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7 TRANSPORTE SEDIMENTAR EÓLICO

30/08/2011 Fonte: NWS (2013).

7.3 Análise e interpretação do fluxo de correntes eólicas na faixa praial e considerações

As interpretações dos dados relacionados com as direções que os ventos atingem as células do litoral pesquisado, e durante os três períodos de amostragem, revelaram uma forte tendência de correntes oriundas do quadrante SE (110º - 170º), correspondentes aos ventos alísios, como já mencionados nos itens 7.1 e 7.2.

O fluxo de correntes eólicas de direção preferencial SE corresponde à principal fonte supridora dos depósitos eólicos que compõem a área de estudo (faixa praial, campos de dunas e planície de deflação).

Em relação aos valores das velocidades das correntes de ar que circulam na região, três fatos são destacados: o desenvolvimento de um gradiente vertical ascendente de velocidade, certa conformidade de comportamento das curvas traçadas em alturas diferenciadas e maiores velocidades das correntes na zona de pós-praia (FIGURAS 101, 102, 103, 104). Por vezes, não existe conformidade entre as curvas obtidas nas diversas altitudes. Esse fato está associado à coincidência do momento amostrado com episódios de oscilações bruscas das correntes eólicas, caracterizadas por picos de calmaria e agitação.

A existência do gradiente de velocidades das correntes de ar que aumentam verticalmente e proporcional à altura corrobora com as afirmações realizadas por Bagnold (1941), descritas no tópico 2.5.1. Entretanto, a altura Z0, definida pelo referido autor, não pode ser determinada pela metodologia aplicada na pesquisa.

O traçado das curvas de velocidades médias nos cinco patamares de altura mostrou, por vezes, nos pontos de coleta, picos pronunciados descendentes e ascendentes, que ocorrem nos períodos monitorados (FIGURAS 101, 102, 103, 104). Esse fato, segundo os dados climatológicos já apresentados, está associado às variações de posições da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que provocam oscilações nos regimes de ventos atuantes na região.

As informações coletadas no banco de dados do INMET e nas campanhas eólicas sazonais permitiram atribuir ao intervalo de tempo representado pelos meses de agosto a outubro/10 e setembro/11, as maiores participações nos processos de transporte sedimentar eólico. Esse fato pode ser comprovado por intermédio do volume de sedimentos aprisionados nas armadilhas de acumulação e discretização, de observações na paisagem litorânea, as quais registraram a formação de verdadeiras “nuvens de sedimentos” transportadas ao longo do estirâncio (face de praia) e sucessivas acumulações de areia nas dependências das construções localizadas no pós-praia.

As análises das curvas sazonais de velocidade média dos ventos, Figuras 101 e 102, mostram que nesse intervalo de tempo ocorreu a concentração das maiores velocidades das correntes de ar registradas a 2,0 metros da superfície. Muitas vezes, ultrapassando o valor de 4,5m/s Figuras 103 e 104, que, segundo Tomazelli (1990), corresponde à velocidade necessária para manter as areias transportadas em movimento.

A análise geral revela o predomínio de menores velocidades das correntes eólicas no mês de fevereiro de 2011, com valores inferiores a 5m/s, que refletem na baixa capacidade de transporte de sedimentos, com taxa sedimentar nula, correspondente ao período que registrou o maior índice pluviométrico. O segundo e o terceiro períodos amostrados registram velocidades das correntes de ar, com valores maiores que 5m/s, responsáveis pela intensificação do transporte sedimentar nas zonas de estirâncio e pós-praia, vide dados registrados na Tabela 14 e nas Figuras 101 a 104.

Durante os períodos monitorados, a menor média das velocidades dos ventos ocorreu no período chuvoso, na altura 0,50m, na zona de estirâncio (face de praia) da Praia do Futuro, correspondendo à velocidade média de 1,40m/s na armadilha intermediária, e velocidade média de 1,53m/s para o conjunto das três armadilhas de discretização.

A maior média das velocidades dos ventos foi registrada no período de transição, na altura de 2 metros, na zona de pós-praia da Praia Porto das Dunas, na armadilha de acumulação posicionada na porção mais afastada da linha d’água, com velocidade média de 9,14m/s. Entretanto, a maior média das velocidades das correntes eólicas, para o conjunto das três armadilhas, registrou-se 8,7m/s, a 2 metros, na zona de estirâncio (armadilhas de discretização), durante o mesmo período nesta praia.

A movimentação sedimentar no estirâncio e pós-praia assumiu comportamentos distintos. No período chuvoso, não ocorreu transporte sedimentar nas duas células litorâneas monitoradas. Os maiores volumes de sedimentos transportados foram observados no período de transição, na zona de pós-praia, no intervalo de 5 a 25 centímetros da superfície do terreno na Praia do Futuro, representados por grãos de quartzo (areia fina). Nesse período, o transporte sedimentar verificado a 50 centímetros da superfície do terreno tornou-se menos representativo. O mesmo comportamento foi verificado para a Praia Porto das Dunas no mesmo período.

Em relação à capacidade de transporte e deposição das correntes eólicas, verificou-se que o segmento litorâneo da Praia do Futuro registrou, nos períodos de estiagem e transição, maior trânsito sedimentar do estirâncio para o berma, sendo atribuído à sua posição a sotamar dos campos de dunas móveis e das desembocaduras dos rios Pacoti e Cocó,

supridores de sedimentos para a face praial, os quais são transportados pelas correntes de deriva litorânea no sentido SE-NW.

O maior volume de sedimentos foi registrado na zona de pós-praia, durante o período de transição, com taxa sedimentar de 3,9 x 10-9 m3/s (337,17 cm3/dia) para a Praia do Futuro, seguido pela célula Porto das Dunas, na zona de pós-praia, apresentando um volume de 3,03 x 10-9 m3/s (261,36 cm3/dia).

As análises granulométricas das amostras retidas nos três níveis altimétricos das armadilhas de sedimentos confirmaram a gradação descendente dos diâmetros das partículas de quartzo. Os maiores diâmetros (areia média) foram armazenados no intervalo de 0 a 22 centímetros de altura, as areias finas se fizeram presentes no segundo intervalo de altura (23 a 46 centímetros) e areias muito finas predominaram no transporte gerado a 47-69 centímetros de altura da superfície do terreno.

As observações das direções da dispersão dos grãos pelas correntes eólicas na zona de estirâncio (face de praia) permitiram verificar um maior volume do trânsito sedimentar litorâneo em direção à zona de pós-praia. Esse fato é reforçado pela presença de dunas frontais posicionadas paralelamente à atual linha de costa, no domínio do pós-praia, observado nas duas células litorâneas, corroborando com as pesquisas de Branco (2003).

Diante de todo o contexto abordado, a análise do transporte eólico de sedimentos mostrou-se uma ferramenta importante para a compreensão da dinâmica eólica e morfosedimentar da praia Porto das Dunas e Praia do Futuro, fornecendo dados para subsidiar a gestão costeira da área no que diz respeito ao uso e ocupação da faixa litorânea.

Recomenda-se um monitoramento contínuo para obter-se uma melhor compreensão da dinâmica costeira da área em médio e longo prazo, no intuito de se estabelecer limites de ocupação e uso da orla.

Este tipo de estudo e monitoramento pode ser aplicado aos estudos ambientais de áreas costeiras nas quais estão, são ou serão implantadas quaisquer infraestruturas antrópicas, tais como barracas de praia, empreendimentos turístico-hoteleiros e imobiliários que ocupam as zonas de pós-praia, planícies de deflação e campo de dunas, buscando-se um gerenciamento e, principalmente, uma gestão pública com padrões de sustentabilidade, não permitindo a construção nas áreas supracitadas e intensificando a fiscalização e aplicação da legislação vigente.

8 ANÁLISE MULTITEMPORAL DA LINHA DE COSTA EM MÉDIO PERÍODO