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A análise dos dados qualitativos coletados das entrevistas e observações foi inspirada em Flores (1994), partindo-se do pressuposto que a realidade social é múltipla e subjetiva e deve ser entendida sob o ponto de vista dos envolvidos. No caso do estudo em questão, o ponto de vista das mulheres empreendedoras participantes da rede de empreendimentos populares “União dos Sabores Solidários”.

As entrevistas foram transcritas e as observações organizadas em notas, representando o objeto de um estudo inicial. Esta primeira leitura permitiu a identificação de fragmentos textuais que puderam ser posteriormente segmentados, categorizados e codificados, em um processo de redução de dados.

Os fragmentos textuais identificados como relevantes para a pesquisa foram reunidos em grupos de unidades de conteúdo semelhantes, em um procedimento de segmentação. Estas unidades temáticas variaram em amplitude, de acordo com os depoimentos e notas sobre cada assunto, de modo que existem trechos compostos por uma única oração e trechos de grande extensão.

Os processos de categorização e codificação seguiram os procedimentos descritos por Flores (1994). Como costuma ocorrer na análise de dados qualitativos textuais, foram atribuídos códigos a fragmentos discursivos que, por sua vez, constituíram categorias. O conjunto de categorias foi reavaliado e aprimorado no decorrer do estudo, de modo a defini- las com acuidade e atender a todas as dimensões identificadas no referencial teórico. Desta forma, criou-se 13 categorias devidamente codificadas em um processo de revisão continuada, utilizando os passos de trabalho sugeridos pelo autor:

a) Fusão de categorias afins ou de representação escassa;

b) Subdivisão das categorias excessivamente amplas e de conteúdo relativamente heterogêneo;

c) Nomeação das categorias buscando termos que definam da melhor forma o seu conteúdo.

Os códigos e categorias definidos neste estudo levaram em consideração os elementos críticos da ASpS, juntamente com as associações à aprendizagem organizacional e às barreiras ao processo de aprendizagem nas organizações, expostos no referencial teórico desta pesquisa. Os resultados das codificações e categorias estão dispostos no quadro 6.

Quadro 6: Códigos e definições das categorias. Código Definição da categoria

QUE Os questionamentos (ou pensamentos reflexivos) surgem quando algo está errado e os resultados estão aquém das expectativas.

EXP O indivíduo aprende na experiência diária, por fatos vivenciados por ele, num processo contínuo de acontecimentos onde há uma objetividade no compartilhamento social que se entrelaça com a dimensão subjetiva social.

HAB Hábitos como um recurso de experiência baseado em categorias de atos que se tornam, na repetição e familiaridade cultural, algo reconhecível e previsível.

MUD A aprendizagem ocorre mediante mudanças mútuas oriundas da interação recíproca entre

indivíduo e contexto.

PAR A participação de diferentes atores como uma forma de partilhar responsabilidades e compartilhar aprendizagem sobre diversas questões.

COM Mundos sociais emergem como resultado de compromisso com as atividades organizacionais.

TEN Situações de conflitos e tensões entre os mundos sociais podem criar caminhos para questionar as práticas existentes e estimular o pensamento crítico e a reflexão.

FUT A visão de futuro ideal ajuda a contextualizar as ambições individuais e tenta resolver as diferenças de expectativas de diferentes atores.

DIA Os diálogos entre os participantes contribuem para a resolução de conflitos e discussões de ideias, soluções e práticas adequadas.

LIN Linguagem comum, transparente, tolerante, colaborativa e movida a interesses mútuos como características essenciais de um diálogo que estimula a aprendizagem entre os atores.

DEM A possibilidade de questionar qualquer proposta democraticamente, expressando alguma ideia nova, necessidade ou desejo, e garantia de que haja uma distribuição simétrica de oportunidades e capacidades de expressão entre todos os participantes.

POD As diferenças de poder entre os membros do grupo criam percepções de riscos interpessoais. Nesses casos, o processo de aprendizagem dá lugar às necessidades de autoproteção.

INT

Nos grupos em que há interações frágeis entre os membros, o agir decorre do fato ocorrido e não do planejamento de possíveis eventos. Em um ambiente de pouca possibilidade de reflexão, os indivíduos não se escutam, causando desentendimentos em virtude de conhecimentos mútuos limitados.

No passo seguinte, as categorias foram interligadas de acordo com a semelhança temática. A esse conjunto de categorias afins denomina-se metacategoria (FLORES, 2004), compostas, neste estudo, por cinco distintas (quadro 7).

Quadro 7: Metacategorias e suas definições.

Nome Definição da metacategoria

Reflexão e pensamento

crítico A reflexão surge quando os atores se deparam com um problema ou situação incerta.

Negociação e colaboração

A colaboração a partir do compromisso individual dos atores, visão de futuro e superação dos conflitos e tensões.

Barreiras ao processo

de aprendizagem Os obstáculos à aprendizagem derivados da centralização de determinados atores e das interações frágeis entre os membros do grupo. Participação e

engajamento O papel da participação dos atores e as mudanças de comportamentos por meio das interações entre indivíduos e contexto social. Comunicação A importância do diálogo claro, transparente e democrático para o processo de aprendizagem. Fonte: Elaborado pelo autor.

Por fim, o agrupamento das categorias e metacategorias possibilitou a construção do sistema de categorias. Para tanto, foram adotadas premissas que aproximam e distanciam um elemento do outro em um processo de comparação intra e intercategorias (FLORES, 1994). O resultado está disposto na figura 7.

Figura 7: Sistema de categorias. Fonte: Elaborado pelo autor.

Contudo, é necessário entender primeiramente o funcionamento do Instituto Consulado da Mulher, do Programa Mulher Empreendedora e o contexto das redes de empreendimentos para só então discutir os resultados da pesquisa. Por isso, a seção seguinte apresenta o objeto de estudo e traz as análises e interpretações dos dados coletados em campo.

Elementos da aprendizagem social na rede de empreendimentos Reflexão e pensamento crítico Negociação e colaboração Barreiras ao processo de aprendizagem Participação e engajamento Comunicação QUE HAB COM TEN FUT POD INT MUD PAR DIA DEM EXP LIN

4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Esta seção está dividida em cinco tópicos. O primeiro deles expõe uma visão geral do Instituto Consulado da Mulher: a sua missão, os resultados alcançados, a metodologia de trabalho e a forma de atuação do Programa Mulher Empreendedora.

O tópico subsequente contextualiza a rede “União dos Sabores Solidários” (USS) e busca explicar o seu funcionamento, bem como a relação dos empreendimentos nas quatro localidades: Anchieta (SP), Berrini (SP), Mauá e São Bernardo do Campo.

O terceiro tópico aborda os elementos críticos responsáveis por promover a aprendizagem social nas redes de empreendimentos, a partir das categorias baseadas no referencial teórico e estabelecidas na construção e análise dos dados. Em seguida, o quarto tópico, apresenta os fatores estruturais que impulsionam a aprendizagem no Programa Mulher Empreendedora e a ligação entre eles.

Por fim, retoma-se o quadro analítico da aprendizagem social e os seus questionamentos (quadro 1, p.32), agora com o acréscimo dos resultados de campo das entrevistas e observações concernentes às redes de empreendimentos.