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Análise dos resultados

No documento EMPREENDEDORISMO E O PERFIL DO EMPREENDEDOR (páginas 35-47)

Com base nas respostas obtidas durante a pesquisa e entrevista junto aos empresários, é apresentado abaixo os resultados, para melhor visualizar o perfil do empreendedor pesquisado.

Na primeira questão, perguntou-se aos empreendedores qual a principal razão para a criação da sua empresa.

Fonte: Dados da pesquisa

Conforme pode ser observado no gráfico 1 acima, identificou-se que 62% dos empreendedores apontam a percepção de oportunidade de mercado como o principal factor motivacional para a criação da empresa. Isto demonstra que a maioria dos entrevistados iniciou seus negócios pelo facto de terem uma visão ampla de mercado. Há que também fazer referência aos 29% de empreendedores que deram inicio ao negócio pelo facto de estarem numa situação de crise, o que demonstra que na ilha há presença do chamado empreendedorismo por necessidade.

Na segunda pergunta, conforme gráfico 2 abaixo, abordou-se o tempo de experiência anterior dos empreendedores no ramo de actividade em que actuam.

Gráfico 2 – Experiência anterior

Verifica-se que 39% dos inquiridos possuem de um a cinco anos de experiência. Por outro lado, ainda observou-se que uma percentagem relevante de empreendedores entrevistados apontam ter mais de 10 anos de experiencia (29%). Ainda sobre esta questão, constata-se que, dos 18% que apontam não ter qualquer experiência antes do início do negócio a maioria (64%) faz parte dos que iniciaram o negócio por causa de uma crise pessoal. Este facto nos leva a concluir que na presença de uma crise pessoal o são vicentino está disposto a correr todos os riscos de um empreendimento.

Na sequência, buscou-se identificar qual a idade das pessoas ao iniciarem seus próprios negócios.

Gráfico 3 – Idade

Fonte: Dados da pesquisa

Percebe-se que a grande maioria dos empreendedores inquiridos (44%), deu início ao seu negócio entre 31 a 40 anos de idade. A pesquisa ainda revela que 9% se encontra na faixa etária de 18 a 25 anos; 29% de 26 a 30 anos e 18 acima dos 40 anos.

Os dados obtidos nesta questão não vão muito além dos resultados a nível mundial, uma vez que a literatura mostra que em diversos países do mundo a faixa etária dos 25 a 35 anos é a predominante entre as pessoas que criam o próprio negócio e que a partir dos 40 anos as pessoas são menos propensas a se arriscarem em negócios próprios.

Analisando a pequena percentagem que consta na faixa etária dos 18 a 25 anos (9%), constata-se que nesta idade os jovens da ilha estão mais preocupados em encontrar um emprego do que auto-empregarem-se. Isto nos alerta para a necessidade, da

implementação de um sistema de ensino que prepare os jovens no sentido de estes serem empregadores e não somente empregados, para que quando estes terminarem os estudos académicos não se questionem onde é que vão arranjar emprego, mas sim como é que vão criar o próprio emprego.

No que diz respeito ao tipo de actividade, perguntou-se em que ramo de negócios o empreendedor actua.

Gráfico 4 – Ramo de actividade

Fonte: Dados da pesquisa

Sendo São Vicente, a exemplo das outras ilhas, caracterizada pelo elevado nível de importações e fracas exportações, os resultados obtidos nesta questão, não poderiam ser tão diferentes dos esperados. A grande percentagem dos inquiridos (57%) aponta o comércio, 25% aponta o sector dos serviços, 12% opta pelos dois sectores e uma

minoria de 6% investe no sector da indústria, conforme pode-se observar no gráfico 4 acima.

A escolha da actividade do comércio, deve-se ao facto desta área ser mais ampla, oferecendo assim mais oportunidades de negócio, como por exemplo lojas de roupa, calçado, supermercados, drogarias, bares entre tantas outras opções.

Quanto aos serviços, estes englobam a educação, saúde, advocacia, turismo, segurança, limpeza, assistência técnica e os transportes, sendo que a última rubrica apresenta com a maior fatia deste sector, constituindo um total de 37%.

Ainda procura-se saber o grau de escolaridade de cada um dos empreendedores.

Fonte: Dados da pesquisa

A pesquisa revela que 29% dos empreendedores da ilha de São Vicente possuem o nível superior, pouco mais de um terço (41%) se encontra em um nível primário e secundário de educação, e o ensino médio aparece com 12%. Os restantes (18%) não concluíram o ensino superior.

Os resultados demonstram que a importância do estudo superior está em baixa, isto é, muitos dos empresários não se importam em incrementar o seu nível de escolaridade, pois já com seu negócio montado resolvam se acomodar.

A análise dos resultados também revela que 85% daqueles que apontam a realização pessoal como a razão para a criação de sua empresa são pessoas que possuem o ensino superior e que sempre sonharam em ter seu próprio escritório ou consultório.

Na oitava questão, procura-se analisar até que ponto as empresas existentes na ilha contribuem para a criação de postos de trabalho.

Gráfico 6 – Número de trabalhadores

Perante os dados obtidos, não se pode deixar de sinalizar um dos resultados mais expressivos desta pesquisa, onde se revela que mais de metade das empresas (62%) empregam menos de 10 trabalhadores e 27% acolhem de 11 a 20 trabalhadores no seu seio. Este facto nos leva a concluir que, das empresas existentes, um leque muito elevado pertence à categoria de pequenas e médias empresas.

A inexistência de empresas com mais de 50 trabalhadores pode estar subjacente ao facto do questionário ser aplicado somente às empresas de carácter regional.

Ainda, sobre o emprego há que destacar a resposta dada por alguns empresários, na décima terceira questão, onde manifestam a intenção de empregar mais pessoas, mas não o fazem porque a estrutura de custos na lhes permite.

“Para mim a maior satisfação seria ver o meu negócio prosperar até se transformar numa grande empresa, ao ponto de garantir um posto de trabalho a muitos dos nossos jovens que estão desempregados e perdidos no seio da nossa sociedade”. (Anónimo)

Ao analisarmos as respostas obtidas na nona questão, temos a oportunidade de constatar que muitos dos empresários da ilha provêm de outras ilhas, nomeadamente da ilha de Santo Antão, da ilha do Fogo e da ilha de Santiago, constituindo um total de 41% dos respondentes, sendo que somente 32% destes têm origem em S. Vicente. Este facto que tem como uma das principais razões a fraca cultura da poupança que se depara no seio dos são vicentinos, fazendo com que estes não tenham recursos financeiros que muitas vezes é exigido para se iniciar um negócio.

Estando a analisar apenas empresas de carácter regional, não é estranho a baixa percentagem de empreendedores estrangeiros no universo dos inquiridos (27%). Isto porque os investidores estrangeiros estão mais interessados em fazer grandes investimentos, carácter nacional, do que investimentos em pequenos negócios.

Fonte: Dados da pesquisa

No que se refere ao financiamento ou obtenção do investimento inicial, para o evento empreendedor, a pesquisa revela que a maioria dos nossos pequenos empresários tem como principal fonte de financiamento o capital próprio (51%) e como segunda fonte em importância de recursos os empreendedores recorrem aos familiares (16%). Como terceira fonte de apoio financeiro eles utilizam recursos provenientes de uma indemnização ou aposentadoria (14%).

Esta questão serve também para desvendar a seguinte realidade – existência de uma elevada restrição dos bancos comerciais e entidades financeiras quanto ao financiamento de empreendimentos de pequeno porte, sendo que este constitui a fonte de financiamento de apenas 10% dos inquiridos. No que se refere a apoios de instituições governamentais, somente dois empresários inquiridos dizem ter recebido qualquer apoio de instituições governamentais (englobado na rubrica de outra fonte).

Paralelamente a esta questão, surge a questão número 11, onde se tem a oportunidade de verificar que 84% dos empresários que obtiveram um financiamento bancário, tiveram que apresentar como garantia um bem pessoal ou um avalista. Os restantes 16% obtiveram alguma facilidade porque a comparticipação das instituições bancárias nos seus projectos era de longe inferior ao que eles iram aplicar no projecto.

Assim, partindo para a parte descritiva, na décima segunda questão do questionário, quisemos saber se os empreendedores sentiram alguma dificuldade para montar seu próprio negócio. Com base nas respostas constatamos que as dificuldades foram de vária ordem, nomeadamente falta de apoios financeiros, falta de experiência na área de actuação, a burocracia da administração pública, falta de orientação etc.

“Eu recebi uma indemnização de uma empresa onde trabalhei durante 17 anos, eu queria investir, mas eu não tinha a noção de onde investir” (Paulino Gomes)

“A maior dificuldade que eu tive foi conseguir familiarizar com as operações inerentes ao meu negócio”. (Anónimo)

“Para mim a maior dificuldade foi conseguir todos os documentos legais para a abertura da minha empresa. Tive um atraso de quase quatro meses em relação ao tempo que eu tinha previsto para a abertura”. (Anónimo)

Já outros empreendedores (19% dos inquiridos) dizem que não tiveram qualquer dificuldade ao iniciarem seu próprio negócio, conforme ilustra-se na resposta seguinte.

“Não senti nenhuma dificuldade quando iniciei o meu negócio, pois já tinha trabalhado um bom tempo em negócios semelhantes ao meu e assim adquiri conhecimento e experiência na área”. (Armindo Ramos)

Perguntou-se na décima terceira questão descritiva qual seria a maior satisfação pessoal após o inicio do negócio. A maioria dos empreendedores indica a autonomia financeira e o reconhecimento pessoal como sendo a maior satisfação.

“Ao montar meu próprio negócio, parei de depender financeiramente dos meus pais”. (Ana Fernandes)

“Para mim a maior de todas as recompensas é o facto de hoje ser uma pessoa muito reconhecida no comércio”. (Anónimo)

Com o intuito de finalizar a pesquisa, quisemos com a décima quarta questão avaliar o nível de criatividade e inovação dos nossos empreendedores.

Chegamos à conclusão que estes são pouco inovadores e que a resposta predominante foi “ aumentamos as nossas instalações e contratamos mais pessoal”.

Esta fraca capacidade de inovação pode ser ainda comprovada com a sexta questão, onde tivemos a oportunidade de verificar que cerca de 61% dos inquiridos dedica menos de oito horas diária a seus negócios. Naturalmente, quanto menos tempo dedicam ao negócio, menor é a probabilidade de criarem coisas novas nas empresas.

Perante tal situação, é nossa opinião que as nossas empresas só estão a ter sucesso porque estão inseridas num mercado pouco competitivo e de pouca agressividade.

Não obstante esta situação do empresariado da ilha, há que destacar a existência de um nível considerado de comércio informal, que constitui a fonte de sustento de muitas famílias. Estás pessoas normalmente têm as suas próprias ideias e um certo nível de criatividade, mas lhes falta o apoio e o incentivo necessários para criarem as suas pequenas empresas e assim contribuírem para o PIB do país.

4 Conclusões e recomendações

Da literatura consultada sobre o tema constata-se que aspectos como a inovação, o desafio, a criação de negócio, o risco e a criatividade são comuns em definições que autores diferentes utilizam para o termo empreendedorismo. Este facto que nos leva a concluir que estes aspectos são os pilares do fenómeno do empreendedorismo.

O empreendedorismo constitui um elemento importante para o crescimento/desenvolvimento económico de qualquer nação, pelo que apostar no empreendedorismo pode ser a solução para muitos dos problemas enfrentados pelas actuais sociedades.

Se analisarmos atentamente o que esta a acontecer em torno do tema “Empreendedorismo”, nomeadamente instituições de ensino a incorporarem esta disciplina nas suas estruturas curriculares e a promoverem cursos sobre o tema, instituições governamentais a disponibilizarem incentivos, indivíduos empreendedores a criarem novos negócios, a sociedade a encarar o fenómeno como uma fonte de geração de emprego, não restam dúvidas de que Timmons estava certo ao afirmar que o empreendedorismo é uma revolução silenciosa que será para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século XVIII.

Com a graduação de Cabo Verde a País de Desenvolvimento Médio e com a sua entrada na Organização Mundial do Comércio, as ajudas externas tendem a diminuir de forma gradual. Perante tal cenário, Cabo Verde ganhará o desafio do desenvolvimento se conseguir desenvolver uma boa base exportadora, seja de bens ou de serviços.

Para que isso aconteça o empresário cabo-verdiano e o são vicentino, em particular, terá que ser competitivo como o estrangeiro, apostando na criatividade e na inovação (intra-empreendedorimo) e o Governo terá de ser capaz de criar um bom ambiente de negócio.

Neste contexto, é recomendável que os governos, central e local, criem incentivos para estimular e apoiar os actuais e potenciais empreendedores.

Para tal é necessário:

 Rever as fontes de financiamentos do empresariado nacional;

 Criar organizações para orientar as pessoas que tem desejos de investir;  Atribuir prémios monetários aos melhores projectos empreendedores;

 Dinamizar a inserção da sua economia no contexto internacional, privilegiando sectores como o turismo, os transportes e as comunicações, os serviços financeiros, as pescas e a indústria ligeira virada para a exportação;

 Reformar a administração pública, no sentido de reduzir o elevado nível de burocracia existente;

 Criar políticas de apoio às sociedades de capital de risco;

 Promover um sistema educativo que prepara os jovens para serem empregadores.

5 Referências Bibliográficas

Livros

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Monografias

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6 Anexos

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