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Análise dos artigos da Reitoria da Unipalmares

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24) Revista: AFIRMATIVA ANO VI Nº 31 ANO DE PUBLICAÇÃO: 2009.

3.3 Análise dos artigos da Reitoria da Unipalmares

No artigo “Todos pela Educação”, da revista Afirmativa Plural de número 15,

José Vicente refere-se ao pacto entre empresários, políticos, artistas etc pela educação,

abordando o caráter prático da causa, ou seja, não se intenciona refletir sobre as

causas profundas que prejudicam o ensino brasileiro.

Não se pretende apontar culpa nem culpados, são se pretende condenar algozes nem vitimar inocentes. O que se pretende, isto sim, é formalizar em alto e bom som que, se quisermos futuro para o Brasil, se quisermos perspectivas para os brasileiros e se quisermos honrar os ideários dos que sonharam e traçaram os marcos para a construção da grande nação, devemos todos arregaçar as mangas e trabalhar prioritária e decisivamente pela educação, de qualidade, inclusiva e de responsabilidade de todos (VICENTE, José..2006 p. 98).

O artigo “Consciência Brasil!” que fecha a edição Especial – Troféu Raça Negra

2006 da revista Afirmativa Plural, número 16, ano 3, na seção “palavra do presidente”,

José Vicente, num discurso ufanista, grandiloquente nos apresenta suas concepções

ideológicas sobre a desigualdade racial. Demonstra a convicção de ser o projeto

Unipalmares, juntamente com os seus signatários, os arautos convocados para operar

Consciência Brasil!

Negros, um tema nuclear e de fundamental importância na agenda nacional foi um daqueles permanentemente tratados com desapreço pelo país e que agora, no limiar do novo século, coloca todo os brasileiros à mesa, diante de um verdadeiro xeque-mate: me decifras ou te devoro. Passado 118 ano desde a abolição da escravatura e depois de 350 anos de escravidão chegou à hora da reconstrução. O tempo não cura fratura exposta e nem as maravilhas do novo mundo serão capazes de deitar por terra, providências estruturais nos pilares onde se assentam as grandes construções nacionais. Escaramuças, verborragias e reacionarismo servem para algumas coisas, menos para promover a convergência e corrigir a cisão histórica do edifício social brasileiro.

Impostergavelmente será preciso muito mais. Muito mais empenho, muito mais disposição, muito mais vontade, muito mais trabalho e, especialmente, muito mais capacidade de criação e realização para construção da nova fisionomia para o novo tempo de um povo e um país marcado pela desigualdade, pela discriminação e pelo racismo.

O novo tempo exige de todos os povos que realizem, inapelavelmente, sua lição de casa deixada para trás, criando as condições efetivas e objetivas, suficiente para promover coesão, a união e a extensão a todos seus partícipes dos valores humanitários e sociais que produzam a sinergia indispensável para a sustentação e encaminhamento seguro da pátria, na direção reta do lugar de grandeza idealizado no concerto das nações.

O Brasil do novo milênio terá que definir o caminho a seguir. Colocar-se de costas ao profundo descolamento e ruptura do seu tecido social, fazer ouvidos moucos as vozes roucas do subterrâneo, assistir inerte e indiferente à formação de tsunamis embalados pelo abandono, pela descrença, pela falta de perspectiva e pela confirmação do determinismo da sua subalternidade social, levará todos a um só tempo ao precipício da hecatombe social.

Igualdade de oportunidades e participação na vida nacional assegurada por ações e medidas efetivas, objetivas e eficazes que permitam fundir o Brasil dos negros ao Brasil dos brancos. Política de Estado para debelar, definitivamente e de uma vez por todas, a grande chaga do racismo e da discriminação incrustadas nas estruturas institucionais e nas práticas cotidianas de seus agentes. Pacto de todas as forças vivas da nação na priorização da educação básicas e fundamentais, inclusivas, de extrema qualidade e garantidora dos valores da diversidade.

Esse terá que ser o sincero e honesto Mapa da Estrada para construir a esperança e a felicidade de todos os brasileiros e a união de uma nação cindida entre muitos que sempre tiveram tudo e os negros, que nunca tiveram nada.

Nós podemos e vamos construir essa nova história. A certeza mais eloqüente dessa convicção estará bem diante dos nossos olhos. À noite de 19 de novembro foi um palco vivo e o Brasil, representado pelas suas expressões da maior luminosidade, elevou a uma só voz uma apoteótica ode em reverência e homenagem a vida, a luta e a morte do herói nacional Zumbi dos Palmares.

Num verdadeiro quilombo da modernidade, negros de todas as cores se adornaram com suas melhores roupas e desfilaram toda a sua graça e beleza para celebrarem juntos, na entrega do Troféu Raça Negra 2006, o “Oscar” da comunidade negra, na opulenta e majestática Sala São Paulo (SP), no coração do Brasil, o início da construção do país que todos nós precisamos e queremos.

Inspirados no significado da Luta heróica de Zumbi dos Palmares e conscientes do valor do gesto e da atitude para promover a mudança nas mentes e nos corações, estiveram juntos, de mãos dadas e brindando na mesma taça, a primeira pedra na construção do Brasil do novo milênio, o reconhecimento e agradecimento da contribuição voluntária de cada um dos presentes na defesa do respeito e igualdade de todo cidadão.

No Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, tomados pelo espírito de Zumbi, os brasileiros em São Paulo, de maneira simples, mas profunda, desenharam o novo futuro com suas próprias mãos, em homenagem ao nosso mais valioso tesouro, o valor da cidadania. Um enorme e significativo passo na direção do novo milênio. Quando uma nação se junta em torno de uma grande causa não existe obstáculo que se mantém à frente. Quando queremos intensamente uma grande coisa justa e bela, o universo todo conspira a nosso favor. Todos os demais brasileiros poderão juntar-se a nós nessa grande construção, basta erguer um brinde e exclamar em ato em bom som: Consciência Brasil (VICENTE, José. Revista Afirmativa Plural, ano3, nº16, 2006).(Grifo nosso)

Os temas abordados pelo reitor da Unipalmares, José Vicente, seguem a

mesma linha argumentativa em todos os artigos, modificando apenas a sua organização em torno do que está sendo abordado. Essa característica parece-nos

configurar a intenção de desvincular-se das questões polêmicas. Assim, apesar de

trazer para discussão, as questões que vem incomodando determinados setores da

sociedade (exemplo disso está na defesa de se estabelecer o sistema de cotas para os

estamos vivendo um momento glorioso em que todos os “parceiros” proprietários dos

meios de produção querem por fim à discriminação racial. Dessa forma, achamos que a

reprodução de outros artigos não nos trará elementos novos para esse debate.

Optamos por buscar outros segmentos do movimento negro que de alguma forma dialoga com o pensamento de José Vicente.

Como resposta ao artigo do reitor da Unipalmares, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, no dia 20/11/2009 (anexo 1), Dojival Vieira, presidente da ONG ABC Sem Racismo, assim manifesta.

Consciência

“O trem do discurso do sr. José Vicente, da Unipalmares, estampado no artigo ‘Consciência: o novo trem da história’ (Tendências/Debates’, 20/11), estão na contramão: o tom ufanista está mais para o Brasil da ditadura, do Ame-o ou Deixe-o’ do período Médici, do que para a era Lula.

A gestão da economia, o fato de o país ter se tornado um ator global, não autorizam a fazer propaganda da era de prosperidade que apregoa, até porque continuamos –nós negros, que representamos 50,6% da população brasileira – mantidos na exclusão, sem acesso aos direitos básicos da cidadania, inclusive por trabalho igual.

É esta Folha que, no dia anterior, revelou os dados do estudo do Dieese/Fundação Seade nos dando conta de que um negro tem rendimentos de apenas 56,3% dos não negros, são submetidos a jornadas superiores às de não negros, entram precocemente no mercado de trabalho e sofrem com maior intensidade o impacto do desemprego.

O discurso alienado do sr. José Vicente, na prática, é a negação da consciência que propõe, e que só é digna desse nome quando parte da realidade objetiva; o o objetivo atingido com o desbragado ufanismo acaba sendo inversamente proporcional à proposta que faz.” (Dojival Vieira, presidente da ONG ABC Sem Racismo apud FolhadeS. Paulo, carta, 22/11/2009).

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