necessariamente indicados por eles próprios, mas que pertenciam a eles no período de mandato.

ABL 1 ABC 2 ABE 2 SBPC 2 CEBRAP 1 SBS 1 ANPOCS 1 Movimento Negro 1 CRUB 1 CONSEd 2 ABRUC 1 ANDIFES 1 ACAFE 1 Grupos de interesse

Tabela 11 – outros grupos de interesse na composição do colegiado da CES.

Dentre os diferentes grupos da sociedade civil, chamados de grupos de interesse por constituírem entidades que visam objetivos específicos de uma determinada categoria social e/ou profissional sem fins lucrativos, é possível perceber que houve uma grande diversificação no número de membros advindos dessas entidades, com destaque para o Movimento Negro, que teve uma representante de seus ideais na CES. Houve a presença de membros de três academias brasileiras: de Letras, de Ciências e de Educação. Outras sociedades acadêmicas também foram representadas: ANPOCS, SBS e CEBRAP, com uma menção cada, e a SBPC, que teve dois integrantes como conselheiros na CES, não necessariamente indicados por ela. É interessante notar a presença de dois conselheiros provenientes do CONSEd, o Conselho Nacional de Secretários da Educação que, embora não seja uma organização pública, seus membros são integrantes do governo e que exercem cargos de confiança. O Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), a Associação Brasileira de Reitores das Universidades Comunitárias (ABRUC), a Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) e a Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE) já tiveram um de seus integrantes como membro da Câmara de Educação Superior.

Os dois quadros seguintes representam as instituições que visam fins lucrativos e as revista de pesquisa cujos membros já estiveram na Câmara de Educação Superior.

SB Consultoria Educacional 1

CESGRANRIO 4

DATABRASIL 1

Instituições com fins lucrativos

Tabela 12 – instituições com fins lucrativos na composição do colegiado da CES.

Revista Inteligência 1

Revista Brasileira de Pós-graduação 1 Revistas de Pesquisa

Tabela 13 – revistas de pesquisa na composição do colegiado da CES.

Apenas três instituições que visam lucro e duas revistas de pesquisa já foram representadas na CES, o que não significa que tenham indicado membros para composição do colegiado. Nota-se, a partir desta tabela, que poucos conselheiros possuíam vínculos com empresas privadas com fins lucrativos no momento em que exerceram seus mandatos na Câmara. Há que se destacar a CESGRANRIO, empresa que realiza processos seletivos, como vestibulares e concursos, para instituições tanto públicas quanto privadas, que já teve quatro de seus integrantes na composição do colegiado. A crise ocorrida no CFE parece ter influenciado, ainda que de maneira indireta, a formação do corpo de conselheiros do CNE de forma definitiva, uma vez que a maioria dentre eles era vinculada a instituições públicas quando foram escolhidos para a CES. Isso indica um esforço do Executivo federal de impedir a prevalência de interesses privados nas discussões e deliberações da Câmara, um dos motivos pelo qual o antigo Conselho de Educação foi esvaziado.

A próxima tabela mostra as instituições privadas sem fins lucrativos que já tiveram membros presentes na Câmara de Educação Superior do CNE.

CENPEC 1

Fundação Faculdade de Medicina 1 Instituto de Protagonismo Jovem e Educação 1

CIEE 1

IBAM 1

ABRINQ 1

Fundação Carlos Chagas 1

CEAT 1

Canal Universitário de São Paulo 1 Instituições privadas sem fins lucrativos

Cada uma das instituições de direito privado que não visam obtenção de lucro mencionada acima já teve um de seus integrantes compondo o colegiado da CES. Há uma diversidade considerável de áreas, desde entidades da saúde, como a Fundação Faculdade de Medicina, até da comunicação social, como o Canal Universitário de São Paulo, que agrega canais de universidades públicas e privadas com a finalidade de gerar e transmitir informação. Duas das instituições estão voltadas para o mercado de trabalho: o CIEE e o CEAT, e uma voltada para pesquisas educacionais, o CENPEC.

Por fim, o quadro abaixo representa as organizações internacionais cujos membros estiveram na CES no período em que estavam vinculados a elas.

IPSA 1

UNESCO 1

ALBAN União Europeia 1 Universidade de Salamanca 1

OUI 1

Organizações internacionais

Tabela 15 – organizações internacionais na composição do colegiado da CES.

É importante ressaltar que se trata de organizações relacionadas à educação, como a ALBAN da União Europeia, Organização Universitária Interamericana, a Universidade de Salamanca e a UNESCO, da ONU. Destaque também para a menção à Associação Internacional de Ciência Política (IPSA). Conforme será mostrado no tópico que discutirá a formação acadêmica dos conselheiros, a área das Ciências Sociais, que inclui Ciência Política, Sociologia e Antropologia, se mostra bem presente na composição do colegiado.

De acordo com Nunes, Barroso e Fernandes (2011), que elaboraram um quadro com as entidades que foram consultadas para composição do CNE entre 1995 e 2010, houve mudanças nessas listas entre os primeiros anos e o período 2004-2006:

Inicialmente, era majoritária a presença de entidades acadêmicas, embora se incluíssem associações representativas do segmento educacional. Entre 2004 e 2006, agregam-se entidades de representação profissional e de outros setores, além de sindicatos e as principais confederações (NUNES, BARROSO e FERNANDES, 2011, p.11-12).

No entanto, conforme será comprovado a seguir, poucas dessas instituições listadas como indicadoras de possíveis membros do CNE tiveram realmente epresentantes integrando o colegiado da CES. Muitas das entidades apresentadas acima, cujos integrantes da Câmara eram vinculados no momento em que assumiram seus mandatos, não estão entre as entidades que indicaram membros para o colegiado do Conselho:

Tabela 16 – entidades consultadas para composição do colegiado da CES. Fonte: BARROSO E FERNANDES, 2011.

O quadro acima foi extraído do Documento de Trabalho nº 99 do Observatório Universitário, elaborado por Nunes, Barroso e Fernandes (2011) com dados sobre as entidades autorizadas por portarias do MEC a indicar membros para composição do colegiado da CES. A tabela inclui as portarias 42/2008 e 234/2010 do MEC; no entanto, como esses períodos não integram a delimitação temporal desta pesquisa (1997-2007), os dados referentes a esses documentos não serão analisados. Como se pode observar, apenas sete grupos sempre indicou membros: a Academia Brasileira de Ciências, Academia Brasileira de Educação, Associação Nacional de Política e Administração da Educação, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, Conselho Nacional de Secretários da Educação, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a União Nacional dos Estudantes. As três primeiras portarias, que listaram as entidades que indicariam membros ao CNE, foram emitidas no governo FHC, sendo que nas duas primeiras haviam 22 grupos e, na terceira, 28. Já os outros quatro documentos, emitidos pelo MEC no governo Lula, o leque de entidades se ampliou: no primeiro, 34; no segundo, 46; no terceiro, 29 e, no último, 31. Portanto, em Lula, o presidente possuía listas que expressavam mais a pluralidade da sociedade civil para efetuar as nomeações, o que poderia tornar o colegiado mais representativo da realidade social ao longo das trocas de mandatos.

No entanto, dentre as entidades listadas por Nunes, Barroso e Fernandes (2011), apenas oito foram mencionadas nas referências utilizadas para averiguar a origem dos conselheiros que integraram a CES entre 1997 e 2007. São elas: Academia Brasileira de Ciências (ABC), Academia Brasileira de Educação, Academia Brasileira de Letras (ABL) – que começou a ser consultada em 2004, Associação Brasileira de Reitores das Universidades Comunitárias (ABRUC), Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSEd) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). É interessante notar que a ABRUC, a ANDIFES e o CRUB deixaram de ser consultados a partir de 2008. Tanto a ABC, a Academia Brasileira de Educação, o CONSEd e a SBPC sempre indicaram representantes para o colegiado da CES. A ANPOCS, entidade de origem de alguns conselheiros entre 1997 e 2007, somente foi autorizada a indicar membros a partir de 2008.

É possível notar que a sociedade civil que é passível de representação na CES é bem diversificada, expressando um esforço do MEC por reconhecer sua pluralidade e trazê-la para o espaço público. Há tanto os grupos de interesse específicos da área educacional, como associações acadêmicas, inclusive outros conselhos e a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, quanto outros grupos mais gerais, como CUT, CGT, CNA, CNI, CNC, CNT, Força Sindical. Contudo, talvez para focar mais os conselheiros na área específica de sua competência, a lista foi restringida a partir de 2008. Sobre a exclusão de entidades não acadêmicas a partir de 2008, Nunes, Barroso e Fernandes (2011, p.12), afirmam o seguinte:

A Lei 9.131 admitiu a indicação de conselheiros por órgãos representativos da comunidade especializada e reservou a metade dos assentos para a mão presidencial, majoritariamente eleita. Esta, contudo, através de decretos infiéis, seguidos de portarias indefensáveis, transformou o CNE em órgão de representação de interesses, subtraindo ao Congresso seu papel monopólico e usurpando, desde o ponto de vista da lógica da representação, o poder disponível para a Presidência.

É possível notar que a escolha presidencial dos membros para a Câmara de Educação Superior do CNE não se limita às listas de entidades elaboradas pelo MEC com autorização para indicar representantes, o que justifica, mais uma vez, a análise do recrutamento dos conselheiros por período de governo. Contudo, a observação dessas listas e das entidades que de fato foram representadas na Câmara, é possível considerar o interesse do Executivo em fazer prevalecer no órgão seus interesses político- partidários, contrariando as premissas da criação do CNE, embora sua livre escolha de até metade dos membros esteja prevista no Regimento Interno.

2.3.4 Conselheiros da CES por titulação acadêmica e área do conhecimento