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Considerações finais

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação social presente nos espaços institucionalizados de discussões, planejamento e de elaboração das políticas públicas deve fomentar mudanças nos contextos sócio-político-econômico do país. Os movimentos sociais presentes nas últimas décadas originaram inúmeras conquistas para a sociedade e para democracia.

A análise da participação social, nas cartilhas educativas da União, do Estado e do Munícipio de São Paulo, sobre o conselho gestor, evidenciou que a dimensão política foi predominantemente composta pela perspectiva de participação cidadã, ou seja, aquela que está dirigida pela instituição, Estado, conforme se esperava.

Da perspectiva da saúde coletiva, que defende a participação radical e crítica, pode se levantar as seguintes críticas às cartilhas analisadas:

1. As abordagens heterogêneas e sucintas, sobre a contextualização histórica dos movimentos sociais nos documentos analisados, não fornecem subsídios históricos para os conselheiros sobre a importância da participação crítica na sociedade civil, uma que leve ao enfrentamento coletivo das necessidades do território, condição fundamental para que o processo participativo eduque para a emancipação;

2. Ausência dos ensinamentos sobre a política no sentido amplo, capazes de expor as contradições sociais fundamentais da sociedade de classes e dessa forma contribuir para a educação emancipatória;

3. A interferência do momento político na elaboração da cartilha na elaboração do conteúdo das informações, induzindo ao “tipo” de participação social mais pertinente à gestão;

4. A existência de informações pontuais sobre o Conselho Municipal de Saúde no site da Prefeitura Municipal de São Paulo e a falta de um documento ou cartilha educativa limitam as informações aos usuários.

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dando ênfase às contradições que estão na base das diferenças sociais, à historicidade dos movimentos e das lutas sociais, esclarecendo sobre as diversas formas de participação social, sobre o que é o Estado e a política, e sobre o conselho gestor como instrumento educativo para formas de participação revolucionárias, fora da tutela do Estado. Dessa forma, espera-se instrumentalizar participantes dos conselhos gestores de saúde a prestar contas aos usuários que representam, quanto ao desenvolvimento crítico necessário para o enfrentamento coletivo das contradições na área da saúde.

Caderno de apoio aos

Conselhos de Saúde

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Caderno de apoio aos Conselhos de Saúde

Apresentação

Este material é parte do relatório de pesquisa de Mariana Bloch apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Enfermagem na Atenção Primária em Saúde no Sistema Único de Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências. Fundamentado na perspectiva da saúde coletiva, foi elaborado com a colaboração das Professoras Doutoras Cássia Baldini Soares e Carla Andrea Trapé.

Trata-se de material educativo desenvolvido para os participantes dos conselhos de saúde e todos os cidadãos que estejam de alguma forma envolvidos nos Conselhos de Saúde, com o objetivo de apoiar a discussão sobre temas que não são abordados por cartilhas desenvolvidas pelas instâncias governamentais. Sua finalidade é promover participação de natureza crítica, necessária ao enfrentamento coletivo das contradições sociais mais gerais, visto que estas estão diretamente relacionadas com a saúde.

Os Conselhos de Saúde são resultado das conquistas dos movimentos populares e da sociedade civil. Dessa forma, constituem instrumentos de representação, participação e de transformação política. Foi na década de 90 que se legitimaram, com a criação do SUS, Lei 8.80/90, e com a Lei 9.142/90, que regulamenta e institucionaliza os conselhos de saúde nas três esferas do governo.

A participação da sociedade na dinâmica do SUS foi concebida a partir de princípios democráticos, que em tese viabilizariam a participação dos cidadãos de forma a possibilitar discussão e deliberação sobre os temas que envolvem a saúde. Nesse projeto, previu-se que todas as partes envolvidas teriam possibilidade de afetar as decisões políticas necessárias à implementação e ao desenvolvimento do SUS, dessa forma exercendo algum controle sobre as ações do Estado. Da perspectiva da saúde coletiva, também envolvida nesse projeto, esse processo traria ensinamentos de natureza revolucionária.

Neste caderno serão apresentados e discutidos os conceitos de Estado e democracia, presentes no cotidiano da vida social e importantes componentes da dimensão política dos conselhos gestores, temas nunca discutidos pelos seus atores. Espera-se que estes temas levem conselheiros a assumirem as tarefas de propositores e formuladores das políticas de saúde de forma menos tutelada pelo Estado. Disponibilizam-se neste caderno de apoio alguns elementos que

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Caderno de apoio aos Conselhos de Saúde

consideramos essenciais, a partir da saúde coletiva, para que a participação vá muito além do processo de tomar conhecimento das decisões tomadas pelos técnicos que trabalham nas instituições de saúde. Para tanto, se buscará abordar questões ausentes nos materiais educativos sobre conselhos gestores principalmente as relacionadas às diferentes formas de acesso à riqueza, ao conhecimento, e às decisões entre as diferentes classes sociais.

O material está organizado por temas. O primeiro diz respeito ao Estado e buscará compreender o conceito, origem, atribuições e modificações ao longo da história, bem como a relação com a sociedade civil. O segundo tema é a democracia, e se abordará o conceito, os tipos, e como a democracia acontece na sociedade capitalista. O terceiro tema será a participação social, o conceito, os tipos e como ocorre a participação no Estado e por último, se trará a discussão sobre o Conselho gestor de Saúde, e como surgiu este espaço de participação.

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