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Análise e interpretação dos dados

4. Metodologia

4.4. Análise e interpretação dos dados

A análise de cada caso inclui toda a informação que foi recolhida pelo investigador durante a investigação (Patton, 1990). De forma a organizar, selecionar e interpretar a informação recolhida através das diferentes técnicas utilizadas normalmente recorre-se à análise de conteúdo, já que “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas para o tratamento dos materiais linguísticos” (Ghiglione & Matalon, 1997, p. 177). Segundo Vala (1986), a análise de conteúdo é particularmente útil no tratamento de respostas abertas dos inquéritos por questionário mas também das entrevistas, uma vez que permite “apreender o significado das respostas abertas” (p. 107).

A análise de conteúdo é considerada como uma prática social, uma vez que procura justificações relativamente ao objetivo da investigação. De acordo com Ghiglione e Matalon, (1997, p. 185), uma análise de conteúdo “não tem sentido se não for orientada para um objetivo”.

A categorização e a codificação são os processos mais representativos numa análise, pois a partir de um conjunto amplo de dados é possível chegar a determinados

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elementos chave e estabelecer relações, de forma a obter determinadas conclusões (Bodgan & Byklen, 1994).

Ghiglione e Matalon (1997) afirmam que o objetivo da investigação é transformável em categorias de análise, diretamente relacionadas à forma como se diz e ao que é dito. Depois de feita a codificação, são identificadas as unidades de registo (palavras, temas) e por último são definidas as unidades de contexto (frases, parágrafos). Existe ainda nalguns casos em que se pretende uma abordagem mais quantitativa a identificação das unidades de numeração.

As categorias podem ser definidas a priori, quando de tem em conta as questões que orientam a investigação (utilizada normalmente nas investigações de natureza positivista) ou a posteriori, quando são definidas a partir dos dados obtidos (enquadrando-se numa investigação de natureza interpretativa) (Quivy & Campenhoudt, 1992).

Segundo Carmo e Ferreira (1998) a categorização pode apresentar alguns problemas que o investigador tem dificuldades em ultrapassar, nomeadamente o facto de estas não deverem ser muito numerosas, nem muito pormenorizadas ou, por outro lado, serem insuficientes e demasiado abrangentes, o poderá originar problemas ao nível da delimitação das “fronteiras”.

A análise de conteúdo pode ser considerada como um conjunto de procedimentos com um objetivo comum, que é a produção de um texto onde são apresentados os dados alcançados durante a investigação depois de serem transformados. Esta transformação pode ocorrer de acordo com determinadas regras e toda ela deve ser teoricamente justificada pelo investigador (Delgado & Gutiérrez, 1995).

Quando chegamos à fase de interpretação e análise dos dados, em primeiro lugar devemos assegurar-nos que a informação que temos é pertinente e suficiente. A análise do caso inclui todos os dados e todas as informações que foram recolhidas pelo investigador, seja através das entrevistas, dos inquéritos, da observação ou de outras técnicas (Patton, 1990). Segundo Stake (1994) a análise dos dados é feita através da interpretação do investigador, assim como da sua experiência.

Para Denzin (1994) nas ciências sociais existe apenas a interpretação e, para que esta interpretação seja possível é essencial confrontar uma série de impressões, informação, documentos, notas de campo, para que o investigador seja capaz de atribuir

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um sentido ao que foi conhecendo. A interpretação é uma arte que não pode ser estereotipada nem mecânica, mas que deve fazer parte de um processo criativo e inovador, que acrescente algo de novo ao leitor.

Validade da investigação

Quando fazemos uma investigação e pretendemos que esta tenha qualidade é importante ter em conta um “rigor científico, confiabilidade, veracidade, plausibilidade, adequação metodológica, credibilidade, congruência, etc.” (Sandín, 2010, p. 194).

Mishler (1990, cit. In Sandín, 2010) afirma que “a validação é o processo (ou os processos) por meio do qual realizamos afirmações e avaliamos a credibilidade de observações, interpretações e generalizações” (p. 194).

Quando falamos em validação no contexto da investigação qualitativa, em primeiro lugar é importante ter presente que tanto a validade como a fiabilidade são direcionadas para o positivismo. Neste sentido quando falamos em validação numa investigação qualitativa estamos perante uma contradição. Segundo Olabuénaga (1999) confunde-se muitas vezes a validade da metodologia qualitativa com a de um caso concreto. Um estudo apoiado na metodologia qualitativa não permite assegurar a validade deste estudo. “Os critérios para esta validade não existem” (p. 78). Neste sentido podemos afirmar que o grau de validade de um caso não está totalmente relacionado com a validade em si, mas ao nível da sua coerência interna (Olabuénaga, 1999).

Seguindo esta linha de pensamento uma investigação qualitativa não se pode apoiar nas conceções tradicionais de validação que têm a sua origem no positivismo. É fundamental ter presente que quando falamos em investigação qualitativa estamos a estudar a realidade e que não existe apenas uma versão da realidade social, mas várias realidades subjetivas. Neste sentido se há várias realidades também irá haver interpretações distintas, pelo que não é possível falar numa interpretação única que seja a “correta”. A partir destes argumentos surgem várias perspetivas e a questão da validação transforma-se e admite: que um estudo pode ter várias interpretações; aferir se as interpretações são coerentes entre si e de acordo com os dados; que a única forma de assegurar a validade é comparando os resultados com outros investigadores ou outras investigações semelhantes (Fragoso, 2004). Assim, deve existir uma preocupação no

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sentido em que os dados recolhidos estejam de acordo com o que o indivíduo diz e faz (Carmo & Ferreira, 1998).

Para Stake (1995) o estudo de caso é composto por cinco condições: a escolha da questão; a triangulação de dados; o conhecimento experiencial; os contextos e as atividades. A procura de linhas de evidência é essencial para que seja possível a definição dos “factos” do caso. Neste sentido deve-se utilizar diferentes fontes para obter resposta às mesmas questões (Yin, 1997). O grande objetivo é realizar a triangulação dos dados, utilizando múltiplas perspetivas com a finalidade de clarificar significados e verificar a repetibilidade de uma observação ou interpretação (Stake, 1995).

A triangulação surge como uma estratégia para repensar a validade e deve aparecer como um dos últimos elementos da investigação (Denzin & Lincoln, 1994). No caso concreto dos estudos de caso, isto pode ser feito utilizando várias fontes de dados, se todas coincidirem é porque a investigação é viável e os dados foram triangulados com êxito (Yin, 2002). A triangulação pode ser considerada como o confronto da informação obtida a partir das diferentes fontes utilizadas (Reichardt & Cook, 1986).

De forma a aumentar a credibilidade das interpretações realizadas pelo investigador, este deverá recorrer a um ou a vários “tipos de triangulação”. Segundo Denzin e Lincoln (1994), existem quatro tipos de triangulação:

• Triangulação de dados, em que se confrontam os dados provenientes de diferentes fontes;

• Triangulação do investigador, em que entrevistadores/observadores diferentes procuram detetar desvios derivados da influência do fator “investigador” relativamente ao mesmo tema;

• Triangulação teórica, consideram-se os dados a partir de perspetivas teóricas e hipóteses diferentes;

• Triangulação metodológica, aplicam-se múltiplas combinações “inter metodológicas” e comparam-se os resultados obtidos para analisar as coincidências e as divergências.

Bisquerra (1989) fala ainda num quinto tipo de triangulação que é a triangulação múltipla. Segundo o autor a triangulação múltipla é onde se combinam os vários tipos de triangulação (dados, observadores, entre outras).

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Quando um investigador inicia o seu projeto este deve ter a preocupação de prever ações múltiplas no sentido de mais tarde ter informação pertinente e suficiente para legitimar as suas conclusões.