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4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Descrição e análise dos dados por procedimento principal

4.1.3 Análise do Procedimento principal: Tratamento de intercorrências clínicas

Por fim, com o objetivo de esclarecer sobre como ocorreu o processo de avaliação do Procedimento principal Tratamento de intercorrências clínicas de paciente oncológico, elaborou-se o desenho esquemático apresentado na Figura 10.

Figura 10 - Desenho esquemático do processo de seleção do elenco de procedimentos

De acordo com o SIGTAP, a internação cujo Procedimento principal é Tratamento de intercorrências clínicas de paciente oncológico (0304100013). Refere-se ao tratamento clínico de paciente internado por intercorrência, em decorrência do câncer ou ao seu tratamento. Entende-se por intercorrência clínica a complicação aguda, previsível ou não, devida a neoplasia maligna ou ao seu tratamento e que necessita de internação, na modalidade hospitalar para controle da complicação. A internação destinada para este tratamento tem como remuneração básica o valor de R$ 45,43. A Tabela 14 apresenta a frequência do Procedimento principal, o valor total faturado e o valor médio de AIH de cada hospital:

Tabela 14 - Valor médio de AIH faturado para o Procedimento principal Tratamento de intercorrências clínicas de paciente oncológico (0304100013)

Instituição Frequência de AIH Valor Total faturado de AIH (R$) Valor médio unitário (R$) % diferença valor médio / valor tabela Hospital 1 1.952 1.118.610,79 573,06 1161% Hospital 2 150 54.583,97 363,89 701% Hospital 3 881 448.518,11 509,10 1021% Hospital 4 30 5.298,69 176,62 289% Hospital 5 19 12.350,13 650,00 1331%

Fonte: Dados da pesquisa

Avaliando os dados da Tabela 18, verificou-se que o valor médio de cada AIH faturada para este Procedimento principal variou de R$ 176,00 a R$ 650,00, cerca de 269% de diferença, se comparado com o Hospital 4 e o Hospital 5. Se comparado com o valor total hospitalar da Tabela do SIGTAP, percebeu-se que é possível agregar Procedimentos especiais necessários ao diagnóstico e ao tratamento do paciente com intercorrências oncológicas, atingindo valores até 15 vezes maior, como é o caso do Hospital 5, que apresentou valor médio de AIH de R$ 650,00.

Os achados relacionados ao valor médio da AIH podem refletir algumas características do hospital. Um hospital de pequeno ou médio porte, por exemplo, para atingir um valor médio próximo ao de um hospital de grande porte, deve ter estrutura assistencial (recursos materiais e tecnológicos), bem como profissionais especializados que justifiquem o elevado custo, caso contrário, pode constituir indício de irregularidades. Diante deste contexto, se for considerado que os cinco hospitais analisados possuem a mesma capacidade para atender o paciente com intercorrência oncológica, questiona-se o motivo pelo qual o Hospital 4 apresentou um valor médio de AIH igual a R$176,62, enquanto que o Hospital 5, apresentou um valor médio de AIH igual a 650,00.

Para avaliar quais são os Procedimentos especiais compatíveis de ser faturado na AIH, cujo Procedimento principal era o Tratamento de intercorrências clínicas de paciente oncológico, foi realizado o levantamento de todos os possíveis Procedimentos especiais faturados sob este código no período. Encontrou-se 169 tipos diferentes de Procedimentos especiais para este Procedimento principal.

Com o objetivo de verificar qual a ocorrência de faturamento dos Procedimentos especiais para este Procedimento principal, diante do rol de 169 possibilidades compatíveis, foi levantada a produção detalhada para o “Tratamento de intercorrências oncológicas” para os cinco hospitais analisados (Tabela 15).

Tabela 15 - Quantidade de possíveis Procedimentos especiais compatíveis com o procedimento especial “Tratamento de Intercorrências Oncológicas” e a quantidade de

Procedimentos especiais faturados nos Hospitais analisados

Hospital

Tratamento de intercorrências oncológicas N. total de Proc Compatíveis N. total de Proc. utilizados pela instituição Média de Proc Especial/AIH Hospital 1 169 95 1 Hospital 2 169 52 2 Hospital 3 169 78 2 Hospital 4 169 24 2 Hospital 5 169 25 3

Fonte: Dados da pesquisa

Verifica-se que o hospital 1 destaca-se em mais tipos de procedimentos cobrados, seguido pelo hospital 3. Os hospitais 4 e 5 utilizam menos tipos de procedimentos, ficando o Hospital 2 em posição intermediária.

As diferenças de valor médio de AIH entre o Hospital 4 e 5, chama a atenção para a possibilidade de ter havido um número maior de Procedimentos especiais agregados, o que denota maior capacidade do setor de atendimento em captar as informações necessárias para preenchimento da AIH. Por outro lado, pressupõe-se também que possa haver uma ausência de padronização no processo de supervisão de contas nos hospitais, o que levou ao superfaturamento de procedimentos que agregam valor à AIH.

4.1.3.1 Análise comparativa com os dados de produção dos hospitais de Belo Horizonte

A fim de complementar esta análise, buscou-se comparar o valor médio de Procedimentos especiais por AIH dos hospitais selecionados para analisar este Procedimento

principal e a média de Procedimentos especiais apresentada pelos hospitais de Belo Horizonte. Para tanto, foram correlacionados o número médio de tomografias e nutrição enteral faturados por AIH nos hospitais estudados e número médio faturado nos hospitais de Belo Horizonte. A Tabela 16 apresenta os resultados encontrados.

Tabela 16 - Média de Procedimento especial por AIH no município de Belo Horizonte e nos hospitais analisados

Procedimento Especial Hospitais Belo Horizonte Hospital 1 Hospital 2 Hospital 3 Média/AIH Média/AIH Média/AIH Média/AIH

Tomografia 0,53 0,10 0,11 0,08

Nutrição Enteral 0,35 0,05 0,06 0,23

Fonte: Dados da pesquisa

Observando a Tabela 16, considerou-se que no Hospital 1, 10% dos pacientes internados por complicações oncológicas são submetidos a algum tipo de tomografia e, os Hospitais 1, 2 e 3, também apresentaram uma média semelhante. Contudo, se comparado com a média de todos os hospitais de Belo Horizonte, verificou-se que foi realizado o exame de tomografia em 50% dos pacientes.

Por outro lado, tendo em vista que os Hospitais 1, 2 e 3 apresentaram uma média inferior de TC por AIH, se comparado à média de Belo Horizonte, pressupõe-se que não é ofertado a melhor definição diagnóstica para o paciente atendido, uma vez que a disponibilidade de tomógrafo e, a consequente realização de TC para o tratamento de intercorrências oncológicas, é preditiva para a uma conduta terapêutica mais adequada. Em contrapartida, é importante frisar que estes mesmos hospitais podem ter lançado mão de outros exames diagnósticos substitutos para o diagnóstico do paciente e, por este motivo, apresentar uma média de tomografias por AIH menor.

Nesta mesma linha de argumentação, a média elevada de nutrição enteral por AIH em Belo Horizonte, se comparada aos Hospitais 1, 2 e 3, pode estar relacionada ao perfil de morbidade dos pacientes. Ou seja, quanto maior a gravidade do paciente maior a necessidade de suporte nutricional.

Diante dos dados encontrados, foram levantadas as seguintes hipóteses:

a) Os hospitais de Belo Horizonte podem estar ofertando assistência em tempo adequada, portanto, investindo mais nos pacientes oncológicos;

b) Os hospitais de Belo Horizonte praticam o proposto nas normativas ministeriais de oferecer o cuidado integral aos pacientes oncológicos, incluindo os exames complementares;

c) Os hospitais avaliados não estão praticando protocolos de forma adequada. Hipótese remota, considerando o processo de controle e avaliação da capital; e d) Os hospitais estudados estão internando pacientes fora de possibilidades

terapêuticas, não exigindo investimentos em tecnologias de maior complexidade do para investigações e tratamento. Investe-se em tecnologias de melhoria da qualidade de vida.