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Análise dos projetos binacionais Brasil-Venezuela

2.3 PRINCIPAIS INICIATIVAS NO CAMPO ENERGÉTICO

2.3.4 Análise dos projetos binacionais Brasil-Venezuela

Uma das percepções a serem notadas pelos resultados das parcerias com o Estado venezuelano é de que há bastante interesse pela integração, de ambos os lados, para diminuir as lacunas existentes da política e economia da América do Sul. Porém, apesar dos esforços, a Venezuela encontra grande dificuldade em cumprir o acordado, em certa parte pela falta de estabilidade interna, produzida pelas incertezas em relação a Chávez, que age em muitos casos com autoridade demais. Em contrapartida, o apoio político venezuelano para com o Brasil é de extrema importância para as pretensões internacionais brasileiras de liderança no hemisfério sul.

É de suma importância para o governo brasileiro que a integração sul-americana obtenha projetos concretos para diminuir as distâncias políticas na região. A visão internacional a respeito do Brasil como liderança seria consolidada caso a dependência energética extra-regional fosse eliminada, pode-se analisar este fator pela paciência e cautela a

lidar com o governo venezuelano e sua estatal petroleira, como no caso da Refinaria Abreu e Lima.

A despeito de os esforços para integração com o vizinho amazônico, no que se refere à energia, terem sido desfavoráveis para o Brasil, o fluxo comercial em outras áreas teve grande ascensão desde a entrada de Chávez no poder, com maior ênfase desde a aproximação com Lula. Os ganhos com a grande diferença das exportações para com as importações tornou a balança comercial Brasil-Venezuela uma das mais promissoras brasileiras com um país sul-americano. Logo, os malogrados projetos energéticos tiveram a compensação para o governo em outra área.

O Brasil teve especial interesse nesse intercâmbio comercial com o vizinho amazônico, pois seria um ótimo parceiro para escoamento de produção na região. Anos mais tarde, este nicho encontrado pelos brasileiros provou ter sido acertado. Segundo relatório elaborado pelo Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), em 1998, antes da entrada de Chávez no poder, a balança comercial entre os países era de US$ 49 milhões, desfavorável para o Brasil, e em dez anos, foi de mais de US$ 4 bilhões, sendo as exportações dez vezes maiores que as importações23. A autossuficiência brasileira em petróleo, alcançada em 2006, foi o fator principal na mudança dessa balança. Tendo o principal produto venezuelano de exportação com a demanda em queda no mercado brasileiro, foi mais fácil equilibrar o comércio e passar a exportar mais do que importar. Assim sendo, como o Brasil tem uma estrutura industrial mais avançada, a liberalização e parceria com a Venezuela trouxe benefícios para as exportações nacionais. (VIEIRA, 2010, p.109-110)

23 BRASIL. Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Comércio Exterior – Setembro

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar as motivações e como se deram as relações energéticas na América do Sul foram incentivados após estudos sobre História das Relações Internacionais e Geopolítica e Política Internacional. O embate do pensamento neoliberal que assolou a América do Sul, durante o final dos anos 80 e começo dos anos 90, com uma esquerda ascendendo mais para o final do século, gerou mudanças na política exterior dos países e as relações Sul-Sul começaram a ter uma maior atenção. Essa nova configuração do cenário sul-americano e de como, de fato, essa integração aconteceria, gerou curiosidade durante toda a graduação, culminando neste artigo.

A pesquisa em relação ao comportamento dos países sul-americanos em relação à integração é bastante recente. Alguns destes países, caso de Venezuela e Brasil, começaram sua aproximação recentemente, sendo o comércio e as relações anteriores a este período bastante incipientes. Pela ideologia dos líderes estudados e o rompimento na política externa em relação aos antecessores, alguns autores divergem na eficácia dos instrumentos aplicados em relação aos vizinhos. Para alguns destes, em clara oposição aos governos, o alinhamento aos grandes centros comerciais seria mais consistente e confiável.

A Venezuela possui interesse no Brasil para integração, não apenas no sentido político, mas econômico também. Enquanto, não obstante, brasileiros intencionam uma relação mais aprofundada com o vizinho. O sonho antigo de ambos, aos poucos vem se tornando realidade. Após a ascensão de Hugo Chávez ao governo venezuelano, a aproximação foi acontecendo gradualmente, culminando em números bem generosos para o governo brasileiro desde o começo do mandato de Lula. Tanto na política, evidenciada pelas várias visitas dos presidentes a Caracas e Brasília, mas também na economia, como o excelente acréscimo de comércio entre os países. Sendo a Venezuela um ótimo local para escoamento da produção brasileira na região, enquanto para venezuelanos era importante um desprendimento em certo grau da dependência de produtos norte-americanos. Em termos políticos, para Lula, a política externa foi bastante dedicada a uma identificação sul- americana, para um fortalecimento internacional, tanto dos vizinhos como do Brasil sendo uma potência hegemônica regional.

A política externa dos governos com tendência esquerdista de Chávez e Lula priorizaram as relações Sul-Sul, diversificando as relações comerciais que existiam anteriormente. O alinhamento às grandes potências foi deixado de lado e, a exemplo do governo brasileiro, a integração sul-americana foi uma busca incessante durante todo período

de seus mandatos. A diplomacia presidencial esteve presente em ambos os governos, mas mais especialmente no líder venezuelano que inseriu internacionalmente seu país, em alguns casos, como em atritos com os Estados Unidos, de forma negativa.

Os projetos integracionistas para a América do Sul ganharam espaço e entraram na agenda presidencial brasileira e venezuelana. A partir de alguns encontros, vários acordos de cooperação foram assinados, desde produtos manufaturados até acordos energéticos. As estatais petroleiras de Brasil e Venezuela, PETROBRAS e PDVSA, respectivamente, tiveram seus laços aumentados graças a estes acordos. Grandes projetos, com dimensões continentais, foram planejados para atender a grande maioria – senão todos – os países sul-americanos. Partindo do princípio de que com os países integrados e comunicando-se as lacunas políticas e de segurança iriam diminuir, logo as interferências extra-regionais seriam minimizadas, o que seria bom para a soberania dos Estados da região.

Embora os projetos, no campo energético, pensados por Chávez e Lula, tenham sido amplamente dialogados, a maioria deles não teve vida longa. Muito porque as divergências de pensamento e postura entre os governantes começaram a surgir estremecendo as relações e o futuro dos projetos. Hugo Chávez acabou fazendo declarações que desagradaram o presidente brasileiro, o que, neste caso, levou Lula a repensar sobre os investimentos no maior projeto chavista de integração energética, o Gasoduto Sul. Apesar das tentativas venezuelanas para tirar do papel o projeto do gasoduto, o Brasil acabou declinando a parceria.

A despeito do Gasoduto do Sul não ter saído do papel, o projeto da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está com as obras em andamento. A refinaria foi projetada tendo como investidores PETROBRAS e PDVSA, sendo as cotas de investimento inicial de 60% e 40%, respectivamente. Porém, após longa espera das garantias venezuelanas junto ao BNDES, responsável pelo fomento do projeto, até agora não há certeza nenhuma sobre o assunto. O que leva a estatal brasileira a repensar a binacionalidade da refinaria e se mostra aberta a novas parcerias, caso a petroleira venezuelana não entregue as garantias ainda este ano.

Muito embora os processos integracionistas, no campo energético, não tiveram os frutos desejados é importante notar que o comércio Brasil-Venezuela nunca esteve tão em alta. Podemos comprovar isso pelo aumento das importações e exportações de ambos os países, a balança comercial anterior ao governo Chávez possuía cifras na casa dos milhões de dólares, com sua entrada no poder e mais tarde a de Lula, esta cifra anterior superou os bilhões de dólares. Logo, apesar do insucesso brasileiro na parceria energética, a relação com

a Venezuela lhe deu mais poder e soberania internacional, além de bons frutos comerciais que apenas tendem a aumentar com o ingresso venezuelano no bloco do MERCOSUL ainda este ano.

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