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Aproximações entre Brasil e Venezuela no campo energético nos governos Lula e Chávez

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

GEORGE AUGUSTO CARVALHO DA ROSA

APROXIMAÇÕES ENTRE BRASIL E VENEZUELA NO CAMPO ENERGÉTICO NOS GOVERNOS LULA E CHÁVEZ

Florianópolis 2012

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GEORGE AUGUSTO CARVALHO DA ROSA

APROXIMAÇÕES ENTRE BRASIL E VENEZUELA NO CAMPO ENERGÉTICO NOS GOVERNOS LULA E CHÁVEZ

Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Márcio Roberto Voigt, Dr.

Florianópolis 2012

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Para os meus pais, Maria da Graça e Adaurílio.

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Agradeço, primeiramente, aos meus pais, pelo apoio incondicional durante toda a faculdade. Pelo amor e pela paciência que sempre tiveram comigo. Aos meus irmãos e sobrinhos, primos e tios, e demais membros da família pelo carinho durante esses anos.

Agradecer também aos colegas e amigos que fiz na universidade, responsáveis por muitos dos momentos agradáveis que tive durante todo o curso. Aos professores que me deram base para que eu tivesse certeza de estar no curso certo. Em especial, ao meu orientador, Márcio Voigt, pela inspiração e por aceitar o desafio de me guiar para a conclusão deste trabalho.

Agradeço a todos meus amigos que de uma forma ou de outra contribuíram para este trabalho. Em especial à Caroline e Natália, pelas sugestões e correções, e à Camila, pelo incentivo diário para a conclusão do trabalho.

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“Comes facundus in via pro vehiculo est.” Andando de dois se encurta o caminho.

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O presente trabalho objetivou esclarecer como se deu a aproximação energética entre Brasil e Venezuela, fazendo um traçado histórico dos países e suas relações. As figuras de Hugo Chávez e Lula, bem como seus instrumentos de política externa, foram os principais responsáveis por essa parceria. Através de pesquisa exploratória, viu-se os precedentes históricos de integração sul-americana para ser possível um entendimento da realidade atual. As relações Brasil-Venezuela, no campo energético, apesar de vários projetos de cunho integracionista, não obtiveram bons resultados, como no projeto do Gasoduto do Sul, embora tenha havido ganho em algumas outras áreas, como a indústria, para ambos os países, com essa aproximação. A contribuição principal deste trabalho é para um melhor entendimento do papel brasileiro nas relações com os atores regionais e como o Brasil, sendo a potência regional, entende e soluciona os problemas do campo energético. Sendo assim possível traçar um perfil de integração entre os países através deste importante setor no mundo globalizado atual.

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This study aimed to clarify how the energy approximation between Brazil and Venezuela happened, doing a history retrospective of the countries and their relationships. Figures of Hugo Chávez and Lula, and his foreign policy instruments, were primarily responsible for this partnership. Through exploratory research, it was found the historical precedents of South American integration to be possible an understanding of the current reality. Relations between Brazil and Venezuela in the energy field, though several projects integrationist nature, did not obtain good results, as in the Gasoduto do Sul project, although there have been some gains in other areas such as industry, for both countries, with this approach. The main contribution of this work is to have a better understanding of the role of Brazil in relations with regional players and how Brazil, the regional power, understands and resolves the energy issues. That way is possible to draw an integration between countries through this important industry in today's globalized world.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD – Ação Democrática

ALBA – Alternativa Bolivariana das Américas ALCA – Área de Livre Comércio das Américas ALCSA – Área de Livre Comércio Sul Americana BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento BRIC – Brasil, Rússia, Índia, China

CAN – Comunidade Andina de Nações CNP – Conselho Nacional do Petróleo

COPEI – Comitê de Organização Política Eleitoral Independente ELETROBRAS – Centrais Elétricas Brasileiras

ELETRONORTE – Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. EUA – Estados Unidos da América

FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia FHC – Fernando Henrique Cardoso

FMI – Fundo Monetário Internacional

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente IBAS – Índia, Brasil, África do Sul

MDIC – Ministério da Indústria e Comércio MERCOSUL – Mercado Comum do Sul MVR – Movimento Quinta República

NAFTA – North American Free Trade Agreement (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio)

OEA – Organização dos Estados Americanos OMC – Organização Mundial do Comércio ONU – Organização das Nações Unidas

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OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica PDVSA – Petróleos de Venezuela S.A.

PEI – Política Externa Independente PETROBRAS – Petróleos do Brasil S.A. PIB – Produto Interno Bruto

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira RNEST – Refinaria do Nordeste

PT – Partido dos Trabalhadores UE – União Européia

UNASUL – União de Nações Sul-Americanas URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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1 INTRODUÇÃO...11

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA...12

1.2 OBJETIVOS...13 1.2.1 Objetivo geral...13 1.2.2 Objetivos específicos...13 1.3 JUSTIFICATIVA...14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...15 1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA...16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...17

2.1 ESBOÇO HISTÓRICO ENTRE BRASIL E VENEZUELA...17

2.2 RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS DE BRASIL E VENEZUELA...28

2.2.1 Política Externa do Governo Chávez...29

2.2.2 Política externa do governo Lula...34

2.3 PRINCIPAIS INICIATIVAS NO CAMPO ENERGÉTICO...39

2.3.1 Gasoduto do Sul...42

2.3.2 Usina Hidrelétrica de Guri...44

2.3.3 Refinaria Abreu e Lima...45

2.3.4 Análise dos projetos binacionais Brasil-Venezuela...46

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...48

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1 INTRODUÇÃO

Após o fim da Guerra Fria e o advento da globalização, nos anos 90, quando o mundo saiu da bipolaridade e tornou-se multipolar, com vários Estados como potências econômicas e os Estados Unidos da América como a potência hegemônica do período que se iniciava, as relações entre os países começaram a mudar. Os Estados começaram a se dar conta de que na nova configuração se houvesse mais integração com os países vizinhos as chances de haver maiores ganhos iriam crescer. E, sendo assim, vários blocos de livre comércio e acordos binacionais tiveram surgimento neste período.

Brasil e Venezuela, apesar da proximidade geográfica, nunca foram grandes parceiros comerciais. Os interesses, tanto brasileiros quanto venezuelanos, no passado, se resumiram a alianças com os países desenvolvidos, relevando parcerias estratégicas com países periféricos ou, até mesmo, os da região. Os Estados Unidos foram o foco de ambos – e da grande maioria dos países em desenvolvimento – nas suas relações comerciais, o que gerou certo distanciamento no continente sul-americano. O alinhamento às potências mais ricas foi uma prática constante da política externa sul-americana por várias gerações.

Os governos de Hugo Chávez (1999 até hoje) e Lula da Silva (2003 – 2010) desde o começo estreitaram suas relações, muito pela proximidade de pensamento de ambos governantes. Para o Brasil era importante um aliado de peso na América do Sul para as pretensões brasileiras internacionalmente, mantendo sua posição hegemônica na região. Enquanto para a Venezuela ter um parceiro da imponência e respeito seria relevante para diversificar os mercados e minimizar a dependência das relações com os Estados Unidos.

Essa relação entre os presidentes é citada por Brotherhood (2009, p.2) no trecho a seguir:

Cada vez mais são evidentes as ambições de integração de ambas as partes e como cada um vem articulando-se no cenário internacional para alcançar este objetivo. Um fator que favorece estas intenções são as características dos atuais governantes da América do Sul. Há uma predominância de governos de esquerda, que estão buscando uma maior integração regional para o fortalecimento de sua economia, que sofreu um grande revés nas décadas de 80 e 90, com a globalização e o neoliberalismo ainda mais proliferados pelos estadunidenses no Pós-Guerra Fria.

A Venezuela pretendia diminuir a dependência dos norte-americanos, tanto para importar produtos como para exportar petróleo. Sendo um dos maiores produtos de petróleo do mundo, se intensificasse suas relações com os países da América do Sul, o país acharia um novo nicho de mercado pouco explorado antes. Para Hugo Chávez essa era a saída para sair

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da crise nacional enfrentada nos anos 90 com a queda dos preços internacionais de seu principal produto. No caso brasileiro, Lula não hesitou em admitir desde o começo de seu governo que as relações com os países sul-americanos eram prioridade de sua política externa. Com as atenções brasileiras voltadas para os sul-americanos, as parcerias comerciais começaram a aumentar na região. Como o maior líder regional, o Brasil atraiu olhares para a região e suas riquezas, tendo agora que repensar a respeito de seus esquemas de defesa para proteger seus interesses e cuidar mais intensamente do rico meio-ambiente encontrado na região amazônica. Os projetos para diminuir esses “espaços” na região foram ganhando espaço na agenda brasileira. Para tal, as parcerias físicas com os vizinhos amazônicos se tornaram necessários e estes projetos integracionistas foram ganhando vida. Com essa dependência mútua entre os países, os conflitos teriam maior dificuldade de se instalarem e seria mais fácil controlar a soberania nacional.

O estreitamento das relações entre Brasil e Venezuela, baseado nesse novo pensamento de política externa sul-americano, foi acontecendo aos poucos desde a eleição de Hugo Chávez e se intensificou com os mandatos do presidente Lula da Silva. A proximidade de ideais dos presidentes fez com que a agenda de encontros se tornasse uma prática constante durante os mandatos e vários acordos foram assinados a partir deles. A área energética, principal moeda de troca venezuelana, foi bastante visada pelo governo brasileiro e seus resultados ainda são um pouco desconhecidos do público em geral. Para tal, se faz necessário um novo olhar sobre essas relações e analisar os benefícios ou reveses dessa aproximação.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

O presente estudo tem como tema central as questões energéticas envolvendo Brasil e Venezuela, analisando as aproximações a partir dos governos de Lula e Chávez. A delimitação de pesquisa será: o histórico político dos países e suas relações com a região e o mundo, as alianças estratégicas na região, a partir de 1998, e como está organizado o esquema energético na América do Sul, principalmente dos dois países em questão.

O histórico político é importante para a compreensão de muitos fatores atuais de ambos os países, tais como a estagnação da Venezuela em seu principal produto internacional e o despontar do Brasil como potência regional e mundial, depois de ter sofrido anos de recesso. Percebendo assim, como os governos com tendência esquerdista chegaram ao poder e de qual forma suas políticas externas impulsionaram as relações regionais.

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As alianças estratégicas na América do Sul são imprescindíveis para as pretensões internacionais brasileiras. A aproximação, tanto política quanto econômica, aos países da região é uma das formas de mostrar seu poder e exercer sua influência caso seja necessário no futuro. O Brasil teve sua construção de imagem não somente pelos seus recursos naturais, mas por ter concebido, antes de muitos outros Estados, que era necessário diversificar seus parceiros comerciais para não ficar atrelado às potências caso uma crise acontecesse.

Os governos brasileiro e venezuelano, após essa aproximação, deram enfoque nos projetos energéticos para a região. Basearam-se basicamente nas suas estatais petroleiras para mediar essas parcerias que trariam, além de uma boa quantidade de novos empregos, uma autossuficiência energética necessária. Dos acordos feitos entre os presidentes, surgiram alguns projetos, e dentre esses, alguns acabaram nem sendo utilizados, enquanto outros tiveram suas obras iniciadas, porém não se tem muitas notícias a respeito de suas obras.

O estudo tem como problema de pesquisa o seguinte questionamento: Como se dá a aproximação no campo energético do Brasil com a Venezuela?

1.2 OBJETIVOS

A seguir, demarcar-se-á o objetivo geral e os objetivos específicos do projeto, esquematizando, assim, o conteúdo e delimitando seu propósito.

1.2.1 Objetivos gerais

O objetivo geral do presente trabalho é analisar e compreender o processo de aproximação no campo energético entre Brasil e Venezuela.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos a serem alcançados pelo estudo serão:

- Descrever alguns aspectos das relações históricas e políticas entre o Brasil e a Venezuela;

- Conhecer e compreender a evolução da política externa dos governos Lula e Chávez;

- Estudar o perfil energético dos dois países e analisar as questões de energia mensurando seus projetos e o andamento dos mesmos.

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1.3 JUSTIFICATIVA

Cada vez mais é necessário entender a conjuntura político-econômica mundial para poder vislumbrar os rumos nacionais. Brasil e Venezuela são dois países que possuem riquezas naturais imensuráveis – dentre elas, a faixa amazônica, que corta os dois países – e de onde provêm os olhares para uma futura integração regional. A proximidade dos dois Estados, somada aos fatores políticos, fez com que a política externa fosse repensada e a aproximação se tornasse inevitável.

Estudar as relações energéticas entre Brasil e Venezuela é necessário para o acadêmico visto que, em um âmbito regional, os referidos países são as potências energéticas atuais. Venezuelanos já são conhecidos de longa data por isso mas o Brasil, com as descobertas do Pré Sal e a autossuficiência adquirida durante o governo Lula, vem despontando no setor para se tornar um dos gigantes mundiais da energia também. As figuras dos presidentes Chávez e Lula também foram importantes para o “marketing” internacional da região. O presidente brasileiro se tornou um dos símbolos da alavancada internacional da imagem do Brasil enquanto o venezuelano, por diversas vezes, se mostrou controverso e com um discurso agressivo, o que lhe atribuiu uma imagem extremista.

Para o acadêmico de Relações Internacionais, estudar e compreender os fatores regionais de integração e os conflitos gerados por interferências na região é sair do foco tradicional dos pesquisadores, que são as antigas potências mundiais, e observar que com a nova ordem mundial os países que até então eram apenas coadjuvantes agora são protagonistas. Também, entender na prática a diplomacia presidencial praticada pelos presidentes na atualidade o que, até então, havia apenas sido visto em teoria.

O tema, para a sociedade atual, é muito importante, visto a escassez de recursos energéticos no mundo e o foco central nos países que ainda possuem grandes fontes de petróleo e gás natural. Bem como em novas fontes de energia, renováveis e menos poluentes. A preocupação da tecnologia para com o setor energético é enorme pois no século XXI a energia é o que “move” o mundo, sem ela as indústrias provavelmente teriam que diminuir seu ritmo.

O aprofundamento do estudo das relações com a Venezuela é imprescindível para o Brasil entender mais sobre o supracitado país, sua história e economia. A energia é um tema que merece muito foco neste novo século e a integração Brasil-Venezuela, que apesar de ser um tema recente, já vem ganhando grande foco nas questões continentais.

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1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para Gil (1999), a pesquisa se dá como um processo formal e sistemático de desenvolvimento de método científico, objetivando o esclarecimento de problemas mediante o uso de procedimentos científicos.

Portanto, quanto aos objetivos do presente estudo, este será feito através da pesquisa exploratória, visto que, segundo Gil (1999), este método proporciona uma visão geral do tema em foco, desenvolvendo e esclarecendo um conceito ou idéia.

A pesquisa ainda será de caráter qualitativo, como cita Richardson (1999):

A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos.

Sendo assim, este trabalho intenciona explorar as questões sul-americanas, tão pouco conhecidas, bem como as figuras dos presidentes Lula e Chávez, símbolos representativos de seus países internacionalmente. De forma a esclarecer as tentativas de integração continental através de projetos relacionados à energia.

Classificando ainda este trabalho, destaca-se o que Gil (2002) esclarece como pesquisa bibliográfica: “a desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

A partir dos dados coletados, foi feita uma análise crítica e comparativa afim de entender melhor as relações entre Brasil e Venezuela, com base nas suas políticas externas. Nos mesmos termos, procurou-se uma compreensão de como se deu a aproximação entre os países que resultaram nos projetos acordados.

Sendo assim, por fim, descreve-se as aproximações entre Brasil e Venezuela no campo energético, mensurando seus projetos acordados. Analisando as motivações da integração entre os dois países e esclarecendo o andamento dos projetos em questão, respondendo a pergunta proposta pelo trabalho.

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1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

A presente pesquisa está estruturada em três capítulos que contém as seguintes subdivisões: No capítulo inicial, é apresentado um histórico político e econômico de Brasil e Venezuela, contrastando sua história e entrelaçando suas relações conforme elas iam acontecendo de forma cronológica. São abordados os principais fatos dos países que os levaram até os governos do final dos anos 90 e começo dos anos 2000. No segundo capítulo, é traçado o perfil de cada um dos representantes dos vizinhos amazônicos, suas aproximações ideológicas. Subdividiu-se em dois subitens, esclarecendo a política externa tanto de Hugo Chávez como de Lula da Silva. No terceiro capítulo, vê-se os projetos de aproximação energética entre os Estados, analisando suas execuções e seus resultados. Subdividindo e ponderando sobre três projetos Brasil-Venezuela e traçando uma avaliação final sobre os ganhos ou não desta parceria.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste item será abordado um breve histórico de Brasil e Venezuela, bem como suas políticas externas e os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Hugo Rafael Chávez Frías. Analisar-se-á como se deu a aproximação entre os países bem como os insucessos nesse sentido em um passado recente, contemplando também a visão internacional acerca dos países supracitados. Serão analisadas também as possíveis parcerias energéticas entre os países e as relações diplomáticas entre eles durante os anos de 2002 a 2010, bem como os projetos energéticos desenvolvidos nesta época e seus resultados.

2.1 ESBOÇO HISTÓRICO: BRASIL E VENEZUELA

Para melhor entendimento deste capítulo, será feita uma breve descrição histórica do contexto sul-americano que remonta meados do século XIX até os dias de hoje, para que o leitor possa se situar. Serão remontados alguns fatos importantes a serem observados na compreensão deste artigo como um todo.

Os Estados Unidos – EUA, no começo do séc. XIX, já dava indícios da pretensão de se tornar uma potência mundial. Dentro desse conceito, James Monroe, então presidente

norte-americano, em 02 de dezembro de 1823, deu largada no conhecido Doutrina Monroe1.

Com plenas intenções de estreitar seu poder frente a América Latina, o plano tinha como objetivo principal afastar as potências colonizadoras europeias de voltar para as colônias. Sendo assim, ficaria mais fácil para poder exercer seu poder sobre a América. (PEIXOTO, 2010, p.26)

Após a Doutrina Monroe, uma das outras justificativas estadunidense para manter a hegemonia sobre o continente sul-americano foi o Destino Manifesto, como descrito no trecho a seguir:

O Destino Manifesto seria então a versão americanizada do “fardo do homem branco” da Europa segundo a qual o europeu tinha a missão divina de sair além-mar civilizando o mundo primitivo. Da mesma forma, aconteceria com os EUA. O Destino Manifesto era uma missão, assinalada pela Providência, de que os norte-americanos deveriam levar a democracia a todos os seus “compatriotas” norte-americanos. (PEIXOTO, 2010, p.26-27)

1Plano econômico que visou recuperar o capitalismo europeu após a Segunda Guerra Mundial, com extensão para a América do Sul.

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Apesar de os norte-americanos terem sido contrários ao Brasil na Guerra do Paraguai – viam-se ameaçados pela possibilidade de aumento do poder político brasileiro na região –, os anos que seguiram até a Primeira Guerra Mundial foram de um alinhamento brasileiro aos Estados Unidos, podendo constatar isso através da proclamação da república onde o país passou a se chamar República dos Estados Unidos do Brasil e uma nova Constituição foi estabelecida com um formato bastante similar ao norte-americano. (PEIXOTO, 2010, p.27)

O Brasil, em um contexto pré-Guerra, viu necessária uma aproximação aos Estados Unidos, tendo como figura central o diplomata Barão de Rio Branco2. A busca era, na verdade, se tornar a potência sul-americana e, na leitura de Rio Branco, isso se tornaria mais fácil. Sendo assim, Brasil exerceria a sua influência entre os países do sul do continente enquanto os norte-americanos continuariam imperando no norte (México, ilhas do Caribe e Canadá). (BANDEIRA, 2004, p.14) Por conseguinte, houve uma demanda de soldados brasileiros para atuar nos frontes na Europa e, a despeito de negócios realizados com a Alemanha – principal rival americana na Segunda Guerra – durante mesmo período, tropas seguiram e houve apoio aos norte-americanos e foi declarada guerra à Alemanha. (ALMEIDA, 2006, p.18) Enquanto a Venezuela, como alguns outros países sul-americanos, manteve-se neutra no conflito. (SANTOS, 2005, p.5)

No começo dos anos 30, logo após a queda da Bolsa de Nova York, o Brasil e a Venezuela não possuíam muitas relações entre si. Os países passavam por momentos diferentes também, visto que o Brasil sofria com os efeitos da queda da bolsa – também com a crise mundial decorrida dela – e seu principal produto de exportação, o café, estava com seu preço internacional em queda. Enquanto a Venezuela começou a obter significativas receitas através de seu principal produto de exportação, o petróleo. (LOSS, 2007, p.18)

Os países da América do Sul davam então, pela primeira vez, provas de que estavam dispostos a terem uma união pelo bem continental – o que representava, em termos, arranjar formas de se desprender dos Estados Unidos – e, durante a Segunda Guerra, decidiram declarar guerra caso houvesse qualquer interferência extra-continental nos países sul-americanos. Definiu-se então o apoio aos Aliados e, principalmente, aos estadunidenses, após o ataque japonês ao Pearl Harbor. (SANTOS, 2005, p.10)

Brasil e Venezuela, até então, pouco comunicavam-se entre si, alguns autores inclusive relatam a relação de ambos como se estivessem “de costas um para o outro”.

2 José Maria da Silva Paranhos Junior, mais conhecido como Barão do Rio Branco, foi Ministro das Relações

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(FRANKLIN, 2007, p.100) Porém, durante a Segunda Guerra, houve problemas de abastecimento decorrentes do conflito e então os países viram a necessidade de voltar sua atenção para os vizinhos mais próximos. Procuraram inclusive estabelecer uma rota fluvial para facilitar este intercâmbio, mas tal projeto não saiu do papel. A ameaça de fechamento das rotas marítimas no período foi o principal motivo da criação desta rota. (LOSS, 2007, p.19)

Findado o grande conflito mundial, o Brasil tinha a convicção de, por mérito, receber tratamento especial dos EUA após o apoio na guerra. Contudo, em 1947, em Bogotá, capital colombiana, a esperança brasileira acabou. A ajuda esperada vinda do norte do continente, viu-se reduzida à espera do restabelecimento da Europa para voltar a exportar bens primários para o velho continente. Outra expectativa brasileira teve fim, a de um assento permanente no Conselho das Nações Unidas – ONU, promessa feita e não-cumprida pelo ex-presidente Roosevelt, falecido em 1945. (LOSS, 2007, p.11)

Após reorganizarem suas indústrias de bens, Europa e EUA, melhoraram a qualidade de seus produtos a preços mais baixos e tornaram-se imbatíveis nos mercados latino-americanos. O Brasil, a partir da metade até o fim dos anos 50, manteve-se como o maior comprador do petróleo venezuelano, porém as exportações para a Venezuela estavam estagnadas e beiravam a insignificância. (CERVO, 2001, p.205)

No começo dos anos 50, Getúlio Vargas voltava ao poder no Brasil e tinha o discurso de reaproximação com os vizinhos regionais, o que, na realidade, ficou mais na oratória do que se viu na prática. Enquanto a Venezuela passava por um regime ditatorial de Marcos Evangelista Pérez Jiménez, que apostava numa maior infra-estrutura para o seu país. Apesar dos regimes distintos, o pensamento desenvolvimentista era imperativo nos dois governos e os presidentes apostavam na aproximação, mas o que de fato aconteceu foi o contrário. (LOSS, 2007, p.19-20)

Getúlio Vargas teve como sua principal marca na política brasileira pelo forte apelo nacionalista, o que o levou, no seu primeiro mandato, a uma maior preocupação com a questão do petróleo. Algumas empresas estrangeiras intencionaram entrar no mercado brasileiro para exploração e comercialização, o que o governo Vargas não desejava. Logo, em 1938, o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) ganhou vida e passou a regulamentar as atividades do setor. E, em 1953, em seu segundo mandato, o presidente sancionou a criação da Petróleos Brasileiros S. A. (PETROBRAS), onde a União seria acionista majoritária e teria controle sobre atividades relacionadas ao petróleo. (COSTA, PESSALI, 2009, p.7)

Anos após, Juscelino Kubitscheck, o então presidente brasileiro, em 1958, lançou a Operação Pan Americana (OPA), que tinha por objetivo uma cooperação continental em

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âmbito internacional. Já o ditador Pérez Jiménez havia proposto o Fundo Interamericano de Desenvolvimento e Perón havia também buscado a cooperação sul-americana alguns anos antes. Todas essas tentativas foram rechaçadas pelos EUA junto a Organização dos Estados Americanos – OEA, que havia feito contato e gestões para a não aprovação dos projetos, pois ou o sistema giraria em torno das propostas norte-americanas ou haveria um boicote à organização. Com esta recusa estadunidense, a Venezuela através do seu presidente-ditador, decidiu virar suas costas para a integração regional, isolando-se dos outros países. À época, a atitude foi possível devido ao respaldo de ter se tornado um dos maiores exportadores mundiais de petróleo. (CERVO, 2001, p.6)

No ano de 1958, o ditador Pérez Jiménez foi deposto após uma revolução civil-militar, entrando no poder, no ano seguinte, um presidente eleito democraticamente, Rômulo Betancourt, da Ação Democrática (AD). Com uma política externa de isolacionismo, até quase o fim dos anos 60, a Venezuela não mantinha muitas relações com seus vizinhos, nem a norte, nem a sul. (LOSS, 2007, p.21) Postura claramente ligada aos índices econômicos obtidos à época, com um crescimento considerado muito bom para um país em desenvolvimento – cerca de 5% anualmente – e uma taxa de inflação abaixo de grandes potências mundiais. (NUNES, 2011, p.55)

Após a deposição de Pérez Jiménez, definiram-se as novas bases para a democracia venezuelana e ela era calcada no Pacto de Punto Fijo, onde fica determinado o fim da multiplicidade de partidos políticos passando a existir então apenas dois: a Ação Democrática – AD e o Comitê de Organização Política Eleitoral Independente – COPEI. Deixando de funcionar o Partido Comunista com a premissa de que em um novo cenário nacional democrático não havia mais espaço para os ideais do partido. O Pacto viria a perdurar por algumas décadas onde AD e COPEI se revezariam no poder. (VILLA, 2005, p.153-154)

Enquanto a política externa venezuelana persistia em isolar o país dos vizinhos, a Política Externa Independente - PEI, dos governos Jânio Quadros e João Goulart, o Jango, trazia o discurso de identificação com os países em desenvolvimento e começou o debate sobre as relações Norte-Sul. A política buscava não apenas contemplar os vizinhos sul-americanos, como também países asiáticos e africanos. A PEI buscava reforçar a identidade latino-americana, identificar parceiros com o mesmo perfil e estabelecer sua posição como país de Terceiro Mundo. (SANTOS, 2005, p.14)

O mundo no pós Guerra foi desenhando-se bipolar, onde do lado ocidental o comando partia dos Estados Unidos, capitalista e democrática, de outro, orientalmente, havia

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a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, comunista. Em outras palavras, era iniciada a conhecida Guerra Fria. No Brasil, em 1964, em que um dos principais motivos seriam de supostas tentativas comunistas na região, ocorreu o Golpe Militar, em que Jango fora deposto e o poder fora assumido pelos militares. Devido à mudança de regime, a Venezuela decidiu romper relações diplomáticas com o Brasil, retomando-as apenas três anos depois, em 1967. A Doutrina Betancourt então começa a dar sinais de uma flexibilização com a eleição de Rafael Caldera Rodríguez, em 68. (LOSS, 2007, p.22-23)

A disposição da Venezuela em se isolar, devia-se principalmente ao fato de ter se tornado um dos maiores exportadores mundiais de petróleo e suas boas relações com os EUA. Estes fatores geraram a pretensão venezuelana em se tornar a referência sul-americana. Contudo, o alinhamento aos norte-americanos não trouxeram os frutos econômicos desejados, Caldera definiu que os preços do petróleo seriam autônomos e aumentou o grau de nacionalismo de sua política. (LOSS, 2007, p.23) Ao mesmo tempo em que se aproximou dos seus vizinhos sul-americanos, como possíveis novos consumidores do seu principal produto, diminuiu a tensão que havia com Cuba e demais países que haviam aderido ao sistema socialista. (NUNES, 2011, p.53)

Embora a aparente aproximação entre Brasil e Venezuela nesta época parecia seguir a passos largos, o país caribenho mantinha uma postura comedida, pois ainda pretendia exercer influência regional. (CERVO, 2002, p.247-248) Sua pretensão, regida pelos princípios bolivarianos, no entanto, ficaria apenas nos planos, pois no começo dos anos 70, o mundo conheceu uma das piores crises de sua principal commodity3. Então, sua relação com os vizinhos teve de ser revista e, também, na diversificação de países para quem vendia petróleo. Logo, a partir destes fatores e pelo fato de o Brasil estar passando pelo “milagre econômico”, brasileiros e venezuelanos retornaram a ter uma relação amigável. (LOSS, 2007, p.25)

A Petróleos de Venezuela S. A. (PDVSA), foi criada em 1975, sob a égide de nacionalizar a indústria petroleira. Então, sendo assim, o controle de toda a cadeia do petróleo ficou a cargo do governo. De acordo com o pensamento do governo venezuelano, o produto considerado de vital importância econômica e estratégica para o país e deveria ser controlada pelo Estado. (FUKUSHIMA, 2009, p.77)

Já no ano de 1978, os países deram largada para o que seria o começo de uma cooperação na área energética. O então ministro de Minas e Energia, Shigeaki Ueki, visitou Caracas para debater sobre projetos em diversos setores ligados a mineração e petróleo.

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Estudaram uma forma de ligar e desenvolver a zona dos dois países compreendida na Amazônia. Viu-se então, desenhar o eixo Brasil-Venezuela não apenas como comercial, mas também como produtivo, onde ambos saíssem ganhando. (CERVO, 2001, p.9) O eixo amazônico sempre teve uma preocupação quanto à possibilidade de internacionalização da Amazônia e essa questão de segurança foi uma das maiores causas de união entre os países, que agora amargavam um aumento de suas dívidas públicas após anos de bons rendimentos econômicos dos dois países. Logo, “a assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica, firmado em Brasília em 1978, representou não somente um marco da aproximação Brasil-Venezuela, como também uma diminuição nas desconfianças venezuelanas com relação ao comportamento brasileiro.” (NUNES, 2011, p.56)

O Brasil, na década de 80, foi aos poucos deixando de ser uma ditadura e se tornando uma democracia, ao passo que José Sarney, aumentou o diálogo com os vizinhos, principalmente com Argentina e Venezuela. Agora os três países tinham em comum o fato de serem regidos por processos democráticos e se voltarem para projeções integracionistas, caso brasileiro vindo estampado na Constituição de 1988, onde fica clara a posição de cooperação com os países sul-americanos. O processo de integração mais ao sul obteve maior atenção enquanto o do norte da América Latina ficou em “banho-maria” por mais algum tempo. (CERVO, 2001, p.10) Já finalizando a década, brasileiros e venezuelanos assinaram alguns tratados que acabaram por integrar fisicamente os países, através de estradas, transporte terrestre e aéreo. (LOSS, 2007, p.29)

Fernando Collor de Mello, em 1990, torna-se presidente do Brasil, e com o fim da Guerra Fria e a bipolarização mundial, a política externa brasileira voltou-se novamente para os Estados Unidos e os preceitos neoliberais, deixando de lado as parcerias com os outros países em desenvolvimento. O “Consenso de Washington” e o pacote de medidas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial – condição para a renegociação da dívida pública – para os países fizeram com que a população descontente fosse às ruas, no caso venezuelano por causa do aumento de tarifas do transporte público e no brasileiro adveio da exposição na mídia de provas de corrupção do governo, que culminou no processo de impeachment, após os “cara pintada” terem realizado intensos protestos em vários locais do país. (LOSS, 2007, p.30-31)

Durante o governo Collor, como parte de sua visão neoliberal e partindo de pressões externas, houve a necessidade de uma abertura maior da economia e o começo da privatização de algumas estatais, partindo da política do Estado mínimo, reduzindo assim o poder da política na economia. Em vez de haver uma reforma política, como meio de abrandar

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os efeitos causados pelo aumento da dívida externa, o que na verdade ocorreu foi uma reforma econômica de maior abertura, proferindo então “um golpe mortal no Estado desenvolvimentista”. (LOSS, 2007, p.41-42)

Ao mesmo tempo em que, na Venezuela, o presidente Andrés Pérez havia retornado à presidência com a promessa de retomar o crescimento e voltar à prosperidade de anos antes. Porém, com passos parecidos com os brasileiros, tomou decisão contrária a que fora praticada nos anos anteriores e lhes renderam bons frutos – prova de uma decisão acertada –, agilizando uma inserção internacional do país com uma liberalização da economia. As medidas adotadas pelo governo geraram descontentamento na população, pois houve grande aumento na gasolina e no transporte urbano, advindos do forte ajuste fiscal aplicado. Em 1992, aconteceu um movimento de insurreição contra o governo chamado Movimento Bolivariano Revolucionário – 200, liderado pelo então desconhecido Hugo Chávez. Mesmo que tenha falhado, o tenente-coronel Chávez ficou conhecido como figura principal de oposição ao governo e ao puntofijismo. Em maio de 1993, o presidente foi afastado do poder após profundo desgaste político gerado pelo descontentamento da população e pressão geral. (NUNES, 2011, p.59-60)

O intercâmbio comercial entre Brasil e Venezuela acontecia, na parte energética, principalmente entre as estatais petroleiras, Petróleo Brasileiro S. A. – PETROBRAS e a PDVSA. As exportações de petróleo foram as responsáveis, no período, pelo equilíbrio da balança comercial entre os países. (LOSS, 2007, p.54-55)

A despeito do pouco tempo em que ficou no poder após o impeachment de Collor, Itamar Franco impulsionou as relações com o eixo norte da América do Sul, pois da Venezuela interessava o petróleo, da Bolívia e do Peru o gás natural e da Colômbia o carvão. Itamar deu os primeiros passos para essa colaboração, principalmente com o país venezuelano, através do protocolo de La Guzmania, assinado em 1994, importante ferramenta para a cooperação Brasil-Venezuela. (NUNES, 2011, p.61) O protocolo assinado pelo presidente seguia algumas premissas, como destaca Cervo (2001, p.21):

O presidente brasileiro, Itamar Franco, sugeriu uma tríplice estratégia de concertação entre os dois países, tendo por fim desenvolver ações na zona de fronteira, estimular o comércio e a interpenetração empresarial e agir no sentido de criar uma zona de livre comércio na América do Sul.

Com a nova ordem mundial e o abandono do multilateralismo em detrimento do alinhamento, a política externa brasileira investiu no relacionamento com os vizinhos para continuar inserida no comércio internacional. (LOSS, 2007, p.44) Devido à sua aproximação

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com a Argentina e o Cone Sul, no começo dos anos 90, o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) ganha vida através de processos parecidos surgidos em outros continentes, como destaca Vaz (2002, p.26):

A percepção de um ordenamento econômico mundial calcado em movimentos regionais passou também a condicionar as estratégias de inserção internacional dos países em desenvolvimento, levando à retomada de esquemas de integração já existentes ou ao surgimento de novas iniciativas, (...). Tais iniciativas atendiam ao propósito de estimular a atração de investimentos necessários à modernização econômica, elevar os níveis de competitividade no plano externo e articular as economias da região com os centros dinâmicos da economia mundial.

Argentina e Brasil contariam com mais dois sócios no MERCOSUL: Paraguai e Uruguai. O Tratado que intencionava não apenas a integração econômica como também de segurança e política, teve seu alcance limitado, pois somente na área da economia, através da onda neoliberal na América do Sul, obteve avanços integracionistas. O resultado esperado não foi visto, na verdade, os países entraram em crise devido a altos índices de inflação. E com a liberalização do mercado, a indústria nacional estava ameaçada. (LOSS, 2007, p.44)

Os momentos finais do governo Pérez e os iniciais do retorno ao poder de Rafael Caldera, agora não mais representando o partido que o levara ao poder, mas com um novo partido, denominado Convergência Nacional (uma coalizão de vários partidos), traziam três sentimentos na população venezuelana em relação ao sistema político nacional, como retrata o trecho a seguir de Villa (2005, p.158):

O desprestígio dos partidos políticos tradicionais e de suas lideranças, das quais Caldera era um ícone; uma sensação de que existia um vazio de poder incapaz de ser coberto pela elite política remanescente de 1958; e, por fim, o desejo dos setores populares, e mesmo da classe média, de renovar suas elites dirigentes para que estas fizessem funcionar novamente o sistema clientelista redistributivo que tinha operado até os anos de 1980.

Hugo Chávez, responsável pelo movimento que havia enfraquecido o poder vigente no país, encabeçando a oposição, pleiteou uma nova Assembleia Nacional Constituinte com a finalidade de uma severa modificação nas instituições nacionais. Com toda essa participação política, ficou inevitável sua participação nos próximos pleitos eleitorais, para tal fez-se necessária a criação de um partido para sustentação de seus ideais, o

Movimento Quinta República4 – MRV, considerada a “máquina partidária chavista”. (VILLA,

2005, p.159)

4 Nome dado, pois em 1997, ano da criação do partido, a Venezuela passava pela quarta república e o

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No Brasil, durante o governo Itamar, as tentativas de integração com os países sul-americanas foram diversas, entre elas a Iniciativa Amazônica, onde os sete países amazônicos (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) se relacionariam em contrapartida do North American Free Trade Agreement (NAFTA), surgido entre os países norte-americanos (Canadá, Estados Unidos e México) com intuito semelhante ao da América do Sul; e, sequencialmente, a Área de Livre Comércio Sul Americana (ALCSA), carregando basicamente as mesmas intenções da Iniciativa. Ambos os projetos não tiveram a continuidade inicialmente desejada. (LOSS, 2007, p.74)

No pleito eleitoral de 1994 é eleito Fernando Henrique Cardoso (FHC), político de centro-direita, representante do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que meses antes havia sido Ministro das Relações Exteriores e após Ministro da Fazenda do governo Itamar. O governo FHC ficou marcado e reconhecido como a época onde a abertura comercial avançou, tanto por investimentos estrangeiros como pelas privatizações de algumas estatais brasileiras. A ruptura com o modelo desenvolvimentista, que foi marcante durante as décadas anteriores, ficou evidenciada já nos primeiros anos do novo governo. O maior problema carregado dos mandatos anteriores, a dívida externa, foi aos poucos sendo abrandada. Ainda como Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, lançou o Plano Real, a nova moeda que seria a responsável pela estabilização monetária, que foi possível “mediante a desindexação planejada da economia, pondo um fim à hiperinflação”. (LOSS, 2007, p.94)

Durante o governo FHC, Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos, em sequência às tentativas do ex-presidente George Bush, objetivou criar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), numa tentativa de desestabilizar a já planejada ALCSA e, principalmente, o MERCOSUL, que, aos olhos americanos, era uma forma de resistência do hemisfério sul do continente em relação ao poder estadunidense. (LOSS, 2007, p.95)

A diplomacia de Brasil e Venezuela, no período que compreende os governos FHC e Caldera, era bastante parecida no sentido de visar relacionamento regionalmente. E apesar de a prioridade brasileira na região ser a integração com o cone sul e o andamento do processo do MERCOSUL, as relações bilaterais com o país andino passavam por um momento favorável, com uma agenda cheia de viagens e encontros entre os presidentes. Tanto que, a partir de 1995, os índices apresentados foram bastante motivadores para seguir aprofundando o relacionamento entre os países. (LOSS, 2007, p.99-100)

Caldera vinha enfrentando uma difícil crise interna, em parte porque as promessas de campanha não estavam sendo cumpridas e o neoliberalismo estava comandando as ações

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no país. A hiperinflação, que havia sido controlada no Brasil, estava atingindo os maiores índices na América do Sul – chegando aos 70% em 1996 – e os venezuelanos entravam em mais um ano de recessão. O presidente não dispondo de mais opções, lançou um novo plano econômico, chamado Agenda Venezuela, onde seguia os princípios austeros recomendados pelo FMI. (LOSS, 2007, p.97) Os maus momentos vividos nesta época decorriam da baixa internacional do petróleo que havia perdido grande parte do seu valor5 nesse começo de década. (BARROS, 2006, p.212)

Basicamente, o neoliberalismo na Venezuela veio representado pela desvinculação da estatal petroleira PDVSA do Estado. Sendo assim, não tardou para que uma parte dos lucros, que antes permaneciam no país, fosse mandada para a filial estrangeira. Portanto, apesar de certo aumento das exportações, a arrecadação do governo havia diminuído. (BARROS, 2006, p.214)

A balança comercial Brasil-Venezuela começou a apresentar déficits pela parte brasileira, mas logo voltou ao normal, devido à redução da quantidade de petróleo a ser importado, graças a investimentos internos feitos pela PETROBRAS, onde foram dados os primeiros passos rumos à autossuficiência. Boa parte do déficit citado era em decorrência do mau momento em que a Venezuela estava passando, logo o FMI, com base em suas medidas austeras, demandou correções cambiais que acabaram por desvalorizar o Bolívar (moeda venezuelana) em cerca de 70%6. Como consequência, os produtos brasileiros teriam difícil penetração no mercado interno venezuelano em decorrência do encarecimento. (LOSS, 2007, p.100-101)

Embora as relações brasileiras, com a os países da região, terem ganhado certo espaço ao longo dos anos, foi apenas ao final dos anos 90, com o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim que o discurso diplomático passou a adotar o país como integrante real da América do Sul, passando a encarar como uma identidade e não como um fardo. (SANTOS, 2005, p.16)

Durante alguns anos, os presidentes FHC e Caldera, estiveram engajados na cooperação entre Venezuela e MERCOSUL, propondo, inclusive, uma zona de livre comércio que abrangesse a área, de forma que os países do bloco teriam privilégios tarifários, grande interesse do governo brasileiro na ocasião. Entre os tópicos abordados estava uma negociação sobre as preferências comerciais e a lista de exceções venezuelana. (LOSS, 2007, p.112)

5 O preço do barril do petróleo chegou aos US$ 40,00 em 1979, no começo daquela década estava abaixo dos

US$ 4,00 (valores não corrigidos). (BARROS, 2006, p.212)

6

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Desde esta época, fica evidenciado claramente a aproximação entre eles, que anos mais tarde resultaria na entrada do país no bloco.

Após voltar de uma breve anistia – resultado do intento contra o governo, em 1993 –, Chávez almejava, na verdade, seguir fazendo oposição fora das instituições, pois acreditava que apenas assim a política nacional poderia ser modificada. (BACOCCINA, 2008, p.12) Porém, depois de alguns anos como principal oposicionista do governo, Hugo Chávez chega ao poder em 1998, eleito por 58% dos votos, com um discurso anti-americanista e populista, tendo grande empatia da população.

Em detrimento de algumas rupturas óbvias do governo chavista em relação aos anteriores, o presidente manteve o curso de alguns projetos, entre eles o estreitamento das relações bilaterais com o Brasil. As convergências de Chávez e FHC eram bastante claras, expressão disto foi a “vitória” diplomática durante a crise7

do Peru em 2000, frente os Estados Unidos, onde os países conseguiram coordenar as punições e contornar o mau momento do vizinho pela Organização dos Estados Interamericanos (OEA). Caso houvesse a intervenção norte-americana para resolução do caso, estaria sendo criado mais um precedente de intervenção extra-regional, sob o discurso democrático, nas relações da América do Sul. (CARDOSO, 2011, p.11)

No ano de 2002, pela primeira vez um partido de esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT), elege um presidente – coincidência, ou não, história bastante similar à de Chávez, no caso venezuelano –, Luiz Inácio “Lula” da Silva. No campo econômico, o novo governo pouco se distinguiu do anterior e deu seguimento na política que já estava dando certo. Entretanto, foi nas relações exteriores que Lula mais se assemelhou aos ideais do seu partido, na diversificação das parcerias, pondo em voga relações Sul-Sul, nas quais o Brasil ganharia destaque no futuro. (ALMEIDA, 2004, p.162)

Talvez pela semelhança de orientação política ou pelos interesses convergentes, mas Lula e Chávez se tornaram notoriamente grandes parceiros, resultando em uma aproximação maior da Venezuela com o Brasil e o bloco do MERCOSUL. A política externa de ambos os países, que anteriormente já era bastante similar, tornou-se ainda mais próxima, havendo cada vez mais parcerias em torno da principal moeda de troca venezuelana, o petróleo.

7

Em 2000, foram divulgadas imagens do chefe da Inteligência Nacional Peruana e assessor presidencial

subornando um deputado da oposição para que este apoiasse o governo. Esse foi o estopim para a queda do então presidente Alberto Fujimori, que cumpria o terceiro mandato à frente da presidência peruana.

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2.2 RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS DE BRASIL E VENEZUELA

Para entender melhor este capítulo, analisar-se-á Vilanova (1995, p. 12) ao definir Política Externa: “entende-se por política exterior o conjunto de ações que um Estado exerce em relação ao exterior de suas fronteiras, tanto mediante relações com outros Estados (bilaterais e multilaterais) como com Organizações Internacionais e outros atores do sistema internacional”.

Brasil e Venezuela retomaram suas relações a partir do começo dos anos 90 no governo Itamar, através do Pacto de La Guzmania. A parceria teve boa evolução durante os governos Chávez e FHC, desenvolvendo ainda mais através das semelhanças do líder venezuelano com o primeiro presidente esquerdista brasileiro, Lula. A integração, tanto almejada pelos presidentes anteriores, foi enfim dando os primeiros resultados concretos. Citando Franciosi (2004, p.91): “podemos dizer que o MERCOSUL e a integração na América do Sul são processos que estão em plena evolução”.

As intenções de ambos os lados, no entanto, são de estreitar ainda mais as relações. Podemos notar isso claramente através da pressão brasileira perante os outros países integrantes do MERCOSUL para que a Venezuela deixasse de ser apenas ouvinte e se tornasse membro permanente do bloco. Com isso, a integração energética a ser analisada na sequência, cada vez tornou-se mais real.

A política externa projetada como Sul-Sul foi o elo de estreitamento entre o discurso dos vizinhos amazônicos, visando que os laços econômicos já bastante concretos, passassem também para a segurança da região amazônica, zona de interesse estratégico que poderia ser uma ameaça à soberania dos dois países. Contanto, embora haja de fato uma proximidade vista na oratória de ambos, algumas diferenças são visíveis, como no trecho a seguir:

A rigor, este também é o sentido da diplomacia de Lula, porém, num tom bem mais moderado, retirando a palavra “contra” e utilizando termos como “buscar outros parceiros”, “ter mais opções no mercado externo” para “reduzir a dependência externa”, sem se afastar dos grandes mercados, buscando sempre um “consenso” para as querelas do comércio mundial, por exemplo. (LOPES, 2007, p.61)

Analisando o ambiente no qual os presidentes ascenderam ao poder é possível compreender os rumos de suas políticas. Para tanto, este capítulo aborda cada uma das principais figuras políticas da América Latina neste começo de século, Chávez e Lula, bem como sua política externa.

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2.2.1 Política Externa do Governo Chávez

Para melhor entendimento do contexto político da ascensão de Hugo Chávez é necessário remontar as décadas anteriores quando o que predominava na política venezuelana era o Pacto de Punto Fijo, onde dois partidos, AD e COPEI, intercalaram no poder, pois os outros foram extintos porque “não representavam” os novos interesses nacionais democráticos da Venezuela. Além deles sobraram apenas partidos que pouco representaram durante o período, pois suas ações eram limitadas.

Chávez veio de encontro ao caos que havia se instalado no país. O tenente-coronel, surgido na base das forças armadas, foi responsável pelo movimento que, no ano de 1992, quase foi responsável pela queda do então presidente Andrés Pérez. Já que a economia do país não andava bem e a população estava cada vez mais descontente, também após o ato de tentativa de golpe de Estado, a figura do oposicionista tornou-se o símbolo desta insatisfação popular.

Com personalidade forte e um discurso populista, Hugo Chávez Frías era, indiscutivelmente, o principal candidato ao pleito de 1998 e sua eleição, apoiada pela maioria8 da população, provou isto. O discurso do concorrente direto de Chávez, Enrique Salas Romer Feo, era de continuidade da implementação da agenda neoliberal no país, mais um motivo para que o candidato do MVR tenha alcançado o alto índice de aprovação na sua primeira eleição, pondo fim ao bipartidarismo vigente. (VILLA, 2005, 159-160) O desempenho eleitoral pífio9 dos outros partidos – AD e COPEI – postulantes aos cargos institucionais deu o tom do sentimento de mudança que desejavam os eleitores naquele ano. (AMORIM NETO, 2003, p.260)

No começo dos anos 90, o preço do petróleo deu uma relativa desvalorizada e, assim sendo, as perdas não demorariam a aparecer. Como os maiores atingidos pela crise não participavam da institucionalização que o bipartidarismo instaurou, os setores afetados começaram as manifestações. E o descrédito nas instituições era comprovado pela gradatividade das abstenções10 nos pleitos eleitorais desde o começo do puntofijismo,

8 Eleito com mais de 58% dos votos.

9 AD e COPEI que, nos anos de ouro do Punto Fijo detinham 83% das cadeiras da Câmara dos Deputados,

obtiveram apenas 42,6%.

10 Na eleição de 1958 a porcentagem de abstenções foi 6,58%; em 1978 foi de 12,45%; e em 1993 chegou a

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acarretando na derrocada final da legitimidade que o antigo regime carregou por décadas. (FUKUSHIMA, 2009, p.57-58)

Sendo assim, mesmo não tendo êxito como golpista, Chávez foi bem sucedido na empreitada eleitoral. E partindo de um discurso em que a frase imperativa era mudança, o começo do governo não poderia ter sido diferente: “a mudança institucional, que remonta à Constituição de 1961, a transformação do parlamento de bicameral para unicameral, a eleição dos juízes, e, sobretudo, o esvaziamento do antigo sistema bipartidário.” (VILLA, 2005, p.160) Mostras de um governo vindo para romper politicamente com o antigo modelo.

Já no mesmo ano em que subiu ao poder, o presidente venezuelano promulgou uma nova Constituição. Como o processo foi à margem dos outros atores políticos nacionais, diferentemente da forma em que reformas constitucionais haviam acontecido recentemente em alguns países sul-americanos, aconteceu a chamada ruptura institucional. Para tal, antes mesmo de sua posse, Chávez consultou a Suprema Corte sobre o caso de um referendo para formação da Assembleia Nacional Constituinte e, apesar de ser inconstitucional, obteve uma resposta positiva, de acordo com a Constituição de 1961. O objetivo principal era dissolver o Congresso dominado pelos oposicionistas. A mesma ruptura aconteceu no Brasil assim que se instalou o regime militar em 1964, por isso, houve tanto amedrontamento quanto à figura

chavista e sua forma autocrática11 de governo. (AMORIM NETO, 2003, p.262) Desta forma,

a base aliada ao presidente, renunciou as suas cadeiras12 para formar então a Assembleia, resultando em uma ilegitimidade da oposição restante que seguiu ocupando os cargos. Assim, Chávez acabou por enfraquecer o Legislativo frente ao Executivo, onde tinha plenos poderes. (BURIN, 2011, p.6)

A nova Constituição tratava de esclarecer a inviabilidade da desestatização da petroleira nacional, como descrita no artigo 303:

O artigo 303 da Constituição Bolivariana estabeleça que “por razões de soberania econômica, política e de estratégia nacional, o Estado conservará a totalidade das ações da Petróleos de Venezuela S. A. ou do ente criado para o manejo da indústria petroleira, excetuando as das filiais, associações estratégicas, empresas e qualquer outra que se constituiu ou constitua como consequência do desenvolvimento dos negócios da Petróleos de Venezuela S. A.”

11

Termo que designa autoritarismo + democracia.

12 Quarenta e dois dos 103 deputados e senadores do Pólo Patriótico, denominação da base aliada ao governo,

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A figura de Simon Bolívar13, importante revolucionário e “diplomata”, invocada pelo presidente, foi uma das decisões acertadas de seu começo de mandato. Os venezuelanos ainda possuem um grande sentimento de identificação por Bolívar, motivo pelo qual o apelo de Chávez para o discurso bolivariano lhe deu legitimidade para sua atitude política. (VILLA, 2005, p.160)

É claro notar que o começo da “Era Chávez” no governo da Venezuela, dava passos largos para se tornar uma autocracia com o apoio maciço da população. A nova Constituição lhe deu poderes suficientes para suprimir a voz dos já não mais poderosos oposicionistas. A política agressiva, apoiada no líder governista como um símbolo nacional, através de seu discurso bolivariano, gerou ainda mais simpatia da população.

Na política externa, Hugo Chávez atuou basicamente como um diplomata. Para melhor entendimento de como se portou o presidente nesse aspecto é necessário delimitar o significado de diplomacia presidencial:

Quando o presidente tem uma participação pessoal, ativa, efetiva, na concepção e na execução da política externa, diz-se que ele pratica a chamada diplomacia presidencial. Essa difere do tipo de diplomacia na qual o presidente conduz a política externa de modo institucional, protocolar, somente desempenhando as funções prescritas na Constituição. (DANESE, 1999 apud PRETO, 2006, p.33-34) Logo, as viagens presidenciais do governante venezuelano em seu mandato são justificadas por este motivo, uma promoção do país internacionalmente. Em 1999, foram vinte países e em 2001, foram trinta e cinco. As “turnês” intencionavam uma promoção da Venezuela e, por assim dizer, do seu chefe maior, pois a figura de Chávez nunca deixou de gerar desconfianças na comunidade internacional. A “promoção do país” em que esteve engajado nos primeiros anos, também contava com a presença de importantes empresários nas comitivas, o que evidenciava a necessidade de união entre a área privada com o governo. Porém o desgaste da imagem do presidente perante a classe média venezuelana se tornou grande, já que as viagens não estavam trazendo nada de “concreto”, uma vez que o presidente ainda era visto com muita desconfiança pela comunidade internacional por seus discursos anti-americanistas. Esta situação foi aproveitada pela cambaleante oposição, ainda em fase de reestruturação. (VILLA, 2004, p.103)

Essas excursões com intenções promocionais visaram basicamente três países, os principais parceiros venezuelanos: Brasil, Colômbia e Cuba. Estados Unidos, como sendo um dos maiores importadores do petróleo do país, possuía uma visão cautelosa em relação ao

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presidente, visto que já nos primeiros anos de governo, Chávez e sua diplomacia mais agressiva, não permitiram que aviões oficiais estadunidenses ocupassem o espaço aéreo da Venezuela no combate ao tráfico de entorpecentes, durante o Plano Colômbia. O que acabou criando relativo atrito em relação, não apenas aos EUA, como também ao país vizinho. (VILLA, 2004, p.104)

Os discursos presidenciais ficaram conhecidos pelo viés ideológico e de ataque à tentativa hegemônica norte-americana na região, através do Plano Colômbia. A aproximação com Cuba e outros Estados “inimigos” dos Estados Unidos desgastaram as relações diplomáticas do país com os norte-americanos. Porém, apesar das divergências, o fluxo comercial prosseguiu inalterado, mantendo os americanos como principais compradores do petróleo venezuelano. (BURIN, 2011, p.9)

Se internacionalmente a figura de Chávez gerava desconfiança, internamente não era muito diferente. Após algumas expropriações de terras improdutivas, parte da população ficou descontente, o que acabou gerando alguns confrontos, entre aliados e oposicionistas, nas ruas de Caracas. Até que, em 2004, a oposição finalmente conseguiu um referendo em relação

a revogação ou não do mandato14 do presidente. Novamente os aliados chavistas

demonstraram sua força nas urnas e com mais da maioria dos votos, o governante manteve-se no poder. Apesar das duras críticas feitas pela oposição referentes à uma possível fraude, a OEA considerou o referendo como legítimo, dando um ponto final às desconfianças quanto a veracidade da consulta popular. (PEIXOTO, 2010, p.49)

Internamente, o governo chavista sempre enfrentou uma forte oposição, porém nunca bem estruturada, até que em 11 de abril de 2002 houve, em Caracas, uma marcha massiva que partiu de uma zona rica da cidade e uma tentativa de golpe. Por 48 horas, um empresário venezuelano esteve no poder, até que as Forças Armadas e uma parte da população, fiel ao líder bolivariano, juntaram forças contra o novo governo golpista e Hugo Chávez pode então voltar à presidência. (VILLA, 2004, p.163) Porém, neste retorno, a retórica do presidente tornou-se bem mais agressiva em relação ao governo estadunidense, onde ele próprio, sem o intermédio de funcionários do governo, os acusando de serem os patrocinadores dos oposicionistas. (VILLA, 2004, p.107) Motivo principal deste tom mais agressivo foi o pronto reconhecimento do governo golpista de Pedro Carmona.

A política autônoma em que se encontrava a PDVSA, em 2002, levou os petroleiros a entrar em uma greve que durou cerca de dois meses, vindo a acabar apenas em

14 De acordo com a Constituição de 1999, o mandato presidencial é de seis anos, podendo se reeleger

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2003. O motivo principal do Paro Petrolero foi desestabilizar o governo e quiçá destituí-lo do poder. Porém, o que foi visto, foi uma demissão massiva de cerca de 17.000 funcionários da estatal petroleira, incluindo até alguns diretores. (BARROS, 2007, p.129) Vê-se então a perda de autonomia que a empresa enfrentaria e o aumento de poder que o governo chavista estava alcançando em direção a um Estado nacionalista, uma vez que a estatal estava tentando uma certa desvinculação do governo.

Não foram apenas com os Estados Unidos que as relações diplomáticas andaram estremecidas no começo deste século, com a Colômbia também. A guerra civil colombiana, entre governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), foi o motivo do desconforto, já que a diplomacia venezuelana manteve uma postura neutra durante o conflito, posição bastante criticada, tanto por colombianos quanto por norte-americanos, já que deixa implícito o apoio aos guerrilheiros, uma vez que o país era acusado de fornecer armamento para a guerrilha. A embaixada venezuelana rebateu as acusações argumentando que oferecia apoio aos dois grupos conflituosos com o intuito de finalizar o conflito e um acordo de paz ser negociado, pois o país tinha preocupação já que possui extensa fronteira comum com os colombianos. (VILLA, 2004, p.109)

Como ressaltado anteriormente, dentre os tópicos principais do interesse da política externa estava a integração. Chávez não mediu esforços para uma aproximação com outros países e, assim, diversificar sua cartela de parceiros econômicos. Pode-se exemplificar com o Gasoduto do Sul, projeto entre Venezuela, Brasil e Argentina, onde seria construído um gasoduto que liga, de norte a sul, a América do Sul. A criação, a partir de outros projetos anteriores, da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), em que doze países sul-americanos pretendiam aprofundar seus laços para, talvez no futuro, se tornarem algo como a União Européia (UE). Ainda, há a Alternativa Bolivariana das Américas (ALBA), onde Cuba e Venezuela fazem trocas econômicas e sociais. Enquanto cubanos dão consultoria em assuntos como saúde e educação, os venezuelanos oferecem energia – através da PDVSA – para a ilha caribenha. (LOPES, 2007, p.57)

Houve também a preocupação do líder venezuelano de uma aproximação com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), onde conseguiu considerável liderança para que dessem uma freada na extração do petróleo. Com a diminuição, a demanda se tornou maior do que a produção, logo, os preços internacionais do produto voltaram a subir. Após esse princípio com bastante atenção direcionada para a OPEP, os olhares se voltaram para a integração com os vizinhos. (LOPES, HITNER, 2009, p.164)

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O interesse integracionista venezuelano deslocou-se para a “fachada amazônica”, Brasil e MERCOSUL. Tanto que, desde a entrada de Hugo Chávez na presidência, as viagens para Brasília se tornaram frequentes, tanto no governo FHC, quanto posteriormente no governo Lula. A intenção do “diplomata” Chávez era de um desvencilhamento da Colômbia e os EUA, diversificando mercados. É uma forma também de diplomacia estratégica, afinal, com o discurso do presidente tão extremista em relação a Washington, uma hora as relações podem estremecer, ou os norte-americanos perderem o interesse dada a complexidade da situação. (VILLA, 2004, p.110)

Após a saída da Venezuela da Comunidade Andina de Nações (CAN), com o intuito principal de integrar o bloco do Cone Sul do hemisfério, o país entrou com processo para se tornar membro efetivo do MERCOSUL. Em um processo que tramitava desde 2006, apenas agora em 2012 que veio a se tornar membro pleno do bloco. Podendo analisar dois fatores de interesse venezuelano: primeiro, a redução de tarifas de alguns produtos necessários internamente, visto que o país tem indústrias mais voltadas para o petróleo e correlatos, e também arranja novos compradores para seu principal produto de exportação; segundo, como Argentina e Brasil são as principais potências regionais, a aproximação se faz necessária, ainda mais por laços a serem criados entre Chávez e Lula, o que daria mais legitimidade internacional aos atos venezuelanos já que o presidente brasileiro é uma figura bem vista em todo o mundo. (LOPES-HITNER, 2009, p.174)

Conforme foi visto, muito da política externa venezuelana, após a ascensão de Chávez, se entrelaça com a brasileira de Lula. A integração, palavra muito citada por ambos, foi a palavra-chave entre a relação dos dois países.

2.2.2 Política Externa do Governo Lula

O governo anterior ao de Luiz Inácio Lula da Silva foi o do tucano Fernando Henrique que, durante dois mandatos, deu fim ao Estado desenvolvimentista de Getúlio Vargas. Desde o governo Collor, posteriormente o de Itamar, no começo dos anos 90, a abertura do mercado brasileiro e a consequente neoliberalização do país se tornaram evidentes. Apesar de FHC ter freado um pouco, em relação a Collor, a voracidade com que as coisas estavam acontecendo, seu governo ficou conhecido por ter cedido às pressões externas e privatizado alguns setores-chave da economia brasileira, abrindo de vez o mercado para se tornar mais um país neoliberal.

Referências

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