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3 COMO OS AFRO-DESCENDETES SÃO RETRATADOS NOS FILMES

3.2 ANÁLISE DO FILME DJANGO LIVRE

O filme Django Livre é do gênero ação-faroeste ambientado nos Estados Unidos em torno de 1861.

Na história, Jamie Foxx interpreta Django, um escravo cujo histórico de brutalidade com seus ex-senhores o leva de encontro ao caçador de recompensas alemão, Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Schultz está a procura dos irmãos Brittle e, para isso, compra Django, com a promessa de libertá-lo após o serviço, pois o escravo é o único capaz de reconhecê-los, logo, de ajudar Dr. Schultz. Com o serviço cumprido, Schultz cumpre sua promessa e liberta Django, mas os dois não se separam, pelo contrário, eles começam a caçar os criminosos mais perigosos do sul dos Estados Unidos juntos.

Tendo grande talento como atirador, Django aperfeiçoa suas habilidades e permanece focado em um único objetivo: encontrar e resgatar Broomhilda (Kerry Washington), sua esposa que foi vendida por traficantes de escravos há muito tempo. A busca por Broomhilda acaba levando os dois caçadores até Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), proprietário de uma fazenda onde os escravos são treinados para lutar entre si, a famosa “Candyland”. Explorando a fazenda com falsas identidades e pretensões, Django e Dr. Schultz despertam a desconfiança de Stephen (Samuel L. Jackson), o escravo de confiança de Candie, e a partir daí suas manobras começam a percebidas. Quando Candie se dá conta da armação dos dois, ele os força a tomar atitudes rápidas e decisivas, o que acaba irritando Dr. Schultz e o leva a assassinar Calvin friamente. Como consequência do disparo, inicia-se um tiroteio com Django de um lado e os capangas de Candie do outro, tiroteio que só termina quando estes usam Broomhilda para chantagear Django e fazê-lo se render.

Uma vez rendido, Django é aprisionado até que a irmã de Candie decide entregá-lo para uma companhia de mineração, a Mineradora LeQuint Dickey , pois percebeu que lá ele sofreria muito mais do que com qualquer outro castigo que lhe fosse aplicado. Porém, Django consegue enganar os capatazes da cia., se libertar e voltar para Candyland para finalizar sua vingança. Assim, depois de matar os capangas e a irmã de Candie, libertar os escravos e deixar Stephen agonizando com os dois tiros que levou, Django explode a casa e foge com Broomhilda, que agora é uma escrava livre assim como ele.

A expressão “indústria cultural” foi concebida por Adorno e Horkheimer na obra A dialética do esclarecimento e faz referência ao conceito marxista de

fetiche da mercadoria, ou seja, “convertida em mercadoria, coisificada em produtos agora regidos por seu valor de troca, a cultura se converte em apenas mais um ramo de produção do capitalismo avançado.” (FRANÇA, SIMÕES, 2004, p.10). Em outras palavras, trata-se de uma forma de indústria particular, mas que se comporta como qualquer outra, visando a produção e mercantilização da cultura e sua distribuição em larga escala. Por isso, Adorno e Horkheimer afirmam que a indústria cultural integra um projeto de dominação da sociedade capitalista.

Segundo esta escola, cultura é tudo aquilo capaz de levar o homem à libertação/emancipação e justamente por isto não deve se submeter ou se aproximar da vida material, pelo contrário, deve manter-se distante desta. Dentro do mesmo conceito, é feita ainda uma divisão entre arte superior (ou erudita) e arte inferior (ou popular): enquanto a arte superior possui mais rebuscamento, a inferior é mais popular e não possui tanta capacidade de levar os sujeitos à emancipação quanto a primeira.

No entanto, o que eles notam é que a cultura, ao invés de se distanciar da realidade, está cada vez mais impregnada por ela no sentido de que ela também é parte integrante do mundo material dos homens. Há aqui certa confusão com o conceito e o papel da arte, pois “a verdadeira arte não é aquela que aproxima suas obras da realidade, que retrata a realidade mas, ao contrário, aquela que contraria, que nega.” (FRANÇA, SIMÕES, 2004, p.11) Assim, “resta” para a cultura o papel de resgatar e promover a individualidade, pois é a singularidade que enriquece a arte, enquanto a massificação faz com que ela perca sua autenticidade. É por este motivo que Adorno e Horkheimer fazem uso do termo indústria cultural e não cultura de massa, uma vez que o que acontece (segundo eles) é a mercantilização da cultura a partir de um segmento da sociedade.

Nos seus 165 minutos de duração, “Django Livre” aborda a temática comum ao gênero faroeste, como a rivalidade entre mocinho e bandido, amor, amizade e lealdade, por exemplo, sob o comando diferenciado de Quentin Tarantino. Tarantino é um diretor norte-americano que se tornou famoso pela utilização de diálogos aguçados, cronologia fragmentada e violência explícita.

Em “Django Livre”, Tarantino abusa de tais características ao fazer uso de violência do começo ao fim da história, sempre com tiroteios exagerados e

(muito) sangue jorrando dos corpos e “colorindo” quase todos os elementos da cena, como na sequência em que Dr. Schultz atira em um dos irmãos Brittle que fugia pela plantação de algodão e, ao ser atingido pelo tiro, seu sangue respinga sobre as plantas pintando-as de vermelho. Além da violência, os diálogos (que são longos, certas vezes) também são marcantes, pois ao mesmo tempo em que alguns são mais filosóficos e éticos, como na cena em que Django hesita em matar um foragido na frente de seu filho, outros se desenvolvem de maneira cômica, como notamos na sequência que Calvin Candie insiste que Dr. Schultz aperte sua mão para selar a venda de Broomhilda.

Como mencionado acima, o ato de reafirmar seu estilo de trabalho está de acordo com as ideias de Adorno quando este diz não existir individualidade nas produções da indústria cultural. O que existe são padrões a serem seguidos e o que Tarantino fez neste filme foi utilizar seu próprio padrão/estilo para abordar temáticas recorrentes no gênero escolhido e assim causar a sensação de inovação (a chamada “pseudoindividualidade” de Adorno, ou seja, quando algo parece ser diferente, mas no fundo é apenas mais do mesmo).

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