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O método de investigação: estudo de caso

4. Metodologia

4.2. O método de investigação: estudo de caso

Uma investigação caracteriza-se como sendo um estudo de caso quando “surge do desejo de compreender fenómenos sociais complexos”, ou seja pretende dar resposta ao como e ao porquê de um determinado acontecimento tendo em conta as

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características significativas e holísticas da realidade (Yin, 2002, p. 21). Um estudo de caso pode ser caracterizado como uma descrição analítica intensiva e globalizante de um objeto, situação ou fenómeno, que procura dar ênfase às suas características e ao que o torna único (Stake, 1994). O estudo de caso pode ser considerado uma investigação empírica no sentido em que estuda uma dada identidade no seu contexto real baseando- se em diversas fontes (Yin, 2002). É também importante ter presente que nunca será possível conhecer tudo sobre um determinado caso, pelo que cabe ao investigador decidir até onde pretende ir, para que seja possível atingir os objetivos a que se propõe (Stake, 1994).

Segundo Merriam (1988), um estudo de caso qualitativo apresenta as seguintes características: é particularista, descritivo e heurístico. É particularista no sentido em que se centra numa situação particular; é descritivo pois o produto final é uma descrição detalhado do fenómeno em estudo; e é heurístico na medida em que ajuda na compreensão do fenómeno estudado. Um estudo de caso pode originar novos significados, aumentar a experiência do investigador ou confirmar o que já existe.

Segundo Fragoso (2004), um estudo de caso é um tipo de investigação que tem como objetivo compreender a ação humana; as pessoas são vistas como sujeitos e não como objetos; os atores sociais são vistos como produtores de sentido e construtores da realidade social, sendo a subjetividade um valor fundamental deste tipo de investigação. O autor afirma ainda que é importante conhecer o contexto para que se possa compreender as pessoas e o fenómeno. Neste sentido, os sistemas humanos não são simplesmente indivíduos dispersos, mas desenvolvem uma integridade entre si, uma vez que se encontram intrinsecamente ligados. Assim uma das principais características do estudo de caso é precisamente a visão holística da investigação (Sturman, 1997, cit. in Fragoso, 2004). É importante focar que o investigador não deve ter controlo relativamente aos acontecimentos, nem desejo de manipular os comportamentos dos participantes, pelo contrário o seu trabalho centra-se em interpretar e refletir acerca dos fenómenos que encontra. Trata-se portanto de um estudo naturalista e que se apoia fundamentalmente na subjetividade do investigador e onde a reflexão e a interpretação estão sempre presentes (Stake, 1995).

Para Bogdan e Biklen (1994) um estudo de caso pode ser equiparado a um funil, uma vez que inicialmente o investigador tem uma ideia abrangente do que pretende estudar e quando encontra o seu objeto de estudo começa a tomar decisões e vai

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descobrindo qual o caminho a seguir, afunilando assim os aspetos a aprofundar. À medida que conhece o tema o investigador pode alterar planos iniciais ou até mesmo enveredar por outros que não tinha pensado inicialmente e que se revelam importantes.

O estudo de caso orienta-se na procura da compreensão de determinados temas intrínsecos ao caso, sendo a sua principal finalidade gerar conhecimento sobre o particular (Stake, 1994). Por outro lado, apesar de ser singular, o caso é visto como um sistema, pois pode possuir subsecções, grupos, ocasiões, dimensões, domínios e engloba uma série de questões complexas que necessitam de ser compreendidas (Stake, 1995).

Quando falamos em estudos de caso também é importante analisar as várias tipologias que os autores têm vindo a construir. Alguns autores (Bogdan & Biklen, 1994) definem o estudo de caso como único ou múltiplo. Os estudos de caso únicos são aqueles que se centram num único caso enquanto os estudos de caso múltiplos realizam- se através do estudo de vários casos únicos.

Para Yin (1993) independentemente de serem casos únicos ou múltiplos estes podem ser exploratórios (que definem um prelúdio para posteriores), descritivos (descrição completa do fenómeno) ou extensivos (apresenta dados que têm uma relação de causa-efeito).

Já Stake (1994; 1998) divide os estudos de caso em três tipologias distintas: intrínsecos, instrumentais e coletivos ou múltiplos. Os estudos de caso intrínsecos têm como principal objetivo da investigação compreender o caso em particular, é na sua particularidade que se encontra o foque da investigação e não em perceber todos os casos. Os estudos de caso instrumentais ocorrem quando um caso particular é estudado com a intensão de clarificar um determinado tema ou teoria. Neste caso, o estudo de caso tem um interesse secundário funcionando apenas como suporte e funciona como apoio para o entendimento de algo, como por exemplo de uma teoria. Por último, os estudos de caso coletivos ou estudo de caso múltiplo estudam um conjunto de casos ao mesmo tempo, de forma a investigar um fenómeno ou uma condição mais geral. Neste tipo de estudo de caso os casos individuais não precisam de estar todos definidos inicialmente, nem de estar diretamente relacionados.

É também importante ter em conta que um estudo de caso pode ter influências exteriores e que, consoante o investigador, o mesmo caso pode ser interpretado de diferentes formas, uma vez que o caso se encontra inserido num determinado contexto

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histórico, cultural, físico, social, político, económico e que cada investigador tem a sua interpretação (Stake, 1995).

Yin (1997) defende que o estudo de caso possui cinco ferramentas essenciais: as questões a realizar durante a investigação; a capacidade de ouvir e perceber também as entrelinhas; a adaptabilidade e a flexibilidade perante imprevistos que possam ocorrer; a compreensão dos assuntos; e a imparcialidade e domínio dos preconceitos.

Um dos aspetos mais importantes a ter em conta num estudo de caso é a abertura, a flexibilidade e o dinamismo durante o seu desenvolvimento. É fundamental que haja um diálogo constante entre as várias fases da investigação e que as várias dinâmicas emergentes possam servir para uma clarificação da investigação e para um refinamento dos dados obtidos. Todos estes fatores poderão levar a um aumento das interpretações e, consequentemente conclusões mais significativas (Fragoso, 2004).

A Generalização

A generalização nos estudos de caso tem sido um tema muito debatido nos últimos anos e uma das principais críticas feitas ao método do estudo de caso está relacionada justamente com a sua capacidade para formular generalizações. É posta em causa a possibilidade de a partir de um estudo se produzirem teorias e leis gerais. Para alguns autores (Mitchell, 2000, cit. In Fragoso, 2004) no estudo de caso está em jogo uma espécie de inferência ou generalizações que no seu carater é muito distinta da que é feita nos estudos apoiados no positivismo. Segundo o autor, estas generalizações podem denominar-se como lógicas, teóricas ou analíticas.

Segundo alguns autores os estudos de caso podem ser utilizados de diversas formas. Podem alimentar processos de generalização naturalista (Stake, 2000) ou servir como facilitador da transferência de descobrimentos de um contexto para o outro, representando hipóteses de trabalho (Guba & Lincoln, 2000).

Por norma, as generalizações são afirmações que são feitas, independentes do contexto e do tempo (Guba & Lincoln, 2000). É importante ter em conta que o objetivo do estudo de caso é orientado para a particularização (Fragoso, 2004), por outro lado, no próprio estudo de caso o investigador ao longo do estudo tem a possibilidade de ir fazendo pequenas inferências internas que podem originar pequenas generalizações (Stake, 1998).

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Por outro lado, se pensarmos na investigação através duma perspetiva de generalização positivista, que se constitua como uma lei universal, aplicável a todo o contexto, seja qual for o tempo e o espaço, não se pode falar em estudo de caso, uma vez que estes estudos não podem fazer emergir este tipo de generalizações (Guba & Lincoln, 2000). Neste sentido, é possível atribuir um sentido diferente à generalização. Não podemos afirmar que o estudo de caso tem a intenção fundamental de produção de generalizações tradicionais, porém este estudo pode representar um caminho para as leis gerais deste domínio (Pérez Serrano, 1994). De acordo com Stake (2000), os estudos de caso podem contribuir para outro tipo de generalizações alternativas, que representem soluções intermédias em relação às posições normativas (acima referidas).

Neste sentido, de acordo com alguns autores, é possível defender três formas principais de produzir generalizações alternativas. A primeira é apontada por Robert Stake e, segundo o autor o conhecimento pessoal é visto como uma forma de generalização. Segundo Stake, os estudos de caso são um dos métodos que permite alcançar uma harmonia com as experiências pessoais, funcionando, como uma base natural para a generalização. Esta generalização é uma “generalização naturalista”, apoiada no intuitivo e empírico, e não uma indução científica: “as generalizações naturalistas desenvolvem-se numa pessoa como um produto da sua experiência” (Stake, 2000, p. 22). A generalização naturalista segue os princípios fundamentais do que representa a essência de um estudo de caso.

A segunda proposta é apontada por Yvonna Lincoln e Egon Guba. Estes autores propõem a substituição da ideia clássica de generalização por outra formulação que tenha como base as hipóteses do trabalho. Segundo esta perspetiva, toda a generalização é uma hipótese de trabalho e não uma conclusão. Estas ideias, inicialmente formuladas por Cronbach (1981), defendem que os fatores são únicos num determinado contexto. Assim o investigador deve descrever e interpretar cada uma das situações que encontra ao longo da sua investigação (Lincoln & Guba, 2000; Patton, 1990).

Por último, Patton (1990) tem uma proposta semelhante à de Cronbach. O autor defende hipóteses de trabalho e desenhos de investigação que sejam equilibrados e que possam servir para extrapolações. Esta proposta possibilita a utilização de conhecimento de um caso para outros: “As extrapolações são especulações modestas sobre a provável aplicabilidade dos descobrimentos a outras situações similares (…) são lógicas,

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pensadas, e orientadas para os problemas, em vez de estatísticas e probabilísticas” (p. 489).

As duas últimas propostas parecem ser muitos importantes, pois tanto as hipóteses de trabalho como as extrapolações permitem ver que as conclusões de um estudo de caso poderão ser importantes para outros casos, tendo em conta as condições únicas de cada lugar e de cada contexto. Desta forma, a transferência de conhecimentos produzidos pode ser um fator importante para o aumento da construção de um património científico significativo (Fragoso, 2004).