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Análise Global da Gestão do Lado da Procura de Energia Elétrica

7. Políticas de Eficiência Energética Brasileiras: no bom caminho?

7.4. Análise Global da Gestão do Lado da Procura de Energia Elétrica

Para Sarkar e Singh (2010), algumas das principais barreiras que afetam em maior amplitude os países em desenvolvimento, para além das “tradicionais” barreiras comuns à generalidade dos mercados energéticos, são a falta de consenso acerca das melhores práticas para promover a EE; a carência de soluções, projeto a projeto, para responder aos desafios; o excesso de confiança nos programas modelo de EE dos países desenvolvidos, que devem ser “guias” mas necessitam de adaptações às situações específicas de cada país; a falta de dados de EE (ex. indicadores com qualidade que se sejam reconhecidos internacionalmente); governação pobre em EE; o mercado de EE de dimensão reduzida; e a falta de instituições e de capacidade logística.

Considerando os principais instrumentos de gestão do lado da procura explicitados no capítulo 3, elabora-se o quadro 7.4 que pretende cruzar a atuação do PEE e do PROCEL com alguns dos instrumentos de DSM explicitados, nomeadamente os standards de equipamentos,

incentivos, programas de informação e mecanismos obrigatórios218.

Quadro 7.4: Correspondência dos programas PROCEL e PEE com alguns instrumentos de DSM.

Instrumentos de DSM PEE PROCEL

Standards de Equipamentos X X

Incentivos X

Programas de Informação X

Mecanismo Obrigatório X

Pela observação do quadro, verifica-se que o PROCEL, sendo um programa de informação, também agrega em si outros instrumentos de DSM, como sejam a utilização de incentivos e de standards de equipamentos elétricos. O PROCEL desempenha essencialmente o papel de programa de informação por via dos subprogramas PROCEL Marketing e PROCEL Educação, quer por meio de campanhas de sensibilização de todas as faixas etárias da população através de palestras nas escolas, empresas e comunidades, pela entrega de prémios para

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Os últimos não são considerados, na literatura analisada, como sendo instrumentos de DSM para minimizar e/ou eliminar falhas e barreiras de mercado.

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estimular as ações de EE e de conservação de energia tanto de empresas como de outras

entidades (públicas ou privadas), entre outras ações desenvolvidas219.

Este programa também utiliza incentivos, por exemplo, há alguns anos atrás era concedido um determinado montante monetário aquando da troca de equipamentos antigos pouco eficientes por aparelhos novos energeticamente eficientes (Salvador, 2011).

No que concerne aos standards de equipamentos elétricos, o PROCEL, por via do Selo PROCEL juntamente com o INMETRO e o PBE, têm vindo a certificar vários aparelhos, como por exemplo frigoríficos, arcas congeladoras e ar condicionados, notando-se uma evolução positiva do número de categorias de equipamentos elétricos abarcados e do número de fabricantes que aderiram ao processo. Atualmente a certificação energética abrange uma grande panóplia de aparelhos – a título de exemplo, a etiquetagem de painéis solares já é efetuada, mas de carácter voluntário, contudo estima-se que dentro em breve passe a ser obrigatória (Eletrobras/PROCEL, 2012). Assim, espera-se que gradativamente novos equipamentos terão os seus índices de eficiência mínimos ou níveis máximos de consumo de energia definidos, o que certamente se refletirá nos valores do consumo futuro de energia elétrica (Eletrobras/PROCEL, 2007a).

Por outro lado, o PEE tem um âmbito bastante distinto do PROCEL, sendo um mecanismo obrigatório para as distribuidoras de energia elétrica, que têm a obrigatoriedade de investir 0,5% da sua ROL em projetos de PEE, em que 60% desse montante deve ser dirigido a projetos de “baixa renda”. Refira-se que o facto deste programa da ANEEL incidir maioritariamente em projetos de baixa renda faz com que o efeito free rider das medidas implementadas seja reduzido.

Crê-se que o carácter social do âmbito do PEE poderia ser favorecido por sinergias (acrescidas) com os outros programas de eficiência energética brasileiros, entre os quais o PROCEL. Não obstante, importa salientar que, apesar de existirem poucas sinergias ambos os programas, os projetos de PEE utilizam equipamentos com Selo PROCEL (ex. aquecedores, equipamento de refrigeração, etc.) e ambos os programas participam conjuntamente em alguns projetos educacionais.

Em relação aos projetos de PEE na indústria, constata-se que os montantes investidos nestes tipos de projetos são reduzidos, o que pode ser explicitado pelo facto de as concessionárias não terem incentivos financeiros e/ou energéticos nos contratos performance com os seus clientes de energia elétrica. Tal induz, considerando a inexistência de problemas de carga, que a concessionária não tenha interesse em diminuir as suas vendas por intermédio da sua ação na redução do consumo, ainda mais tratando-se de grandes clientes. “A experiência

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tem mostrado que as distribuidoras se interessam mais com a gestão dos Programas de Eficiência Energética quando as mesmas passam a reconhecer nessa atividade oportunidades para auferirem ganhos económicos, principalmente quando existem incentivos tarifários”. Haddad e Salume (2010) referem, neste seguimento, que se as empresas distribuidoras partilharem ganhos económicos dos contratos de desempenho teriam mais incentivos para os desenvolverem e, deste modo, potenciando poupanças energéticas superiores em relação ao cenário atual.

Em suma, as políticas de EE brasileiras têm evoluído de uma forma bastante positiva nos últimos anos, com especial destaque para as ações empreendidas pelo PROCEL e pelo PEE e para as consequentes poupanças energéticas alcançadas. Todavia, é necessário seguir o trajeto iniciado e reforçar a aposta na promoção de EE e de conservação de energia elétrica, adaptando os programas a novas realidades e novos desafios que vão surgindo ao longo do tempo, pois a implementação dos programas de DSM é difícil e requer um foco dedicado de longo prazo (Sarkar & Singh, 2010).

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