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A inserção de segmentos sociais no processo de monitoramento e/ou conservação dos recursos hídricos possibilita avanços na relação entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental, enfatiza aspectos formais e encontra inúmeros obstáculos. Apesar dos limites existentes na estrutura governamental, mudanças e novas práticas de gestão ambiental começam a surgir, e os protocolos se inserem neste contexto.

No presente trabalho foi desenvolvido um PAR a ser aplicado por quaisquer que sejam os segmentos da sociedade. Se por um lado, os voluntários foram utilizados como avaliadores da consistência do protocolo adequado, por outro, os agentes envolvidos conheceram uma abordagem diferenciada de avaliação ambiental de cursos d’água – de caráter holístico – não antes aplicado na área de estudo. Mais do que nunca, a gestão ambiental ganha forças quando a sociedade torna-se participante dos processos de monitoramento, ficando clara a importância da integração da comunidade com o ecossistema.

Conforme descrito no Capítulo III – Métodos e Estratégias de Ação, especificamente no Item 3.3.2, o qual se refere à convocação e treinamento dos participantes da oficina de monitoramento ambiental, todos os voluntários responderam um questionário no qual informações importantes foram obtidas.

Assim, após a análise das respostas obtidas, foi possível constatar que 90,7% dos participantes nunca haviam participado de atividades que envolvessem o monitoramento ambiental dos recursos hídricos. Embora tenham sido desenvolvidos trabalhos com o intuito de integrar a comunidade em programa de monitoramento ambiental em países como os Estados Unidos (EPA 2003) e Austrália (Parsons et al. 2002), no Brasil a participação voluntária em tais programas, ainda que existente, é pequena, e dados como este comprovam esta situação.

É imprescindível que informações como estas sejam levadas em consideração, principalmente quando se analisa o quadro panorâmico sobre a coleta de dados hidrológicos no Brasil. Essencialmente concentrada em entidades federais com atribuições que envolvem um território muito extenso (Buss 1990), a falta de informações aumenta a incerteza das decisões sobre os usos preponderantes e a avaliação de impacto ambiental. À medida que a comunidade se torna participativa e atuante nos programas de monitoramento ambiental, os problemas relacionados à coleta de dados hidrológicos podem ser reduzidos e o número de dados disponíveis aumentado. Um exemplo disto é a experiência norte-americana. No relatório 305(b) da EPA (2000) verifica-se que 27 Estados contam com dados coletados por grupos de voluntários, embora existam grupos organizados em 45 Estados e no Distrito de Columbia. O uso dos dados coletados por voluntários é fundamental para que os tomadores de decisão estaduais identifiquem quais corpos d’água estão contaminados ou em maior risco de contaminação. A EPA e o Congresso Nacional dos Estados Unidos se baseiam em relatórios como este para definir as políticas públicas nacionais norte-americanas.

Na maioria das vezes as bacias de pequeno porte, essenciais para o gerenciamento de demandas como abastecimento de água, irrigação, conservação ambiental, etc., praticamente não são monitoradas e quando são, nota-se que a participação da comunidade é mínima ou inexistente (Tucci et al. 2003).

A inclusão da participação da população no processo de tomada de decisão é apontada como um fator importante uma vez que, i) reduz os constrangimentos resultantes da escassez de informações e as incertezas inerentes aos sistemas, e ii) gera cumplicidade entre as diferentes partes envolvidas possibilitando debates mais participativos sobre as questões ambientais (Kass et al. 2001).

Quando perguntados se o PAR aplicado pode ser considerado um instrumento capaz de promover a integração da sociedade na avaliação da “saúde” de um rio, 76,3% responderam que o protocolo engloba este propósito e 76,5% disseram que se sentiram como agentes colaboradores na

defesa do meio ambiente. Estes dados revelam o caráter de integração sócio-ambiental do protocolo proposto, indo de encontro ao modelo de gestão dos recursos hídricos baseado no fortalecimento das relações entre o poder público e a sociedade, disposto no capítulo I, art 1º, inciso VI, da Lei das Águas – “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades” (Brasil 1997). É imprescindível que a comunidade envolvida na aplicação do PAR acredite que a ferramenta proposta seja capaz de proporcionar a inserção da mesma no processo de gerenciamento dos recursos hídricos locais e, além disso, é necessário que todos os envolvidos se sintam verdadeiros colaboradores deste processo. O processo participativo depende, dentre outros fatores, da idéia clara da informação que se pretende obter através da participação e, sobretudo de meios que demonstrem a importância da influência do processo participativo nas tomadas de decisão (Kass et al. 2001).

Com relação à pretensão de ser uma ferramenta de fácil utilização e compreensão, foi possível verificar que 68% dos participantes não tiveram nenhuma dificuldade na realização da avaliação, demonstrando que o PAR adequado contempla o propósito de ser claro, prático e de fácil entendimento por parte dos agentes envolvidos no processo. Já com relação aos benefícios das instruções prévias, 95% dos voluntários responderam que a etapa teórica da oficina facilitou o entendimento dos parâmetros analisados no PAR e 84% acreditam que uma pessoa treinada é capaz de avaliar a integridade ambiental de um rio através de um PAR. Contudo, é importante considerar que o grau de instrução prévio dos voluntários (estudantes universitários) contribuiu para o entendimento do método e que em grupos de voluntários que não possuem o mesmo nível de escolaridade dos participantes da oficina o grau de instrução esperado deve ser menor, exigindo que o treinamento acerca da utilização do método seja mais aprofundado.

A importância dos protocolos reside não somente no fato de serem ferramentas úteis e complementares no monitoramento dos recursos hídricos, mas também no fato de serem instrumentos que podem ser utilizados por pessoas minimamente instruídas e não envolvidas diretamente no processo de gestão ambiental. A transferência de conhecimento entre os gerenciadores e a comunidade local só é possível ocorrer quando ambas as partes entendem e compreendem o propósito da ferramenta utilizada e, em regiões com poucos recursos financeiros e com grandes problemas envolvendo a qualidade dos sistemas fluviais, o uso de ferramentas simples e de fácil entendimento, com participação direta das comunidades, pode ser uma medida interessante a ser adotada pelos órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos.

5.4 – AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE TRECHOS DE RIOS SELECIONADOS NA