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Capítulo IV Avaliação das habilidades motoras fundamentais Construção e

2.2. Procedimentos

Construção do Instrumento de Avaliação dos Erros Mais Comuns – IAEC

O Instrumento de Avaliação dos Erros mais Comuns, doravante designado por IAEC, resulta da junção de dois conceitos previamente referenciados. Por um lado, a utilização das 12 habilidades motoras fundamentais avaliadas pelo TGMD-2. Este instrumento

americano de Ulrich (2000) apresenta as habilidades motoras base que julgamos reveladoras da literacia motora na infância. Excepção feita ao rebater e ao rolar a bola com um bastão que, não sendo comuns na nossa cultura motora, foram também considerados na estrutura do IAEC para efeitos de validação. Por outro lado, a construção dos itens de avaliação pela definição dos erros mais comuns, através da identificação de erros típicos na execução da habilidade para que se possa descortinar os elementos críticos a intervencionar. No final, o IAEC resultará numa proposta com base na junção e análise crítica dos critérios de êxito do TGMD-2 com os erros mais comuns (Gallahue & Ozmun, 2001). Este processo levará a alteração de designações e adição de outros que julguemos pertinentes.

Para cada habilidade motora foram definidos oito erros mais comuns de execução, por se considerar o número razoável para prever as principais fases do movimentos e posicionamento dos membros, cabeça e tronco (Neto, 1987)

Tabela 5).

Tabela 5: Categorias, Habilidades e Dimensões Observadas na construção do IAEC.

CATEGORIA HABILIDADES DIMENSÕES OBSERVADAS

Locomoção

Corrida, galope, pé-coxinho, salto na passada, salto horizontal, corrida lateral

Posicionamento e acção dos membros inferiores, membros superiores e tronco, fase aérea e ritmo

Manipulação Rebater, driblar, agarrar, pontapear, atirar, rolar

Posicionamento e acção dos membros inferiores, superiores e tronco, e relação com o objecto, na fase de preparação e fase de execução

A versão final do IAEC (Tabela 6) resultou da validade consensual de um painel de especialistas, que será descrito posteriormente.

A recolha das execuções das habilidades motoras para aplicação do IAEC segue o protocolo do TGMD-2. Cada criança é avaliada das 12 habilidades motoras, dispondo de duas tentativas de execução para cada habilidade. É-lhes explicada a tarefa e repetida a informação e demonstração sempre que solicitado. Todas as tentativas são registadas em formato de vídeo. A diferença entre os dois instrumentos reside no momento da avaliação do movimento. O foco no IAEC é identificar com um sim (=1) quando a criança executa o erro e com não (=0) quando não executa. No final é realizada a média das duas tentativas, e a média final resulta do somatório da pontuação média nos oito erros de execução. Os seus valores são interpretados no sentido inverso ao TGMD-2, ou seja,

quanto maior o valor, maior o número de erros, logo menor a prestação motora da criança.

Validação

A qualidade da validade e fidelidade de um instrumento de medida são factores fundamentais para garantir a qualidade do mesmo, sendo dois campos específicos de avaliação que devem ser sempre incluídos na metodologia do estudo (Haynes, 2001).

Validade de conteúdo

A validade de conteúdo tem como objetivo verificar a relevância e adequação dos itens, individualmente ou em conjunto, propostos para mensurar o construto em questão. No conjunto, esses deverão constituir uma amostra representativa da variável medida (Freeman, 1981; Cohen, Swerdlik & Sturman, 2014). Para a validação de conteúdo uma das formas de a concretizar é recorrendo a um painel de especialistas (validação por peritagem) que analisa e decide se o instrumento é ou não substancial para a medida do constructo. Ou seja, é pedido aos especialistas que façam uma análise crítica aos diversos itens do instrumento e teçam uma opinião sobre a pertinência dos mesmos para medir o que se pretende medir (Leedy & Ormrod, 2009).

No nosso estudo, um conjunto de três especialistas em desenvolvimento motor infantil foram convidados a participar no painel de peritos visando a validação do conteúdo do instrumento. Todos os especialistas eram docentes no ensino superior, formados em comportamento motor infantil, e com elevado nível de experiência na avaliação das habilidades motoras fundamentais. Numa primeira fase, cada especialista recebeu a proposta inicial do instrumento, juntamente com o enquadramento da sua pertinência e as instruções de preenchimento. Os peritos foram convidados a avaliar qualitativamente cada item do instrumento, através de uma escala nominal de dois pontos, assinalando com sim (=1) ou não (0=) a sua pertinência face ao que se pretendia observar. Caso a sua resposta fosse negativa, era-lhes pedido, num campo de resposta aberta, que sugerissem alterações ao conteúdo.

Seguidamente, o investigador procedeu a uma análise das respostas e propostas dos peritos, reformulando o instrumento e reenviando a nova versão. O processo de validação do conteúdo considerou-se concretizado quando todos os especialistas concordaram consensualmente com a proposta final apresentada (Tabela 6).

Validade referida ao critério

Relativamente à validade referida ao critério, esta pode assumir duas formas: a validade concorrente e a validade preditiva (Schweigert, 1994). Pretende-se estudar a associação entre o constructo em avaliação e um critério externo que o valide, uma vez demonstrado e reconhecido o seu valor na temática em estudo (Cohen, 2009). No nosso caso em particular, espera-se que haja uma correlação negativa entre o nosso instrumento e o TGMD-2,. Deste modo, os dois instrumentos foram aplicados na mesma população e calculou-se o coeficiente de correlação de Pearson para determinar o grau de relação entre eles (validade concorrente).

Fiabilidade

Com a fiabilidade de medida do instrumento pretende-se que este, medindo os mesmos sujeitos em ocasiões diferentes, produza resultados semelhantes – este processo designa-se por teste-reteste (Leedy & Ormrod, 2009). Ou seja, para o instrumento ser considerado fiável, a correlação entre os resultados das duas aplicações deve ter um resultado superior a 0.70 (Litwin, 1995). O período de tempo entre o teste e o reteste foi de quinze dias, por se considerar o suficiente para não haver memorização da primeira classificação.

Procedimentos Estatísticos

A validade concorrente, determinada pela correlação entre o IAEC e o TGMD-2, foi executada com recurso à correlação de Pearson. O nível de significância foi fixado em p<.005. Para o cálculo da fiabilidade recorremos ao Kappa de Cohen. O tratamento estatístico foi realizado utilizando o IBM SPSS Statistics V22.