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3 PRESSUPOSTOS, OBJETIVOS E FINALIDADES

4.4 ANÁLISE DOS DADOS

A literatura apresenta várias classificações de participação social (Cordeiro, 2016), analisados a partir de diferentes enfoques, tipos e graus de envolvimento dos participantes (Gohn, 2003; Sayago, 2000; Cornwall, 1996). Os quadros I, II e III descrevem as três classificações, que serviram de base para construir as categorias de análise que serão utilizadas neste trabalho.

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Procedimentos metodológicos

Quadro 1 – Classificações de participação de acordo com Cornwall

Níveis de participação Descrição

Cooptação (co-option)

Os representantes locais são eleitos sem que apresentem poder/voz ativa no processo da participação: o participante é mero fornecedor de informações.

Observância (compliance)

As tomadas de decisões são conduzidas pelo Estado ou outras instâncias, a partir de solicitações de tarefas aos demais participantes.

Consulta (consultation) Os participantes locais (comunidade, pacientes, entre outros) são consultados, mas o Estado conduz o trabalho e toma as decisões.

Cooperação (co-operation):

Os participantes locais e o Estado trabalham juntos determinando prioridades, com responsabilidades e direção do processo assumidas pelo Estado.

Co-aprendizado (co-learning) Os participantes locais e o Estado dividem conhecimento, com a finalidade de criar nova compreensão e trabalhar juntos para desenvolvimento de planos de ação, tendo como facilitador o Estado.

Ação coletiva (collective action)

Os participantes locais definem a sua própria agenda e se mobilizam para dar continuidade às ações, mesmo na ausência de intervenção do Estado.

Quadro 2 – Classificações de participação de acordo com Gohn

Graus de envolvimento da

sociedade Descrição

Participação liberal

Fortalecimento da sociedade civil; amplia os canais de informação aos cidadãos de forma que eles possam manifestar as preferências antes que as decisões sejam tomadas. É um instrumento para buscar a satisfação das necessidades dessa sociedade de iguais.

Participação autoritária

Orienta-se sobre a integração e o controle social da sociedade e da política através de ações direcionadas de cima para baixo. A sociedade civil é cooptada por meio de programas pensados estrategicamente para diluir os conflitos sociais.

Participação revolucionária

Representa-se por coletivos organizados em busca de autonomia da divisão do poder político, contra as relações de dominação.

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Procedimentos metodológicos

(continuação) Graus de envolvimento da sociedade Descrição Participação democrática

Fundamenta-se a partir da soberania popular e da participação de movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Seu princípio básico é a delegação do poder de representação e o sistema representativo via processo eleitoral é o critério supremo de organização dos indivíduos.

Participação democrática radical

Natureza está entre os modelos de participação democrática e revolucionária. Teóricos e ativistas que não acreditam na democracia representativa como um modelo corretamente democrático, propõem um modelo de democracia participativa que fortaleça a sociedade civil para a construção de uma nova realidade social.

(conclusão)

Quadro 3 – Classificações de participação de acordo com Sayago

Como o indivíduo participa

das decisões Descrição

Participação individual Indivíduo toma a decisão individualmente e de livre escolha Participação coletiva As decisões são tomadas no coletivo.

Participação passiva O comportamento do indivíduo é como o desejado pelo grupo/coletividade sem interferir no processo.

Participação ativa Indivíduo assume o compromisso de luta e de conquista para alcançar os objetivos de forma coletiva e solidária.

Participação voluntária Quando de maneira solidária um grupo se mobiliza para resolver problemas imediatos.

Participação instrumental

Quando as mobilizações têm propósitos de conquistar o poder ou posição. A população está incluída, mas as opiniões e decisões são excluídas.

A classificação de Gohn (2003) se baseia em categorias relacionadas à maneira como a sociedade está incluída nos processos de construção das políticas públicas e sociais e como os cidadãos se fazem presentes com posturas distintas em cada categoria de participação, atuando como: meros beneficiários das políticas; convidados a participar emitindo opiniões e pareceres; convocados para eleger os seus representantes na participação política; ou articulados para requerer seu

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Procedimentos metodológicos

espaço como ator nos processos como inserção mais direta nos centros de tomadas de decisão (Quadro 1).

Cornwall (1996) classifica a participação em níveis relacionados à maneira como as pessoas estão envolvidas nos processos e nos espaços participativos, distinguindo-se entre modos controladores (cooptação, observância e consulta) até democráticos e coletivos (colaboração, co-aprendizado e ação coletiva) (Quadro 2). A autora considera que essas categorias não se apresentam na realidade de maneira estática, havendo um movimento dinâmico e constante de um modo para o outro, que pode ocorrer em diferentes momentos dos processos participativos e com diferentes propósitos, bem como pode variar entre os distintos atores. A classificação de Cornwall (1996) deve permitir distinguir, na análise dos documentos do conselho gestor, participação autêntica de controle, pois quando há participação superficial, o estado tem mais poder de controle sobre todos os processos na sociedade, ao passo que quando a participação se torna intensa e autenticamente ligada aos interesses dos grupos envolvidos, há menor possibilidade de controle do Estado, pois os indivíduos se apropriam dos processos sociais.

Em Sayago (2000), a análise da participação parte do posicionamento ideológico dos indivíduos sobre como resolver os problemas que enfrentam: por meio da maneira individual e liberal ou solidária e coletiva. Na possibilidade de ter o controle e o poder de decisão sobre os problemas que afetam as suas condições de trabalho e vida, os indivíduos se motivam e buscam formas mais diretas de participação. No entanto, a autora destaca, que em algumas situações a participação é empregada como ferramenta para validar ou legitimar interesses de grupos que não satisfazem interesses autênticos do coletivo (Quadro 3).

As classificações apresentadas diferem entre si, pois as autoras utilizam eixos distintos de análise. Para Gohn (2003) o eixo está na inclusão da sociedade nos processos políticos, nas organizações sociais, nos órgãos públicos. E como a sociedade civil se manifesta diante do Estado, mostrando-se totalmente controlada ou organizando-se para contestar o estabelecido e gerar mudanças. Já Cornwall (1996) categoriza a participação pelo modo como o indivíduo se envolve nos processos participativos, agindo como observador, transmissor de informações ou se colocando em lugar atuante e central nestes processos, contribuindo com os conhecimentos pessoais e locais, para transformação da realidade e do coletivo.

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Procedimentos metodológicos

Sayago (2000) classifica a participação em seis modalidades, enfatizando a ideologia que está envolvida no processo de participação. A forma de participação dos indivíduos dependerá do poder e resolutividade que tem para resolver o problema.

A partir destas classificações e utilizando-se os extremos das classificações apresentadas e que se colocam por dentro das esferas institucionais do poder público foram construídas as categorias de análise que serão utilizadas neste trabalho (Quadro 4) para expressar tendências expressas nos conteúdos das cartilhas governamentais.

Quadro 4 – Categorias de análise das cartilhas governamentais

Categoria A: Participação autoritária e cooptação.

Categoria B: Participação democrática-radical e coletiva.

Esta categoria representa o pleno exercício do controle de Estado sobre a sociedade civil; as decisões são tomadas de cima para baixo; os indivíduos são indicados para participarem de encontros, reuniões, porém não conseguem ter voz ativa e nem poder de decisão. Em algumas situações, os indivíduos atuam buscando apenas o seu próprio interesse, ou sendo observadores e informantes das situações que experimentam. Não existe a participação de coletividades representativas de necessidades ou interesses grupais.

Esta categoria representa o fortalecimento da sociedade civil, através de mudanças políticas para transformação de realidades sociais desiguais. Os indivíduos estão inseridos e participam ativamente dos processos de identificação dos problemas localmente, na definição das prioridades, no planejamento e na execução das ações definidas de maneira conjunta a partir de necessidades e interesses de diferentes grupos sociais. A abordagem é realizada de baixo para cima.

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Análise e discussão