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Síntese da literatura de DSM

3. Gestão do Lado da Procura

3.5. Síntese da literatura de DSM

3.5. Síntese da literatura de DSM

Esta secção tem a finalidade de efetuar uma análise global da literatura estudada7,

patente no quadro 3.7, de modo a inferir acerca das principais temáticas debatidas na área de DSM e de eventuais lacunas de investigação que possibilitem a realização de estudos futuros.

Quadro 3.7: Síntese da literatura analisada de DSM.

Autor Objetivo Metodologia Conclusão

Auffhammer et al. (2008)

Demonstrar que a evidência empírica, destes autores e de Loughran & Kulick (2004),

é consistente a

informação de avaliações de programas de DSM já terminados nos EUA.

Abordagem econométrica semelhante à de Loughran & Kulick

(2004).

• As estimativas de poupanças de DSM reportadas pelas utilities não podem ser rejeitadas.

Blumstein (2010)

Analisar as dificuldades com que os reguladores se confrontam na Califórnia relativamente ao problema do agente-principal Análise qualitativa: estudo de caso.

• A avaliação dos programas não consegue determinar com precisão o contrafatual, havendo

sempre uma substancial incerteza.

• Os incentivos aos programas devem ser regularmente revistos e revisitados para que possam ser adaptados a novas condições/situações.

Brennan (2010)

Desenvolver condições ótimas para subsídios para promover eficiência e tentar criar uma estrutura teórica de forma que possa ser utilizada.

• Modelo teórico e testes com base no modelo elaborado. • Estudo de caso

Califórnia.

• Quando os preços da eletricidade são excessivos, os programas para promover a EE são ineficientes e são contra produtivos se não conseguirem mitigar as falhas dos comportamentos dos consumidores em escolher programas de EE quando os benefícios privados em fazê-lo excedem os custos.

• Nenhum dos testes incorpora adequadamente, segundo o autor, as condições de otimização para o estabelecimento de subsídios.

Didden & D’haeseleer

(2003)

•Definir que agentes devem ser responsáveis pela implementação dos programas de DSM. •Distinguir diferentes estruturas conceptuais dos programas de DSM.

Análise descritiva.

• Os países devem escolher explicitamente como organizar as atividades de DSM para os diferentes grupos de consumidores.

• Estrutura conceptual dos programas de DSM: artificial versus natural.

• Algumas combinações de medidas de DSM têm resultados contra produtivos e ineficientes. • Uma grande fração do potencial dos programas de

DSM poderia ser alcançado se os

governantes/governos entregassem a

responsabilidade de implementação das medidas de DSM a agentes não suscetíveis a perdas financeiras.

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35 Ehrhardt-Martinez et al. (2009) Examinar como os decisores públicos e os agentes que implementam os programas de DSM podem ser motivados na persecução de uma alteração comportamental do ambiente de regulação. Entrevistas, e documentação relativa a programas e projetos energéticos.

• O potencial atual das poupanças energéticas originadas por alterações de comportamentos é grande, todavia tem sido frequentemente ignorado. • As estratégias de alteração de comportamentos têm sido reconhecidas como oferecendo um meio valioso para acelerar as poupanças energéticas, para aumentar o seu potencial e para expandir a longevidade e sustentabilidade das mesmas.

• As estratégias e os programas de alteração de comportamentos podem contribuir para encurtar o grande energy efficiency gap que existe entre as poupanças energéticas potenciais e as verificadas.

Gillingham et al. (2006)

Rever a literatura sobre alguns tipos de políticas de EE: aplicação de standards, programas financeiros de incentivos, programas voluntários e de informação, e gestão da energia final por parte do governo dos EUA.

Estudo de casos.

• Os standards segundo as estimativas existentes parecem ser custo-eficazes e têm tipicamente uma taxa positiva de benefícios associados à poupança energética.

• A DSM das utilities também parece ser custo-eficaz para alguns dos estudos existentes, mas o grau de custos não contabilizados para os consumidores é elevado.

• O custo eficácia dos programas de DSM é heterogéneo – assim, havendo alguns programas de baixo custo e com vastos benefícios, sugere-se que a eliminação dos programas com menor custo-benefício é benéfica.

Leonard & Decker (2011)

Analisar a propensão que clientes, comerciais e industriais, de uma dada utility dos EUA têm em participar em programas voluntários de DSM, com a subida dos preços de eletricidade. Análise probabilística, em que utilizou-se, de forma a incorporar na análise o tamanho das empresas, a unidade de medição “custos anuais de eletricidade por metro”, em vez do “habitual” KWh.

• O custo da eletricidade é um fator importante na decisão de uma empresa entrar num programa voluntário de DSM.

• Em termos globais, dado a amostra específica da utility analisada, um aumento de USD $100.000 nos custos com eletricidade aumenta a probabilidade de participar num programa voluntário de DSM em 0,3%. Curiosamente, a magnitude do impacto marginal na tomada de decisão foi bastante reduzido, crendo-se haverem outros aspetos de DSM que são tomados em conta pelas empresas.

• Outras conclusões: a propriedade da empresa (pública, privada ou de estrangeiros) não tem significância estatística mas se a empresa estiver noutros países já fica mais propensa a aderir a estes programas.

Linares & Labandeira

(2010)

•Rever conceitos

económicos que estão na base das decisões tomadas em EE e de conservação de energia. • Discutir as políticas mais apropriadas para a promoção de EE e de conservação de energia.

Análise descritiva.

A EE e a conservação de energia são os fatores mais relevantes no que respeita à redução dos impactos ambientais do setor energético, do ponto de vista das alterações climáticas.

Llamas (2009)

Refletir sobre como as políticas de poupança energética e EE podem contribuir para o êxito dos objetivos ambientais e, em especial, para o compromisso de redução das emissões de GEE.

Análise descritiva.

• O consumo de energia está altamente relacionado com as emissões de CO2, logo a poupança energética e a EE são essenciais para a redução das emissões de GEE.

• EE vista como um meio para a melhoria ambiental – as políticas prioritárias devem ser as que influenciam diretamente a redução das emissões, por exemplo, quotas de emissão ou impostos sobre as emissões. • Os impostos e certificados brancos parecem ser melhores instrumentos económicos do que os standards e incentivos, que, apesar de serem mais populares, são contraproducentes dado que originam o rebound effect e o free riding.

36 Loughran & Kulick (2004) Testar se os gastos em DSM durante os anos 90 tiveram sucesso no aumento da eficiência elétrica nos EUA.

Utilizam uma (nova) abordagem econométrica para

se dirigir ao problema dos free

riders.

• As utilities tendem a exagerar nas poupanças energéticas e a subestimar os custos associados com os programas de DSM.

• A DSM teve um efeito muito menor na vendas a retalho de eletricidade do que as estimativas reportadas pelas próprias utilities.

Rutherford et al. (2007)

• Analisar a dicotomia e simetrias entre as soluções de procura e oferta no que concerne à segurança energética. • Identificar formas de ultrapassar algumas barreiras à melhoria da eficiência no consumo. Estudo de caso da Nova Zelândia.

• É proposto um "security market" como mecanismo para promover os investimentos tanto do lado da oferta como da procura, e para promover a segurança

do sistema elétrico.

• Tal mercado poderia contribuir para a determinação da quantidade ótima de reservas energéticas, e para alcançar um equilíbrio eficiente entre as iniciativas do lado da oferta e procura.

Sarkar & Singh (2010) •Analisar um conjunto de experiências de financiamento de EE em países em desenvolvimento para explorar os fatores-chave de várias abordagens programáticas e de instrumentos de financiamento que têm sido aplicados com sucesso.

•Expor algumas ideias

para acelerar a

implementação de

investimentos em EE nesses países.

Estudo de casos.

Uma liquidez adequada nos principais mercados de países em desenvolvimento e a disponibilidade de modernas tecnologias de poupança energética são muitas vezes as questões institucionais que se tornam um desafio-chave para resolver o financiamento e implementação de programas de EE robustos.

Vine (2008)

Investigar como os resultados da avaliação dos programas são utilizados pelos agentes que os implementam Entrevistas a mais de 50 agentes que executam os programas, avaliadores, e reguladores de programas de DSM, nos EUA e Canadá, através de 5 questões-chave.

O tipo de interesse e utilização das avaliações variam por funções operacionais (avaliadores versus agentes que executam os programas), maturidade do mercado de EE, contexto institucional (avaliação e implementação efetuadas dentro da mesma empresa ou em entidades separadas) e por exigências regulatórias e interesses de avaliação.

Como se pode constatar pelo exposto, a DSM é multidisciplinar, aumentando a complexidade do estudo desta temática, o que também é evidente na inclusão de múltiplos conteúdos na maioria dos artigos.

Tenta-se, ao longo da exposição, síntese e estudo da DSM abarcar os aspetos mais

relevantes concernentes8 à relação entre as poupanças energéticas derivadas da implementação

de medidas dos programas de DSM com as vendas de energia elétrica das utilities (Loughran & Kulick (2004) e Auffhammer et al. (2008)), à dificuldade das entidades reguladoras em quantificarem o contrafatual e por esta via de estabelecerem uma estrutura ótima de incentivos às utilities (Blumstein (2010) e Brennan (2010)), às condições de financiamento dos programas

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de DSM (Sarkar & Singh (2010)), à importância da avaliação dos programas de DSM (Vine (2008)), à necessidade de se definirem quais os agentes que devem ser responsáveis pela implementação dos programas de DSM (Didden & D’haeseleer (2003)), à análise das diversas falhas e barreiras de mercado como também os possíveis instrumentos para as atenuar e mitigar (Gillingham et al. (2006), Linares & Labandeira (2010), Llamas (2009) e Rutherford et al. (2007)), e às questões comportamentais e económicas inerentes aos agentes, utilities ou consumidores, na adesão e desenvolvimento dos programas de DSM (Ehrhardt-Martinez et al. (2009) e Leonard & Decker (2011)).

Seria conveniente, assim, uma maior diversidade dos estudos de casos em termos de países, e mesmo a nível regional, que fizesse aumentar a documentação dos resultados obtidos por determinadas medidas ou programas de DSM, o que poderia ser muito útil na delineação/implementação de (novas) medidas mais custo-eficazes e que sirvam os propósitos das sociedades. Por outro lado, seria interessante, mesmo com a enorme diversidade de abordagens à temática da DSM, tentar trabalhar-se em conjunto com a finalidade de estabelecer certos indicadores e metodologias que potenciem uma melhor comparação entre os diferentes países.

Em suma, a multidisciplinaridade da DSM requer uma constante investigação porque envolve, para além das questões económicas e financeiras, a análise dos comportamentos dos agentes, tendo que se assumir uma abordagem holística para uma maior e melhor perceção do potencial que a gestão do lado da procura por energia (elétrica) pode oferecer no estímulo às melhorias de EE, à promoção da eficiência na utilização de energia, à conservação energética e à mitigação das alterações climáticas que advêm da produção e do consumo energético.

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