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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.5. Análise estatística

Para análise estatística, inicialmente, os dados foram tratados a partir de procedimentos descritivos (média e desvio padrão). A ANOVA One-way foi empregada para comparação das características (idade, peso, estatura, IMC e nível de atividade física) das participantes no momento inicial. Os dados de natureza paramétrica foram analisados por meio da ANOVA two-way (2x2) para medidas repetidas para comparação entre os grupos, GC e GT, e momentos de avaliação, pré e pós período experimental. O teste post hoc de Tukey foi empregado para a identificação das diferenças específicas nas variáveis quando a ANOVA apontou efeitos significativos. Quando os dados eram de natureza não paramétrica foram adotados o teste de U Mann Whitney para comparação intergrupos (GC e GT) e o teste de Wilcoxon para comparação intragrupo, nos dois momentos de avaliação (pré e pós período experimental). O nível de significância adotado foi de p < 0,05. Os procedimentos estatísticos foram realizados no programa StatisticaTM, versão 5.0.

5. RESULTADOS

As características das participantes de ambos os grupos no momento pré-treinamento são apresentadas na Tabela 3. Foi observada diferença estatisticamente significativa entre os grupos GT e GC apenas para a variável peso corporal (p = 0,03). Como não foi observada diferença significativa entre o nível de atividade física das participantes, assume-se que o processo empregado para aleatorização da amostra entre os grupos foi adequado.

Tabela 3. Características da amostra no momento pré-período experimental. Valores (em média e desvio padrão) de idade, peso, estatura, índice de massa corporal (IMC) e nível de atividade física para as participantes dos grupos treinamento (GT) e controle (GC).

GT (n = 13) GC (n = 13) F P

Idade (anos) 69,9 ± 8,6 66,6 ± 6,0 1,25 0,275

Peso (kg) 64,6 ± 10,8 75,3 ± 13,1* 5,10 0,033

Estatura (m) 1,53 ± 0,07 1,58 ± 0,07 2,94 0,099

IMC (kg/m²) 27,6 ± 4,6 30,3 ± 5,6 1,88 0,183

Nível de atividade física (pontos)

2,5 ± 0,5 2,3 ± 0,6 0,51 0,482 * diferença significativa em relação ao grupo treinamento (GT)

Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas para os valores do IAFG entre os grupos nos momentos pré (z = -0,35; p = 0,72) e pós (z = -1,17; p = 0,24) período experimental. O teste de Wilcoxon apontou que ambos os grupos obtiveram valores significativamente melhores no momento pós-período experimental, GT (z = -3,18; p < 0,01) e GC (z = -2,75; p < 0,01). Na Tabela 4 são apresentados os valores do IAFG, a respectiva classificação geral dos valores e a variação percentual do IAFG para os grupos GT e GC. A classificação geral melhorou para o GT, que passou de “Regular” (200 a 299 pontos) para “Bom” (300 a 399 pontos), enquanto o GC manteve-se classificado em “Regular”. Nas figuras 11 e 12 são apresentadas as classificações do IAFG dos grupos GT e GC, respectivamente.

Tabela 4. Valores do Índice de Aptidão Funcional Geral (IAFG) e sua classificação nos momentos pré e pós período experimental, para ambos os grupos (GT e GC). Valores em mediana e amplitude (valores mínimo e máximo).

IAFG (pontos percentis)

GT (n = 13) GC (n =12) Mediana Amplitude (min-max) Classificação geral Mediana Amplitude (min-max) Classificação geral Pré 266 64 - 395 Regular 233,5 30 – 439 Regular Pós 341* 147 - 433 Bom 281,5* 82 - 437 Regular ∆% 28,2% 20,6%

* = análise intragrupo - diferença significativa em relação ao momento pré-período experimental (p < 0,05); GT = Grupo Treinamento; GC = Grupo Controle; ∆% = variação percentual da mediana; classificação de acordo com Zago e Gobbi (2003) e Benedetti et al. (2007).

Figura 11. Classificação do Índice de Aptidão Funcional Geral (IAFG) do Grupo Treinamento (GT), nos momentos pré e pós-período experimental de oito semanas. Valores em percentual de ocorrências (%).

Figura 12. Classificação do Índice de Aptidão Funcional Geral (IAFG) do Grupo Controle (GC), nos momentos pré e pós-período experimental de oito semanas. Valores em percentual de ocorrências (%).

Para os componentes da capacidade funcional e mobilidade a ANOVA apontou interação Grupo vs. Momento significativa apenas para a flexibilidade de tronco, avaliada pelo teste de sentar e alcançar, (p<0,001; F=29,70). Embora não tenha sido observada interação significativa, foi observado efeito principal de Momento para os componentes coordenação (p<0,001; F=19,17) e agilidade (p<0,001; F=26,47). O teste post-hoc mostrou que o GT apresentou diferenças significativas para essas variáveis entre os momentos pré e pós-período experimental. Para os testes de caminhar meia milha/habilidade de andar e TSE não foi observada nenhuma alteração estatisticamente significativa. Os valores em média e desvio padrão dos testes são apresentados na Tabela 5. Para o componente resistência de força, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos nos momentos pré (z = -0,16; p = 0,87) e pós (z = -0,58; p = 0,57) período experimental. O teste de Wilcoxon apontou que ambos os grupos obtiveram valores significativamente melhores no momento pós-período experimental, GT (z = -2,39; p = 0,02) e GC (z = -2,40; p = 0,02). Na Tabela 6 são apresentados os valores de resistência de força de ambos os grupos.

Tabela 5. Valores dos componentes da capacidade funcional (média e desvio padrão), de ambos os grupos treinamento e controle (GT e GC, respectivamente) nos momentos pré e pós oito semanas de experimento.

GT (n = 13) GC (n = 12) Efeitos ANOVA F P

Flexibilidade tronco (cm) Grupo 2,19 0,153

Pré 52,1 ± 12,4 a 49,4 ± 9,1 Momento 30,42 <0,001 Pós 59,0 ± 9,9 ª,b 49,5 ± 10,1 Grupo x Momento 29,70 <0,001 Coordenação (s) Grupo 0,55 0,467 Pré 13,4 ± 3,9a 11,8 ± 3,0 Momento 19,17 <0,001 Pós 10,9 ± 2,4b 10,9 ± 2,2 Grupo x Momento 4,12 0,054 Agilidade (s) Grupo 0,05 0,821 Pré 25,5 ± 4,8 24,7 ± 4,0 Momento 26,47 <0,001 Pós 23,5 ± 4,1b 23,5 ± 3,1 Grupo x Momento 1,90 0,181

Teste de subir escadas (s) Grupo 0,66 0,425

Pré 8,1 ± 3,2 7,4 ± 2,0 Momento 0,75 0,396

Pós 8,0 ± 2,7 7,1 ± 2,4 Grupo x Momento

0,12 0,727 Caminhar meia milha/habilidade de

andar (s) Grupo 0,03 0,870 Pré 554,5 ± 101,4 548,7 ± 83,3 Momento 1,09 0,308 Pós 532,6 ± 109,9 551,7 ± 111,5 Grupo x Momento 1,89 0,182 a = diferença significativa em relação ao GC (p < 0,05); b = diferença significativa em relação ao momento pré- período experimental; GT = grupo treinamento; GC = grupo controle.

Tabela 6. Valores do teste de resistência de força nos momentos pré e pós-período experimental, para ambos os grupos (GT e GC). Valores em mediana e amplitude (valores mínimo e máximo).

Resistência de força (número de repetições)

GT (n = 13) GC (n =12) Mediana Amplitude (min-max) Mediana Amplitude (min-max) Pré 25 19 - 29 24 13 - 38 Pós 27* 23 - 34 27,5* 19 - 33

* = análise intragrupo - diferença significativa em relação ao momento pré-período experimental (p < 0,05); GT = Grupo Treinamento; GC = Grupo Controle.

Também não foram encontradas diferenças significativas para os valores da CVM entre os grupos, nos dois momentos de avaliação (p<0,01; F=0,95). Os resultados são exibidos na Tabela 7.

Tabela 7. Valores da contração voluntária máxima (CVM), nos momentos pré e pós-período experimental, para ambos os grupos (GT e GC). Valores em média e desvio padrão.

CVM (N) Efeitos F P GT (n=13) ANOVA Pré 216,9 ± 51,2 Grupo 1,85 0,186 Pós 221,0 ± 61,0 Tempo Grupo x Momento 0,28 <0,01 0,599 0,945 GC (n=13) Pré 255,9 ± 87,8 Pós 259,0 ± 89,2

N = Newtons; GT = Grupo Treinamento; GC = Grupo Controle.

Os resultados angulares da flexibilidade, avaliados por meio do instrumento flexímetro, nos hemicorpos direito e esquerdo, em média e desvio padrão, são apresentados nas Tabelas 8 e 9, respectivamente. A ANOVA apontou interação Grupo vs. Momento significativa apenas para os movimentos de extensão de ombro direito (p=0,05; F=4,34) e flexão de quadril esquerdo (p=0,04; F=4,82). Embora não possa ser atribuído ao treinamento, foi observado efeito principal de Momento para os movimentos flexão de quadril direito (p=0,01; F=8,26), dorso flexão do tornozelo direito (p=0,0 1; F=8,98) e extensão de ombro esquerdo (p<0,001; F=13,79).

Tabela 8. Valores angulares dos seis movimentos articulares avaliados no hemicorpo direito, nos momentos pré e pós-período experimental, para ambos os grupos (GC e GT). Valores em média e desvio padrão.

GT (n = 13) GC (n = 13) Efeitos ANOVA F P

Flexão de ombro direito (graus) Grupo 0,38 0,543

Pré 137,6 ± 20,0 142,5 ± 24,9 Momento 2,28 0,144 Pós 144,4 ± 12,8 147,2 ± 14,9 Grupo x

Momento

0,07 0,787

Extensão ombro direito (graus) Grupo 0,14 0,713

Pré 39,3 ± 6,6 40,6 ± 7,4 Momento 6,39 0,018

Pós 44,1 ± 4,1ª,b 41,1 ± 6,9 Grupo x Momento

4,34 0,048

Flexão quadril direito (graus) Grupo 1,47 0,237

Pré 90,1 ± 12,6 86,0 ± 11,5 Momento 8,26 0,008 Pós 95,5 ± 8,8b 90,8 ± 7,6 Grupo x

Momento

0,04 0,847 Extensão quadril direito (graus) Grupo <0,01 0,985 Pré 42,2 ± 19,3 45,4 ± 15,3 Momento 2,30 0,142 Pós 49,5 ± 15,6 43,4 ± 21,6 Grupo x

Momento

1,58 0,221 Dorso flexão tornozelo direito (graus) Grupo 0,02 0,878

Pré 22,4 ± 7,3 22,1 ± 11,3 Momento 8,98 0,006

Pós 27,0 ± 5,2 28,1 ± 5,8 Grupo x Momento

0,15 0,699 Flexão plantar tornozelo direito (graus) Grupo 0,24 0,627

Pré 9,8 ± 4,2 10,6 ± 4,5 Momento 0,36 0,553

Pós 10,7 ± 2,6 10,9 ± 2,4 Grupo x Momento

0,13 0,721 a = diferença significativa em relação ao GC (p < 0,05); b = diferença significativa em relação ao momento pré- período experimental; GT = grupo treinamento; GC = grupo controle.

Tabela 9. Valores angulares dos seis movimentos articulares avaliados no hemicorpo esquerdo, nos momentos pré e pós-período experimental, para ambos os grupos (GC e GT). Valores em média e desvio padrão.

GT (n = 13) GC (n = 13) Efeitos ANOVA F P

Flexão de ombro esquerdo (graus) Grupo 1,60 0,218

Pré 135,5 ± 23,1 143,1 ± 17,8 Momento 1,30 0,266 Pós 139,6 ± 12,0 146,6 ± 16,1 Grupo x

Momento

0,01 0,936

Extensão ombro esquerdo (graus) Grupo 0,09 0,761

Pré 40,5 ± 6,7 41,2 ± 8,7 Momento 13,79 <0,001 Pós 46,2 ± 4,0b 43,9 ± 8,7 Grupo x

Momento

1,76 0,197

Flexão quadril esquerdo (graus) Grupo 0,87 0,360

Pré 87,9 ± 15,1 89,7 ± 12,8 Momento 1,14 0,297 Pós 95,9 ± 7,7 ª,b 86,9 ± 9,9 Grupo x

Momento

4,82 0,038 Extensão quadril esquerdo (graus) Grupo 0,58 0,455 Pré 46,5 ± 16,6 43,2 ± 14,2 Momento 4,11 0,054 Pós 52,5 ± 15,2 47,3 ± 16,2 Grupo x

Momento

0,16 0,693 Dorso flexão tornozelo esquerdo (graus) Grupo 0,27 0,610

Pré 24,2 ± 7,3 27,5 ± 9,6 Momento 2,62 0,119

Pós 28,2 ± 7,2 27,8 ± 7,5 Grupo x Momento

1,93 0,178 Flexão plantar tornozelo esquerdo

(graus) Grupo 0,09 0,769 Pré 8,6 ± 4,3 8,6 ± 3,0 Momento 2,06 0,164 Pós 9,5 ± 1,7 10,1 ± 3,0 Grupo x Momento 0,11 0,749 a = diferença significativa em relação ao GC (p < 0,05); b = diferença significativa em relação ao momento pré- período experimental; GT = grupo treinamento; GC = grupo controle.

6. DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos do treinamento de flexibilidade na capacidade funcional e seus componentes, em idosas. Oito semanas de treinamento da flexibilidade promoveram melhora da flexibilidade do tronco e quadril, de extensão de ombro direito e flexão de quadril esquerdo e da classificação geral do IAFG de mulheres idosas.

O IAFG é uma importante ferramenta que apresenta, em termos gerais, o nível funcional geral do idoso (ZAGO; GOBBI, 2003). Ao final do período experimental o GT alterou a classificação do IAFG para “Bom”, enquanto o GC manteve-se classificado em “Regular”. Pode-se observar que 54% dos participantes estavam classificados em “Bom” ou “Muito bom” no GT, enquanto no GC apenas 33% encontravam-se nessas classificações no momento pós-período experimental. Embora ambos os grupos, GT e GC, tenham apresentado resultados significativamente melhores no momento pós-período experimental, pode-se observar que o ganho percentual do GT foi maior quando comparado ao GC, 28% e 21%, respectivamente.

Não foram encontrados estudos que observaram os efeitos do treinamento da flexibilidade de forma isolada no IAFG de idosos. Pauli et al. (2009) verificaram os efeitos de doze anos de treinamento generalizado, composto por vários exercícios (inclusive exercícios de alongamento), na aptidão funcional de idosos. Os autores encontraram melhora de 34% do IAFG e da classificação geral (passou de “Bom” para “Muito bom”) para o grupo que participou do treinamento, e piora tanto do índice (22%) quanto da classificação (passou de “Bom” para “Regular”) para o grupo controle. É importante verificar que o grupo controle adotado no estudo de Pauli et al. (2009) não participou de nenhum tipo de atividade sistematizada durante o período de 12 anos, enquanto no presente estudo o GC frequentou a universidade três vezes na semana, mas também não participou de nenhum tipo de exercício físico. Uma vez que o IAFG é dependente dos resultados encontrados em cada teste da bateria da AAHPERD, é importante compreender como cada um dos componentes se comportou após o período experimental.

A melhora da flexibilidade da articulação do tronco encontrada no presente estudo vai ao encontro dos resultados encontrados pela literatura (RIDER; DALY, 1991; GALLON et al., 2011; STANZIANO et al., 2009). O GT apresentou melhora de 13% para a flexibilidade avaliada por meio do teste de alcançar sentado, após 24 sessões de alongamento estático ativo, com volume de 90 segundos (três séries com duração de 30 segundos). Ganho similar foi demonstrado em estudo clássico de Rider e Daly (1991), após 30 sessões de alongamento estático ativo, com volume total de 30-50 segundos (três a cinco séries com duração de no

mínimo 10 segundos), na flexibilidade do tronco. Adotando o mesmo teste de alcançar sentado, os autores encontraram melhora de 15% nos valores de flexibilidade no momento pós-intervenção. Christiansen (2008) adotou treinamento com exercícios de alongamento estático ativo, duas vezes ao dia, sete dias da semana com volume de 135 segundos (três séries com duração de 45 segundos) e encontrou melhora de 11% para o movimento de flexão do quadril. Gallon et al. (2011) por sua vez, encontraram melhora de 29% no movimento de flexão do quadril após 24 sessões de alongamento estático passivo, com volume total de 240 segundos (quatro séries com duração de 60 segundos). Observando os resultados encontrados pelos diferentes estudos, parece haver uma relação entre o volume de treinamento adotado e o ganho nos níveis de flexibilidade.

O volume de alongamento empregado no presente estudo está de acordo com as recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (GARBER et al., 2011), o qual preconiza que sejam realizadas de duas a quatro séries, com duração de 10 a 30 segundos de exercícios de alongamento estático (volume total variando de 20 a 120 segundos), de modo que o volume mínimo acumulado (resultante da manipulação de séries e tempo de duração) seja de 60 segundos por exercício. Procurando investigar o efeito de diferentes volumes de alongamento na flexibilidade de idosos, Feland et al. (2001) realizaram 30 sessões de alongamento passivo, com quatro séries e três diferentes durações 15, 30 e 60 segundos (volumes de 60, 120 e 240 segundos), na flexibilidade do joelho de idosos. Os autores encontraram melhores valores para os três grupos treinamento, quando comparados a um grupo controle inativo. Entretanto, o volume de alongamento de 240 segundos proporcionou ganho significativamente maior (29%) quando comparado aos outros dois volumes adotados, 60 segundos e 120 segundos (8% e 17%, respectivamente). Embora não tenham sido avaliados os mecanismos envolvidos no aumento da flexibilidade, aponta-se que um maior tempo sob tensão de alongamento seria necessário para superar as alterações fisiológicas que ocorrem no sistema muscular decorrente do processo de envelhecimento, como o aumento da tensão passiva e a maior deposição de colágeno (FELAND et al., 2001). De fato, Gajdosik et al. (2005b) demonstraram que mulheres idosas, em especial com encurtamento muscular, possuem maior tensão passiva e maior absorção da energia elástica quando comparadas a mulheres jovens, o que pode representar um aumento das propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendínea devido às alterações na deposição de colágeno no tecido conjuntivo.

Além da melhora na flexibilidade do tronco, também foram encontrados melhores resultados para os movimentos de extensão do ombro e flexão do quadril, concordando com

os achados da literatura (CRISTOPOLISKI et al., 2009; GALLON et al., 2011). Embora não tenham sido encontrados estudos que analisaram a flexibilidade do movimento de extensão do ombro, o presente estudo encontrou melhora significativa de 11% após o período de treinamento. Já para a flexão de quadril, Gallon et al. (2011) encontraram melhora de 29% após 24 sessões de alongamento passivo, com volume de 240 segundos. Cristopoliski et al. (2009) realizaram 12 sessões de treinamento com alongamento passivo (volume de 240 segundos) e encontraram melhora estatisticamente significativas de 68% e 61% para a flexão de quadril uniarticular e biarticular, respectivamente, avaliado por meio do Thomas test. O presente estudo encontrou melhora de apenas 9% para a flexão de quadril após o período de treinamento. O baixo percentual de ganho encontrado para ambos os movimentos articulares e o fato de não terem sido encontradas diferenças estatisticamente significativas para os demais movimentos articulares avaliados no presente estudo, também podem estar relacionados ao menor volume de treinamento empregado quando comparado aos demais estudos.

Não foram observadas diferenças significativas para o componente agilidade e os testes de caminhar meia milha e mobilidade. Estes resultados concordam com Klein et al. (2002) que, após 20 sessões de alongamento por facilitação neuroproprioceptiva (uma a três séries progressivas, 6 segundos de contração isométrica seguido de 20 segundos de alongamento), também não observaram melhora da agilidade. Por outro lado, estudos realizados com diferentes protocolos de treinamento têm demonstrado melhora de 8% (GAJDOSIK et al., 2005a), 12% (STANZIANO et al., 2009) e 14% (BATISTA et al., 2009) nos testes de agilidade e 7% (GAJDOSIK et al., 2005a) e 11% (STANZIANO et al., 2009) no teste de caminhada. Acredita-se que além da melhor amplitude de movimento articular do quadril, joelho e tornozelo (BATISTA et al., 2009; CHRISTIANSEN et al., 2008; CRISTOPOLISK et al., 2009), a melhora do componente agilidade está também relacionada aos maiores níveis de força muscular encontrados nos membros inferiores após o período de treinamento (BATISTA et al., 2009; STANZIANO et al., 2009), especialmente devido à alta relação existente entre a força muscular de membros inferiores e a velocidade da marcha e número de passos (RINGSBERG et al., 1999).

Os efeitos crônicos da flexibilidade parecem se comportar de forma diferente, de acordo com a expressão de força muscular que está sendo investigada. No presente estudo não foram observadas diferenças significativas na produção de força isométrica máxima (CVM) de membros inferiores, entretanto, ambos os grupos, GT e GC, apresentaram melhores valores de resistência de força de membros superiores após o período experimental. Gallon et al. (2011) também não observaram alterações nos valores de pico de torque isocinético de

extensão e flexão do joelho (concêntrico e excêntrico), após um período de treinamento da flexibilidade. Batista et al. (2009) empregaram oito sessões de treinamento de alongamento estático ativo, com sete séries de 60 segundos (volume de 420 segundos) e não observaram melhora significativa no pico de torque isométrico de flexão e extensão do joelho. Entretanto, os autores encontraram resultados 11% e 10% maiores para o pico de torque (concêntrico e excêntrico) de flexão e extensão do joelho, respectivamente. Stanziano et al. (2009) observaram valores significativamente maiores para a resistência de força muscular de membros superiores (direito = 46% e esquerdo = 14%) e inferiores (17%), e na potência de força muscular de membros inferiores (26%).

Gajdosik et al. (2005a) investigaram os efeitos de 24 sessões de treinamento com exercícios de alongamento estático ativo, com 10 séries de 15 segundos (150 segundos), nas propriedades elásticas passivas dos músculos da panturrilha e na mobilidade de idosas. Os autores encontraram melhora de 61% na força máxima passiva de dorsiflexão do tornozelo e 43% na força de resistência média. Essas alterações, associadas ao aumento da amplitude de movimento do tornozelo, proporcionaram aumento da energia elástica absorvida e retida. As alterações nas propriedades elásticas do sistema músculo-esquelético e consequente melhor reutilização da energia elástica, proporcionadas pelo treinamento da flexibilidade tem sido apontadas como as responsáveis pela melhora dos níveis de força muscular, em especial, os de resistência de força (BATISTA et al., 2009; GAJDOSIK et al., 2005a; STANZIANO et al., 2009).

Não foram observadas melhoras significativas na flexibilidade e força muscular de membros inferiores, fato que pode ter influenciado nos resultados da agilidade, teste de caminhar e TSE e, consequentemente, nos valores do IAFG. Desta forma, parece ser necessário um volume de treinamento superior a 90 segundos para promover alterações significativas nas propriedades elásticas da unidade músculo-tendínea.

Embora nenhum instrumento tenha sido aplicado para avaliar aspectos qualitativos, as participantes do GT relataram sentir-se melhor após o período de treinamento. Além da maior sensação de bem estar ao longo do dia, as participantes relataram melhor qualidade do sono, menos dores no corpo, maior facilidade para levantar-se do solo, subir degraus de ônibus e entrar e sair do carro. Ainda, o presente estudo procurou trabalhar aspectos cognitivos e sociais com o GC. Por meio de dinâmicas de grupo, houve maior sociabilização entre as participantes e desinibição de algumas que ao longo das atividades. As participantes relataram sentirem-se mais dispostas e alegres após as sessões do grupo, devido ao fato que as atividades, mesmo não envolvendo exercícios físicos, faziam-nas esquecer de problemas e

preocupar-se apenas com os objetivos da aula. De uma forma geral, observando o GT e GC pode-se perceber que a realização das atividades em grupos é benéfica por si só, principalmente devido à promoção do aspecto social, o qual muitos idosos perdem ao longo da vida. Pode-se especular que esta melhor sensação de bem estar também relatada pelas participantes e a mudança da rotina do GC podem ter relação com alguns resultados encontrados, como a melhora da resistência de força de membros superiores e dos valores do IAFG.

É importante ressaltar que após o término do período experimental adotado para o estudo (oito semanas), os grupos foram invertidos para proporcionar às idosas a oportunidade de participar de ambas as atividades propostas: física e cognitiva/social.

7. CONCLUSÃO

Pode-se concluir que oito semanas de treinamento da flexibilidade, com volume de 90 segundos de alongamento estático, são eficazes na melhora da flexibilidade do ombro, tronco e quadril, e da classificação geral do Índice de Aptidão Funcional Geral de mulheres idosas.

O presente estudo tem uma importante aplicação prática, tendo em vista que este tipo de treinamento é composto por exercícios de alongamento, os quais não necessitam de local ou materiais específicos para a prática e possuem fácil compreensão. Em adição, este treinamento pode atuar como um importante aliado na manutenção da independência funcional do idoso. Neste sentido, incentiva-se a implementação de um treinamento da flexibilidade em grupos de terceira idade e a inclusão de exercícios de alongamento em programas de atividade física voltados para esta população.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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