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Após verificar a distribuição não normal dos dados através do teste de Kolmogorov-

Smirnov, foi realizado o teste de Mann-Whitney para a comparação entre os grupos

categorizados pela presença do RCM. As comparações entre os macronutrientes e os micronutrientes provenientes dos alimentos AMP e AUP independente da presença do RCM foram realizadas pelo teste de Wilcoxon. As comparações entre os tercis de consumo de AMP e de AUP foram realizadas mediante teste de Kruskal-Wallis. O intervalo de confiança de 95% foi utilizado para descrever os valores do coeficiente de regressão logística multivariada. Os modelos foram ajustados para as covariáveis sexo, atividade física e bebida alcoólica. O teste de qualidade de ajuste de Hosmer-Lemeshow foi usado para avaliar o ajuste do modelo. Foi considerado o nível de significância estatística de 5% de probabilidade (p<0,05). As análises estatísticas foram realizadas no Stata 13.0 software (StataCorp LP, College Station,

United States).

6 RESULTADOS

Participaram do estudo 89 (74,2%) mulheres e 31 (25,8%) homens jovens. O componente do RCM com maior manifestação foi a concentração reduzida de HDL-c (21,2%), seguido da obesidade abdominal (15,0%), hipertrigliceridemia (9,2%), hipertensão (7,6%) e hiperglicemia (5,9%). Houve diferenças significativas para os componentes do RCM, o que indica que, de fato, os grupos foram categorizados conforme o proposto (Tabela 1).

Tabela 1. Caracterização antropométrica e de composição corporal, clínica, bioquímica e de estilo de vida de adultos jovens brasileiros categorizados pelo risco cardiometabólico.

Variáveis

Ausência do RCM

Presença do

RCM

Med IIQ Med IIQ p

Antropométricas e de Composição Corporal

Idade (anos) 21,00 3,00 21,00 3,00 0,81

Peso (kg) 54,80 9,95 60,60 16,70 < 0,01*

Índice de Massa Corporal (kg/m²) 20,40 3,05 22,16 5,79 < 0,01* Dobra Cutânea Tricipital (mm) 20,00 8,70 21,30 12,85 0,20

Massa Gorda (kg) 13,45 4,14 13,93 8,80 0,10

Gordura Corporal (%) 24,40 5,80 24,70 7,52 0,95

Bioquímicas

Colesterol (mg/dl) 167,00 52,00 158,50 52,50 0,72

Colesterol Não-HDL (mg/dl) 105,00 32,00 114,50 47,00 0,13 Lipoproteína de Baixa Densidade-c (mg/dl) 91,50 28,50 97,00 38,5 0,35 Lipoproteína de Muito Baixa Densidade (mg/dl) 13,00 5,50 16,00 11,00 < 0,01*

Insulina (mg/dl) 6,20 2,70 6,80 4,50 0,54

HOMA-Ir 1,21 0,79 1,76 1,02 0,32

Estilo de Vida

Atividade Física (min/dia) 235,00 295,00 255,00 320,00 0,91

Bebida alcoólica (ml/dia) 1,24 6,11 0,74 9,99 0,99

Tabagismo (cigarros/dia) 0,00 0,00 0,00 0,00 1,00

Componentes do Risco Cardiometabólico

Circunferência da Cintura (cm) 70,65 7,40 74,35 12,05 < 0,01* Glicemia de Jejum (mg/dl) 82,00 9,50 88,00 13,00 < 0,01*

Triglicérides (mg/dl) 64,00 33,50 79,00 55,50 0,14

Lipoproteína de Alta Densidade-c (mg/dl) 59,00 10,50 47,50 13,50 < 0,01* Pressão Arterial Sistólica (mm/Hg) 110,00 10,00 110,00 10,00 0,26 Pressão Arterial Diastólica (mm/Hg) 70,00 10,00 80,00 10,00 < 0,01*

Med, mediana; IIQ, intervalo interquartil.

* nível estatístico de 5%, teste de Mann Whitney

Houve elevada contribuição calórica de AUP na dieta da referida população, apesar de não ter sido encontrado diferença estatística intergrupal para o grupo RCM (70,64%) e o grupo sem RCM (67,39%) como é apresentado na tabela 2.

Não foram observadas diferenças significativas para o consumo diário em gramas de macronutrientes e para os grupos de AMP e AUP categorizados pela presença do RCM. Entretanto, houve o menor consumo no percentual do VET para carboidratos totais e maior consumo para lipídeos totais e provenientes de AUP para o grupo com RCM. Isso explica que os AUP contribuíram com a desproporção na ingestão de gordura intergrupal. Não foi

possível identificar a influência do tipo de processamento na determinação da diferença do percentual de carboidratos totais entre os grupos (Tabela 2).

Tabela 2. Ingestão diária do grupo e dos macronutrientes segundo o grau de processamento dos alimentos consumidos por adultos jovens brasileiros categorizados pelo risco cardiometabólico.

Macronutrientes e grupos alimentares

Ausência do RCM

Presença do

RCM

Med IIQ Med IIQ p

Alimentos totais Carboidrato no VET (%) 51,52 6,94 48,77 10,99 0,04* Proteína no VET (%) 16,02 4,82 17,34 3,80 0,36 Lipídeo no VET (%) 32,91 7,33 34,89 11,21 0,04* Carboidrato (g) 326,57 162,65 310,74 187,47 0,80 Proteína (g) 99,88 64,52 108,94 49,40 0,30 Lipídeo (g) 92,94 58,31 98,48 46,45 0,13 AMP VET (%) 32,61 13,61 29,36 15,47 0,20 Carboidrato no VET (%) 38,37 19,76 36,01 13,75 0,13 Proteína no VET (%) 6,95 3,95 5,89 5,16 0,16 Lipídeo no VET (%) 7,92 4,12 6,62 4,82 0,23 Gramas 776,11 411,33 711,04 432,13 0,43 Carboidrato (g) 112,13 63,00 96,10 55,19 0,38 Proteína (g) 43,82 28,71 38,46 34,71 0,63 Lipídeo (g) 19,13 15,11 20,04 18,78 0,84 AUP VET (%) 67,39 13,61 70,64 15,47 0,20 Carboidrato no VET (%) 33,99 11,16 33,04 12,54 0,36 Proteína no VET (%) 8,94 5,18 9,31 5,83 0,45 Lipídeo no VET (%) 23,94 5,18 26,16 10,24 0,03* Gramas 881,74 434,74 946,92 601,24 0,38 Carboidrato (g) 103,60 93,77 109,16 89,04 0,99 Proteína (g) 21,94 17,75 25,03 22,30 0,08 Lipídeo (g) 28,72 24,83 33,82 27,48 0,06

Med, mediana; IIQ, intervalo interquartil; AMP, alimentos in natura e minimamente processados; AUP, alimentos ultraprocessados.

Percentual proveniente do Valor Energético Total da Dieta (VET). * nível estatístico de 5%, teste de Mann Whitney

Apesar de não observar diferenças significativas para o consumo em gramas dos macros e micronutrientes provenientes AUP e AMP (p>0,05) categorizados pela presença do RCM, foram observadas diferenças significativas (p<0,01) para os gramas de carboidrato, proteínas, lipídeos, açúcar, colesterol, gorduras saturadas, poli, mono e trans, cálcio, ferro e sódio na comparação entre AUP e AMP, independente da presença do RCM (tabela 3).

Tabela 3. Perfil nutricional de alimentos in natura e minimamente processados e de alimentos ultraprocessados consumidos por jovens adultos não categorizados pelo risco cardiometabólico.

Nutrientes AMP AUP

Med IIQ Med IIQ p

Carboidrato (g) 103,37 58,87 203,05 130,72 <0,01* Proteína (g) 41,87 31,86 56,26 44,01 <0,01* Lipídeo (g) 19,83 16,67 72,95 52,08 <0,01* Fibras (g) 10,20 6,19 8,36 6,26 0,11 Colesterol (mg) 92,32 109,96 229,03 188,07 <0,01* Gordura saturada (g) 7,24 7,42 21,86 16,35 <0,01* Gordura monoinsaturada (g) 5,50 5,31 23,6 15,06 <0,01* Gordura poliinsaturada (g) 3,82 3,02 9,95 7,65 <0,01* Gordura trans (g) 0,47 0,50 2,91 3,07 <0,01* Açúcar (g) 26,40 21,86 94,84 69,77 <0,01* Cálcio (mg) 384,98 389,49 580,18 510,06 <0,01* Ferro (mg) 4,77 3,99 7,31 5,29 <0,01* Sódio (mg) 440,56 312,83 1.689,29 1.159,86 <0,01*

Med, mediana; IIQ, intervalo interquartil; AMP, alimentos in natura e minimamente processados; AUP, alimentos ultraprocessados.

* nível estatístico de 5%, teste de Wilcoxon

O aumento do consumo de gramas de AMP, independente da presença ou ausência do RCM, refletiu o maior consumo de frutas e sucos naturais, ovos e peixes. Da mesma forma, o maior consumo de gramas de AUP refletiu a maior ingestão de massas simples, pães, carnes processadas, queijos, leguminosas conservadas em sal, sucos adoçados e artificiais, refrigerantes, óleos e gorduras, salgados assados, salgadinhos, sanduíches e lanches, doces e sobremesas e preparações típicas (Tabela 4).

Tabela 4. Consumo alimentar diário segundo o grau de processamento dos alimentos da dieta de adultos jovens brasileiros (n=120).

AMP (g) AUP (g)

Tercil 1 Tercil 2 Tercil 3 Tercil 1 Tercil 2 Tercil 3

< 618,70 618,70 – 836,67 > 836,68 < 768,82 768,82 – 1068,62 > 1068,63

Med IIQ Med IIQ Med IIQ p Med IIQ Med IIQ Med IIQ p

Massas, raízes e cereais

Raízes e tubérculos (g) 42,55ª 42,32 70,11b 61,11 75,57b 55,86 <0,01 50,31a 44,94 56,54ª,b 68,22 76,53b 52,47 0,03‡ Farinhas (g) 40,10 73,56 64,44 86,26 90,01 129,51 0,05 43,84 83,62 64,44 122,27 69,27 87,62 0,18 Massas simples (g) 16,42 27,09 24,63 36,96 24,63 41,62 0,35 16,42a 26,14 23,81ª,b 28,74 32,84b 49,27 <0,01† Pães (g) 38,13 46,58 58,57 73,84 55,99 76,79 0,16 34,80a 38,63 52,42ª,b 70,23 85,68b 75,44 <0,01† Arroz (g) 53,56a 50,00 100,00a,b 50,00 100,00b 121,46 <0,01† 57,12a 50,00 100,00a,b 71,40 100,00b 137,64 0,02‡ Carnes e Ovos (g) Carnes e aves (g) 85,09a 50,28 106,71a 70,19 142,89b 117,34 <0,01† 94,15a 59,33 114,24ª,b 61,40 126,81b 127,51 <0,01† Peixe (g) 8,66a 14,23 10,83a 14,23 18,56b 21,98 <0,01 11,14 15,78 12,99 14,23 17,32 29,39 0,64 Ovos (g) 14,28a 23,56 14,28a 22,73 21,42b 35,72 <0,01† 14,28 23,56 14,28 20,22 21,42 24,99 0,08 Vísceras (g) 2,00 6,91 2,00 7,83 4,28 8,57 0,62 2,00 5,13 2,00 4,86 5,99 8,57 0,13 Carnes processadas (g) 11,42 9,99 5,52 8,76 11,42 13,71 0,28 4,67a 9,71 5,71a 8,99 11,42b 11,43 <0,01Laticíneos Leites (mL) 35,38a 89,86 111,97b 167,99 252,57b 429,36 <0,01† 50,23a 110,10 114,25b 197,65 128,84b 429,75 <0,01† Leite vegetal (mL) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,37 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,37 Queijos (g) 17,71 33,80 19,99 37,37 18,99 60,24 0,89 10,60a 19,00 20,22ª,b 41,77 25,31b 59,32 <0,01† Bebidas lácteas (mL) 67,97a 80,59 87,82ª,b 124,43 148,16b 154,07 <0,01 53,39a 72,57 87,43b 101,32 171,33c 167,88 <0,01† Leguminosas Feijão (g) 39,98a 35,00 99,96b 91,70 84,98b 95,02 <0,01 49,98a 35,00 74,99b 100,02 70,00a,b 96,70 0,03 Leguminosas conservadas em sal (g) 0,95 2,31 1,53 4,26 2,33 7,73 0,15 1,17 a 2,13 1,17a 2,04 3,00b 8,94 <0,01Legumes e Verduras Hortaliças (g) 70,15a 81,31 97,98ª,b 78,17 132,24b 145,29 <0,01† 75,20a 85,39 97,98ª,b 90,89 122,71b 133,43 0,01‡ Frutas

Frutas e suco natural (g/mL) 245,09a 262,29 332,65ª,b 365,63 431,34b 148,75 <0,01 278,61 354,00 344,22 360,45 373,49 280,39 0,53 Sucos adoçados (mL) 169,59 205,42 228,46 218,48 207,33 310,04 0,84 94,04a 106,04 194,75b 192,02 359,64c 278,82 <0,01†

Óleos e gorduras Óleos e gorduras (g/mL) 9,87 15,85 11,73 16,38 12,11 17,03 0,22 8,94a 15,03 10,12ª,b 16,17 18,99b 14,84 0,03‡ Salgados fritos (g) 3,33a 5,04 6,66b 10,47 6,66ª,b 21,98 0,03‡ 3,33a 5,04 3,33a 5,18 9,99b 21,90 <0,01† Salgados assados (g) 3,33 6,68 6,66 6,66 4,17 14,39 0,47 3,33a 5,45 3,33a 3,33 8,33b 20,94 <0,01Açúcares e Doces Biscoitos e bolos (g) 27,52a 36,66 45,95b 43,02 46,98ª,b 40,92 0,03‡ 20,78a 36,98 34,57a 32,99 56,78b 54,63 <0,01† Doces e sobremesas (g) 38,36 53,51 56,74 83,82 51,86 40,43 0,17 30,22a 32,80 46,34b 44,13 77,65c 68,89 <0,01† Sucos artificiais (mL) 7,33 34,27 7,99 30,27 19,98 51,87 0,74 2,70 13,32 7,99 57,12 26,27 68,38 <0,01† Refrigerantes (mL) 20,56 55,66 23,98 77,69 33,12 66,54 0,50 7,99a 30,65 19,98a 45,30 68,54b 185,65 <0,01† Outros Salgadinhos (g) 3,33 3,06 3,87 9,09 4,70 6,18 0,56 2,29a 3,06 3,33a 7,44 6,66b 12,14 <0,01† Alimentos prontos (g)* 2,50 3,69 1,25 10,58 1,67 5,81 0,81 1,67 3,27 2,09 6,25 1,67 10,51 0,77 Sanduíches e lanches (g) 27,23 31,83 38,54 47,21 37,12 45,78 0,11 21,11a 23,19 35,75ª,b 40,13 45,47b 72,89 <0,01† Bebidas alcoólicas (mL) 0,86 7,29 0,81 7,50 1,62 7,50 0,96 0,41 2,95 0,81 5,74 3,65 19,98 0,06 Massas recheadas (g) 9,32a 23,31 18,65b 18,65 18,65ª,b 23,32 0,03‡ 9,32a 20,15 9,32b 18,65 25,23a 21,33 <0,01† Molhos (mL) 0,33a 0,86 0,67b 1,96 1,43ª,b 3,47 0,04‡ 0,17a 0,59 0,52a 1,84 3,33b 4,58 <0,01† Preparações típicas (g)† 10,62 25,21 18,32 30,74 18,94 32,57 0,16 10,74a 16,82 16,67ª,b 32,24 22,12b 32,16 0,02‡ Café (mL) 17,13 92,84 42,84 99,59 16,07 99,98 0,68 16,07 53,56 46,42 83,77 42,84 149,19 0,20

AMP, Alimentos In Natura e Minimamente Processados; AUP, Alimentos Ultraprocessados; Med, Mediana; IIQ, Intervalo Interquartil. *Macarrão instatâneo e barra de cereal; †Tapioca, fritada, feijoada.

Independente da estratificação da presença ou ausência do RCM, os ambos tipos do processamento empregado aos alimentos, refletiram aumento do consumo de raízes e tubérculos, arroz, carnes e aves, leites, bebidas lácteas, feijão, hortaliças, salgados fritos e biscoitos e bolos segundo os tercis de consumo diário total.

O consumo de AUP mostrou-se como fator de risco para a obesidade abdominal, independente do sexo, prática de exercício físico e consumo de bebida alcoólica. O consumo de AMP atribuiu proteção ao aumento das concentrações do LDL-c (Tabela 5).

Tabela 5. Regressão logística bruta e ajustada do consumo alimentar de acordo com o risco cardiometabólico e lipidograma em adultos jovens brasileiros.

Circunferência

da cintura

Glicemia de

jejum Triglicérides Colesterol LDL-c HDL-c PAS PAD

OR IC OR IC OR IC OR IC OR IC OR IC OR IC OR IC AMP Modelo bruto 0,92 0,78-1,08 0,94 0,74-1,19 1,10 0,95-1,29 0,97 0,85-1,11 0,74 0,54-1,02 0,90 0,78-1,04 1,05 0,82-1,36 0,99 0,86-1,17 Modelo ajustado* 0,87 0,73-1,04 0,89 0,69-1,16 1,08 0,92-1,27 0,94 0,81-1,08 0,70 0,50-0,98† 0,90 0,78-1,04 1,06 0,73-1,54 0,95 0,79-1,15 AUP Modelo bruto 1,09 1,00-1,18† 1,01 0,88-1,16 1,03 0,93-1,14 0,94 0,85-1,04 0,86 0,70-1,07 0,98 0,90-1,07 1,09 0,91-1,29 1,03 0,92-1,15 Modelo ajustado* 1,05 0,95-1,15 0,98 0,83-1,16 0,97 0,84-1,12 0,90 0,79-1,02 0,79 0,60-1,03 0,98 0,89-1,08 0,97 0,76-1,24 0,97 0,85-1,12 OR, Odds Ratio; IC, Intervalo de Confiança; AMP, Alimentos In Natura e Minimamente Processados; AUP, Alimentos Ultraprocessados; LDL-c, Lipoproteína de Baixa

Densidade; HDL, Lipoproteína de Alta Densidade; PAS, Pressão Arterial Sistólica; PAD, Pressão Arterial Diastólica. *Ajustado por sexo, atividade física e bebida alcoólica;† p< 0,05.

7 DISCUSSÃO

Os resultados encontrados no presente estudo revelam a expressiva contribuição dos alimentos com maior grau de processamento na dieta dos brasileiros jovens, independente da presença do RCM, reforçando os dados já revelados para adultos jovens no Brasil no ano de 2015 com 51,2% da participação calórica diária em AUP (BIELEMANN et al., 2015). Nesse mesmo ano, o relatório da Organização Panamericana da Saúde (PAHO) e Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o aumento em 26,7% nas vendas de bebidas e AUP na América latina, enquanto na América do Norte essas vendas reduziram em 9,8%. A ascensão da indústria alimentícia nos países em desenvolvimento, por uma possível estabilização de mercado nos países já desenvolvidos, sugere a busca por novos mercados com vasto campo disponível a indústria na incorporação desses produtos ao padrão alimentar tradicional dessas populações.

A relação entre os AUP e as principais doenças crônicas reside no fato de apresentarem menor qualidade nutricional, dentre elas, o maior conteúdo de gorduras e açúcares (OPAS, 2015). Ao classificar alimentos segundo o seu grau de processamento para análise de qualidade de carboidratos oriundos dos AUP e AMP, logo, compreende-se que carboidratos simples e complexos se agruparão em cada um deles, respectivamente. Avaliar a relação entre macronutrientes totais e desfechos clínicos sem considerar a procedência desses macronutrientes (AHN et al., 2017), por exemplo, através do grau de processamento empregado aos alimentos consumidos, não apontam a influência do lipídeo ou carboidrato proveniente de AUP no consumo total dos mesmos, e na manifestação do RCM como o encontrado. Da mesma forma acontece com os micronutrientes. Estudos vem mostrando que apesar de AUP muitas vezes apresentarem associação com maiores quantidades de nutrientes como ferro e cálcio, o simples fato de ter procedência em ultraprocessados, atribui-lhes a não adição de benefícios à saúde, sendo equivocada, por exemplo, a utilização de estratégias como a fortificação de farinhas com ferro para a prevenção de anemias na população (ASSUNÇÃO

et al., 2012; BIELEMANN et al., 2015). É importante destacar que apesar de consumirem

mais carboidratos totais, o grupo sem RCM não ultrapassou os limites da Ingestão Diária Recomendada pela Food and Nutrition Board da National Research Council e pelos limites de referência da OMS.

O elevado consumo de gorduras está associado às dislipidemias (CHEN, HU E GONG; YEO, YOON E KIM; 2017) e doenças crônicas, sobretudo, as cardiovasculares, que

são responsáveis pela causa de mortalidade mais incidente na população mundial (OMS, 2016). AUP são ricos em gorduras, em especial as saturadas e trans com o propósito de tornar-los mais atrativos por atribuir melhor palatabilidade (OPAS, 2015). Ao mesmo tempo que atraem a população para o seu consumo, determinam o desencadeamento da disfunção do endotélio vascular prévia a dislipidemias, aterosclerose (CHEN, HU E GONG, 2017) e demais doenças, inclusive as relacionadas a distúrbios cognitivos como alzheimer e demência (BARNARD, BUNNER E AGARWAL; 2014). Os alimentos mais consumidos de acordo com o consumo em gramas de AUP, ricos em carboidratos simples além das gorduras, enquadram-se nesse contexto e são semelhantes àqueles consumidos pela população francesa em estudo conduzido por Julia e colaboradores (2017).

As carnes processadas, conhecidas como embutidos também são fontes de gorduras saturadas e associadas ao maior risco de doenças cardiovasculares, assim como lanches gordurosos e outros processados. Estudo populacional que avaliou desfechos cardiovasculares observou que os ácidos graxos provenientes desses alimentos corresponderam ao maior risco de tais doenças (GUASCH-FERRÉ et al., 2015). Em 2015, a OMS apontou o consumo de carnes processadas como determinantes da carcinogênese colorretal em humanos (OMS, 2015). Apesar das preparações típicas serem reflexo cultural da região, é compreensível o seu maior consumo conforme o aumento da ingestão de AUP, uma vez que feijoadas e fritadas apresentam elevada quantidade de gordura e energia na sua composição.

AUP apresentam maior quantidade de açúcar adicionado. Na dieta norte-americana, eles representaram o acréscimo de oito vezes mais açúcar de adição comparado aos alimentos processados e cinco vezes mais comparado ao agrupamento dos AMP e ingredientes processados (STEELE et al., 2016). Já existem evidências da relação do açúcar de adição e refinado com a doença arterial coronariana através da elevação da glicose, da insulina e do ácido úrico, alteração da função plaquetária, alteração da tolerância à glicose e esteatose hepática não alcoólica, o que alerta a respeito do elevado consumo de açúcar nas doenças cardiovasculares além da ingestão de gordura saturada. Vale ressaltar que ao classificar os alimentos segundo o seu grau de processamento, o grupo de AUP reflete a característica de fonte dietética em ambos, açúcar simples e gordura saturada (DINICOLANTONIO, LUCAN, O’KEEFE; 2016).

Estudo que associou padrão alimentar à sindrome metabólica em adultos saudáveis e não diabéticos encontrou associação positiva entre o consumo de açúcar e fast-foods com o

LDL-c (YEO, YOON E KIM, 2017). Uma coorte brasileira de 3-4 anos com crianças observou que AUP foram preditores do aumento do colesterol total e LDL-c desde o pré- escolar até o escolar, e dentre os alimentos com maior contribuição energética encontravam-se os pães, biscoitos, petiscos salgados e doces (RAUBER et al., 2015). Enquanto isso, outra coorte no país observava que a participação calórica dos AMP reduziu em 5,1 pontos percentuais entre os anos de 1987 e 2009, com concomitante aumento da participação dos AUP (MARTINS et al., 2013). De acordo com última Pesquisa de Orçamentos Familiares no Brasil, o padrão alimentar brasileiro ainda é alicerçado no consumo do feijão e arroz, porém, aliado ao elevado consumo de alimentos calóricos e nutricionalmente desequilibrados e no baixo consumo de frutas, verduras e legumes (BRASIL, 2011).

Recomendações de prevenção às doenças cardiovasculares orientam o consumo de frutas, legumes e peixes pelo efeito protetor atribuído a esses alimentos de forma independente e ainda maior quando são aliados ou compõem padrões alimentares como o do mediterrâneo (MATTEI et al.; MICHA et al., 2017). Em revisão sistemática e meta-análise realizada recentemente, peixes e frutas encontraram-se entre os dez alimentos elegidos como protetores cardiometabólicos. Este mesmo estudo apontou as carnes processadas e as bebidas açucaradas como danosos a saúde cardiometabólica (MICHA et al., 2017). Os estudos divergem a respeito da proteção ou risco oferecido pelo consumo de ovos (CLAYTON, FUSCO E KERN, 2017; FULLER et al., 2015). No entanto, existem explicações sobre a proteção promovida pelos seus fosfolipídeos insaturados na redução dos níveis de colesterol e pressão arterial (ZDROJEWICZ; HERMAN; STAROSTECKA, 2016).

O número, tamanho e densidade das partículas de LDL-c contidas nos níveis séricos de colesterol total podem influenciar a sua relação com a doença cardiovascular. A origem e quantidade de gorduras saturadas dos alimentos atuam de diferentes formas sobre a LDL-c e a sua contribuição à saúde cardiovascular. Alimentos com maiores extensões de processamento são referências de desequilíbrio e más fontes em gorduras saturadas, promovendo a redução das partículas de LDL-c que são mais susceptíveis à oxidação e processos aterogênicos, trombóticos e inflamatórios (DINICOLANTONIO, LUCAN, O’KEEFE; 2016).

Gorduras e açúcares simples tem influência na alteração da configuração e aterogenicidade da LDL-c. Ensaio controlado randomizado em adultos saudáveis com diferentes concentrações de açúcar em bebidas açucaradas observou que até mesmo baixas e moderadas concentrações desse ingrediente reduziram o tamanho da partícula de LDL-c e

como consequência aumentaram o sua aterogenicidade (AERBELI et al., 2011). No mais, controlar ou reduzir os níveis de LDL-c é uma estratégia consolidada na redução dos desfechos cardiovasculares, uma vez que é comprovada a sua influência no início de pequenos acidentes vasculares cerebrais (CHEN, HU E GONG, 2017).

Além de características como a praticidade e palatabilidade que motivam o maior consumo dos AUP pela população, é somada a forte influência midiática. No Brasil, a publicidade de bebidas é a terceira maior categoria de comerciais televisivos, onde os AUP representam 60,7% das propagandas contra apenas 7% relativo aos AMP (MAIA et al., 2017). O aumento do consumo de frutas e sucos não adoçados de acordo com o aumento da ingestão de AMP pode ter influenciando substancialmente na proteção atribuída por esses alimentos à alteração das concentrações de LDL-c na população do presente estudo. Da mesma forma acredita-se que o maior consumo de peixes também tenha influenciado à proteção à alteração das concentrações da LDL-c pelos AMP.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Relativo ao consumo alimentar segundo grau de processamento dos alimentos, o presente estudo reforça que dietas saudáveis devem ser baseadas no baixo consumo de AUP e, principalmente, no elevado consumo diário de AMP na prevenção de desfechos clínicos desfavoráveis.

No entanto, é necessário maiores estudos acerca da relação entre o tipo, extensão e finalidade do precessamento empregado aos alimentos e o RCM para incentivar entidades governamentais brasileiras à elaboração de legislação e políticas públicas de regulação da propaganda e venda de AUP no país, uma vez que medidas como a tributação aos AUP e subsídios aos AMP, já vêm se mostrando efetivas na melhor opção de compras de diferentes populações, inclusive a latino-americana para contribuir na prevenção e desaceleração da incidência de doenças crônicas e proteção da saúde coletiva.

9 CONCLUSÃO

Adultos jovens brasileiros apresentaram elevada participação calórica de AUP na dieta, independente da presença do RCM, com gorduras provenientes de AUP representando maior contribuição no valor energético total no grupo com o RCM. Além disso, o consumo de AUP foi fator de risco para obesidade abdominal independente sexo, atividade física e bebida alcoólica e o consumo de AMP foi protetor à alterações das concentrações de LDL-c.

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