• Nenhum resultado encontrado

Análise e interpretação dos resultados

No documento Etnografia da educação (páginas 134-139)

Analisamos e, em simultâneo, interpretamos os dados obtidos através da observação participante, notas de campo (produções dos alunos) e análise documental. Os artefactos são todos os trabalhos dos alunos realizados na sala de aula (Graue e Walsh, 2003, p.152). Estávamos conscientes como era importante para o estudo situá-los nos contextos e tempos em que iam sendo

produzidos. Estes trabalhos dos alunos foram recolhidos mediante a observação participante, na tentativa de caracterizar a cultura emergente dessa actividade (Fino, 2000).

Uma vez que utilizamos muitos trabalhos dos alunos como notas de campo, procuramos organizá-los e agrupá-los por temas para facilitar a sua análise. Algumas das categorias de codificação surgiram à medida que fomos recolhendo os dados. Esta etapa de categorização permitiu simplificar e clarificar o material recolhido, levando-nos a fazer a interpretação dos dados recolhidos. Neste processo de análise procurámos organizá-los e sintetizá-los, procurando interpretar e tornando os materiais recolhidos acessíveis para os leitores. Após a recolha destes artefactos, procurámos distribuir as informações (notas de campo) recolhidas por temas para facilitar a análise dos mesmos. Deste modo, a categorização das notas de campo permitiu a simplificação e clarificação do material recolhido, levando-nos a fazer a interpretação dos dados recolhidos de maneira que estes tenham sentido. Deste modo, a análise dos artefactos dos alunos processou-se da seguinte forma:

1º - Leitura integral dos trabalhos.

2º - Identificação de temas, fazendo uma análise temática.

3º - Utilização de grelhas com os temas para simplificar a análise dos artefactos. 4º– Interpretação dos dados, dando sentido às mensagens dos alunos.

A análise dos artefactos produzidos pelos alunos foi imprescindível porque o foco de pesquisa centrou-se, em parte, nos trabalhos produzidos pelos alunos. Os textos e os desenhos dos alunos foram o grande trabalho de campo.

Os documentos escolares permitiram-nos conhecer o contexto da escola em estudo e descrever a realidade da mesma. Obtivemos dados sobre a cultura organizacional e o clima de escola.

Na opinião dos vários professores, esta escola tem qualidade a vários níveis. São pontos fortes a sua equipa de docentes (grupo com bom relacionamento interpessoal, disponível e cooperante) e o ambiente de trabalho é agradável. Há efectiva preocupação geral com os alunos e o pleno sucesso do processo educativo. Assim, podemos falar de um verdadeiro espírito de comunidade escolar. Os valores são trabalhados em consonância com as diferentes áreas curriculares e de enriquecimento do currículo, sempre de acordo com os princípios orientadores ditados pelo Projecto Educativo de Escola.

A cultura desta escola, a forma de pensar e de agir da sua comunidade, traduz-se na cooperação, na disponibilidade para ajudar, na partilha de saberes e de materiais pedagógicos e na criação de um ambiente positivo, contribuindo para o bem-estar que se sente entre todos os elementos da comunidade educativa, desde os professores, aos alunos, aos pais e ao meio envolvente. Esta cultura de bem-estar manifesta-se num clima positivo e de amizade entre todos.

As actividades curriculares e de enriquecimento do currículo foram direccionadas para uma aprendizagem baseada em valores. Em muitas actividades reflectiu-se com grande entusiasmo e interesse, por parte dos alunos, em valores que por sua vez, eram associados atitudes e comportamentos.

Analisando os cadernos diários dos alunos e as observações neles contidas pode-se concluir que, de um modo geral, os alunos estão bem inseridos numa cultura de disciplina. Pode afirmar-se que o relacionamento existente entre os alunos é bom e que eles sentem-se respeitados e são respeitadores para com professores e auxiliares de educação. Os professores para os alunos são amigos, dão carinho, partilham e dão testemunho de valores. Alguns alunos falam do bom acolhimento que tiveram nesta escola e sentem a escola como se fosse uma grande família.

No que se refere aos pais e encarregados de educação dos alunos da escola, podemos referir que, de uma forma geral, se mostram interessados com a situação escolar dos seus educandos e, quando solicitados, colaboram ou deslocam-se à escola para conversar com os respectivos docentes. Contudo, há sempre um ou outro que não demonstra muita disponibilidade para acompanhar o seu educando no seu processo de aprendizagem. Uma das características mais marcantes desta escola é a abertura ao envolvimento e participação dos pais. Assim, ao longo do ano lectivo, existiram muitas actividades com os pais. Os professores consideram que nesta escola tem havido a efectiva preocupação de aproximar os pais da escola e a escola dos pais.

A investigação permitiu confirmar que a escola tem uma boa liderança e, por sua vez, uma excelente equipa de trabalho, geradora de um bom ambiente. Podemos observar o trabalho solidário nos momentos de grande actividade ou nas festividades e na partilha de conhecimentos e materiais. Na opinião de vários docentes, a escola possui uma boa equipa de professores e o ambiente de trabalho é positivo. Vejamos um depoimento de uma professora:

“Nesta instituição são criadas condições efectivas para a realização de reuniões de trabalho visando uma melhor articulação de iniciativas a

realizar na comunidade escolar. Os professores desta escola mostraram- se sempre muito disponíveis e cooperantes no trabalho a realizar, sendo visível esse trabalho desenvolvido e produzido através dos concursos, festas da escola e exposição no final do ano lectivo. A equipa de professores desta escola é coesa, aberta e sempre disposta a ajudar, sejam os alunos, os colegas, encarregados de educação ou o meio envolvente”. (Avaliação de desempenho docente, P 2).

O estudo etnográfico possibilitou a presença da investigadora no contexto escolar, o contacto directo com os alunos, os pais, os colaboradores da escola e a participação nas actividades. Parece-nos que o melhor método de investigação para conhecer a cultura e o clima da organização escolar é a etnografia.

Referências Bibliográficas

AFONSO, N. (2005). Investigação naturalista em educação. Um guia prático e crítico. Porto: Edições Asa

ALVES, J. M. (2003). Organização, gestão e projecto educativo das escolas. Porto: Editores Asa.

BARROSO, J. (2005). Políticas educativas e organização escolar. Lisboa: Universidade Aberta

BILHIM, J. A. F. (2008). Teoria organizacional. Estruturas e pessoas. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa. Instituto Superior de Ciências Sociais e políticas. BOGDAN R. E BIKLEN S. (1994). Investigação qualitativa em Educação. Uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora

BRAZÃO, J. P. G. (2008). Weblogs, Aprendizagem e Cultura da Escola: Um estudo etnográfico numa sala do 1º ciclo do Ensino Básico. Tese de Doutoramento, Universidade da Madeira.

CARMO, H. E FERREIRA M.M. (1998). Metodologia da investigação. Guia para auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.

CHIAVENATO, I. (2003). Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier

COSTA, J.A. (1996). Imagens organizacionais da escola. Porto: Edições Asa Colecção Perspectivas Actuais Educação

ESTEVES L. M. (2008). Visão panorâmica da investigação – acção. Porto: Porto Editora.

ESTRELA, A. (1994). Teoria e Prática de observação de classes. Uma estratégia de formação de professores (4ª edição). Porto: Porto Editora.

FINO C. (2000). Novas tecnologias, cognição e cultura: um estudo no primeiro ciclo do Ensino Básico. Tese de Doutoramento. Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

FIRMINO, M. B. (2008). Gestão das organizações. Conceitos e tendências actuais. Lisboa: Escolar Editora

GRAUE, M. E. E WALSH D. J. (2003). Investigação etnográfica com crianças: teorias, métodos e ética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian

GUERRA, M. A. S. (2002). Entre bastidores. O lado oculto da organização escolar. Porto: Edições Asa

LAMA, L. E MUYZENBERG L.V.D. (2008). O caminho para a liderança. Gestão, budismo e felicidade num mundo interligado. Alfragide: Dom Quixote.

LAPASSADE, G. (1993). La Methode ethnographique. Acedido em 25 de Março de 2010, de http://www.ai.univ-paris8.fr/corpus/lapassade/ethngrin.htm

NELSON, B. E ECONOMY, P. (2005). Gestão para Totós TM . Porto: Porto Editora. NEVES, J.G. (2000). Clima organizacional, cultura organizacional e gestão de recursos humanos. Lisboa: Editora RH

RAFAEL F. (2008). Clima Organizacional. Acedido em: 14 de Junho de 2008, em: http://fabiorafael.wordpress.com/category/adm/

SANTOS, A. A. et al. (2009). Escolas de futuro - 130 práticas de escolas portuguesas. Porto: Porto Editora

SOUSA, J. M. (1997). Investigação em educação: novos desafios. In A. Estrela & J. Ferreira (Orgs). Métodos e técnicas de investigação científica em educação. (pp.661-672). Lisboa: AFIRSE Portuguesa. FPCE – Universidade de Lisboa. SOUSA, J. M. (2000). O professor como pessoa – A dimensão pessoal na formação de professores. Porto: Asa.

TUCKMAN, B. W. (2000). Manual de Investigação em Educação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

VICENTE, N. A. L. (2004). Guia do gestor escolar – da escola de qualidade mínima garantida à escola com garantia de qualidade. Porto: Edições Asa.

A Internet como auxiliar no estudo, relato de uma

No documento Etnografia da educação (páginas 134-139)