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CUIDADOS PALIATIVOS E A ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

2 SUSTENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 CUIDADOS PALIATIVOS E A ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Os avanços tecnológicos nas ciências químico-farmacológica, biológica e genética proporcionaram a realização de diagnósticos mais precisos e que nunca antes foram imaginados nos diversos ramos da medicina, promovendo dessa maneira, o resgate da vida. Tais conquistas levaram os profissionais a pensar que a luta contra a morte iria se tornar enfim uma realidade vitoriosa. No entanto, a realidade não é tão evidente (FIGUEIREDO, 2006).

O incremento e o desenvolvimento da ciência médica e tecnológica mudaram significativamente o curso e os resultados do tratamento de certas doenças. Soma-se a estes aspectos o processo de urbanização e industrialização. Sobre a égide destas questões, a expectativa de vida foi estendida, o envelhecimento da população aumentou o número de pacientes crônicos graves, e há atualmente um menor número de membros da família que pode ajudar os doentes (VASQUES et al., 2013, KOSCAK, VILA, 2014).

Nesse mesmo contexto evolutivo, as formações nas áreas de saúde passam por um momento de preocupação com os aspectos sociais como um todo, caracterizando-se pela solicitação de uma responsabilidade social do profissional de saúde, contrário aos aspectos puramente biológicos e mecanicistas que se desenvolveram depois da II Guerra Mundial. Desta maneira, os CP vêm acrescentar e aperfeiçoar esta visão de promoção da saúde (TAQUEMORI; SERA, 2008).

Dado que o morrer é um fenômeno universal, a Organização Mundial de Saúde tem caracterizado a necessidade de peritos em cuidados paliativos e cuidados de fim de vida como uma prioridade para a saúde global, em especial para o cuidado a pessoas com doenças fatais, câncer e outras doenças crônicas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005).

A enfermagem participa deste processo de saúde/doença de um modo contínuo, além do emprego dos recursos técnicos e científicos, fornecendo o suporte necessário para assegurar a dignidade e a qualidade de vida dessas pessoas (VASQUES et al., 2013). De fato, a enfermagem em cuidados paliativos abarca o cuidado humanístico e abordagem holística para a assistência ao paciente (WU; VOLKER, 2012).

Considerando-se a ideia de que os cuidados de enfermagem para um paciente paliativo inclui o período anterior ao diagnóstico de uma doença incurável e o período após a morte do paciente, ajudando a família no luto e tendo em conta o papel único do enfermeiro na equipe de cuidados de saúde, pode-se confirmar que a enfermagem e os cuidados paliativos são parceiros naturais na prática clínica (KOSCAK, VILA, 2014).

Os pacientes na unidade de terapia intensiva são, por definição, os pacientes mais doentes em hospitais de cuidados agudos e enfrentam maior risco de morte do que qualquer outra população do hospital e normalmente requerem suporte avançado de vida, tais como a ventilação mecânica, drogas inotrópicas, ou diálise. Portanto, a equipe de enfermagem diariamente depara com o processo de morrer e os cuidados em terminalidade de vida nas unidades de cuidados intensivos. Desta forma, a equipe de enfermagem, por estar presente diariamente, é vital para o cuidado em fim de vida, pois são os únicos profissionais presentes 24 horas na cabeceira do paciente, e têm a oportunidade de observar comportamentos e ações que são obstáculos a uma morte pacífica e digna enquanto fornecem cuidados (TAHA; ASFOUR; KADRY ATTIA, 2016).

Os principais postulados da assistência de enfermagem para a promoção do CP são: a afirmação da vida - a morte é uma parte integrante da vida, promovendo a qualidade de vida - não é a quantidade que importa, mas a qualidade, o cuidado com um homem - uma pessoa, o apoio à família. As intervenções de enfermagem devem estar focadas em: gestão da dor e outros sintomas, emocional e apoio espiritual, preservação da dignidade, necessidades culturais, o apoio à vida mais ativa de um paciente como é possível, mantendo independência e evitando o isolamento, o apoio à família , questões éticas e legais (KOSCAK, VILA, 2014).

A equipe de enfermagem vivencia e compartilha momentos de amor e compaixão, aprende com os pacientes que é possível morrer com dignidade e clemência; oportuniza a certeza de não estarem sozinhos no instante final de suas vidas; proporciona cuidado holístico e atenção

humanística, integrados ao controle da dor e de outros sintomas; instrui o doente que uma morte tranquila e digna é seu direito. Faz parte ainda do trabalho do enfermeiro contribuir para que a sociedade perceba que é possível desassociar a morte e o morrer do medo e da dor (SILVA; ARAÚJO; FIRMINO, 2008).

A atuação do profissional enfermeiro compreende tarefas e relações que vão desde a interação com cada usuário do serviço de saúde até articulações mais complexas, com familiares, equipe de saúde multiprofissional e institucional, e está entre diferentes faces do processo de cuidado, desde a entrada até saída do paciente, seja pela alta hospitalar, seja pelo óbito. De modo específico, no âmbito dos CP, o enfermeiro exerce seu papel desenvolvendo ações práticas e gerenciais em maior concordância com a equipe multiprofissional, cujos profissionais, nesse momento específico do tratamento terapêutico, concentram seus discursos para a estrutura do cuidado paliativo ante a estrutura da cura (FIRMINO, 2009).

Trata-se de uma abordagem de enfermagem generalizada numa prática médica clinicamente especializada. Nesse espaço clínico, o enfermeiro deverá ocupar seu espaço profissional junto à equipe multiprofissional, desenvolvendo as capacidades clínicas intrínsecas ao controle dos sinais e sintomas e a comunicação genuína para agregar as ações dos diversos profissionais em função do benefício do paciente, de sua família e também da instituição (FIRMINO, 2009).

Um estudo que investigou a prática de enfermagem em cuidados paliativos aponta que a autonomia em relação aos cuidados e apoio centrado no paciente foram identificados como componentes chaves da prestação de CP e em terminalidade de vida. Os mesmos autores enfatizam que a confiança entre os profissionais envolvidos e pacientes podem apoiar a tomada de decisão mais ampla em torno do cuidado, mas também, ao nível dos cuidados diários (WILSON et al., 2014).

Os requisitos básicos para o desempenho da enfermagem paliativa consistem no conhecimento da anatomia e fisiologia humana, fisiopatologia das doenças malignas degenerativas, farmacologia dos medicamentos utilizados no controle dos sintomas apresentados, técnicas de conforto, bem como, a habilidade de estabelecer boa comunicação (MATOS; MORAES, 2006).

Uma vez que em UTI a identificação da presença de alguns sintomas como dor, delírios, alterações de sono, boca seca e medo em pacientes críticos é um desafio imposto pela redução das capacidades comunicativas destes decorrentes da diminuição do nível de consciência e da dificuldade respiratória, intensificada pelo uso de tubos

endotraqueais ou traqueostomias, a avaliação da presença destes sintomas e o bom controle dos mesmos são medidas fundamentais para o sucesso de uma estratégia de humanização e melhora da qualidade do atendimento aos pacientes e seus familiares (KRETZER, 2012).

Prestar um cuidado competente, qualificado e diferenciado ao fim da vida é responsabilidade de todos os profissionais de saúde, cada um focando um ângulo diferente, conforme sua formação e especialidade. Porém, a enfermagem e, notadamente, o enfermeiro, tem potencial para aperfeiçoar esse cuidado. No plano técnico, o enfermeiro é um excelente avaliador dos sintomas e suas intensidades (não apenas da dor): está mais atento aos sintomas de natureza não exclusivamente física, tem condições de auxiliar, prevenir complicações indesejáveis, tem a arte da manipulação das feridas e sabe como lidar com as limitações que vão surgindo diariamente. Limitações essas que são as maiores e mais importantes queixas dos pacientes (SILVA; ARAÚJO; FIRMINO, 2008).

As ações devem preservar a autonomia do paciente, exercitando sua capacidade de se autocuidar, reforçando o valor e a importância da participação ativa tanto do doente como de seus familiares nas decisões e cuidados, permitindo uma melhor vivência do processo de morrer. Quem realiza CP tem um desafio a mais: precisa necessariamente ser maleável, entender que é desejável atender às necessidades do paciente em detrimento de algumas normas e protocolos de serviço e, por vezes até, de algumas vaidades pessoais (SILVA, 2009).