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Análise dos Registos de Incidentes Críticos no âmbito das atividades

No documento A interculturalidade na infância (páginas 38-45)

4.1. Contexto de Educação Pré-Escolar

4.1.2. Análise dos Registos de Incidentes Críticos no âmbito das atividades

As atividades dinamizadas ao longo do estágio em educação Pré-Escolar, foram realizadas com objetivos concretos de investigação, nomeadamente: a) analisar o contributo das atividades propostas na promoção da interculturalidade na infância; b) compreender de que forma o conhecimento de diferentes países promove atitudes de compreensão e respeito pela diferença; c) conhecer e analisar os contributos da interdisciplinaridade nas aprendizagens das crianças.

Com o intuito de avaliar os resultados alcançados com a implementação das atividades, procedi a uma constante recolha de dados ao longo das intervenções, que me possibilitaram realizar Registos de Incidentes Críticos. Os dados recolhidos permitem-me interpretar, analisar, avaliar e refletir sobre o impacto das atividades realizadas em torno dos objetivos a que me propus.

O projeto de intervenção, centrado no conhecimento da era dos Descobrimentos portugueses, permitiu-me realizar atividades nas diversas áreas do saber, com especial foco na área do conhecimento do mundo, onde implicitamente se encontra o conhecimento do Outro.

No que respeita ao primeiro objetivo proposto, nomeadamente: analisar o contributo das atividades propostas na promoção da interculturalidade na infância – este foi desenvolvido tendo em consideração a promoção de conhecimento cultural de diferentes países do mundo. A seleção dos países a serem explorados ficou acordada com as crianças aquando de um diálogo em grande grupo, realizado na sétima semana em estágio.

O segundo objetivo de investigação - compreender de que forma o conhecimento de diferentes países promove atitudes de compreensão e respeito pela diferença – encontra-se num primeiro momento implícito aquando da leitura e exploração das obras “O ratinho marinheiro” e “Meninos de todas as cores”, de Luísa Ducla Soares. As atividades realizadas em torno do conhecimento cultural dos países acordados com o grupo, permitem-me refletir sobre o contributo das mesmas para este objetivo.

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A história “O ratinho marinheiro”, de Luísa Ducla Soares - Leitura e análise da história: “O ratinho

marinheiro”, de Luísa Duclas Soares;

- Elaboração de uma “mala viajante”, que permite o reconto da história;

- Construção do “jogo da memória” através de desenhos;

- Realização de um teatro de sombras.

Figura 1. Leitura da história "O ratinho marinheiro", de Luísa Duclas Soares

A história “Meninos de todas as cores”, de Luísa Ducla Soares - Leitura e análise da história “Meninos de

todas as cores”, de Luísa Ducla Soares; - Reconto da história;

- Construção de um barco 3D em cartão;

Figura 2. Construção de um barco em 3D

No decorrer das intervenções detive em consideração a promoção de atividades em todas as áreas do saber, que permitiram atender ao terceiro objetivo c) conhecer e analisar os contributos da interdisciplinaridade nas aprendizagens das crianças.

As atividades planificadas, de caráter flexível, incidiram no conhecimento e descoberta de alguns dos países descobertos por navegadores portugueses, nomeadamente, Timor, Brasil, Índia, Macau, Angola e Moçambique.

O constante diálogo em grande grupo, as questões realizadas por mim e pelas crianças, permitiram-me introduzir conceitos fundamentais para a compreensão das atividades a realizar durante

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as intervenções, como os conceitos de continente, país, ilha, e cultura, os quais foram facilmente adquiridos pelo grupo.

A atividade “A descoberta de Timor e sua cultura”, iniciou-se com a observação de imagens de Timor e da sua cultura, tais como a sua localização no mapa mundo, a bandeira, as casas típicas e as pessoas, as quais foram posteriormente analisadas pelas crianças. Detiveram assim a possibilidade de conhecer caraterísticas culturais importantes do país.

A atividade prosseguiu com a realização de uma videochamada com uma professora de uma escola em Timor, à qual as crianças colocaram diversas questões, nomeadamente - “há praia aí?”; “os meninos são felizes?”; “como são as casinhas?”, entre outras. As questões colocadas mostram o interesse em conhecer o país, assim como permitiram ao grupo a aquisição e desenvolvimento de novas aprendizagens e saberes acerca da cultura do país e do povo timorense.

Durante o diálogo com a professora, o grupo permaneceu atento e curioso, colocando constantemente questões significativas para as suas aprendizagens. Com a concretização desta interação, compreendo a importância e relevância da mesma para o desenvolvimento e aquisição de novos saberes, bem como a sua influência na compreensão e respeito pela diversidade. Com o diálogo estabelecido após a realização da videochamada, destaco alguns comentários realizados por várias crianças do grupo, nomeadamente: “eu gostava de enviar uma prenda para aqueles meninos”; “podemos dar aos meninos um brinquedo”; “as crianças daquela escola são pobrezinhas”; “podemos dar um livro e assim podem ler histórias”; “também podemos fazer desenhos para dar de prenda”. Os comentários realizados pelo grupo demonstram um gesto de amizade e cooperação para com o outro. Revelam o contributo da atividade realizada no que respeita à aquisição de valores essenciais, como os de respeito, aceitação e cooperação.

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A descoberta de Timor e sua cultura - Visualização e análise de imagens referentes

à descoberta de Timor e sua cultura; - Realização de uma dança tradicional Timorense;

- Realização de uma videochamada com uma professora de uma escola de Timor;

- Escolha e elaboração dos presentes a enviar para as crianças daquela escola de Timor; - Elaboração de um mapa mundo em 3D.

Figura 3. Realização de uma dança tradicional Timorense

No que concerne à segunda atividade - “A participação das famílias – A descoberta do Brasil e sua cultura”, realizada com o intuito de proporcionar ao grupo conhecimentos acerca da descoberta do Brasil e da sua cultura, iniciou-se através de uma pequena introdução ao tema em torno da descoberta do Brasil, através da visualização e exploração das imagens de um vídeo.

Posteriormente, as mães de duas crianças de nacionalidade brasileira pertencentes ao grupo, deslocaram-se ao jardim de infância para proporcionar ao grupo um momento de partilha acerca de aspetos importantes da cultura brasileira. Esta atividade permitiu o envolvimento das famílias neste processo de construção de conhecimento e, além disso, o enriquecimento e aquisição de novos conhecimentos e aprendizagens. As mães apresentaram dois vídeos acerca da descoberta do Brasil por parte dos portugueses e, de seguida, exploraram através de uma imagem, o mapa dos estados do Brasil. Durante a atividade as mães salientaram a existência de zonas reservadas à vivência de tribos indígenas e posteriormente distribuíram pelas crianças um “cocar” de penas, acessório usado pelos índios nas cabeças. Distribuíram também bandeiras e pintaram as caras das crianças, tal como acontece nas pinturas indígenas. Detiveram ainda a possibilidade de desenhar e pintar a bandeira do Brasil e de Portugal em cartolinas, utilizando os dedos. Na hora do lanche foram distribuídos um doce típico do Brasil, os brigadeiros, que foram confecionados pelas mães.

Ao dialogar com o grupo sobre os seus pareceres acerca da atividade realizada, fascinado com todos os adereços, o J diz: “eu gostava de conhecer os índios do Brasil”. O comentário realizado revela o interesse da criança em conhecer uma cultura diferente da sua, para tal foi essencial o contributo das

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mães, que proporcionaram ao grupo o conhecimento e obtenção de novos saberes sobre a cultura brasileira, os quais simultaneamente permitem o interesse e respeito pela mesma.

A participação das famílias – Descoberta do Brasil e sua cultura - Visualização de um vídeo sobre a chegada

dos portugueses ao Brasil;

- Visualização de imagens da cultura brasileira; - Elaboração das bandeiras do Brasil e

Portugal;

- Audição e canto de uma música tradicional brasileira com a utilização de instrumentos típicos.

Figura 4. Elaboração das bandeiras do Brasil e de Portugal

A atividade “A descoberta da Índia e sua cultura”, iniciou-se através da realização de um pequeno teatro de fantoches, a partir do qual foi dado a conhecer ao grupo o navegador português Vasco da Gama e sua armada, o percurso marítimo realizado pelos mesmos, bem como a descoberta de produtos valiosos da época, os quais puderam explorar. Ao longo de toda a atividade as marionetas das personagens realizadas para o teatro, foram utilizadas nos vários momentos de diálogo estabelecidos com as crianças, o que permitiu despertar o interesse e curiosidade do grupo. Depois da realização do pequeno teatro, projetei um vídeo com música e imagens referentes à cultura indiana, tais como a localização do país no mapa mundo, a bandeira, o povo indiano e a roupa tradicional.

Com o objetivo de consolidar conhecimentos acerca da cultura indiana, propus a realização de uma maquete com elementos representativos da Índia. Prontamente o R Refere: “eu quero desenhar meninos indianos!”. O comentário realizado permite verificar a importância da atividade realizada para a construção de conhecimento, e o interesse da criança por uma cultura distinta da sua.

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A descoberta da Índia e sua cultura - Teatro sobre a descoberta da Índia;

- Visualização de um vídeo com imagens da cultura indiana;

- Realização de uma maquete com elementos indianos.

Figura 5. Visualização de um vídeo sobre a cultura indiana

A atividade “A descoberta de Angola e Moçambique e sua cultura” iniciou-se com a exploração de um Atlas do Mundo, no qual as crianças puderam observar e conhecer diversos animais característicos da região. Posteriormente o grupo visualizou um vídeo com diversas imagens de artesanato, pessoas, gastronomia típica, trajes tradicionais, fauna e flora, as quais foram analisadas e exploradas. Visualizaram ainda um vídeo de dança tradicional e ouviram e dançaram uma música caraterística do país.

A atividade prosseguiu com a colaboração da educadora, sendo este o país onde nasceu, o seu conhecimento acerca do mesmo tornou-se crucial para a construção das aprendizagens do grupo. A educadora disponibilizou às crianças vários adereços para explorarem, observarem e manusearem, como tecidos típicos, bijuterias confecionadas com sementes, areia das praias angolanas e artesanato tradicional. Após este momento, exemplificou como as “mães” transportam os seus bebés, proporcionando às crianças o uso dos tecidos, tais como usam as pessoas da região, como saias, vestidos, turbantes e como forma de transportar as suas crianças.

Como forma de permitir um maior envolvimento do grupo com esta cultura, proporcionei um momento de prova de algumas frutas tradicionais, nomeadamente a banana, a papaia e a manga. Detiveram ainda a possibilidade de visualizar o modo de confecionar banana assada, prato tradicional angolano, o qual posteriormente provaram. Após a observação e exploração das imagens referentes a Angola, e após visualizar e experimentar alguns adereços tradicionais e frutos típicos do continente africano, estabeleço com as crianças um diálogo acerca das aprendizagens construídas em torno das atividades dinamizadas. No decorrer do diálogo o E refere: “eu adoro a cultura de Angola e adoro aquela raça”. O comentário demonstra o sucesso da atividade realizada no que concerne à promoção de respeito e interesse por uma cultura diferente.

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A descoberta de Angola e Moçambique e sua cultura - Visualização e análise de imagens da cultura

de moçambique;

- Exploração de elementos da cultura angolana;

- Prova de frutos típicos de Angola e Moçambique;

- Confeção e prova de banana assada; - Realização de um placard com elementos característicos de Angola e Moçambique;

Figura 6. Exploração de elementos da cultura angolana

Depois da análise por atividade, atendendo aos objetivos de investigação definidos, concluímos o seguinte em relação a cada um dos objetivos:

No que concerne ao primeiro objetivo definido, nomeadamente, analisar o contributo das atividades propostas na promoção da interculturalidade na infância, planifiquei ao longo do projeto de investigação, a realização de atividades centradas no conhecimento de diferentes culturas, o que permitiu às crianças conhecer e explorar culturas distintas entre si, bem como a capacidade de reconhecimento e valorização da diversidade cultural. As atividades desenvolvidas em torno da minha ação pedagógica, permitiram, de igual modo, o desenvolvimento e incentivo à interação social e comunicação, proporcionando momentos de contacto direto com pessoas de uma outra cultura ou a viver num país com uma cultura diferente da sua e, assim, a possibilidade de desenvolver na criança o “sentido de pertença comum à humanidade”, tal como previsto pela Direção-Geral da Educação (DGE).

O segundo objetivo definido - compreender de que forma o conhecimento de diferentes países promove atitudes de compreensão e respeito pela diferença – está implicitamente relacionado com a descoberta, pelas crianças, da diversidade cultural existente de país para país, o que permitiu ao grupo adquirir conhecimentos acerca da existência de diversos povos e culturas e, assim, através desta descoberta em torno das atividades realizadas e dos constantes diálogos entre mim e as crianças e entre pares, criar interações e promover a compreensão e respeito pela diferença entre raças e culturas.

A observação direta e os registos realizados, permitem-me compreender que ao promover atividades centradas na exploração de diferentes culturas, as crianças adquirem conceitos,

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comportamentos e valores essenciais para a sua vida, tais como a convivência em sociedades pluralistas, a cooperação, a solidariedade e ajuda, assim como atitudes distantes de estereótipos relacionados com as diferenças de raça, de origem e de língua.

No que respeita ao terceiro e último objetivo - analisar e conhecer os contributos da interdisciplinaridade nas aprendizagens das crianças – detive em consideração uma intervenção pedagógica que proporcionasse às crianças a construção de diversas aprendizagens e competências nas várias áreas do saber, procurando que as mesmas fossem de encontro aos seus interesses e necessidades.

No decorrer do projeto proporcionei momentos de partilha e brincadeira, diálogos, trabalhos individuais e em pequeno e grande grupo, atividades dinâmicas e criativas e de exploração de livros, o que possibilitou uma intervenção interdisciplinar nas várias áreas previstas nas OCEPE, nomeadamente, a Área do Conhecimento do Mundo, Área da Formação Pessoal e Social e a Área da Expressão e comunicação.

A ação centrada numa prática transversal, permitiu articular conhecimentos e, assim, observar um maior entusiasmo e cooperação das crianças no decorrer das atividades, o que por sua vez possibilitou uma maior exploração e envolvimento das mesmas. Neste sentido, a interdisciplinaridade proporcionou aprendizagens significativas e mais ativas, tendo se constatado uma maior facilidade na aquisição dos conhecimentos, o que se traduz no desenvolvimento integral das crianças, nomeadamente a demonstração do conhecimento de países no mapa, distinção de práticas culturais e distinção de produtos (iguarias).

No documento A interculturalidade na infância (páginas 38-45)

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