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Capítulo III Método

3. Análise do Ensino

A análise em contexto de ensino no 1º ciclo teve dois momentos distintos: a fase de implementação de um programa de intervenção focado nas habilidades motoras fundamentais e a análise propriamente dita desse mesmo programa, através de um sistema de observação desenvolvido para o efeito.

3.1. Programa de Intervenção focado no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais (PI HMF)

A construção do programa de Intervenção focado no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais (PI HMF) teve como principal objectivo promover a melhoria das competências motoras básicas, potenciando também os níveis de intensidade de jogo de actividade física em aula.

A aplicação do programa teve algumas particularidades que passamos a descrever:

 As duas turmas sujeitas ao PI HMF são reais tendo sido a do 3º ano composta por 25 alunos e a do 4º ano por 24;

 Todas as crianças realizaram o TGMD-2 antes e depois de terem participado no programa (pré-teste e o pós-teste);

 O PI HMF foi leccionado pela investigadora do projecto;  Foram filmadas integralmente 50% da totalidade das aulas;

 Tentando minimizar o impacto do factor maturacional, a duração do programa foi fixada em seis a oito semanas (uma média de três aulas semanais).

O PI HMF foi estruturado de acordo com a seguinte lógica:

 Aula composta por três fases: actividade geral (vulgo aquecimento, centrado nas habilidades de locomoção), fase fundamental (mais especifica e maioritariamente com habilidades de manipulação) e fase de aplicação (utilização das habilidades em contexto de jogo);

 Execução da totalidade das habilidades critério em todas as sessões com complexidade crescente ao longo do programa;

 Repetição das sessões de modo a aumentar a retenção e potenciar o tempo útil de prática;

 Embora não considerado no planeamento, nos últimos cinco minutos de cada aula foi realizada uma fase de retorno à calma.

A recolha audiovisual das aulas foi efectuada através de duas câmaras sustentadas por um tripé e dispostas em ângulo cruzados, de modo a captarem a totalidade do recinto. Em todas as aulas esteve presente um colaborador com a função de garantir o normal funcionamento das câmaras. O início da filmagem coincidia com a campainha da escola. Os espaços não captados pelas câmaras foram delimitados, evitando a sua utilização pelas crianças no decorrer da sessão. Finalmente, e para melhor identificação visual dos alunos, foram distribuídos individualmente coletes numerados, cujos números estavam associados sempre aos mesmos alunos. Os coletes encontravam-se sempre disponíveis no início de cada aula.

Os objectivos e organização geral do PI HMF bem como o planeamento das sessões, encontram-se detalhados e disponíveis no estudo referente a esta temática (Capítulo V, Tabela 9, 72-73; Tabela 10, 74-77).

3.2. Sistema de Observação da Actividade Motora Infantil (SOAMI)

O Sistema de Observação da Actividade Motora Infantil (SOAMI) foi desenvolvido com o objectivo de observar a actividade motora em crianças do 1º ciclo do ensino básico.

O SOAMI é constituído por sete dimensões (actividade motora especifica de locomoção, actividade motora específica de manipulação, actividade motora não específica, atenção à informação, tempo, interacções, e outros) agrupando um total de 29 categorias, que discriminam as diferentes actividades motoras realizadas pelos alunos no decorrer de uma aula, centrando-se exclusivamente no comportamento do aluno durante a aula (Tabela 2).

Tabela 2: Designação das Dimensões e Categorias do SOAMI.

DIMENSÕES (Sigla) CATEGORIAS (Sigla)

Actividade Motora Especifica Locomoção (LOC)

Corrida (C) Galopar (G) Saltar a 1 pé (1P) Salto em comprimento (SC) Salto na passada (SP) Corrida

lateral (CL) Actividade Motora Especifica Manipulação

(MAN)

Driblar (D) Receber (REC) Pontapear (PONT) Lançar (L) Rolar a bola (ROL) Rebater (REB) Actividade Motora Não Especifica (AMNE) Com bola relacionada com a tarefa (Cbr) Com bola

não relacionada com a tarefa (Cbnr) Sem bola relacionada com a tarefa (Sbr) Sem bola não

relacionada com a tarefa (Sbnr) Atenção à Informação (AI) Tarefa (T) Organização (O) Feedback (FB)

Tempo (T) Tempo em Espera (Te) Tempo em Organização (To) Tempo em descanso e/ou observação (Tod) Interacções (INT) Verbais (IV) Não-verbais (INV) Agressividade (real

e a brincar) (Ag) Brincadeira (B) Afectividade (Afe)

Outro (OU) Outros (Ou)

O SOAMI foi elaborado para recolher informação utilizando o método de registos por ocorrências e/ou por duração. O registo por ocorrências refere-se ao número de vezes que a criança realizou umas das categorias em análise, dando-nos informação sobre a frequência de realização das habilidades critério e a taxa/minuto das mesmas. O registo por duração, dá-nos informação sobre a duração das habilidades critério realizadas pelas crianças ao longo da sessão.

Por forma a economizarmos tempo de observação, recorremos à técnica da amostragem temporal, a qual nos permitiu observar 50% de cada sessão, de acordo com as regras/convenções de utilização desta (Neto, 1987; Carreiro da Costa, 1988). Deste modo, em cada sessão filmada e para cada criança, observámos oito períodos de três minutos num total de 24 minutos, o que representa 53,3% da totalidade da sessão (Tabela 3).

Tabela 3: Intervalos previstos para a observação do SOAMI.

0-3 7-9 13-15 19-21 25-27 31-33 37-39 43-45

No total propusemo-nos observar 49 crianças incluídas no programa de intervenção, no conjunto das duas turmas. Das 21 aulas leccionadas a cada turma (ou nível de ensino), fizemos a observação de 11 sessões por cada turma (52,4% das sessões por cada turma).

As nossas sessões tiveram a duração de 60 minutos, sendo que em todas elas apenas foi observada a parte fundamental da aula, iniciando-se a observação aos 10 minutos de aula e findada aos 55 minutos (Tabela 4).

Tabela 4: Intervalos de tempo observados para o SOAMI.

10-13 16-19 22-25 28-31 34-37 40-43 46-49 52-55

A regra utilizada foi sempre a observação dos três minutos intercalados, contudo surgiram algumas excepções:

 Sempre que uma criança deixava de estar visível no ângulo da filmagem, assinalava-se a sua ausência, e o tempo em falta, era reposto no final desses três minutos. Por exemplo, se a criança às 02:03 desaparecia 23 segundos, esses segundos eram observados no final desse bloco. Isto é, ao invés de terminar aos 03:00, terminava aos 03:23.

 Embora não tenha sido uma situação frequente, ocasionalmente surgiram imprevistos que obrigaram o aluno a ausentar-se já perto do final da aula. Para não perdemos essa criança, alteramos a divisão dos minutos, fazendo períodos de observação maiores (como optámos pela técnica da amostragem temporal, nestes casos foi sempre garantida a mesma percentagem de observação dos colegas).

O SOAMI possibilita extrair os resultados em percentagens e em valores brutos, sendo possível obter o registo individual de cada aluno ou o registo do grupo. Permite, ainda, calcular valores relativos à fiabilidade intra e inter-observador.

As fichas de registo por ocorrências e por duração, a descrição detalhada de cada categoria e convenções de registo bem como as questões relacionadas com a validação do SOAMI encontram-se disponíveis no estudo referente a esta temática (Capitulo VI, Tabela 11, 78; Tabela 12, 78; Tabela 14, 79-85).