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3. ESTUDO DE CASO–POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA (1995 – 2016)

3.3 Análise

Construído o entendimento até aqui, não só a respeito do comércio, das políticas comerciais e de suas aplicações no contexto brasileiro, é importante compreender a perspectiva macro para que as conclusões possam ser traçadas na tentativa de realizar algumas inferências.

Incialmente, é importante observar a evolução das importações brasileiras ao longo do período. Como demonstrado abaixo - por meio do gráfico criado a partir dos dados disponibilizados pelo MDIC - percebe-se um movimento de aumento das importações brasileiras entre os anos de 1998 e 2008. Entre 2008 e 2009 há uma redução das importações que voltam a crescer no ano seguinte, mantendo a trajetória de aumento até o ano de 2013, quando voltam a cair novamente. No entanto, mesmo com as oscilações em termos de valores das importações no período – possivelmente explicadas por fatores conjunturais, como a crise de 2008 e o desaquecimento da economia brasileira a partir de 2014, observa-se, comparativamente, um aumento das importações entre 1998 e 2016.

Gráfico 7: Importação brasileira (valores em US$)

Fonte: Dados extraídos do MDIC. Elaboração própria.

Outro dado de grande representatividade na análise é o percentual que as importações brasileiras representam no Produto Interno Bruto do país. Através do gráfico 8 é possível perceber o movimento que se passou ao longo dos anos, não somente em termos da relevância que a importação possui no cenário econômico internacional e doméstico.

Para a construção desse gráfico, foram coletados os dados do Produto Interno Bruto brasileiro entre os anos de 1996 e 2015 em dólar corrente, na base de dados World Development Indicators, disponibilizada pelo Banco Mundial. A base, até o momento, foi atualizada pela última vez no dia 08 de fevereiro de 2017. Os dados do volume total de importação do Brasil para o mundo em dólares foram obtidos através da plataforma World Integrated Trade Solutions (WITS), entre os anos de 1996 e 2015, assim como o PIB. Tomando esses dados acima, uma razão entre o total de importação anual e o PIB de mesmo ano foi estabelecida com a finalidade de identificar quantos por cento do PIB brasileiro representa e qual a sua evolução. 0 20.000.000.000 40.000.000.000 60.000.000.000 80.000.000.000 100.000.000.000 120.000.000.000 140.000.000.000 160.000.000.000 180.000.000.000 1998199920002001200220032004200520062007200820092010201120122013201420152016

Gráfico 8: Importação/PIB brasileiro (%)

Fonte: Elaboração própria.

Através do gráfico, é possível inferir que, apesar da expressiva oscilação da razão Importação/PIB, a linha de tendência revela um aumento do percentual que a importação representa no Produto Interno Bruto. Tal fato leva a refletir sobre as diversas mudanças ao longo do período de análise, mudanças essas em termos macro e micro, como o uso das políticas comerciais, em especial aquelas aplicadas no Brasil.

Outro fator que deve ser observado na tentativa de compreender a estrutura das políticas comerciais aplicadas são as controvérsias registradas pela OMC. De acordo com a organização, o Brasil enfrentou, como reclamado, 16 casos para solução de disputas, sendo que 5 casos foram iniciados pela União Europeia e 4 casos pelos Estados Unidos. A China por exemplo, respondeu a 39 casos até o presente momento, os Estados Unidos a 130 e a União Europeia a 84 casos. Tais dados permitem inferir, comparativamente, que o Brasil possui um pequeno volume de reclamações a respeito de suas políticas comerciais. O mapa abaixo permite entender melhor a situação brasileira como reclamado.

4,00% 5,00% 6,00% 7,00% 8,00% 9,00% 10,00% 11,00% 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Ao observar o fator abertura do Brasil, é importante atentar para as tarifas médias e traçar um comparativo entre as nações. De acordo com Carlos Braga, em sua apresentação pelo 17º Seminário sobre Comércio Internacional, o mesmo pontuou que a tarifa média de importação brasileira é de 13,5%, o que é mais alta do que a União Europeia, Estados Unidos, Canadá, China, Índia e diversos outros países como evidenciado no mapa abaixo.

Fonte: WTO, 2017.

Fonte: BRAGA, 2017.

Quanto à participação brasileira na Cadeia Global de Valor (CGV), em comparação com o grau de abertura (total de bens comercializados em % do PIB), é possível observar que o Brasil possui uma das menores participações nas CGV, assim como a menor abertura. O dado foi apresentado por Carlos Braga durante o seminário e tem como fonte base o Banco Mundial e a UNCTAD. Vale destacar que, além de estar mal posicionado em termos desses dois indicadores apresentados acima, o Brasil, dentre o G20, ocupa a quinta posição em termos de implementação de medidas protecionistas, de acordo com dado disponibilizado por Braga durante apresentação.

Além de tarifas mais elevadas, em termos de alíquota de importação, percebe-se no Brasil uma postura mais fechada, o que se infere ter implicação sobre a participação do país nas Cadeias Globais de Valor.

Vale observar também as medidas antidumping aplicadas entre 1995 e 2016. O gráfico abaixo apresenta os 10 países que mais aplicaram medidas desse tipo durante o período destacado. O Brasil ocupa o quinto lugar, em termos de medidas aplicadas, ficando atrás apenas da Índia, Estados Unidos, União Europeia e Argentina. Tal fato demonstra uma considerável utilização do instrumento pelo Brasil (WTO,2017).

Fonte: BRAGA, 2017.

Fonte: Elaboração própria. Dados: WTO, 2017.

Observando o contexto, a evolução das tarifas aplicadas pelo Brasil é indicativa de que, no que se refere às medidas tarifárias, houve um aumento do grau de exposição do Brasil à concorrência internacional, inclusive sinalizado pela tendência de aumento do percentual das importações sobre o PIB. Não obstante, a proteção tarifária ainda é elevada quando comparada à proteção também tarifária conferida por outros países. Atentando para os acordos comerciais firmados pelo Brasil, é possível perceber a pouca relevância dos países parceiros em relação ao volume de importações brasileiras. A ideia é que os acordos fossem capazes de intensificar a abertura entre as nações, mas diante da pouca representatividade da maioria dos parceiros, o efeito não foi marcante.

Quando se observa as medidas não tarifárias, a intensificação da utilização de medidas antidumping, poderia ser interpretada como um indicador do viés protecionista na política comercial brasileira. No entanto, deve-se tomar cuidado com esse tipo de conclusão, uma vez que o aumento do número de medidas reflete não uma mudança na postura do governo, mas sim o aumento do número de pedidos de abertura de investigação no período recente.

Somente observando os dados apresentados e compreendendo o contexto mundial e a inserção do Brasil nele é possível discutir a aplicação das políticas comerciais e o processo liberal comercial. Não há consenso sobre as melhores práticas ou mesmo sobre os efeitos das políticas implementadas. No entanto, não resta dúvida quanto a relevância que o comércio possui para o Brasil e as demais nações. 599 368 310 239 233 184 174 137 135 133 0 100 200 300 400 500 600 700 Índia Estado Unidos União Européia

Argentina Brasil Cina Turquia África do

Sul

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