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ANÁLISE DO CONTEÚDO DA ENTREVISTA COM O DIRIGENTE ACADÊMICO

RESULTADO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO E DISCUSSÃO DOS DADOS REFERENTES ÀS ENTREVISTAS

3.2 ANÁLISE DO CONTEÚDO DA ENTREVISTA COM O DIRIGENTE ACADÊMICO

A entrevista com o Professor Ivan Rocha Neto, à época Pró Reitor de Pós Graduação e Pesquisa da Universidade Católica de Brasília, teve como objetivo principal conhecer a opinião de um dirigente de uma universidade tradicional sobre a educação corporativa. Além deste, a entrevista procurou também verificar a opinião de um expoente do meio acadêmico sobre a atual qualidade do ensino superior no Brasil e a relação ensino- pesquisa das universidades com as necessidades do mundo empresarial.

Em relação à qualidade do ensino superior no Brasil, o entrevistado considerou péssima em vários setores, inclusive nas universidades públicas, destacando as questões de infra-estrutura, financiamento e orçamento, além da legislação que, segundo ele, mais dificulta e limita do que regulamenta o setor. Uma questão importante destacada pelo Professor foi a questão da estrutura organizacional das universidades, que dificulta a comunicação e a interdisciplinaridade. Esta característica, segundo o entrevistado, dificulta a superação do dilema entre uma

dades corporativas estão atuando. Outro ponto destacado em relação à má qualidade do ensino superior é o processo de ensino focado no docente, pressupostamente dono do conhecimento, que dificulta a aprendizagem. O paradigma atual, baseado em sala de aula, currículo padrão, exercício padrão, centrada no professor, impossibilita o que seria o ideal: uma educação centrada na aprendizagem (e não no ensino) e no estudante.

O professor criticou também o modelo de gestão da educação, principalmente o relacionado à gestão de ciência e tecnologia. O caráter normativo da legislação, de acordo com ele, instituiu a cultura de cartório na educação, ou seja, normatiza de uma forma que tira da universidade sua autonomia, como se ela e a sociedade que a mantém não tivessem capacidade de discernimento.

Com a experiência de quem já trabalhou em duas universidades federais, no CNPQ e que conhece bem várias universidades brasileiras, ele ressalta a questão da

onomia fica distante e a universidade fica à mercê da burocracia estatal e com poucos recursos para suas atividades de pesquisa e extensão.

de um novo paradigma; fala-se apenas de consertar ou remendar o modelo atual e nenhuma proposta diferen

Brasil. Porém, de acordo com o entrevistado, são poucas as instituições que de fato integram essas atividades. Sem esta integração, a tão desejada aut

Sobre a questão se o ensino superior atende às demandas sociais e organizacionais, o entrevistado foi enfático. Ele tem certeza que não e para justificar sua resposta, cita alguns fatores que ilustram essa negativa. O modelo ainda é muito centrado no professor e os estudantes não adquirem autonomia para resolver problemas e habilidades para investigar e buscar respostas de outras formas. A resposta está sempre no professor ou em livros e artigos escritos em outros idiomas e nunca no resultado de uma pesquisa. Outro fator destacado pelo entrevistado é o não desenvolvimento das competências sociais. Não se aprende a trabalhar em equipe nas universidades brasileiras. De acordo com o Professor Ivan, elas (as competências sociais) são mais importantes que os conhecimentos técnicos, pois estes ficam obsoletos rapidamente, graças aos avanços da tecnologia. Ele cita também a dissociação entre teoria e prática. Não se fala de aprender fazendo ou fazer aprendendo. Fala-se da aprendizagem como algo distante da aula teórica. Teoria e prática, conclui ele, não são excludentes, são complementares.

Ainda sobre a questão do atendimento às demandas sociais e organizacionais, foi destacado o sucateamento tecnológico das universidades públicas, a péssima infra-estrutura disponível para professores e alunos e o modelo de gestão da educação no Brasil como fatores que afastam as universidades de cumprir sua função com a sociedade e de gerar conhecimento científico para melhorar o trabalho das organizações públicas e privadas. O entrevistado se diz pessimista não em relação à universidade no mundo, mas em relação à universidade brasileira, pois, segundo ele, as autoridades do setor mostram “total incompreensão sobre o tema, falta de visão prospectiva e falta de coragem para a construção

te para o setor, sobretudo dos pesquisadores da área de educação”. A única exceção é a educação a distância que, conforme o Professor Ivan destaca, promete uma mudança de paradigma em relação ao tempo, ambiente e ritmo de estudo e principalmente em relação ao conteúdo a ser estudado pelo aluno. De acordo com o entendimento do entrevistado, nesta modalidade de ensino, o aluno é obrigado a pesquisar e buscar outras

problema para a relação empresa-escola. O entrevistado destaca um possível problema: em uma pesquisa acadêmica, o pesquisador tem seu prestígio medido pela publicação de artigos em revistas, seminários, ou seja, quanto mais circulante melhor. Já a lógica capitalista que move as empresas é diferente. È o sigilo que interessa, a apropriação particular de um conhecimento é importante pois envolve dinheiro. A universidade, ele ressalta, tem uma responsabilidade pública com a sociedade que a mantém, enquanto a empresa tem responsabilidade maior com seus sócios e acionistas, ou seja, a pesquisa consome recursos financeiros que devem retornar em forma de lucros e dividendos. Apesar de reconhecer que não é uma relação fácil, por causa da heterogeneidade, o Professor Ivan acha que é uma relação possível de cooperação, principalmente porque as universidades teriam a oportunidade de trabalhar com problemas reais. Ele complementa destacando o melhor dos dois mundos: as empresas têm dinheiro para investir e as universidades têm profissionais qualificados, conhecimento e metodologia adequados para pesquisas. Resolvidas estas diferenças, a interação seria possível e viável.

Sobre a última questão da entrevista (se as universidades corporativas são uma oportunidade ou uma ameaça ao ensino superior tradicional), o entrevistado acredita que pode ser uma oportunidade e não uma ameaça. Pelo fato de as empresas terem uma percepção mais rápida das necessidades de mudança, isto pode influenciar as pesquisas acadêmicas a serem mais pragmáticas, mais úteis não só para as empresas em particular mas para a sociedade em geral. Segundo o Professor Ivan, esta sistemática e a customização de projetos e fontes de conhecimento, pois a figura do professor é tutorial e o conteúdo das disciplinas exige muita leitura. Talvez seja “a luz no fim do túnel”.

Outro tópico da entrevista foi a relação entre os mundos acadêmico e corporativo. O questionamento foi no sentido da heterogeneidade destes mundos e da viabilidade de uma relação produtiva, em nível educacional, entre eles. A visão do Professor Ivan neste quesito foi muito pragmática. Segundo ele, as universidades precisam mudar para não perder terreno, pois ensinar e treinar as empresas já fazem e fazem bem. Institutos vinculados às empresas também desenvolvem pesquisas, na maioria das vezes, melhor que nas universidades, porém preocupados com a apropriação do conhecimento por questões de mercado e financeiras e não tão preocupados com a apropriação desse conhecimento pela sociedade. O diferencial das universidades seria justamente o oposto a este modelo. Seria uma educação em um nível mais avançado e socialmente mais responsável, não apenas com objetivos comerciais ou mercadológicos. Este talvez seja um

pesquisas podem representar uma ameaça àquilo que ele chama de “velha universidade” ou “universidade clássica”, que ainda insis esmos projetos, os mesmos cursos e as mesmas disciplinas. De acordo com ele, estas podem perder seu campo de atuação e até seu prestígio acadêmico. Porém, para aquelas que ele denomina de “nova universidade”, as universidades corporativas representam uma oportunidade, pois elas têm foco na aprendizagem individual e org no ensino, o que para as empresas é fundamental. Tal característica é importante pelo fato de as empresas necessitarem de pessoas com capacidade de investigação e aprendizagem para a resolução dos problemas empresariais. Ele encerra a entrevista dizendo ser impossível para uma universidade ou até mesmo para um conjunto de uni

te em cristalizar e repetir os m

anizacional, e não

versidades, dar resposta a todas as demandas do mundo empresarial atualmente, em virtude da ampla competição e dos avanços tecnológicos. A criação das universidades corporativas foi a forma que o mundo corporativo encontrou para minimizar este problema. Porém, o conhecimento acadêmico sempre foi e sempre será imprescindível para a sociedade em geral e para as empresas em particular.

do de cunho exploratório, não se deve extrapolar e nem generalizar os resultados obtidos para se definir um comportamento padrão das universidad

o fato que as duas UC que foram objeto deste estudo investem efetivamente em programas de mestrado e

CAPÍTULO IV

CONCLUSÃO

Pelo fato de a presente pesquisa ter si

es corporativas brasileiras. A quantidade de coordenadores de UC entrevistados foi insuficiente para indicar uma tendência, bem como a entrevista com apenas uma pessoa não pode representar o pensamento de todos os dirigentes de universidades tradicionais do Brasil. Porém, pelo nível de conhecimento dos entrevistados sobre o assunto, o aspecto qualitativo das entrevistas serviu como base para conclusões e inferências sobre o tema da pesquisa e demonstrou a importância da educação nas estratégias organizacionais. Outro fator que colaborou para destacar esta importância foi a implantação da UC da EMBRAER, citada na revisão da literatura. O valor do investimento para implantação da estrutura de educação corporativa foi, apenas no primeiro ano de funcionamento, de US$ 25.000.000,00. Este montante, por si, já demonstra a importância da questão educacional para as organizações.

As hipóteses da pesquisas foram, em parte, confirmadas. A primeira, sobre se o conceito de universidade aplicado à educação corporativa valoriza a cultura organizacional, confunde e ameaça a cultura acadêmica, à medida que limita a aprendizagem às questões empresariais, não se confirmou. Nas UC pesquisadas, todos os cursos foram desenvolvidos em parceria com universidades tradicionais, que lhes conferem o devido aval. Isto posto, os programas dos cursos de especialização têm um forte apelo profissionalizante, porém com um viés acadêmico que os coloca como os cursos autorizados pelo Ministério da Educação a funcionar de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996). Outro ponto que deve ser ressaltado é

doutorado para s

as para que as universidades tradicionais se aproximassem mais da realidade e direcionassem suas pesquisas e

eus funcionários. Isto demonstra a preocupação não só com as questões corporativas como também com as acadêmicas, sociais e culturais, além de ressaltar que a educação corporativa ainda não é no Brasil uma alternativa ao modelo de ensino superior tradicional, a exemplo do que já acontece nos Estados Unidos. O próprio caráter normativo da legislação educacional brasileira impede que as UC concedam créditos de disciplinas e outorguem diplomas. Conforme a LDB (1996), apenas as instituições de ensino reconhecidas pelo MEC têm estas prerrogativas, o que não é o caso das universidades corporativas. Desta forma, ficou caracterizado que a educação empresarial é uma modalidade de ensino superior voltada para a qualificação funcional e deve ser entendida nos contextos de aprendizagem

organizacional e educação continuada (grifo nosso).

A outra hipótese da pesquisa que foi levantada se referia aos conceitos e práticas educacionais das UC e até que ponto são válidos na medida em que questionam o modelo atual do ensino superior no Brasil. É possível deduzir que o direcionamento dos cursos criados pelas universidades corporativas foi adaptado às suas necessidades. Isto porque há uma diferença no que tange a formação tradicional e o conhecimento que o mercado de trabalho precisa. Através das parcerias, foi possível adequar o conhecimento científico das IES com o conhecimento de mercado das organizações, principalmente em relação ao que é importante em termos de habilidades e competências necessárias para o atual cenário corporativo. Apesar do pragmatismo, foi preciso que essas parcerias fossem estabelecid

metodologias de ensino para o mercado de trabalho. A Universidade EMBRAER, que seleciona alunos nas principais universidades federais do país em algumas áreas da engenharia, é um típico exemplo que demonstra essa aproximação. Como não existe no Brasil um curso de engenharia voltado para a aviação civil, foi desenvolvido um mestrado profissionalizante em parcerias com algumas IES de forma que o profissional necessário para as atividades de projetos aeronáuticos fosse formado de acordo com as exigências tecnológicas que o mercado atual exige. É um paradoxo interessante: apesar de afirmar que os profissionais formados não atendem à demanda do mercado, a EMBRAER seleciona seus futuros engenheiros nas universidades cujos cursos são os mais bem avaliados pela CAPES. Isto demonstra, de forma clara que as universidades tradicionais ainda atraem os melhores alunos, por conta de sua expertise e pela reputação do seu corpo docente.

onvém mencionar que existem opiniões diferentes sobre este novo posicionamento que se deseja das universidades tradicionais. Neto (1983) faz uma observação que merece ser considerada par S no contexto social. Segundo ele, a oposição aparentemente inconciliável entre tradicionalistas, para quem a universidade deve guardar distância em relação às necessida es imediatas da sociedade e pragmáticos que a vêem inadequadamente adaptada às suas tarefas e encargos, deixa transparecer “um julgamento parc

sidade Napoleônica, são bons para a sociedade e para

sas resolvem os problemas de forma satisfatória. Contudo, as IES não devem ter esta co

C

a reflexões sobre o papel das IE

d

ial, permeado por uma visão equivocada, condicionada por uma falsa percepção das suas funções verdadeiras”. O autor ressalta que “sempre que os modelos rígidos da organização lhe foram impostos ou se pretendeu dela fazer uma universidade produtiva, frustrou-se a sua criatividade, asfixiou-se a sua autonomia [...] comprometendo os princípios básicos de sua identidade”. Será que os atuais paradigmas, dominados por uma concepção de utilidade, posta a serviço de objetivos imediatos tais como a Univer

a própria instituição? Neto (1983) acha que não. De acordo com ele, em capítulo do livro “Universidade – Ação e Reflexão” denominado “Algumas idéias equivocadas sobre as funções da Universidade”, a universidade jamais deveria se tornar uma agência de desenvolvimento mas sim um fator de desenvolvimento, sem se transformar em um servidor exclusivo desta tarefa. Caberia a ela, segundo Neto, realizar o equilíbrio de duas tendências contraditórias: atender às exigências de uma funcionalidade crescente que o momento histórico impõe e manter-se fiel às suas funções essenciais, como sede da cultura humanística, da ciência e do pensamento liberal e crítico.

Ambos os posicionamentos possuem argumentos para justificar suas opiniões. O mundo corporativo, por conta da velocidade das mudanças tecnológicas, necessita de qualificar seus funcionários de forma rápida e tempestiva. As universidades tradicionais têm outras funções além de qualificar mão-de-obra para o mercado de trabalho. Elas têm compromisso com pesquisa e extensão que atendam a sociedade em geral e não apenas as empresas em particular. A expansão das universidades corporativas representa uma forma de tentar resolver este conflito. Contando com a expertise do corpo docente das universidades tradicionais, as empre

mo sua missão precípua. Cabe a elas muito mais do que qualificar recursos humanos; elas devem agir de forma permanente e estável para, segundo Neto (1983) “contribuir nos planos onde elas devam projetar-se, à margem de modismos passageiros [...] no sentido real do desenvolvimento e das suas conseqüências sociais”.

O nome “Universidade Corporativa” gera divergências entre os educadores, sobretudo porque

de profissionais graduados (como engenheiros e administradores), alguns recém-saídos das faculdades.

Será que as UC repres Éboli (1999) defende

aprendizagem nos recu organização. Isto não si papel das mesmas. Seg que realizam parcerias

agrupar valor a esses p s empresas

realizem com m is competência e resultado o processo de gestão do conhecimento, considerado crítico para o sucesso do negóci

s. A ameaça é no sentido de que as UC, graças à atualização constante de seus cursos, poderão acabar alterando o sistema de educação no futu

generalista e as empresas desejam um profissional formado mais rapidamente. As