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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.9 Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa BioEstat

T 1 11 1 11

Convite participação aos PMs do 2º BPM/SC do sexo masculino

(n = 291)

Informação sobre objetivos e metodologia Orientação sobre as coletas de saliva e de

sangue

Entrega do TCLE, ficha de identificação, PSS-10 e dois tubos Salivettes®

(n = 44)

Não aderiram n = 247

1ª coleta de saliva ao despertar e 2ª coleta de saliva 30 minutos após o

despertar em domicilio. Recebimento dos Salivettes®, do TCLE assinado, da ficha de identificação e da PSS-10 preenchidos 3ª coleta de saliva Aferição da PA e FC Coleta de sangue no 2º BPM/SC (n = 44) T 6 11 1 11

4ª coleta de saliva: ao despertar (n=25) 5ª coleta de saliva 30’ após o despertar (n=25)

Entrega dos Salivettes® (n=25) 6ª coleta de saliva (n=25)

Entrega dos laudos dos exames de sangue (n=44) Processamento das amostras de sangue

Processamento das amostras de saliva T 5 11 1 11 T 4 11 1 11 T 3 11 1 11 T 2 11 1 11

5.3 (Mamirauá, Belém, PA, Brasil) e Stata®14 (StataCorp, College Station, Texas, USA). A normalidade dos dados foi avaliada utilizando o teste Shapiro-Wilk (W). Os dados foram analisados pela estatística descritiva, consistindo de médias, desvio padrão, medianas e porcentagens. A confiabilidade da PSS-10 foi verificada pelo Coeficiente alfa de Cronbach (α) que avaliou a consistência interna do questionário PSS-10; valores de α variam de 0 a 1,0; quanto mais próximo de 1,0, maior confiabilidade entre os indicadores, sendo considerado satisfatório valores acima de 0,7 (Matthiensen, 2011). Para comparação das variáveis contínuas entre os dois postos hierárquicos foram aplicados o teste t independente ou Mann-Whitney, de acordo com a distribuição dos dados. A área sob a Curva de Resposta do Cortisol (ASC) de cada participante foi calculada baseada na regra do trapezóide de Yeh e Kwan (1978). O teste de correlação de Spearman (rs), Pearson (r) foi aplicado entre as variáveis, de acordo com a distribuição dos dados. Para reprodutibilidade da avaliação dos biomarcadores salivares analisados (AAS, cortisol, glicose e PCR) foram realizadas dois dias de coleta com intervalo de 7 dias. Para comparação entre as respectivas amostras foi utilizado o teste t pareado. O nível de significância adotado foi 5%.

5 RESULTADOS

As características sociodemográficas da amostra são apresentadas na tabela 1. O número de soldados foi proporcionalmente igual a categoria de graduados (χ2, P>0,05), sendo que esses apresentaram idade e tempo na função

significativamente menor, como esperado (χ2, P<0,05). O grau de escolaridade

variou do Ensino Médio completo à Pós-Graduação, com proporção significativamente maior para o Ensino Superior Completo entre os soldados (χ2,

P<0,001); dois participantes não informaram.

Tabela 1 - Características sociodemográficas da amostra

Variáveis Soldados n = 28 (63,6%) Graduados n = 16 (36,4%) Total n = 44 (100%) Idade (anos) Média (DP) 27,8 (3,9)a 39,0 (7,0)b 31,9 (7,5) Mediana (DIQ) 27 (4,0) 37 (6,5) 29,5 (10,2) Min-Máx 22-42 29-52 22-52

Tempo na função (anos)

Média (DP) 4,2 (3,7)a 17,9 (7,2)b 9,2 (8,5) Mediana (DIQ) 3,3 (4,6) 17 (3,9) 6,2 (15,0)

Min-Máx 1,3-17 2-31 1,3-31

Índice de Massa Corporal-IMC (Kg/m2)

Média (DP) 25,3 (2,2) 26,5 (4,1) 25,7 (3,0) Mediana (DIQ) 25,2 (2,6) 25,3 (5,7) 25,2 (3,3) Min-Máx 21,5-30,6 20,8-35,4 20,8-35,4 Escolaridade [N (%)] Pós-Graduação 7(25) 6 (37,5) 13 (29,5) Superior Completo 18* (64,2) 5 (31,3) 23 (52,3) Superior em curso 1 (3,6) 2 (12,5) 3 (6,8) Médio Completo 1 (3,6) 2 (12,5) 3 (6,8) Não informado 1 (3,6) 1 (6,2) 2 (4,6)

Legenda: DP – Desvio Padrão; DIQ – Desvio Inter Quartílico.

Valores seguidos de letras minúsculas distintas representam diferenças significativas entre soldados e graduados (P<0,001, teste de Mann-Whitney).

Valor seguido por * representa maior proporção de curso superior completo entre os soldados (χ2,

P<0,001).

O valor de alfa de Cronbach da PSS-10 foi 0,83, denotando confiabilidade nas respostas da escala (APÊNDICE 3) e garantindo, assim, propriedades

psicométricas adequadas. Os escores da PSS-10 não diferiram entre os postos hierárquicos (P = 0,292) (Tabela 2). Sete soldados e cinco graduados apresentaram percepção elevada de estresse (valores no quartil 75%).

Tabela 2 - Distribuição dos escores da PSS-10 e das categorias do estresse percebido de acordo com os grupos Variáveis Soldados n = 28 (63,6%) Graduados n = 16 (36,4%) Total n = 44 (100%) Escores da PSS-10 [0-40] Média (DP) 19,4 (5,6) 21,6 (8,3) 20,2 (6,7) Min-Máx 10-30 5-38 5-38 Primeiro quartil (25%) 15,8 17,8 16 Mediana (DIQ) 19 (7,0) 23,5 (8,25) 20 (9,25) Terceiro quartil (75%) 22,75 26 25,5 Categoria do estresse [N (%)] Percepção baixa (25%) 10 (35,7) 3 (18,7) 13 (29,5) Percepção moderada (25-75%) 11(39,3) 8 (50) 19 (43,2) Percepção elevada (75%) 7 (25) 5 (31,3) 12 (27,3)

Legenda: PSS-10–Escala de Estresse Percebido; DP–Desvio Padrão; DIQ–Desvio Inter Quartílico.

Para avaliar a reprodutibilidade da análise dos biomarcadores salivares as amostras de 25 participantes, coletadas duas vezes com intervalo de sete dias, foram comparadas pelo teste t pareado. Não houve diferença significativa nas respectivas análises (APÊNDICE 4). Sendo assim, os dados de uma coleta da amostra total são apresentados na tabela 3. No entanto, os resultados do cortisol de doze participantes (onze soldados e um graduado) foram descartados por estes não atenderem efetivamente as etapas do protocolo, como por exemplo, não coletar uma das amostras ou não seguir o horário das coletas.

Observou-se que a categoria de graduados apresentou valores médios da glicose salivar significativamente maiores que os soldados (P = 0,048). Os demais biomarcadores foram similares entre os dois grupos hierárquicos

Tabela 3 - Dados descritivos dos biomarcadores salivares de acordo com os grupos Biomarcador Soldados n = 28 (63,6%) Graduados n = 16 (36,4%) Total n = 44 (100%)

Alfa Amilase Salivar U/mL

Média (DP) 35,4 (69,14) 35,2 (40,4) 35,32 (59,75) Mediana (DI) 7,15 (26,5) 23 (42,0) 12,55 (37,4) Min-Máx 0,2-328,9 0,2-126,0 0,2-328,9 Glicose mg/dL Média (DP) 7,91 (2,43)a 10,0 (4,2)b 8,68 (3,3) Mediana (DI) 7,0 (1,5) 8,5 (4,1) 7,5 (2,0) Min-Máx 5,5-18,0 6,0-22,0 5,5-22,0 Proteína C Reativa mg/L Média (DP) 0,27 (0,18) 0,3 (0,17) 0,28 (0,17) Mediana (DI) 0,2 (0,1) 0,25 (0,12) 0,2 (0,1) Min-Máx 0,1-1,0 0,1-0,8 0,1-1,0 Biomarcador Soldados n = 17 (53,1%) Graduados n = 15 (46,9%) Total n = 32* (100%) Cortisol ao Despertar μg/dL Média (DP) 0,31 (0,16) 0,36 (0,57) 0,34 (0,40) Mediana (DI) 0,31 (0,21) 0,23 (0,22) 0,28 (0,22) Min-Máx 0,02-0,68 0,07-2,39 0,02-2,39

Cortisol 30 minutos após o despertar μg/dL

Média (DP) 0,29 (0,28) 0,39 (0,54) 0,34 (0,42) Mediana (DI) 0,23 (0,34) 0,28 (0,27) 0,27 (0,31)

Min-Máx 0,04-1,17 0,01-2,28 0,01-2,28

Área sob a curva de resposta para o cortisol-ASC μg/dL

Média (DP) 9,11 (5,62) 11,29 (16,55) 10,13 (11,88) Mediana (DI) 8,06 (3,65) 8,15 (4,34) 8,07 (3,9)

Min-Máx 2,9-25,64 1,11-69,99 1,11-69,99

* Os dados de 12 participantes foram excluídos.

Valores seguidos de letras minúsculas distintas representam diferenças significativas entre soldados e graduados (P = 0,048, teste de Mann-Whitney).

Na tabela 4 são expressos os resultados das variáveis plasmáticas, pressão arterial e frequência cardíaca, as quais não apresentaram diferença significativa entre os postos hierárquicos, exceto para o colesterol. As variáveis do hemograma apresentaram-se dentro dos limites normais (APÊNDICE 5).

Tabela 4 - Dados descritivos das variáveis plasmáticas e biológicas de acordo com os grupos Variáveis Soldados n = 28 (63,6%) Graduados n = 16 (36,4%) Total n = 44 (100%) Glicose mg/dL Média (DP) 77,7 (5,3) 78,7 (6,2) 78 (5,6) Mediana (DI) 78 (7,0) 77 (3,5) 77 (6,2) Min-Máx 69-89 69-94 69-94 Proteína C Reativa (PCR) mg/L Média (DP) 1,88 (0,99) 2,47 (2,1) 2,1 (1,5) Mediana (DI) 1,8 (1,2) 1,65 (1,5) 1,7 (1,2) Min-Máx 0,6-3,9 0,6-7,8 0,6-7,8 Colesterol mg/dL Média (DP) 162,9 (31,7)a 185,9 (37,3)b 171,3 (35,2) Mediana (DI) 162,5 (28,2) 183 (62,5) 165 (41,2) Min-Máx 107-245 135-253 107-253

Lipoproteína de Alta Densidade (HDL-C) mg/dL

Média (DP) 40,8 (7,8) 40,4 (5,7) 40,6 (7,1) Mediana (DI) 38 (10,2) 41,5 (8,5) 39,5 (10,0)

Min-Máx 31-62 26-47 26-62

Pressão Arterial Sistólica mmHg

Média (DP) 129,8 (11,1) 130,1 (10,6) 129,9 (10,8) Mediana (DI) 129 (18,5) 133,5 (17,5) 129,5 (18,2)

Min-Máx 110-151 111-147 110-151

Pressão Arterial Diastólica mmHg

Média (DP) 86,6 (7,4) 85,9 (13,6) 86,3 (9,9) Mediana (DI) 88,5 (8,2) 88,0 (14,2) 88,5 (9,5) Min-Máx 70-100 46-103 46-103 Frequência Cardíaca (FC ) bpm Média (DP) 62,7 (9,5) 65,6 (8,3) 63,4 (8,5) Mediana (DI) 62,5 (7,5) 64,0 (7,0) 63 (6,5) Min-Máx 41-85 49-86 41-86

Valores seguidos de letras minúsculas distintas significam diferenças significativas entre soldados e graduados (P = 0,035, teste t).

Os resultados das correlações entre todas as variáveis estudadas encontram-se no apêndice 6. Na tabela 5 são apresentadas as correlações que foram estatisticamente significativas. A maioria destas eram esperadas, confirmando que o aumento da taxa de colesterol está em consonância com aumento da idade, da PA e do IMC; este por sua vez também se correlacionou com o aumento da PA e com a PCR.

Tabela 5 - Correlações significativas entre as variáveis do estudo (n = 44) rs Valor de P Idade x Tempo na PM 0,782 <0,001 Colesterol x Idade 0,458 0,002 IMC 0,459 0,002 PA diastólica 0,349 0,020 IMC x PA sistólica 0,419 0,005 PA diastólica 0,423 0,004 PCR 0,545 <0,001 PA diastólica x PA sistólica 0,594 <0,001

Legenda: IMC – Índice de Massa Corporal; PCR – Proteína C Reativa; PA – Pressão Arterial; PM – Policia Militar, rs – coeficiente de Spearman.

Na tabela 6 consta a distribuição dos participantes que apresentaram alterações dos valores de referência para as variáveis fisiológicas. Destaca-se a alta frequência de participantes com HDL-C ≤ 40 mg/dL e também daqueles com valores de PCR maior ou igual a 1,0 mg/L.

Tabela 6 - Distribuição da amostra de acordo com alterações nos valores de referência (n = 44)

Variável n (%) IMC > 25 Kg/m2 20 (45%) PAS ≥ 130 mmHg 22 (50%) PAD ≥ 85 mmHg 18 (41%) PAS ≥ 130 mmHg e PAD ≥ 85 mmHg 18 (41%) HDL-C ≤ 40 mg/dL 24 (55%) Colesterol > 200 mg/dL 7 (16%) PCR 1,0 a 3,0 mg/L 29 (66%) PCR > 3,0 mg/L 8 (18%) Cortisol > 1,551 µg/dL 1 (2,3%) Cortisol < 0,122 µg/dL 4 (9,1%)

Legenda: IMC – Índice de Massa Corporal; PCR – Proteína C Reativa; HDL-C – Lipoproteína de Alta Densidade Colesterol; PAS – Pressão Arterial Sistólica; PAD – Pressão Arterial Diastólica.

6 DISCUSSÃO

A rotina do policial militar envolve situações que podem influenciar na homeostase fisiológica, promovendo alterações possíveis de serem avaliadas por instrumentos subjetivos e pela análise de biomarcadores específicos. Neste contexto, este estudo investigou o estresse percebido, biomarcadores salivares e plasmáticos e fatores biológicos.

A amostra foi constituída de 44 participantes do sexo masculino (22 a 52 anos de idade) representando 15,1% do efetivo masculino do 2º BPM/SC de Chapecó/SC, categorizados em soldados e graduados (Tabela 1). Observou-se que o número de soldados foi proporcionalmente igual a categoria de graduados (χ2, P>0,05). No estudo de Charles et al. (2016) houve participação mais elevada de

policiais menos graduados. No entanto, a adesão de apenas 15,1% do efetivo masculino do batalhão aos procedimentos da pesquisa pode ser considerada baixa, o que é inerente a pesquisas com humanos, principalmente em investigações realizadas com a polícia em âmbito mundial. Minayo et al. (2011) ponderaram que a baixa adesão em pesquisa por policiais militares pode ser atribuída às restrições ao acesso a informações por parte das corporações e ao receio que os policiais têm de serem prejudicados quando informam sobre si próprios. Além da maior proporção de soldados na corporação, a idade e o tempo na PM podem ter sido fatores de influência na adesão, uma vez que esses foram significativamente menores para os soldados em relação aos outros postos; portanto, os soldados poderiam estar mais motivados a participar. Essas diferenças na idade e no tempo na PM eram esperadas, uma vez que para atingir postos hierárquicos mais graduados é necessário maior tempo de preparação e, consequentemente, maior idade.

Quanto à escolaridade, constatou-se que 81,8% dos participantes apresentaram Ensino Superior Completo e destes 29,5% apresentaram Pós- Graduação. Esses percentuais foram mais elevados que os encontrados por Pinto et al. (2013) em policiais civis do Estado do Rio de Janeiro, uma vez que destes 53,4% tinham o nível superior completo e 6,8% Pós-Graduação. Embora haja diferenças regionais entre ambos os estudos e mesmo nos grupos do estudo de Pinto et al. (2013) (policiais advindos da Capital, Baixada Fluminense e Interior do Rio de Janeiro) pode-se considerar que o grau de escolaridade da presente amostra foi alto, possibilitando assim entendimento pelos participantes sobre a metodologia

proposta.

Os valores do IMC apresentaram variabilidade, como esperado, sendo a média da amostra total de 25,7 Kg/m2, indicativo de sobrepeso. Não houve diferença

estatística significativa entre os postos hierárquicos, mas os valores médios foram ligeiramente mais elevados para os graus superiores, provavelmente relacionados com o aumento da idade. Observou-se também que 20 participantes (45%) apresentaram-se com IMC maior que 25 Kg/m2, caracterizando-os com sobrepeso e

obesidade. Esses valores estão abaixo da população brasileira, pois 52,5% dos brasileiros estão acima do peso (Brasil, 2014). No entanto, o valor de 45% pode ser considerado relevante para uma corporação militar, uma vez que o sobrepeso e a obesidade têm sido considerados problema de saúde pública (WHO, 2005). Essas condições aumentam o risco de doenças, tais como diabetes tipo II, hipertensão, doenças cardíacas, aterosclerose, entre outras. O IMC é um critério bastante utilizado para mensurar o estado nutricional dos indívíduos de acordo com a Organização Mundial de Saúde, mas deve-se considerar que apresenta limitação, pois embora seja um marcador substituto para o conteúdo adiposo, não estima diretamente a adiposidade, uma vez que não possibilita distinguir massa muscular da massa adiposa (Guyton e Hall, 2011; De Lorenzo et al., 2013).

Para avaliação do estresse (Tabela 2) utilizou-se a escala PSS-10 (Cohen et al., 1983), instrumento psicométrico validado para o Português brasileiro por Reis et al. (2010). A aplicação da PSS-10 mostrou confiabilidade, uma vez que o valor do alfa de Cronbach foi 0,83; além disto, nenhuma questão precisou ser deletada para garantir propriedades psicométricas adequadas (APÊNDICE 3), o que está de acordo com a validação deste instrumento na língua portuguesa (Reis et al., 2010). No entanto, observou-se grande variabilidade na respectiva pontuação (5 a 38 pontos), mas os escores não diferiram entre os dois postos hierárquicos considerados. A média da PSS-10 obtida no presente estudo (20,2 ± 6,7) apresentou-se significativamente acima da encontrada por Reis et al. (2010) na população de professores do sexo masculino do Sul do Brasil (16,18 ± 7,37) (teste t, resumo amostral P<0,001). Apesar deste resultado significativo, que infere percepção de estresse mais elevada na amostra do presente estudo, e o fato de ambas as populações serem da mesma região do Brasil, a respectiva interpretação deve ser cautelosa por causa de diferenças no ambiente de trabalho e no tamanho das amostras de cada estudo; no estudo de Reis (2005) o número de participantes

do sexo masculino foi 471. No entanto, Maia et al. (2015), em estudo prospectivo com 287 policiais de academia de policia de um estado no meio-oeste brasileiro, verificaram alta susceptibilidade ao estresse nestes. Neste contexto, Walvekar et al. (2015) encontraram 38% dos policiais com valores acima do da mediana da PSS na versão com 14 questões, cujos escores variam de 0 a 56. Esses achados inferem que o estresse nos policiais pode ser superior ao de outras categorias profissionais, como também considerado por Bezerra et al. (2013), Maia et al. (2015) e Charles et al. (2016), evidenciando o ambiente de trabalho como fator de influência. Vale ainda ressaltar que 27,3% participantes da presente amostra tiveram a pontuação da PSS- 10 no terceiro quartil, considerada como percepção elevada de estresse, o que corrobora Reis (2005) que observou 22% dos professores com pontuação no respectivo quartil. A percepção moderada do estresse ocorreu em 43,2% dos participantes, resultado este que não deve ser negligenciado.

A avaliação dos analitos biológicos na saliva apresenta grande vantagem por possibilitar coleta não invasiva. Sendo assim, foram quantificados na saliva o cortisol, alfa amilase, PCR e glicose (Tabela 3).

O cortisol tem sido considerado um biomarcador do estresse, pois indica a atividade do eixo HPA e com consequente ação sobre o SNC (McEwen e Kalia, 2010). No entanto, um dos grandes desafios na caracterização e padronização da curva de cortisol diária refere-se à variabilidade nas medidas ao longo do tempo (Wang et al., 2014). Estudos têm mostrado que vários dias de amostragem fornecem estimativa mais confiável da atividade HPA, pois são menos vulneráveis a influências pontuais (Inslicht et al., 2011). No entanto, Wang et al. (2014) observaram estabilidade em várias coletas em dias diferentes para a área sob a curva seguida pelos valores ao despertar. A partir dessas constatações, nosso estudo verificou a reprodutibilidade da quantificação do cortisol salivar em duas avaliações com intervalo de sete dias em 25 participantes que concordaram em realizar as respectivas coletas (APÊNDICE 4). Como não houve diferença estatística nos valores entre os dois dias, consideramos os dados de uma coleta para incluir os dados de todos os participantes.

A maioria dos participantes apresentou resultados de cortisol salivar dentro da normalidade, conforme os valores de referência (ANEXO 4), embora 11,4% tenha apresentado alterações (Tabela 6). Entre os participantes com escore na PSS-10 no quartil 75%, os valores do cortisol estavam dentro dos limites de

referência entre os soldados, mas nos graduados, dois apresentaram valores abaixo dos de referência. Possivelmente em virtude de uma condição de estresse crônico. Estes dois também apresentaram a maior pontuação na PSS-10. Nas quantificações do cortisol salivar não foi observada diferença estatística significativa entre os dois grupos hierárquicos estudados. Este resultado concorda com Wirth et al. (2013) que também não observaram diferenças estatisticamente significativas para o cortisol salivar entre os postos hierárquicos em policiais da cidade de Buffalo (New York, USA), considerando os turnos de trabalho. Há que considerar a possibilidade de ter ocorrido atrasos no início da coleta da saliva em domicilio, o que pode ter interferido nos resultados (Inslicht et al., 2011; Smyth et al., 2015). Além disso, características individuais podem modular o impacto do estresse crônico no sistema HPA (Castelo et al., 2012). Entre policiais, o constante estado de preparação para o trabalho pode ser um fator determinante (Inslicht et al., 2011), o que pode estar relacionado com a amostra estudada, além das características individuais.

Como a enzima alfa amilase é considerada marcadora de atividade do SNS, uma vez que foram relatados aumentos induzidos pelo estresse (Payne et al. 2007; Kang, 2010), considerou-se de importância quantificá-la. Entretanto, a quantificação da AAS como medida da reatividade ao estresse é um fenômeno relativamente novo (Spinrad et al., 2009).

Observou-se grande variabilidade nos valores da AAS no presente estudo, no entanto dentro da normalidade de acordo com Strahler et al. (2010). Valores de referência não estão ainda disponibilizados. Tal variabilidade pode ser atribuída aos horários de coleta e fatores não controlados no atendimento ao protocolo. A reprodutibilidade da quantificação da AAS mostrou valores similares entre as duas coletas. Sendo assim, como na quantificação do cortisol, optamos por analisar os dados de um dia de coleta, considerando os dados da amostra total. Entre os participantes com escore na PSS-10 no quartil 75%, os valores da AAS variaram de 0,2 a 38,9 U/mL entre os soldados e de 0,2 a 116,3 U/mL entre os graduados. Não observamos correlação do cortisol com a AAS, o que é corroborado por Nater et al. (2006), esclarecendo que as pesquisas têm mostrado correlações não significativas entre cortisol e AAS em adultos (Furlan et al., 2012; Nater et al. 2013; Wilcox et al., 2014). Fortunato et al. (2008), pesquisando estresse em crianças, concluem que os sistemas fisiológicos associados ao estresse, eixo HPA e SNS podem agir diferentemente dependendo dos comportamentos específicos do

contexto que são desencadeados, como observado por Amato et al. (2015) em crianças asmáticas, uma vez que os valores de cortisol salivar e AAS apresentaram direções opostas. Em linha com os presentes resultados, van den Bos et al. (2014) também não encontraram correlação entre cortisol e AAS ao avaliar policiais em treinamento.

Esta pesquisa envolveu ainda avaliações de variáveis plasmáticas e biológicas, uma vez que as condições de trabalho e o estresse podem provocar alterações metabólicas (Lang e Borgwardt, 2013).

Quando consideramos os parâmetros biológicos analisados (Tabela 4) não houve diferença estatística entre os distintos postos hierárquicos, exceto para o colesterol, que foi significativamente maior nos graduados; embora, a PAS estivesse alterada em 50% dos participantes, a PAD em 41%, o colesterol em 16% e o HDL-C em 55% (Tabela 6). Estes resultados estão em linha com Walvekar et al. (2015), que verificaram que dentre 108 policiais na Índia, 38% apresentaram variáveis indicadoras de SM; Fontes et al. (2016), em pesquisa com 115 policiais militares na cidade de Aracajú (Sergipe, BR), encontraram resultados semelhantes para o IMC, hipertensão e níveis de HDL-C. Embora, tratem de pesquisas em regiões e populações distintas da analisada neste trabalho, os resultados são similares.

Dentre as variáveis plasmáticas, destaca-se a PCR em 66% dos participantes com valores na faixa de 1 a 3 mg/L, a qual caracteriza médio risco para DCV, 18% com valores maiores 3 mg/L que caracteriza alto risco à DCV (Tabela 6), de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2016). Wilson et al. (2008) acompanharam um grupo de indivíduos durante 12 anos e observaram associação significativa entre DCV com níveis de PCR mais elevados. A PCR é ainda considerada um marcador inflamatório quando o valor encontra-se acima de 10,0 mg/L (Danese et al., 2007; Silva e Lacerda, 2012; Hepgul et al., 2012; Heath et al., 2013). Neste contexto, considerando-se a alta porcentagem dos participantes que se enquadraram na faixa de médio e alto risco à DCV de acordo com os valores da PCR sérica e, ainda, que houve correlação positiva significativa entre IMC e PCR (Tabela 5), esta variável torna-se relevante no contexto geral das avaliações. Um ponto que pode ser considerado como limitação do presente estudo é a avaliação plasmática realizada apenas em uma coleta. O mais indicado seria a média de dois ensaios, um em jejum e outro não, no intervalo de duas semanas, de modo a prover estimativa mais acurada do risco cardiovascular pela quantificação da PCR,

diminuindo assim a variabilidade interindividual (Morrow, 2016). Confirmando-se o risco médio de DCV, indica-se monitoramento regular da PCR, bem como modificações na rotina de trabalho e no estilo de vida e quando os valores forem maiores ou iguais a 2,0 mg/L, a utilização de medicação apropriada.

Algumas variáveis que fazem parte dos critérios de diagnóstico da SM, como a pressão arterial e HDL-C (Ridker et al., 2003; I Diretriz Brasileira, 2005; Bovea et al., 2010; Ferreira et al., 2011; Lizarzaburu Robles, 2013; Barbosa e Silva, 2013) apresentaram considerável frequência na amostra avaliada, o que pode contribuir para o aumento do risco de DCV (Ridker et al., 2003; Barbosa e Silva, 2013). Além desses, os valores de PCR mostraram-se alterados em 84% dos participantes. Esses fatores tornam-se preocupantes, pois em médio e longo prazo podem trazer consequências deletérias à saúde dos participantes. No mais, 27,3% dos participantes apresentaram percepção elevada de estresse. Deve-se considerar ainda a alta frequência de sobrepeso e obesidade, parâmetros estes que podem estar associados ao estado pró-inflamatório envolvido no desenvolvimento de aterosclerose (Bovea et al., 2010; Fontes et al., 2016). Estas ponderações se tornam ainda mais relevantes ao observarmos as correlações significatívas entre as variáveis do presente estudo (Tabela 5) e a frequência dos fatores alterados (Tabela 6). Isto infere que medidas preventivas e de intervenção devem ser instituidas para prover adequadas condições de saúde aos policiais, o que pode contribuir para o bom desempenho no ambiente de trabalho e melhora na qualidade de vida.

Encontramos como limitações neste trabalho a baixa adesão dos policiais,

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