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Análise dos fatores que influenciam a atitude e o medo para com o lobo

Capítulo II – Área de Estudo e Métodos

2.2. Métodos

2.2.4. Preparação dos dados

2.2.5.7. Análise dos fatores que influenciam a atitude e o medo para com o lobo

atitude e o medo em relação ao lobo, e para cada grupo-alvo de atores (público-geral, criadores de gado e caçadores).

A influência das características sociodemográficas (idade, género, grau de escolaridade, tamanho da população) e de outros fatores (índice de conhecimento, conhecimento de ataques…) na atitude e medo face ao lobo foi avaliada através da

construção de modelos lineares generalizados (GLM; Zuur et al. 2007), baseados na regressão logística. As categorias selecionadas pelos inquiridos para cada resposta às questões sobre o medo e a atitude foram tratadas como variáveis dependentes e as restantes variáveis foram tratadas como variáveis independentes (Tabela 4).

Tabela 4 – Variáveis usadas nos modelos para testar quais as que influenciam a atitude e medo dos diferentes grupos em relação ao lobo.

Código da variável Variável Significado Descrição

IDADE Idade Idade Idade mencionada

pelo inquirido

GENERO Género Género 1) Masculino

2) Feminino

ESCOLAR Escolaridade Nível de

escolaridade 1) Sem escolaridade 2) Ensino básico 3) Ensino secundário 4) Ensino superior 5) Sem informação

POPULACAO População Número total de

habitantes por local de residência do inquirido 0) <1000 habitantes 1) ≥1000 habitantes ID_CONHECIMENTO Índice de conhecimento Valor do índice de conhecimento Índice a variar de 0 a 4

ID_MEDO* Índice de medo Valor do índice de medo Índice a variar de 3 a 15 ATAQUES** Conhecimento de ataques a animais domésticos Tem conhecimento de ataques de lobos a animais doméstico? 0) Não 1) Sim

*Variável usada apenas na análise dos fatores que poderão estar a afetar a atitude **Variável não usada nas análises dos criadores de gado.

Para o grupo dos criadores de gado foram ainda introduzidas as seguintes variáveis que só se aplicam para esse grupo:

Tabela 5 - Variáveis que podem afetar a atitude e medo em relação ao lobo, utilizadas como variáveis independentes apenas nos modelos construídos para os criadores de gado. Código da variável Variável Significado Descrição

PERDAS Perdas de animais

domésticos

Já sofreu perdas de animais domésticos por ataque de lobos?

0) Não 1) Sim

CAES Cães de gado Tem cães de gado? 0) Não

1) Sim

Uma vez que para cada inquérito foram formuladas três questões relacionadas com o medo e sete com a atitude perante o lobo, foi necessário considerar nos GLM criados um fator aleatório para incluir o carácter agrupado (ou “nested”) dos dados. Assim, foi

considerado o ID de cada inquirido como fator aleatório e optou-se pela construção de modelos lineares generalizados mistos (GLMM; Zuur et al. 2009).

Como os dados são ordinais e não independentes o modelo utilizado foi uma regressão logística ordinal de efeitos mistos (Cumulative Link Mixed Models), usando o pacote “ordinal” do software R (Christensen, 2015), que são uma extensão dos modelos lineares generalizados mistos para observações ordinais (Grilli & Rampichini 2012). Foi usada a função “clmm” (cumulative link mixed models; Christensen, 2015), com a função de ligação “logit” e um limiar simétrico (i.e. a distância entre os extremos da escala é simétrica em relação à categoria central da escala) para criar a maioria dos modelos para a análise das variáveis explicativas relativas aos dados associados ao medo e à atitude, para os diferentes grupos-alvo. No entanto, no caso dos dados do medo referentes aos criadores de gado e aos caçadores, os modelos utilizados foram modelos de ligação cumulativos (Cumulative Link Models – “clm”), sem a introdução de um fator aleatório, uma vez que a variância destes fatores para este grupo é muito próxima de 0, e os modelos mistos não convergiam. A exclusão do fator aleatório permite, desta forma, o cálculo da matriz de variância-covariância e estimar os erros padrão.

Para cada análise foram efetuados modelos que correspondem a todas as combinações possíveis das variáveis independentes consideradas, através da função “dredge”. A seleção dos melhores modelos foi efetuada usando uma abordagem baseada em critérios de informação (Burnham & Anderson, 2002). Assim foi usado o Critério de Informação de Akaike corrigido para amostras finitas (AICc) para ordenar os modelos e selecionar aqueles que melhor explicam os padrões detetados. Todos os modelos cujo valor de AICc < 2 (i.e. a diferença entre o AICc do modelo e o menor AICc estimado para o conjunto de modelos produzidos; Burnham & Anderson, 2002) foram considerados os melhores modelos, retendo as variáveis mais explicativas do modelo. No caso de haver mais que um modelo que cumprisse o critério mencionado anteriormente, procedeu-se ao cálculo do modelo médio, através da função “model.avg”, sendo esse o modelo que melhor explica os padrões de variação da atitude e do medo entre os inquiridos. Foi igualmente calculado o peso Akaike de cada modelo (w), que corresponde à probabilidade do modelo ser o melhor modelo (Burnham & Anderson, 2002). O pacote “MuMin” (Barton, 2016) do R foi utilizado para fazer os modelos que correspondem a todas as combinações possíveis das variáveis independentes consideradas e para produzir o modelo médio.

Nesse modelo médio foram avaliadas as variáveis independentes que melhor explicam a variação das variáveis dependentes (atitude e medo), ou seja, as variáveis cujo intervalo de confiança a 95% do coeficiente do modelo não inclui o 0: i.e., aquelas para as

quais é possível aferir qual o sentido da sua influência sobre a variável dependente. Esta abordagem permite excluir parâmetros pouco/não informativos dos modelos (Arnold 2010).

2.2.5.8. Análise da origem do medo

Da amostra de inquiridos que responderam 4 – “Concordo” ou 5 – “Concordo Absolutamente” à resposta II-3 do questionário (“A presença do lobo na zona onde vive causa-lhe medo/insegurança”), mostrando, portanto, algum medo em relação ao lobo, foi calculada a percentagem de pessoas que afirmaram que o medo ou insegurança que sentiam em relação ao lobo tinha origem em mitos e histórias antigas (Anexo I; pergunta II-5). Assim, averiguámos se estes fatores têm algum tipo de influência no medo sentido pelos inquiridos.