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3. Projeto de Investigação

3.3 Apresentação e Análise dos Resultados

3.3.2 Análise Psicoacústica

3.3.2.3 Análise e Discussão dos Resultados

• Análise da Primeira Dimensão de Critérios

No início deste capítulo foi inferida a fiabilidade dos observadores ao analisar a concordância entre as avaliações dos mesmos. Como já referido, este fator constituía um dos fatores de enviesamento mais proeminentes desta abordagem. Um outro fator de enviesamento já considerado prendia-se não com o recetor, mas com a fonte, em concreto, com o instrumentista e sua capacidade em adaptar-se à execução do instrumento sem o suporte da almofada. A análise da primeira dimensão de critérios sugere que, dos quatro participantes, o participante B foi o único que evidenciou dificuldades técnicas na execução sem almofada, hipótese esta extrapolada através da comparação entre a avaliação dos critérios da dimensão técnica entre a execução com e sem almofada. O participante B foi também aquele que apresentou as médias mais baixas na avaliação dos critérios da primeira dimensão.

Participante B

Excerto Musical I Excerto Musical II Excerto Musical III 1.ª Versão (c/almofada) 2.ª Versão (s/almofada) 1.ª Versão (c/almofada) 2.ª Versão (s/almofada) 1.ª Versão (s/almofada) 2.ª Versão

(c/almofada) Média Total

Afinação 2,3 -0,6 2 1 0 2 1,12

Estabilidade Sonora -0,6 -0,6 1,3 0,6 -0,3 2 0,4

Tabela 44 – Média das avaliações da 1.ª dimensão relativas ao participante B.

Os resultados do participante A não revelam alguma tendência face à execução com ou sem almofada. Dois dos três excertos musicais executados privilegiam a execução sem almofada, ainda que, o caso isolado apresente uma diferença de valores mais expressiva. Desta forma, podemos inferir que, em sentido lato, a remoção da almofada não condicionou significativamente a qualidade técnica da execução. Contudo, as médias dos critérios da primeira dimensão, ainda que positivas, não indicam um nível elevado de proficiência técnica. No entanto, devemos realçar que o participante em questão é o participante mais jovem e inexperiente do grupo.

Participante A

Excerto Musical I Excerto Musical II Excerto Musical III 1.ª Versão (s/almofada) 2.ª Versão (c/almofada) 1.ª Versão (c/almofada) 2.ª Versão (s/almofada) 1.ª Versão (s/almofada) 2.ª Versão

(c/almofada) Média Total

Afinação 1,6 1,6 2 2 2 1 1,7

Estabilidade Sonora 0,6 1,3 1 1,3 1,3 1,3 1,13

Tabela 45 - Média das avaliações da 1.ª dimensão relativas ao participante A.

Os resultados do participante C revelam um equilíbrio notável, sendo que no primeiro excerto podemos observar um favorecimento da execução sem almofada e, em sentido contrário, no último excerto, uma preferência da execução com almofada. A avaliação do segundo excerto sumaria a avaliação geral do participante neste campo ao registar um equilíbrio entre as duas execuções. As médias dos critérios apresentam resultados substancialmente mais elevados comparativamente aos participantes já perscrutados.

Participante C

Excerto Musical I Excerto Musical II Excerto Musical III 1.ª Versão (s/almofada) 2.ª Versão (c/almofada) 1.ª Versão (c/almofada) 2.ª Versão (s/almofada) 1.ª Versão (s/almofada) 2.ª Versão

(c/almofada) Média Total

Afinação 2,6 1 1,6 2,6 2,6 2,6 2,17

Estabilidade Sonora 2,6 1,3 2,3 1,6 1,3 2,6 1,95

Tabela 46 -Média das avaliações da 1.ª dimensão relativas ao participante C.

De toda a amostra, o participante D apresenta os resultados menos díspares na execução com e sem almofada, apresentando também as médias mais elevadas nos critérios em questão.

Participante D

Excerto Musical I Excerto Musical II Excerto Musical III 1.ª Versão (c/almofada) 2.ª Versão (s/almofada) 1.ª Versão (s/almofada) 2.ª Versão (c/almofada) 1.ª Versão (c/almofada) 2.ª Versão

(s/almofada) Média Total

Afinação 2,6 2,3 2 2,3 2 2,3 2,25

Estabilidade Sonora 2,3 2,3 2 2 2 2,3 2,15

Tabela 47 - Média das avaliações da 1.ª dimensão relativas ao participante D.

Esta breve análise dos resultados relativos à primeira dimensão de critérios sugere que apenas o participante B revelou uma execução tecnicamente inferior na execução do instrumento sem suporte de almofada. Desta forma, será sensato assumir que os resultados deste participante na segunda dimensão serão significativamente influenciados por este condicionamento técnico. É observável que a proficiência técnica, extrapolada através dos resultados das médias dos critérios da primeira dimensão, apresenta uma relação com a

própria experiência académica dos participantes, sendo o participante B exceção à regra. Curiosamente, todos os participantes, independentemente da sua proficiência técnica, apresentam uma média mais elevada no critério de afinação relativamente ao critério de estabilidade sonora.

• Análise da Segunda Dimensão de Critérios

Uma análise comparativa entre a primeira e a segunda dimensão de critérios permite extrapolar que, em alguns casos (Excerto Musical I do participante A, Excerto Musical II e III do participante B, Excerto Musical III do participante C e Excerto Musical III do participante D), quando numa das versões a execução técnica é avaliada como superior regista-se uma avaliação paralela na segunda dimensão, independente da sua condição de execução (com ou sem almofada). No entanto, podemos observar dois casos (Excerto Musical III do participante A e Excerto Musical II do participante B) onde o efeito oposto é observado, ou seja, as versões tecnicamente avaliadas como inferiores apresentam uma avaliação geral na segunda dimensão mais elevada. O primeiro caso apresentado neste parágrafo revela uma lógica tácita, é expectável que uma execução tecnicamente superior apresente qualidades tímbricas igualmente superiores. Contrariamente, o caso oposto, não apresenta uma explicação tão linear, sendo que este caso será discutido posteriormente.

Na análise dos resultados da segunda dimensão foi possível detetar uma relação, patente nos Excertos Musicais I e II do participante A, Excerto Musical II do participante B e Excerto Musical I do participante D, entre os descritores tímbricos. Estes revelaram que as versões avaliadas como mais abertas e brilhantes foram também avaliadas como mais metálicas. Esta relação, ainda que pontual, sendo que foi observada apenas nos excertos supracitados, apresenta-se expectável, dado que seja razoável assumir que alguns sons mais abertos e brilhantes poderão ser avaliados como metálicos.

Apesar dos resultados da primeira dimensão do participante A validarem a avaliação da segunda dimensão, não é registada nenhuma tendência que permita ao investigador identificar uma alteração constante e significativa na utilização da almofada em questão.

Os resultados obtidos do participante B serão excluídos nesta análise pelas razões já explanadas na análise da primeira dimensão.

O caso do participante C apresenta resultados muito curiosos quando comparamos as duas dimensões de critérios. Em todos os excertos musicais, a execução sem almofada

apresenta valores superiores em quase todos os critérios da segunda dimensão, registando- se 3 exceções, um caso onde o valor é inferior e dois casos onde o valor é equivalente. Esta tendência poderia ser desvalorizada ao considerar que a execução sem almofada apresenta na sua generalidade avaliações mais elevadas na execução técnica. No entanto, no Excerto Musical II, é registada uma avaliação técnica da execução sem almofada ligeiramente inferior e, em contrapartida, uma avaliação superior na segunda dimensão. Esta tendência observada sugere que a utilização do modelo de almofada em questão pelo participante C poderá ter uma influência no timbre do instrumento. No entanto, de forma a sustentar esta hipótese, revelar-se-ia necessário a obtenção de mais dados para efeito de comparação.

O participante D, dada à paridade dos resultados da avaliação da primeira dimensão, apresenta resultados que devem ser perscrutados singularmente. Os resultados do primeiro excerto musical permitem concluir que, no registo mais grave do instrumento, a execução sem almofada caracteriza-se como mais aberta e brilhante, mas também metálica. A avaliação do segundo excerto musical apresenta valores bastante próximos. Os resultados do terceiro excerto musical caracterizam a execução da almofada como timbricamente superior, no entanto, podemos também registar que a avaliação da primeira dimensão foi superior. Concluindo, podemos encontrar uma tendência que privilegia a não utilização da almofada na execução dos Excertos Musicais I e II. À semelhança do participante C, estas hipóteses poderiam apenas ser sustentadas com a obtenção de mais dados.

• Discussão dos Resultados

Após a análise dos resultados podemos afirmar que os quatro participantes, apesar de evidenciarem várias hipóteses já explanadas, não apresentam conclusões lineares, sendo que se revelou importante a obtenção de mais dados para efeitos de comparação, nomeadamente a repetição do mesmo teste sob as mesmas condições. No entanto, considerando o período de tempo previsto para a realização desta investigação e o esforço necessário por parte de todos os intervenientes, participantes e observadores, a repetição deste teste seria impraticável. Não obstante das limitações apresentadas, podemos afirmar que a abordagem psicoacústica não aponta numa relação homogénea entre instrumentista, instrumento e almofada, ou seja, numa relação generalizada, convergindo, neste sentido, com as conclusões da análise espectral.

Com base na avaliação da proficiência técnica dos quatro participantes, é possível concluir que, para uma obtenção de dados fidedigna, investigações futuras deverão

considerar uma amostra composta por instrumentistas tecnicamente proficientes, enfatizando as suas competências e experiência em executar o instrumento com e sem almofada como uma variante preponderante na obtenção de resultados. As estratégias estipuladas para contrariar os fatores de enviesamento identificados inicialmente mostraram- se surpreendente efetivas. Tanto a realização do Workshop como a inclusão da primeira dimensão de critérios no teste psicoacústico, permitiu, por um lado, diminuir ou, mesmo em alguns casos, suprimir as dificuldades na execução sem suporte da almofada, e, por outro lado, identificar as mesmas dificuldades.

Em suma, podemos observar que os resultados dos participantes C e D sugerem que a execução sem almofada resulta, nestes casos concretos, numa execução com qualidades tímbricas superiores, sendo os resultados do participante C substancialmente mais expressivos neste sentido. Os resultados apresentados pelo participante A não revelaram qualquer tendência face à execução com ou sem almofada, enquanto que os resultados do participante B foram invalidados depois da identificação de um fator de enviesamento nas execuções.

Uma das dificuldades desta análise debateu-se com a influência da avaliação da primeira dimensão na segunda. Como já referido, foi observado em vários casos que uma avaliação técnica superior numa das versões é acompanhada por uma avaliação proporcional nas características quantitativas e qualitativas do som. No entanto, a existência de duas exceções que contrariam essa regra, ou seja, a versão avaliada como inferior tecnicamente é avaliada como superior na segunda dimensão, realçam a hipótese da utilização da almofada ser a única variável responsável por estes resultados. Neste sentido, estes dois casos sugerem também a almofada como responsável pelas alterações tímbricas verificadas.

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