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Critério 2: Pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas sem outra causa não infecciosa

A: anal; T: aspirado traqueal; N: nasal;

5.7 Análise dos fatores de risco

A Tabela 17 mostra a comparação dos fatores de risco entre RNs colonizados e não colonizados por meio da análise univariada e multivariada. A análise multivariada dos fatores de risco para colonização revelou que a utilização de PICC aumenta seis vezes mais o risco de colonização e nutrição parenteral aumenta em quatro vezes mais.

Tabela 17. Análise univariada e multivariada dos fatores de risco associados à

colonização por micro-organismos em recém-nascidos internados na UTIN do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB).

NC: não colonizado; C: colonizado; OR: Odds ratio, PICC: cateter central de inserção periférica; NPP: nutrição parenteral.

A análise de regressão logística realizada para verificar os fatores de risco para colonização por micro-organismos Gram-positivos também mostrou que a utilização de nutrição parenteral e PICC aumentaram em cinco e sete vezes mais o risco, respectivamente (Tabela 18).

Univariada Multivariada Fatores de Risco NC % C % P OR IC 95 % P Masculino 18 51,4 78 54,2 0,918 0,875 (0,329 - 2,325) 0,788 Peso < 1000 g 4 11,4 24 16,7 0,613 1,402 (0,132 - 14,893) 0,985 1000 - 1500 g 4 11,4 55 38,2 0,004 2,039 ( 0,389 - 10,692) 0,453 ≥ 1500 g 27 77,1 65 45,1 0,001 Parto normal 8 22,9 45 31,3 0,441 1,853 (0,651 - 5,271) 0,247 34 - 36 s 10 32,3 19 15,4 0,050 29 - 33 s 15 48,4 66 53,7 0,898 0,848 (0,263 - 2,730) 0,628 ≤ 28 s 6 18,3 38 30,9 0,357 0,415 (0,046 - 3,721) 0,424 Cateter umbilical 11 31,4 70 48,6 0,100 1,214 (0,298 - 4,947) 0,786 PICC 6 17,1 92 63,9 <0,0001 6,241 (1,383 - 28,159) 0,017 NPP 6 17,1 92 63,9 <0,0001 3,943 (1,027 - 15,139) 0,045 Cirurgia 4 11,4 19 13,2 1 1,891 (0,301 - 11,891) 0,496 Ventilação Mecânica 7 20 50 34,7 0,140 1,145 (0,219 - 5,996) 0,872 Antibioticoterapia nas primeiras 72 horas 15 42,9 57 39,6 0,871 1,115 (0,399 - 3119) 0,835

Tabela 18. Análise univariada e multivariada dos fatores de risco associados à colonização por micro-organismos Gram-positivos em recém-nascidos internados na UTIN do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB). Univariada Multivariada Fatores de Risco C % I % P OR IC 95 % P Masculino 75 54 7 53,8 1 1,362 (0,52 - 3,55) 0,526 Peso < 1000 g 22 15,8 7 46,15 0,003 1,358 (0,15 - 12,34) 0,552 1000 - 1500 g 54 38,8 6 53,8 0,827 0,596 (0,12 - 3,00) 0,324 ≥ 1500 g 73 45,3 0 0 0,008 Parto normal 44 31,6 3 23,1 0,744 0,542 (0,19 - 1,52) 0,247 34 - 36 semanas 19 16 0 0 0,324 29 - 33 semanas 64 53,8 3 22,7 0,193 1,373 (0,42 - 4,50) 0,794 ≤ 28 semanas 36 30,2 10 76,9 0,004 2,500 (0,32 - 19,23) 0,407 Cateter umbilical 65 46,8 11 84,6 0,022 0,415 (0,10 - 1,71) 0,224 PICC 90 64,7 13 100 0,022 7,518 (1,69 - 33,33) 0,008 Nutrição parenteral 91 65,5 12 92,3 0,094 4,901 (1,32 - 17,89) 0,017 Cirurgia 19 13,7 2 15,4 1 0,613 (0,10 - 3,59) 0,588 Ventilação Mecânica 49 35,2 10 76,9 0,008 1,552 (0,32 - 7,57) 0,586 Antibioticoterapia nas primeiras 72 horas 53 38,1 5 38,5 1 0,655 (0,24 - 1,80) 0,412

C: colonização; I: infecção; OR: Odds ratio, PICC: cateter central de inserção periférica; NPP: nutrição parenteral.

Na análise multivariada realizada para verificar os fatores de risco para colonização por micro-organismos Gram-negativos não foi encontrado nenhum fator significativo com exceção do parto normal (Tabela 19).

Tabela 19. Análise univariada e multivariada dos fatores de risco associados à colonização por micro-organismos Gram-negativos em recém-nascidos internados na UTIN do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB).

C: colonização; I: infecção; OR: Odds ratio, PICC: cateter central de inserção periférica; NPP: nutrição parenteral.

Ao realizar as comparações entre RNs colonizados e infectados (18), colonizados e não infectados (126), não colonizados e infectados (0) e não colonizados e não infectados (35), observou-se que RNs colonizados apresentaram risco de 3,5 vezes maior de infecção (RR: 3,59 – IC 95% - 3,25 – 3,97 – P: 0,0259). Univariada Multivariada Fatores de Risco C % I % P OR IC 95 % P Masculino 45 50 2 33 0,679 1,677 (0,74 - 3,79) 0,2147 Peso < 1000 g 19 21,1 4 67 0,027 2,645 (1,30 - 4,37) 0,2378 1000 - 1500 g 37 41,1 2 33 1 1,420 (0,55 - 12,82) 0,7704 ≥ 1500 g 34 37,8 0 0 0,088 Parto normal 33 36,8 2 33 1 0,367 (0,92 - 0,146) 0,0331 34 - 36 semanas 5 16,4 0 0 1 29 - 33 semanas 41 52,6 2 33 1 0,245 (0,07 - 0,86) 0,319 ≤ 28 semanas 32 41,1 4 67 0,215 0,146 (0,027 - 0,77) 0,0635 Cateter umbilical 51 56,7 4 67 0,694 1,620 (0,62 - 4,24) 0,3261 PICC 64 71,1 5 83 1 0,327 (0,93 - 10,0) 0,0654 Nutrição Parenteral 65 72,2 5 83 1 3,058 (0,96 - 7,04) 0,0592 Cirurgia 14 15,6 1 17 1 0,909 (0,24 - 3,41) 0,8878 Ventilação Mecânica 40 44,4 5 83 0,107 1,522 (0,50 - 4,59) 0,4552 Antibioticoterapia nas primeiras 72 horas 39 43,4 6 100 0,026 0,800 (0,35 - 1,82) 0,5954

6. DISCUSSÃO

A problemática das IRAS em neonatologia determina-se pela sua incidência, pelo alto custo no tratamento, tempo prolongado de internação do RN, consumo de medicamentos e elevadas taxas de mortalidade neonatal. A susceptibilidade do RN favorece a colonização por micro-organismos potencialmente patogênicos. A quebra nas barreiras físicas do neonato, agravadas pela utilização de dispositivos invasivos, aumenta o risco de infecção por esses micro-organismos, sendo assim, salienta-se a importância desse estudo. 69

O presente trabalho demonstra que os micro-organismos Gram-positivos foram predominantemente isolados na colonização e infecção de RNs pertencentes à UTIN do HC da FMB. No nosso estudo houve o isolamento de 60,0% de micro- organismos Gram-positivos, 38,2%, de Gram-negativos, e 1,8% de leveduras, semelhante a estudos realizados por Cifuentes et al.70que estudaram cepas

provenientes de uma UTIN, pertencente a um hospital de referência exclusivamente perinatal na Colômbia, com isolamento de 64,0% de micro- organismos Gram-positivos, 30,6% de Gram-negativos e 4,9% leveduras.

O processo de colonização tem se mostrado variável em países ao redor do mundo, estando diretamente ligado ao cenário de cada unidade estudada. Os resultados aqui descritos revelam que os micro-organismos Gram-positivos colonizaram com maior frequência a MN, já os Gram-negativos e leveduras colonizaram em maior proporção a MA.

ECN são os micro-organismos mais frequentemente isolados associados à colonização e infecção em UTIN.71 Nossos resultados apontam que, dentre os

micro-organismos Gram-positivos isolados, 75,5% foram identificados como ECN. Ternes et al.72 demonstraram que 69,9% dos RNs pertencentes ao UTIN do

Hospital da Criança de Goiânia foram colonizados por ECN. A elevada incidência de colonização por ECN se justifica pelo fato desses micro-organismos serem integrantes da flora cutânea normal dos RNs. 73

Em relação à identificação dos ECNs, em nível de espécie, os resultados revelaram S. epidermidis como a espécie mais frequente colonizando RNs,

seguido de S. haemolyticus. Essa elevada frequência de S. epidermidis já é esperada, visto que é a espécie predominante na flora do neonato. 74A

predominância no processo de colonização dos RNs, maior patogenicidade de algumas cepas (como a capacidade de produção de biofilme), procedimentos invasivos e imaturidade do sistema imunológico, podem explicar o fato de S.

epidermidis ser a espécie mais frequente associada à infecção em neonatos como

foi demonstrado neste estudo. Taxas de incidência de 27,8% de sepse por S.

epidermidis foram aqui descritas. Pesquisas anteriores apontam incidências que

variam de 5,0% a 32,0%.

Estudos sobre o processo de colonização e sepse, em neonatos admitidos em UTIN, relatam que o gene mecA está presente na maior parte dos ECNs isolados, sendo que, nos micro-organismos isolados de patologias sistêmicas, as taxas de resistência apresentam-se mais elevadas.71O gene mecA foi detectado em

52,9% das amostras de colonização, esses resultados apresentam-se de forma semelhante a um estudo realizado no Brasil, onde foi detectada uma frequência de 60,0% das amostras carreadoras do gene mecA. 72 Dos isolados em RNs, com

diagnóstico de infecção, 100% dos S. epidemidis isolados de hemoculturas apresentaram o gene mecA. Freeman et al.75 revelaram com seus resultados que

essa frequência correspondeu a 80%. Tais observações sustentam a hipótese de que os ECNs podem ser um reservatório de genes (especialmente o gene mecA) e resistência a outros antimicrobianos, servindo como veículo de infecção estafilocócica no ambiente hospitalar.76

Também considerada uma espécie de relevância clínica, 77

S. aureus

colonizou 8,6% dos RNs. A maior frequência de colonização por S. aureus neste estudo foi encontrada na MN (85,7%) seguido pela MA (12,2%). Tal resultado está de acordo com o encontrado na literatura que revela S. aureus colonizando preferencialmente a MN. 78

A taxa de incidência de infecção por S.aureus descrita neste estudo corresponde a 11,1%, tal fato sustenta o relato de Zervou et al. 77, que evidencia

que S. aureus é o segundo patógeno mais comumente encontrado, causando IRAS. Um estudo realizado na Universidade Federal de Uberlândia observou que a taxa

de incidência de infecções por S. aureus equivale a 2,2%.79

Taxas de colonização e infecção por MRSA em UTIN variam de instituição para instituição em decorrência das políticas de controle de infecção no hospital e da frequência de MRSA no local.80 Silva et al.79 relatam que a taxa de

incidência de infecção por MRSA em seu estudo corresponde a 5,5%, similar ao presente trabalho que também evidenciou taxa de incidência de infecção por MRSA que se iguala a 5,5%. Mangini et al.,81 em Nova York, constataram que a

incidência de colonização nasal por MRSA representa 14,3%, por outo lado a UTIN estudada apresentou incidência menor, o equivalente a 3,3%.

No decorrer dos anos, novas cepas de MRSA surgiram e se tornaram fontes importantes de infecções para pacientes tanto no ambiente hospitalar como na comunidade. Historicamente, grande parte das infecções por MRSA ocorria devido a cepas relacionadas aos cuidados à saúde (HA-MRSA) que se disseminavam no ambiente hospitalar. Pela primeira vez, na década de 1990, pacientes adultos e pediátricos, com ausência de internação prévia e fatores de risco para aquisição de MRSA, foram colonizados ou tiveram infecção por MRSA.82Análises adicionais desses espécimes por métodos moleculares levou à

descoberta de que cepas de MRSA existiam na comunidade, ficando conhecidas com MRSA associado à comunidade (CA-MRSA). HA-MRSA e CA-MRSA são genotipicamente e fenotipicamente distintos, transportam diferentes tipos de cromossomos estafilocócicos que codificam a proteína 2a de ligação à penicilina e conferem padrão distinto de resistência aos antibióticos.83 Os clones de HA-

MRSA estão tipicamente associados a SCCmec dos tipos I – III, enquanto CA- MRSA estão relacionados a SCCmec do tipo IV-V. Carey et al.,84com sua análise

molecular revelaram que a colonização e infecção em RNs são, predominantemente, desenvolvidas por CA-MRSA. No presente estudo, 50,0% dos isolados de infecção por S. aureus carreavam o SCCmec tipo IV.

Todos os isolados de S. epidermidis presentes em ICS foram desencadeados por cepas de provável origem comunitária. Estudos têm demonstrado que a frequência de SCCmec entre ECNs está aumentando em decorrência do grande número de IRAS ocasionadas por esses micro-organismos,

como, também, pela capacidade de transferência de elementos genéticos entre as

Staphylococcus spp.85Observou-se, com a realização deste trabalho, que a maioria

dos ECNs isolados de colonização foram de origem hospitalar.

Entre os primeiros patógenos a colonizar o trato gastrintestinal dos RNs estão os Enterococcus spp., as fontes primárias de colonização por este agente incluem aleitamento materno, trato genital e a cavidade oral materna.86 Os

resultados deste estudo apontam que Enterococcus spp., em especial E. faecalis, colonizam em maior proporção a MA dos RNs, em uma frequência de 69,7% quando comparado com a colonização nasal que equivale a 25,0%. Esses achados são compatíveis com dados revelados por Campos et al.59 que também

constataram que o sítio de maior colonização por este patógeno corresponde a MA (79,3%) e, menor, MN (20,7%).

Considerados agentes patogênicos e facultativos, podem ocasionar uma variedade de processos infecciosos, incluindo infecção do trato urinário, intra- abdominal, pélvica, infecções dos tecidos moles, sepse e endocardite.87 Os

resultados desta pesquisa expõem que 14,3% dos RNs desenvolveram sepse e, 7,1%, evoluíram para pneumonia, por E. faecalis, no decorrer do período de internação hospitalar. Um estudo realizado na Universidade de São Paulo88

apresentou dados semelhantes, sendo que 9,1% dos RNs evoluíram para sepse, porém, nenhum apresentou pneumonia. O acompanhamento dos pacientes colonizados e com infecção por esses micro-organismos vem merecendo importância crescente nos últimos anos, uma vez que os Enterococcus spp. vêm desenvolvendo mecanismos de resistência a vários antimicrobianos.89

BGNs são considerados os principais problemas no ambiente hospitalar, em decorrência da elevação das taxas de resistência aos antimicrobianos. A colonização de superfícies mucosas por estes patógenos começa posteriormente ao nascimento.90 Em relação à colonização por enterobactérias, este trabalho

demonstrou maior colonização na MA (72,2%) seguida pela MN (21,1%).

Serratia marcescens é um micro-organismo nosocomial importante,

principalmente em UTIN, podendo ocasionar processos infecciosos graves englobando meningite, bacteremia e pneumonia, com associação significativa

entre morbidade, mortalidade e neonatos.90 Usualmente este patógeno não é

integrante da microbiota bacteriana dos RNs,91 podendo ser transmitido através da

alimentação,92 uso de sabonetes93 e antissépticos contaminados como também,

através do contato.94 Os resultados desta pesquisa apontam que Serratia

marcescens foi a bactéria isolada com maior frequência em amostras de

colonização anal (41,3%) e nasal (62,0%). A frequência de colonização anal apresentou-se de forma semelhante a um estudo realizado na Suíça, onde 55% dos micro-organismos isolados da MA foram Serratia marcescens. 95

Nossos resultados revelaram a colonização de RNs por Cedecea neteri, micro-organismo raramente isolado de espécimes clínicos de humanos. Aguilera et al.96 relataram no ano de 1992 em Madrid o caso de um paciente adulto com

lúpus eritematoso sistêmico que desenvolveu bacteremia aguda, em decorrência desse patógeno, evoluindo para óbito. Outro estudo realizado em uma UTIN na Colômbia isolou Cedecea neteri em cultura de sangue de um RN.97 Esta espécie

também foi isolada no ano de 2012 proveniente de uroculturas de crianças atendidas em um laboratório de análises clínicas de Goiânia.98

Outro gênero raro que foi encontrado colonizando os RNs estudados foi

Raoultella spp., que também pertence à família Enterobacteriaceae, 99 membros do

gênero incluem Raoultella electrica, R. terrigena, R. planticola, e R.

ornithinolytica. Está documentada na literatura a capacidade destas espécies de

causar bacteremia em humanos e estabelecido que o gênero Raoultella é patogênico. No entanto, a sua virulência e susceptibilidade antimicrobiana são desconhecidas.100

No presente estudo, dentre os micro-organismos Gram-negativos, aqueles que apresentaram maior incidência de infecção foram Klebsiella spp. (16,7%). Cezário et al.101 observaram que a incidência de infecção por Klebsiella spp. se

iguala a 27,7%. Esse patógeno é altamente resistente a diversos agentes antimicrobianos, se relaciona etiologicamente a infecções oportunistas graves e surtos nosocomiais, se aloja na microbiota do trato gastrintestinal dos neonatos e, ultimamente, responde cada vez menos à terapia antimicrobiana em decorrência da existência de cepas produtoras da enzima betalactamase de espectro estendido

(ESBL), a qual degrada um elevado número de antimicrobianos.102

Os micro-organismos Gram-negativos, não fermentadores de glicose, identificados no presente trabalho, revelaram que a frequência de colonização por

P. aeruginosa corresponde a 52,9%, enquanto para Acinetobacter spp. equivale a

47,1%, evidenciando maior colonização por P. aeruginosa, especialmente na MA, sendo que Acinetobacter spp. coloniza em maior proporção a MN. Em estudo realizado por Parm et al.103também foi observado que Acinetobacter spp. coloniza

com maior frequência a mucosa nasal (87, 0%) em comparação à colonização por

Pseudomonas aeruginosa (47,0%).

Em relação à infecção por esses micro-organismos, os resultados deste trabalho permitem relatar que a frequência de infecção por Acinetobacter

baumannii corresponde a 14,3%, enquanto que Chiaratto 88 revela em seu estudo

7%. Esta espécie é conhecida pela elevada capacidade em adquirir mecanismos de resistência a diferentes antimicrobianos e sobrevivência a condições adversas. 104

A importância clínica de P. aeruginosa caracteriza-se pela resistência múltipla aos antimicrobianos e, consequentemente, elevados índices de mortalidade e morbidade.105 Esse patógeno pode apresentar resistência natural ou

adquirida a diversos antimicrobianos utilizados na prática clínica.106 A

transferência de material genético ocorre de forma natural intra ou interespécies entre os bacilos Gram-negativos, sendo relatada como responsável pela aquisição de mecanismos de resistência. Assim, a capacidade de tornar-se resistente ao tratamento antimicrobiano é inerente à espécie e, muitas vezes, inevitável. 107

Dentre todos os micro-organismos fúngicos, os neonatos são colonizados em grande parte pelas várias espécies de Cândida spp. Os mecanismos de colonização englobam principalmente a adesão do fungo ao hospedeiro, podendo evoluir para invasão dos tecidos profundos e órgãos, bem como a disseminação sistêmica. Todos esses fatores dependem do número de organismos fúngicos, da sua virulência e das características da resposta do hospedeiro.108

Nos RNs pertencentes a este estudo, a MA foi o sítio de colonização comumente acometido, evidenciando uma frequência de colonização de 77,0%, concordando com resultados demonstrados por Gagneur et al.109, onde 74% dos

casos ocorreram na MA. Cândida albicans foi a espécie encontrada com maior frequência (92,4%), esses dados são compatíveis com os encontrados na literatura que revelam Cândida albicans como a principal espécie isolada. Acredita-se que a maior parte dos casos de candidemia seja adquirida de origem endógena, através da translocação do micro-organismo pela mucosa do trato gastrintestinal, local frequentemente colonizado por fungos.110 Qualquer variável que provoque

alteração da microbiota ou lesão da mucosa gastrintestinal pode desencadear translocação de Cândida spp. do lúmen intestinal para os capilares mesentéricos.111

A colonização das vias aéreas de RNs, que apresentam o sistema respiratório já comprometido, representa fator de risco para o desenvolvimento de pneumonia. PAV é a principal causa de morte entre todas as IRAS em pacientes submetidos à ventilação mecânica.112 As evidências dessa pesquisa revelam que

dentre os micro-organismos isolados do AT, aqueles que apresentaram maior frequência foram S. epidermidis (45,4%) e Serratia marcescens (50,0%), visto que estas duas espécies também foram as mais encontradas em outros sítios de colonização. Os resultados aqui descritos demonstram que oito neonatos evoluíram para pneumonia, confirmada laboratorialmente, ao longo do período de internação hospitalar. Observamos que os micro-organismos mais comumente isolados incluem Staphylococcus epidermidis (7,7%), Staphylococcus

haemolyticus (7,7%), Staphylococcus hominis (15,4%), Serratia marcescens

(26,8%), Klebsiella oxytoca (14,3%) e Enterococcus faecalis (7,7%). É importante ressaltar que um dos neonatos, que evoluiu com pneumonia ocasionada por

Serratia marcescens e Enterococcus faecalis, estava colonizado pelo mesmo

micro-organismo, fato que comprova a infecção pela extensão dos sítios de colonização.

A identificação dos principais micro-organismos nosocomiais presentes nos recém-nascidos, que permanecem em tratamento intensivo, e seu padrão de resistência à antimicrobiana são fundamentais, não apenas na identificação das possíveis fontes de contaminação, como também na escolha do antimicrobiano adequado, evitando retardo no tratamento clínico eficaz. A resistência aos

antibióticos vem aumentando com a disseminação e maior tempo de uso destes na população.113 Os resultados deste estudo, em relação à susceptibilidade

antimicrobiana dos ECNs, revelam que quatro RNs estavam colonizados e dois evoluíram para infecção por Staphylococcus epidermidis resistentes a sulfametoxazol/trimetoprim. Vale ressaltar que um dos RNs estava colonizado e desenvolveu infecção. A frequência de resistência aqui encontrada se iguala a 35,3%, similar a verificada por Mendes et al.114 que observaram resistência

correspondente a 47,9%. Um dos isolados resistentes a sulfametoxazol/trimetoprim também foi resistente a quinupristina/dalfopristina. Dentre esses isolados, somente essa amostra resistente a quinupristina/dalfopristina não carreava o gene mecA.

No decorrer dos últimos anos, Enterococcus spp. têm emergido como importantes agentes de IRAS, tendo gerado sérios problemas em decorrência do desenvolvimento de mecanismos de resistência.86 Neste trabalho pôde ser

constatado que o mesmo RN foi colonizado e evoluiu para infecção por

Enterococcus faecalis, resistente a quinupristina/dalfopristina. A frequência de

resistência por Enterococcus faecalis observada neste estudo equivale a 66,6%, enquanto Mendes et al.115 revelaram valores correspondentes a 80%.

A resistência em enterobactérias é um grave problema de saúde pública mundialmente, em decorrência da elevada mortalidade e reduzido número de opções terapêuticas.116 Os dados aqui descritos revelam que um RN desenvolveu

ITU por Proteus mirabilis resistente a tigeciclina, porém, não foi colonizado pelo mesmo micro-organismo. Embora este fármaco seja um dos poucos antimicrobianos que continuam apresentando eficácia contra patógenos Gram- negativos, esta resistência é justificável, pois tigeciclina apresenta atividade antibacteriana reduzida contra enterobactérias dos gêneros Morganella,

Providencia e Proteus.45

A análise do perfil de macrorrestrição do DNA cromossômico dos

Staphylococcus epidermidis, provenientes da colonização e infecção dos RNs,

permitiu identificar a presença de 2 clusters (A, B), sendo que, no cluster A foi possível observar a presença de isolados de diferentes RNs com perfis idênticos ou

alta taxa de similaridade, sugestivo de contaminação cruzada. Além disso, isolados obtidos do mesmo RN, porém, de sítios diferentes também se apresentaram como idênticos, comprovando que o micro-organismo que colonizava o RN no momento da coleta também era o agente infeccioso. Dentre as cepas, somente uma apresentou SCCmec tipo I, três amostras evidenciaram SCCmec tipo IV, cinco apresentaram o SCCmec tipo III e um dos isolados não carreava o gene mecA. A presença de diferentes tipos de SCCmec demonstra o quanto é dinâmico o processo de colonização no ambiente da UTIN. Com a análise do cluster A foi possível observar que determinada cepa persistiu na UTIN durante aproximadamente um ano, este fato é justificável pelo agrupamento das amostras provenientes do início e do final da obtenção dos espécimes, evidenciando que esta cepa tem a característica de persistência colonizando vários RNs e diferentes sítios.

Em relação ao cluster B, vale ressaltar que os isolados provenientes de um mesmo RN demonstram ser todos idênticos, ou seja, o agente causador da infecção colonizava outros sítios do RN. Um dado importante deste agrupamento é que todos os isolados carreavam o SCCmec Tipo IV, com exceção de uma amostra de colonização proveniente da MN. Resultados semelhantes aos evidenciados neste estudo foram relatados por Cossey et al.117 que investigaram o

perfil clonal de isolados provenientes da MA e hemocultura de RNs e obtiveram como resultado a similaridade entre elas.

As amostras de Staphylococcus aureus também são provenientes de um único RN evidenciando a presença de amostras idênticas em diferentes sítios. Os isolados da hemocultura e da MA carreavam o gene mecA, porém, o isolado da MN não albergava. Estes achados sugerem a circulação e aquisição destas estirpes MRSA no ambiente hospitalar, uma questão de fundamental importância para a saúde pública, dada a capacidade patogênica e capacidade de disseminação destas cepas. Rodríguez et al. 118 realizaram a análise do PFGE de todos os isolados de

MRSA e observaram que os isolados de colonização foram estreitamente relacionados às amostras de infecção, apresentando coeficiente de similaridade de 80-85%.

Embora pertencente a outro gênero, Enterococcus faecalis também apresentou um cluster majoritário com 4 isolados idênticos de hemocultura e MN provenientes do mesmo RN. As amostras de outro neonato provenientes de AT e da MN apresentaram relação clonal, enquanto o isolado da mucosa anal não apresentou similaridade. Cilo et al.119 analisaram o perfil clonal de amostras de

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