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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

No documento Assistências e disclosure (páginas 73-77)

O presente capítulo é composto pela análise qualitativa e quantitativa das subvenções e assistências governamentais e da evidenciação socioambiental, além da relação entre elas.

Na análise qualitativa são apresentadas as características da SAG, de sua evidenciação e a representatividade de suas receitas frente ao lucro líquido apurado. Tal análise procurou compreender ainda a conformidade das empresas estudadas ao normativo competente: CPC 07 e sua revisão. Nessa etapa da pesquisa também são tratadas a evidenciação socioambiental e sua relação com as principais variáveis selecionadas.

Tratando-se de análise quantitativa, o estudo utilizou métodos capazes de inferir estatisticamente a possível relação entre os incentivos governamentais e a evidenciação socioambiental (Kolmogorov-Smirnov, Levene, Anova, Tamhane, Dunnett T3 e Games- Howell), além de testar tal relação associada às demais variáveis estabelecidas pela revisão de literatura (Correlação Linear de Pearson e Regressão Linear Múltipla).

4.1 Características da evidenciação socioambiental

A presente pesquisa abrange uma amostra de 337 empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa. A análise dessas empresas deu-se através do exame dos relatórios de sustentabilidade, além das demonstrações financeiras padronizadas disponíveis no website da BM&FBovespa e/ou nos das empresas pesquisadas.

Quanto aos documentos analisados nesta pesquisa, vale ressaltar a falta de uniformidade da nomenclatura das denominações dos relatórios de sustentabilidade: Relatório Anual, Relatório de Sustentabilidade, Balanço Social, Relatório Socioambiental.

A investigação da divulgação socioambiental se faz relevante frente aos resultados de Aerts e Cormier (2009) em estudo em empresas canadenses e dos EUA, os quais apontaram que a legitimidade ambiental é significativa e positivamente afetada pela qualidade das divulgações dos relatórios ambientais.

Vale salientar que, além de informações econômicas, os relatórios de sustentabilidade devem apresentar informações sociais e ambientais das empresas. Contudo,

algumas empresas apresentam essas informações em suas demonstrações contábeis, ratificando a importância da análise conjunta com esses documentos. Dentre as peças analisadas, o relatório de administração se destaca como importante documento de evidenciação de informações tanto econômicas como sociais e ambientais. As notas explicativas também aparecem entre os documentos em que foram coletadas mais informações.

A análise dos documentos selecionados possibilitou ainda a coleta de informações requeridas no instrumento de coleta proposto para o presente estudo. A partir do instrumento de coleta foi possível verificar as características do disclosure socioambiental das empresas estudadas. A Tabela 1 evidencia a disposição do IDS por categoria e subcategoria de evidenciação, em termos absolutos e relativos.

As informações alusivas ao relacionamento empresa-governo se sobressaem como as mais evidenciadas. Tal fenômeno pode ser explicado pelo fato de que o item Pagamentos feitos ao governo está inserido nas principais demonstrações contábeis (Balanço Patrimonial, DRE e DVA), sendo o mais evidenciado, seguido de Valor econômico gerado e distribuído, também proveniente de uma demonstração contábil (DVA), cuja divulgação é obrigatória para todas as companhias de capital aberto (Tabela 1).

Destaca-se ainda que o item de menor aderência, com 22,9% de evidenciação, foi o Percentual de funcionários cobertos por acordos coletivos, que pertence ao grupo Colaboradores, demonstrando um prejuízo na transparência das relações das empresas com seus funcionários.

Ao investigar as estratégias de legitimidade da tipologia de Suchman (1995), os estudiosos Gubiani, Soares e Beuren (2009) concluíram que a estratégia com mais destaque foi a pragmática, que trata de adequar-se rapidamente aos interesses dos stakeholders mais próximos da entidade. Assim, a evidenciação socioambiental foi estudada sob o foco de uma possível relação com o tipo de stakeholder priorizado pelas empresas.

Para tanto, segregaram-se, a partir das questões de interesse, os principais

stakeholders. O primeiro grupo é o dos Colaboradores, formado por questões que dizem respeito à relação da empresa com funcionários e fornecedores. O grupo Comunidade é composto pelos assuntos que dizem respeito à sociedade e às comunidades circunvizinhas que são impactadas pelas ações e inações das empresas. Já o grupo Governo é formado pelos tópicos que tratam da relação da empresa com todas as esferas de governo. E por fim, o grupo

Meio Ambiente, constituído a partir das proposições que versam sobre os recursos naturais despendidos e afetados pelas empresas.

Observa-se que os principais grupos de stakeholders evidenciados foram Comunidade, e Governo (Tabela 1). Tal resultado está alinhado ao posicionamento de Wood (1990) e Clarkson (1995), que classificam esses grupos como stakeholders primários. Ao analisarem os principais grupos de stakeholders evidenciados nos relatórios de sustentabilidade, Freitas et al. (2012) encontraram os Colaboradores, Comunidade e Governo, além dos Acionistas como os stakeholders que detêm mais atenção das empresas.

Tabela 1 – Distribuição das empresas da amostra por número de itens evidenciados DISCLOSURE SOCIOAMBIENTAL Nº DE EMPRESAS QUE EVIDENCIARAM Nº DE EMPRESAS EM QUE O ITEM É APLICÁVEL MÉDIA DE DISCLOSURE POR ITEM (%) MÉDIA DE DISCLOSURE POR CATEGORIA (%) CATEGORIA SUBCATEGORIA COLABORADORES

Políticas, práticas ou proporção de gastos com fornecedores e

contratações locais 87 336 25,9

43,9 Total da sua mão de obradiscriminada por tipo de emprego,

contrato, região, gênero e/ou raça 132 337 39,2

Salário e benefícios dos empregados 278 337

82,5

Taxa de rotatividade (turnover) 133 337

39,5 Percentual de funcionários cobertos por acordos coletivos 77 336

22,9

Treinamento e capacitação para funcionários 200 337

59,3

Custo da saúde e segurança dos empregados 179 337

53,1 Taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos,

absenteísmo e/ou óbitos relacionados ao trabalho 98 337 29,1

COMUNIDADE

Contribuições para a sociedade 174 337 51,6

64,9

Valor econômico gerado e distribuído 335 337 99,4

-Sanções monetárias ou não resultantes da não conformidade

com leis e regulamentos 141 328 43,0

GOVERNO

Ajuda financeira significativa recebida do governo 274 337 81,3

90,5

Pagamentos feitos ao governo 336 337

99,7

MEIO AMBIENTE

Gastos com pesquisa e desenvolvimento de produtos e/ou

processos com baixo impacto na natureza 144 337 42,7

43,7 Estratégias, medidas em vigor e planos futuros para a gestão

de impactos na biodiversidade. 166 327 50,8

Valor total dos investimentos cujo objetivo é o aumento da

qualidade socioambiental na produção/operação da empresa 128 337 38,0

No que diz respeito ao comportamento da evidenciação socioambiental das empresas estudadas, observa-se, na Tabela 2, que as empresas que evidenciam entre 51% e 75% das informações requeridas no instrumento de coleta integram o menor grupo, na comparação com os demais níveis, reunindo 56 empresas. É possível observar ainda uma concentração de 98 empresas no nível entre 76% e 100%, apresentando um índice médio de evidenciação de 94%. Tal grupo de empresas obteve como índice mais baixo 80% de divulgação de informação socioambiental.

Nota-se ainda que, na média, as empresas evidenciaram 54% das informações socioambientais requeridas, com uma discrepância de 30% entre elas. Contudo, todas elas juntas atingiram, como índice mínimo, 6% de evidenciação socioambiental.

Tabela 2 – Estatística descritiva por nível de disclosure socioambiental

ÍNDICE DE

No documento Assistências e disclosure (páginas 73-77)