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PARTE III – Resultados e Discussão

Capítulo 7 – Análise e discussão dos resultados

7.1.4. Análise fatorial exploratória

A análise fatorial é uma técnica exploratória multivariada que permite a representação das variáveis originais num número mais reduzido de fatores. Procedeu- se a esta análise com o objetivo de encontrar um número reduzido de fatores latentes que explique a estrutura correlacional das variáveis em estudo (Marôco, 2010). Tomou- se a decisão de, num primeiro momento, proceder-se a uma análise fatorial exploratória de forma a identificar os fatores subjacentes ao grupo de variáveis, sem determinar em que medida os resultados se ajustariam a um modelo específico. Num segundo momento, procedemos ao estudo da análise fatorial confirmatória, com o intuito de comparar os resultados obtidos com os que constituem o quadro teórico, neste caso, o modelo multidimensional da adaptabilidade de carreira.

Neste sentido, a análise fatorial exploratória foi efetuada com extração pelo método da factorização do eixo principal (principal axis factoring)32 (Costelo e Osborne, 2005). Para se aplicar este modelo, foi necessário aferir a qualidade das

32 Como a distribuição dos resultados não apresenta uma distribuição normal, utilizou-se o método da factorização

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correlações entre as variáveis em estudo. Com efeito, o valor da medida da adequação da amostragem Kaiser-Meyen-Olkin (KMO) foi de .92, o que significa que é uma excelente recomendação à análise fatorial (Marôco, 2010). O teste de Esfericidade de Bartlett apresenta um p-value < .001, concluindo-se assim que as variáveis estão correlacionadas significativamente.

Reunidas as condições para a prossecução da análise fatorial, procedeu-se à definição do número de fatores mínimos a reter para descrever os dados. Tendo em conta o critério de Kaiser, pelo qual se escolhem os fatores cuja variância explicada é superior a 1 (initial eigenvalues >1) (Marôco, 2010), os resultados sugerem a retenção de 6 fatores, que explicam 61.9% da variância total. No entanto, apesar de ser amplamente conhecido e utilizado, segundo Costello e Osborne (2005), este procedimento pode ser pouco preciso, sugerindo assim como uma alternativa adequada a aplicação do teste de Catell (scree test). Ao efetuar este teste, a análise do scree plot dos resultados da Escala sobre Adaptabilidade, sugere a retenção de 4 fatores, que explicam 53.9% da variância total, conforme se apresenta na figura 7.1.

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Perante estes resultados e, considerando que (i) o número de fatores a reter deve, pelo menos, explicar 50% da variância total (Marôco, 2010), e (ii) o modelo teórico da adaptabilidade subjacente à construção da Escala sobre Adaptabilidade considera a existência de quatro dimensões de carreira, tomou-se a decisão de reter os quatro fatores, previstos teoricamente, que explicam 53.9% da variância total.

O procedimento utilizado para a rotação dos eixos fatoriais foi a rotação oblíqua através do método oblimin, a qual permite que os fatores estejam correlacionados entre si (Pestana & Gajeiro, 2008).

No quadro 7.6 apresenta-se a matriz dos fatores, evidenciando-se os pesos fatoriais (loadings) de cada item nos quatro fatores encontrados, assim como as comunalidades. Apresenta-se também a percentagem da variância total explicada por cada fator.

O primeiro fator que encontramos na matriz explica 35.03% da variância total. Este fator integra todos os itens da dimensão Controlo e três itens da dimensão Confiança (item 26= Ultrapassar obstáculos; item 27= Resolver problemas; item 28=

Enfrentar desafios). Embora estes itens apresentem saturações mais elevadas neste

fator, os itens 26 e 27 também apresentam saturações acima de .50 no Fator II, que contempla quatro itens da dimensão Confiança. Interessante notar que na análise das intercorrelações anteriormente realizada, estes três itens da Confiança eram os que apresentavam mais correlações moderadas com os itens do Controlo. Ao analisar o conteúdo destes itens, a capacidade para lidar com adversidades e enfrentar desafios poderá ter sido entendida mais numa perspetiva de responsabilização e controlo do indivíduo pelo seu percurso e pelas decisões de carreira tomadas, do que numa perspetiva de confiança para resolver problemas e ultrapassar dificuldades.

O segundo fator, que explica 7.97% da variância, engloba todos os itens da dimensão Preocupação. Este fator está direcionado para o planeamento de carreira e de orientação para o futuro.

O terceiro fator explica 5.49% da variância e concentra quatro itens da dimensão Confiança (item 22= Realizar tarefas de forma eficiente; item 23= Ser consciencioso(a)

e fazer as coisas bem; item 24= Desenvolver novas competências; item 25= Dar sempre o meu melhor). O conteúdo destes itens reflete uma capacidade de trabalhar

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Por último, o quarto fator explica 5.38% e agrega todos os itens da dimensão Curiosidade. Caracteriza-se pela capacidade para explorar possíveis selfs e cenários futuros.

Quadro 7. 6: Escala sobre Adaptabilidade - Análise fatorial exploratória (factorização do eixo principal) com rotação oblimin

Itens I II III IV Comu

nalidades P re o cu pa çã o

1. Planear as coisas importantes antes de começar .33 .44 .32 .35 .27

2. Pensar como vai ser o meu futuro .12 .67 .09 .12 .47

3. Compreender que as escolhas de hoje influenciam o meu futuro .18 .57 .23 .24 .34

4. Preparar-me para o futuro .29 .75 .19 .34 .58

5. Tomar consciência das escolhas de carreira que tenho de fazer .27 .69 .23 .31 .49

6. Planear como alcançar os meus objetivos .39 .64 .27 .46 .51

7. Estar preocupado(a) com a minha carreira .18 .44 .30 .20 .23

Co

nt

ro

lo

8. Manter sempre o ânimo .62 .16 .19 .33 .40

9. Tomar decisões por mim próprio(a) .61 .33 .31 .47 .43

10. Assumir a responsabilidade pelos meus actos .56 .27 .45 .43 .39

11. Defender as minhas convicções .58 .27 .35 .36 .36

12. Contar comigo próprio(a) .67 .26 .44 .36 .48

13. Fazer o que é melhor para mim .51 .32 .34 .32 .31

14. Arranjar forças para continuar .74 .24 .29 .37 .55

Curio

sida

de

15. Explorar aquilo que me rodeia .43 .25 .25 .63 .42

16. Procurar oportunidades para me desenvolver como pessoa .45 .25 .32 .61 .41 17. Explorar alternativas antes de fazer uma escolha .36 .29 .27 .76 .59 18. Estar atento(a) às diferentes maneiras de fazer as coisas .34 .28 .37 .71 .52 19. Analisar de forma aprofundada questões que me dizem

respeito .38 .24 .42 .59 .40

20. Procurar informação sobre as escolhas que tenho de fazer .39 .37 .47 .65 .50

21. Ser curioso(a) sobre novas oportunidades .42 .34 .41 .60 .42

Co

nfia

nça

22. Realizar tarefas de forma eficiente .39 .27 .81 .42 .67

23. Ser consciencioso(a) e fazer as coisas bem .35 .29 .86 .35 .74

24. Desenvolver novas competências .46 .27 .60 .49 .46

25. Dar sempre o meu melhor .46 .24 .72 .38 .55

26. Ultrapassar obstáculos .69 .27 .52 .48 .56

27. Resolver problemas .67 .25 .56 .46 .56

28. Enfrentar desafios .66 .24 .47 .51 .51

% variância explicada 35.03 7.97 5.49 5.38

% variância explicada acumulada 35.03 42.99 48.48 53.86

KMO .92

Teste de Bartlett 5.784.197 p<.000

Assinalam-se, a negrito, as correlações iguais ou superiores a .50.

Em síntese, e numa perspetiva do modelo da adaptabilidade de carreira preconizado por Savickas (2002, 2005), estes resultados sugerem que, de um modo

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geral, o Fator I traduz a dimensão Controlo, o Fator II a dimensão Preocupação, e o Fator IV a dimensão Curiosidade. A dimensão Confiança é partilhada pelos Fatores I e III.

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