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4. DESENVOLVIMENTO DO MODELO

4.2 ANÁLISE DOS MÉTODOS MULTICRITÉRIO

Esta seção promove a análise dos métodos multicritério abordados na revisão de literatura. As características do paradigma construtivista são percebidas nos métodos das famílias ELECTRE e PROMETHHE, cuja abordagem é voltada à sobreclassificação. Mesmo o modelo sendo idealizado para suportar a tomada de decisão, esta pesquisa aborda um problema real e a sua validação será obtida com a geração de uma resposta objetiva e estruturada. Tais atributos são alcançados através da problemática de escolha e da abordagem do critério único de síntese, alinhados com o paradigma racionalista.

Depreendeu-se que os métodos com problemática de preferência voltados para classificação (ranqueamento) são demasiadamente dependentes do conhecimento e

percepções do tomador de decisão. Isto pode ocasionar distorções nos resultados, no que se refere à avaliação das alternativas. Suas estruturas não demonstraram adesão à natureza do problema da pesquisa. Complementarmente, não foram encontradas referências de estudos aplicando os métodos DEA, TOPSIS, VIKOR e DEMATEL para escolha de localização geográfica.

A Análise Conjunta, ou método da preferência declarada, também foi analisada sob o prisma do tema deste estudo. Este método é amplamente empregado pela área de marketing, com o objetivo de avaliar o comportamento do consumidor e mapear as suas preferências. A sua vocação mercadológica, contudo, não atesta a pertinência da sua aplicação em casos de decisão sobre a localização de unidades industriais. As preferências dos entrevistados capturadas através da Análise Conjunta podem ser confirmadas, convertendo-se (oportunamente) em realidade, ou (eventualmente) podem não se concretizar. Por esta razão, Novaes et al. (1996) apontam ser comum a prática de recalibrar a função utilidade obtida mediante a preferência declarada, a partir de uma amostra de dados levantados em situações concretas. O ajuste dinâmico da função utilidade com base amostral não é tão facilmente aplicável em decisões de nível estratégico, que envolvem investimentos de longo prazo e os objetivos estratégicos de uma organização, como é o caso de escolha localizacional, cuja necessidade de reversão seria complexa, ou até inviável.

Por não exigir o estabelecimento dos pontos exatos de indiferença, assim como na análise tradicional de trade-offs, o FITradeoff requer um esforço cognitivo menor por parte do decisor, podendo resultar em uma taxa menor de inconsistências. É um método interativo e flexível, que busca uma solução para o problema a cada interação com o decisor e este pode suspender o processo, quando julgar apropriado. Dentre os métodos multicritério mapeados na revisão bibliográfica, o FITradeOff é o mais recente. Em pouco mais de 4 anos desde a sua criação, o mesmo já foi aplicado em problemas de localização, com considerável êxito e reconhecimento pelo meio acadêmico (UFPE, 2019). A flexibilidade proposta na sua modelagem, através da coleta parcial das preferências do decisor, confere perfil inovador ao método. Por outro lado, Almeida et al. (2016) enfatizam a necessidade de estudos direcionados para corroborar as vantagens de simplificação atribuídas ao método. Sendo assim, o mesmo ainda não confirma o rigor e robustez requeridos para realização desta pesquisa, a qual está alicerçada nos atributos do Design Science Research. Mesmo o FITradeoff apresentando potencial promissor,

ainda deverá sofrer aprimoramentos conceituais, até a sua consolidação entre os principais métodos multicritério.

A ponderação de fatores é considerada um método rústico e sem estruturação. Contudo, a facilidade da sua aplicação pode auxiliar, quando houver interesse, ou necessidade, de validar os resultados apurados com a aplicação de outros métodos. O MAUT apresenta fundamentos sólidos, tendo sido o precursor dos preceitos da escola americana de decisão multicritério. Talvez por esta razão, ele se confunda como abordagem e também como método. Ao estabelecer a abordagem do critério único de síntese, de certa maneira o MAUT já está sendo ocupado, o que tornaria redundante a sua utilização como método multicritério e um limitante heurístico da pesquisa e do modelo em construção.

O método de Borda é considerado de fácil aplicação, sendo amplamente utilizado em situações práticas, em decorrência da sua simplicidade de cálculo. Mesmo apresentando imperfeições matemáticas, o método oferece justiça matemática ao sistema tradicional de escolha (eleição) e pode ser usado tanto para problemas de escolha, quanto de ordenação (FONTANILLAS et al., 2014). Verifica-se a oportunidade de aplicação combinada do Borda com métodos mais robustos, conjugando os seus atributos de simplificação em situações de maior complexidade.

O comparativo entre ANP e AHP (SAATY, 2004) aponta que o AHP se aplica melhor, pois o problema abordado nesta pesquisa não apresenta interdependência entre fatores. Neste caso, a técnica de hierarquia, demonstrada na Figura 11, é mais eficiente. Além disso, também não foi possível constatar histórico de aplicação do ANP em análises de localização geográfica de unidades industriais.

O AHP é um método vastamente difundido e aplicado na literatura, tendo diversas publicações no ambiente acadêmico e profissional, com ênfase para casos de decisão multicritério nas organizações, sobretudo naqueles em que se caracterize o paradigma racionalista e a problemática de escolha. Saaty (1991) defende a estruturação do AHP de forma hierárquica e a comparação em pares de cada um dos seus fatores, sendo fiel a situações de vida real, uma vez que analisa os elementos mais importantes e a relação entres os diferentes elementos. Ressalta-se o histórico de sucesso de utilização do AHP, evidenciado em vários artigos: Zahedi (1986), Golden et al. (1989), Shim (1989), Vargas (1990), Saaty e Forman (1992), Forman e Gass (2001), Omkarprasad et al. (2006), Ho (2008), Liberatore e Nydick (2008), Sipahi e Timor (2010), Ishizaka et al. (2012), Arueira

(2014). Para os autores, a avaliação por pares de alternativas e critérios é o diferencial do AHP, que contribui para um resultado mais preciso do que a avaliação direta dentro da soma ponderada tradicional (MILLET, 1997; SAATY, 2004; SAATY, 2005; SAATY, 2006; WHITAKER, 2007).

Figura 11 – Estruturação Hierárquica do AHP

Fonte: Saaty (1991)

Através de formulação matemática, o AHP obtém consistência das respostas da matriz de prioridades criada pelo tomador de decisão. Desta forma, o método busca traduzir as prioridades do decisor de maneira que o resultado da avaliação reflita com fidelidade a realidade encontrada (ARUEIRA, 2014). Em contrapartida, a técnica de pareamento demanda mais avaliações do decisor, o que limita a utilização do AHP apenas para problemas com baixo número de critérios e alternativas. Em modelos onde é utilizada a combinação de mais de um método, a literatura indica que existe maior complexidade para implantação da ferramenta e, por esta razão, esses modelos são propostos para problemas mais complexos, quando os fatores podem apresentar interdependência ou subjetividade.

A seleção do local mais apropriado para a instalação de plantas industriais é fundamental na estratégia das organizações, uma vez que essa decisão leva a um

compromisso de longo prazo, gerando um impacto significativo na competitividade da organização (FONTE, 2018). Yang e Lee (1997) corroboram quatro pressupostos básicos para a aplicação do método AHP em um modelo de decisão sobre localização de instalações, quais sejam:

- A necessidade de instalar uma facility é plenamente justificável. O trabalho de seleção das alternativas é complexo o suficiente para requerer a opção pelo modelo, além de existirem recursos suficientemente disponíveis para conduzir a uma análise completa. - Os decisores envolvidos devem possuir fortes preferências e insights sobre uma ou mais regiões geográficas para localização das instalações pretendidas antes do processo de escolha, de modo a selecionar um número razoável de locais candidatos.

- Os decisores possuem uma boa compreensão das operações e das variáveis envolvidas no processo de localização das instalações de maneira que a elicitação de suas escolhas reflita as preferências da organização.

- Os decisores fornecem seus julgamentos gerenciais e conhecimento especializado como informações (inputs), a serem integradas ao processo de solução do problema.

Foi observada, através da revisão bibliográfica, a utilização de diversos métodos de decisão multicritério, com diferentes abordagens e em diferentes contextos. Constatou- se que existe uma vasta quantidade de trabalhos que utiliza o método AHP, pelo fato de propiciar resultados objetivos e precisos, além de ser um método bem estruturado e facilitar implementação no ambiente corporativo. Colin (2007) ressalta que o AHP deve ser entendido como um processo que estrutura o pensamento para a tomada de decisão, e não um algoritmo que busca a solução do problema apresentado. O processo decisório utilizando AHP é tipicamente iterativo, permitindo o uso de análise de sensibilidade em qualquer parte do modelo, para verificação da resistência das alternativas a possíveis mudanças nas funções de utilidade empregadas, contribuindo para uma compreensão maior do problema por parte do decisor, como limitações ou abrangência.

Os resultados encontrados na literatura, relativos à aplicação de cada um dos métodos multicritério, associada à maturidade alcançada na percepção das características do problema desta pesquisa, atestam a pertinência de utilização do AHP. Por outro lado, ficou evidente que o emprego do AHP para análise pareada de uma quantidade elevada de critérios, subcritérios, ou alternativas pode tornar o processo estafante para o tomador de decisão, comprometendo a fidelidade dos resultados obtidos e, consequentemente, a

eficiência do modelo. Este contexto é potencialmente identificado em casos de decisão sobre localização de unidades industriais, que, dada a amplitude do tema, deverá englobar uma gama considerável de fatores a serem avaliados e pode considerar um volume de alternativas maior do que o indicado para a utilização do AHP.

A construção do modelo proposto por este trabalho requer a conjugação da robustez agregada pelo AHP com outro método multicritério igualmente consolidado no meio acadêmico, mas que confira dinamismo e menor esforço nas etapas mais complexas, as quais podem desviar a atenção do tomador de decisão e distorcer os resultados. Destaca-se a vocação do método de Borda para contribuir neste contexto, especificamente para a elicitação dos pesos das alternativas, sob o prisma de cada um dos subcritérios estabelecidos, enquanto a aplicação do AHP enfoca a elicitação dos pesos dos critérios e subcritérios.

A aplicação combinada destes dois métodos para problemas de decisão localizacional desponta como uma proposta inovadora no meio acadêmico, tendo em vista que não foram encontrados registros sobre estudos prévios desenvolvidos neste sentido. Além de auferir simplicidade e objetividade na utilização do modelo em situações reais, não deixará de cumprir com o rigor e robustez necessários para atestar a relevância acadêmica do artefato, com base na solidez estrutural e maturidade dos atributos percebidos nos dois métodos, extraindo o melhor de cada um deles para aproveitamento no modelo em construção. Destarte, concluída a análise dos principais métodos multicritérios, ratifica-se que o AHP e método de Borda serão aplicados conjuntamente na construção do modelo para decisão sobre a localização geográfica de unidades industriais.