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4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 4.1 TIPO DO ESTUDO

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

O período da análise de dados foi concomitante à coleta de dados. A análise de dados parte do pressuposto de organizar dados brutos fornecendo uma estrutura e obtendo significados aos mesmos. Não há regras universais de análise, mostrando-se um desafio ao pesquisador, uma vez que exige habilidades indutivas a fim de proporcionar uma boa análise e equilibrar a necessidade de concisão sem perder a riqueza e o valor indicativo de seus dados (POLIT; BECK, 2011).

A análise em pesquisa qualitativa objetiva penetrar nos significados mais profundos e amplos dos dados. Envolve a identificação, descrição, compreensão e interpretação de um material denso e bruto. Sendo assim, exige um processo contínuo de reflexão uma vez que busca aumentar o volume, a densidade e a complexidade dos dados (MINAYO, 2013; CRESWELL, 2010).

Com a pretensão de se articular a técnica de análise de dados com o referencial teórico das RS, optou-se pela técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Haja vista que a utilização do DSC, como método de tratamento e análise dos dados em pesquisas de representações sociais, permite maior objetividade e confiabilidade no processo interpretativo dos dados, além de favorecer a construção de discursos que representam as vozes do grupo de indivíduos do estudo. Isso por que, na forma de DSC, as RS são expressas de uma maneira bem próxima da real opinião e de como elas são praticadas pela coletividade de agentes sociais (LEFEVRE; LEFEVRE, 2014).

A técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) consiste no processamento dos depoimentos individuais obtidos através dos agentes sociais estudados, originando discursos únicos, capazes de representar as ideias centrais expressas pela coletividade. Esse processo metodológico é embasado na Teoria das Representações Sociais, idealizada por Moscovici, em 1976 (LEFEVRE; LEFEVRE, 2012).

O DSC é um recurso metodológico que permite o resgate das opiniões coletivas através de pesquisas individuais de opinião. Nas pesquisas com DSC, o pensamento individual é explorado por entrevistas com questões abertas, fazendo com que o pensamento e a

representação social de um determinado fato individualmente internalizado venham à tona. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012).

Este indivíduo traz as representações de um sujeito carregando, através da sua fala e expressando por meio de uma prática discursiva, também os conteúdos (expressos) coletivos, ou seja, das representações semanticamente equivalentes disponíveis na sociedade e na cultura e adotadas por seus “colegas de representação”, os agentes sociais da pesquisa (LEFEVRE; LEFEVRE, 2014).

O DSC é uma técnica, para organizar e tabular os dados de uma pesquisa qualitativa onde são analisados depoimentos individuais capazes de expressar o pensamento de uma coletividade. Em síntese, juntando os discursos individuais, cria-se o pensamento de uma coletividade. Portanto, após sua construção o discurso coletivo é expresso na primeira pessoa do singular, permitindo demonstrar a imposição social ao individual uma vez que os discursos passam expressar à representação social de uma coletividade (LEFEVRE; LEFEVRE, 2012).

O objetivo primário da criação da técnica do DSC foi, em harmonia com os princípios da RS, personalizar o discurso, atribuindo- lhes um sujeito discursivo que permite expressar as suas falas e por elas ser representado (LEFEVRE; LEFEVRE, 2014).

Para a construção do DSCs, são necessárias quatro figuras metodológicas conforme Lefevre; Lefevre (2012):

 Expressões chaves (ECHs): São pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso, selecionados pela pesquisadora e que representam a essência do conteúdo da questão em análise. Com o conteúdo das ECHs é construído o DSC.

 Ideias Centrais (ICs): São descrições resumidas e objetivas dos sentidos de cada um dos depoimentos analisados. Podem ser descrições diretas revelando o que foi dito, ou descrições indiretas sobre o tema do discurso do sujeito. Devem ser concisas e respeitar o conteúdo e o sentido da resposta emitida pelo agente social, capazes de identificar a/as ideias que ela expressa.

 Ancoragem (AC): É uma figura metodológica, que contém traços linguísticos explícitos de manifestação da crença do sujeito que discursa e que estão internalizados no mesmo.

 Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs) propriamente dito: Reunião das ECHs presentes nos depoimentos, que têm ICs ou ACs com o mesmo significado ou significado complementar de pensamento.

Os dados coletados foram processados e organizados com o auxílio do software Qualiquantisoft® do Discurso do Sujeito Coletivo

(DSC) versão 1.3c. Esse software permite o registro das quatro figuras metodológicas descritas anteriormente.

O software possibilita o registro da descrição das características dos entrevistados, categorização das Ideias Centrais por perguntas realizadas, o quantitativo de agentes sociais que aderiram a cada uma das categorias e a construção do DSC por questão e por categoria (LEFEVRE e LEFEVRE, 2012).

O primeiro passo na utilização do software foi o cadastro da pesquisa seguido do cadastro dos participantes do estudo com as suas características sociodemográficas. Posterior ao cadastro dos participantes se iniciou o registro das perguntas conforme o roteiro de entrevista. Em seguida ocorreu a transcrição total do conteúdo das respostas de cada participante a cada pergunta.

O primeiro passo da análise propriamente dita é identificar e apontar em cada um dos discursos, as ECHs. O segundo passo, deve-se identificar e nomear as ICs e as ACs se estiverem presentes, a partir das ECHs. O terceiro passo consiste em distinguir e reunir as ICs que possuem o mesmo sentido. O quarto passo é separar em grupos (A, B, C, etc), e criar uma ideia central para cada grupo que expressem todas ICs de sentidos iguais. O quinto e último passo é a construção do DSC (LEFEVRE; LEFEVRE, 2012).

Posterior à construção do DSC, procedeu-se a realização da transcrição, com a finalidade de reestruturar possíveis erros de fonética na língua portuguesa. Este processo foi realizado de forma digital no editor de textos Word.

A discussão dos DSCs está amparada pelo referencial teórico das Representações Sociais e pela sustentação teórica apresentada nos capítulos anteriores.