• Nenhum resultado encontrado

Foi realizada consulta jurisprudencial utilizando-se como palavra chave o termo

―multiparentalidadeǁ e ―pluriparentalidadeǁ, referente a decisões proferidas nos últimos dois anos (2016/2017) pelo judiciário brasileiro.

Não foi encontrado nenhum resultado para a pesquisa realizada no estado do Espírito Santo.

As jurisprudências identificadas, e selecionadas, envolvendo a multiparentalidade estão abaixo reproduzidas, com seus respectivos comentários.

CONSTITUCIONAL E FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA COM REGISTRO DE MULTIPARENTALIDADE.

VÍNCULO BIOLÓGICO PREEXISTENTE. RECONHECIMENTO SIMULTÂNEO DO VÍNCULO SOCIOAFETIVO. DUPLA MATERNIDADE.

POSSIBILIDADE. TESE FIXADA PELO STF COM REPERCUSSÃO

GERAL. SENTENÇA REFORMADA. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao conceder repercussão geral ao tema n. 622, no leading case do RE 898060/SC, entendeu que a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com efeitos jurídicos próprios. 2.

Consoante se infere do referido julgado, houve uma mudança no entendimento sobre o tema da multiparentalidade, em virtude da constante evolução do conceito de família, que reclama a reformulação do tratamento jurídico dos vínculos parentais à luz do sobreprincípio da dignidade humana (art. 1º, III, da CRFB) e da busca da felicidade. 3. In casu, constatada a coexistência de dois vínculos afetivos; quais sejam, com os pais socioafetivos e com a mãe biológica, não havendo qualquer oposição de nenhuma das partes sobre o reconhecimento da multiparentalidade, o seu reconhecimento é medida que se impõe. 4. Recurso provido. Sentença reformada. (TJDF; APC 2016.01.1.017507-7; Ac. 105.7315; Quinta Turma Cível; Rel. Des. Josaphá Francisco dos Santos; Julg. 25/10/2017; DJDFTE 16/11/2017)165.

Na decisão proferida pelo Desembargador Josaphá Francisco dos Santos, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, foi destacado que o reconhecimento de paternidade biológica, ainda que já exista o registro de paternidade socioafetiva na certidão de nascimento da pessoa, não é afastado por este, razão do princípio da dignidade humana e, também, em virtude da busca da felicidade.

165 DISTRITO FEDERAL. TJDF; APC 2016.01.1.017507-7; Ac. 105.7315; Quinta Turma Cível; Rel.

Des. Josaphá Francisco dos Santos; Julg. 25/10/2017; DJDFTE 16/11/2017.

DIREITO DE FAMÍLIA E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DE ADOÇÃO.

MULTIPARENTALIDADE. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO BIOLOGICO

PREEXISTENTE. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. DUPLA

PARENTALIDADE. POSSIBILIDADE. DECISÃO DO STF COM

REPERCUSSÃO GERAL. 1. A paternidade biológica declarada em registro público não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem socioafetiva, com os efeitos jurídicos próprios, como desdobramento do sobreprincípio da dignidade humana, na sua dimensão de tutela da felicidade e realização pessoal dos indivíduos a partir de suas próprias configurações existenciais. 2. A omissão do legislador brasileiro quanto ao reconhecimento dos mais diversos arranjos familiares não pode servir de escusa para a negativa de proteção a situações de pluriparentalidade. Tese fixada com repercussão geral no julgamento do RE 898060/SC. STF. 3. Recurso conhecido e provido. (TJDF; APC 2016.14.1.001982-7; Ac. 989.127; Sétima Turma Cível; Rel. Des. Getúlio de Moraes Oliveira; Julg. 07/12/2016; DJDFTE 25/01/2017)166.

DIREITO DE FAMÍLIA E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. VÍNCULO BIOLOGICO. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA PREEXISTENTE. MULTIPARENTALIDADE.

POSSIBILIDADE. DECISÃO DO STF COM REPERCUSSÃO GERAL. 1.

Provado nos autos o vinculo genético do Autor com o pai falecido, julga-se procedente o pedido de reconhecimento da paternidade biológica, ainda que com este não tenha convivido para formar laços de afeição, pois ainda em tenra idade quando do óbito do genitor. O interesse de postular cidadania estrangeira com o reconhecimento da paternidade, insere-se nos efeitos jurídicos próprios da filiação, não constituindo óbice ao direito de postular o reconhecimento da verdadeira ascendência genética. Direito natural ínsito ao princípio da dignidade humana e da busca pela felicidade.

2. A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. Tese fixada com repercussão geral no julgamento do RE 898060/SC. STF. 3. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. (TJDF; APC 2015.10.1.000451-8;

Ac. 983.518; Sexta Turma Cível; Rel. Des. Getúlio de Moraes Oliveira; Julg.

16/11/2016; DJDFTE 30/11/2016)167.

Nas decisões proferidas pelo desembargador Getúlio de Moraes Oliveira perante o Tribunal de Justiça do Distrito Federal também foi salientada a felicidade e o atendimento ao princípio da dignidade da pessoa humana reconhecer a filiação socioafetiva concomitante com a filiação biológica. Tratando-se, ainda, de uma realização individual daquele que busca o reconhecimento.

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE. SENTENÇA EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA.

166 DISTRITO FEDERAL. TJDF; APC 2016.14.1.001982-7; Ac. 989.127; Sétima Turma Cível; Rel.

Des. Getúlio de Moraes Oliveira; Julg. 07/12/2016; DJDFTE 25/01/2017.

167 DISTRITO FEDERAL. TJDF; APC 2015.10.1.000451-8; Ac. 983.518; Sexta Turma Cível; Rel. Des.

Getúlio de Moraes Oliveira; Julg. 16/11/2016; DJDFTE 30/11/2016.

PATERNIDADE BIOLÓGICA. EXAME DE DNA. PATERNIDADE REGISTRAL E AFETIVA. MELHOR INTERESSE DO MENOR.

MULTIPARENTALIDADE. 1. O decisum configura o corolário da exordial; a correlação entre pedido e sentença é medida que se impõe, mostrando-se dignidade da pessoa humana, princípio fundamental do ordenamento jurídico pátrio. 3. O mero vínculo genético, por si só, não é suficiente para afastar a paternidade de cunho afetiva. Em algumas situações, a filiação afetiva pode-se sobrelevar à filiação biológica, em razão da relação de carinho e afetividade construída com o decorrer do tempo entre pai e filho.

4. Há que se enaltecer a importância da convivência tanto materna quanto paterna, ao passo em que o direito do menor de conviver com seu pai afetivo mostra-se de fundamental relevância para o desenvolvimento e formação da criança, máxime quando inexiste qualquer motivo que não a recomende. 5. O reconhecimento da paternidade biológica fundamentado em exame de DNA, sobretudo, em caso de o pai biológico haver incidido em erro quanto à verdadeira paternidade biológica da criança, merece ser reconhecida quando o pai demonstra interesse em exercer o seu papel em relação ao filho, dispensando-lhe cuidado, sustento e afeto. 6. O conceito de multiparentalidade exsurge, pois, como uma opção intermediária em favor do filho que ostenta vínculo de afetividade com o pai afetivo e com o pai registral, sem que se tenha de sobrepor uma paternidade à outra. Não há critério que possa definir preferência entre as duas formas de paternidade, sobretudo, quando há vínculo afetivo do menor tanto com o pai registral, como em relação ao pai biológico. 7. Rejeitou-se a preliminar. Negou-se provimento aos apelos. (TJDF; Rec 2013.06.1.005549-2; Ac. 919.129;

Terceira Turma Cível; Rel. Des. Flavio Rostirola; DJDFTE 17/02/2016)168.

O desembargador Flávio Rostirola do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ressaltou que o direito da família deve observar o princípio do melhor interesse para a criança, que apenas o vínculo genético não é suficiente para afastar a filiação afetiva. Sendo que, em determinados casos, é possível que a filiação afetiva sobreponha a biológica uma vez que existe a relação de carinho e afetividade entre o pai e o filho, que são de máxima importância para o desenvolvimento da criança e do adolescente.

No entanto, no caso em tela, em específico, o pai não tinha conhecimento da criança, e através do reconhecimento da multiparentalidade, é possível que este também passe a exercer a sua obrigação de pai, dando o afeto necessário ao seu

168 DISTRITO FEDERAL. TJDF; Rec 2013.06.1.005549-2; Ac. 919.129; Terceira Turma Cível; Rel.

Des. Flavio Rostirola; DJDFTE 17/02/2016.

filho a partir do, então, reconhecimento. Sendo possível existe esse laço afetivo do filho com o pai biológico e com o pai afetivo.

PROCEDÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO DOS RÉUS. Pedido de desistência atinente a um dos recursos. Possibilidade, conforme previsão do artigo 998 do novo código de processo civil. Não conhecimento do reclamo que se impõe. Interposição de recurso pelo espólio do falecido. Ilegitimidade passiva. Recurso não conhecido em relação a este apelante. Mérito.

Prevalência da paternidade socioafetiva sobre o vínculo biológico.

Impossibilidade. Jurisprudência moderna que aponta pela viabilidade de reconhecer ambos os vínculos de filiação concomitantemente. Precedente do STF em sede de repercussão geral consagrando a tese da multiparentalidade. Atribuição dos efeitos patrimoniais, ademais, que constitui consequência do reconhecimento da paternidade. Sentença mantida. Recurso conhecido, com exceção do interposto pelo espólio, e desprovido. (TJSC; AC 0020475-50.2009.8.24.0023; Florianópolis; Primeira Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior; DJSC PATERNIDADE C/C ALIMENTOS. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM.

RECURSO DO RÉU. EXAME GENÉTICO. LAUDO POSITIVO. PAI REGISTRAL. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. VÍNCULO DIVERSO.

CONCOMITÂNCIA. IRRELEVÂNCIA. MULTIPARENTALIDADE. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PATERNIDADE RESPONSÁVEL. STF. REPERCUSSÃO GERAL. A paternidade 21/09/2016) SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC; AC 0300248-18.2015.8.24.0067; São Miguel do Oeste; Quinta Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Henry Petry Junior; DJSC 23/02/2017)170.

169 SANTA CATARINA. TJSC; AC 0020475-50.2009.8.24.0023; Florianópolis; Primeira Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior; DJSC 21/09/2017.

170 SANTA CATARINA. TJSC; AC 0300248-18.2015.8.24.0067; São Miguel do Oeste; Quinta Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Henry Petry Junior; DJSC 23/02/2017.

Henry Petry Junior, desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, acompanha o entendimento do Supremo Tribunal Federal, e diz que não é necessário decidir entre os vínculos, quando é possível o reconhecimento de ambos.

DIREITO DE FAMÍLIA. AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL.

"ADOÇÃO À BRASILEIRA". AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE REGISTRO CIVIL. EXCLUSÃO DO PAI ADOTIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO SOCIOAFETIVO COM O PAI ADOTIVO. MULTIPARENTALIDADE.

PATERNIDADE BIOLÓGICA MANTIDA E INCLUSÃO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA À FILIAÇÃO NO REGISTRO CIVIL. POSSIBILIDADE.

DECISÃO MANTIDA. 1. Observada a existência de mais de um vínculo paterno, biológico e afetivo, ambos devem constar no registro civil, sem qualquer diferença hierárquica, caracterizando a pluralidade de laços afetivos, também chamada de família multiparental. 2. Jovem com dois registros civis: Um referente a "adoção à brasileira", criado como filho, contendo em seu registro civil o nome dos pais adotivos e outro com o nome dos pais biológicos. 3. Possibilidade de manutenção do nome dos pais biológicos no registro civil e inclusão à filiação da paternidade socioafetiva referente ao pai adotivo. 4. Decisão Monocrática mantida integralmente. 5. Recurso conhecido e não provido. (TJCE; AG 0001955- 31.2010.8.06.0145/50000; Segunda Câmara de Direito Privado; Rel. Des.

Francisco Barbosa Filho; DJCE 10/10/2016)171.

O Tribunal de Justiça do Ceará, por meio da decisão proferida pelo desembargador Francisco Barbosa Filho, possibilitou a manutenção do nome dos pais biológicos no registro civil e inclusão à filiação da paternidade socioafetiva referente ao pai adotivo, de modo que conste ambos os registros, sem qualquer diferença hierárquica, haja vista o reconhecimento da família multiparental.

APELAÇÃO CÍVEL. Ação de desconstituição de ato jurídico cumulado com investigação de paternidade e maternidade, alimentos e petição de herança.

Sentença de improcedência. Comparecimento espontâneo de um dos requeridos que afasta eventual nulidade. Adoção à brasileira. Requerente que, em idade adulta, pugna pelo reconhecimento de paternidade e maternidade biológica. Existência de vínculo socioafetivo com os pais registrais que não tem o condão de extirpar do requerente o direito ao conhecimento de sua origem genética. Precedentes. Princípio da dignidade da pessoa humana. Reconhecimento do pedido inicial pela genitora biológica. Exame pericial que comprova a paternidade. Impossibilidade de reconhecimento de nulidade do registro ante a existência de vínculo socioafetivo. Reconhecimento da multiparentalidade. Sentença reformada.

Procedência do pedido investigatório. Pleito de alimentos que deve ser afastado. Ausência de comprovação da necessidade do alimentando.

Reconhecimento dos direitos sucessórios. Possibilidade. Recurso de apelação parcialmente provido (TJPR; ApCiv 1381669-4; Palmital; Décima

171 CEARÁ. TJSC; AC 0300248-18.2015.8.24.0067; São Miguel do Oeste; Quinta Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Henry Petry Junior; DJSC 23/02/2017.

Segunda Câmara Cível; Relª Juíza Conv. Luciane Bortoleto; Julg.

03/08/2016; DJPR 26/08/2016)172.

O Desembargador Adair José Longuini também reconhece a possibilidade de constar o registro de reconhecimento de paternidade biológica concomitante com a paternidade afetiva, já existente, independentemente se requerida após a maioridade, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

V. V. DIREITO DE FAMÍLIA E DE REGISTROS PÚBLICOS.

HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO DE NASCIMENTO. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE BIOLÓGICA CONCOMITANTE COM PATERNIDADE REGISTRAL. REGISTRO PÚBLICO DE MULTIPARENTALIDADE. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. 1.

Descabe ao poder judiciário, que não possui função legislativa, negar aplicabilidade a dispositivo cogente da Lei de registros públicos no qual consta limite de dois genitores nos assentos de nascimento, máxime quando a semântica do texto legal não permite a alteração do sentido da respectiva norma pela interpretação, e tampouco há fundamentos para a declaração de sua não recepção pela Constituição de 1988. 2. Em que pese a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de justiça tenha sufragado a existência de novos arranjos de família, diversos da concepção tradicional, tal circunstância não autoriza o registro concomitante, no assento de nascimento, do nome de dois pais e uma mãe, sob pena de violação de regra cogente aplicável à disciplina. 3. Apelo provido. V. V. Processual civil. Acordo com anulação de registro de nascimento. Reconhecimento de paternidade biológica concomitante com paternidade registral. Filiação sócio afetiva. Esvaziamento biológico da paternidade. Multiparentalidade ou pluriparentalidade. 1. A família passou por transformações mais recentes, deixando de ser unidade de caráter exclusivamente biológico para se afirmar como grupo de afetividade e solidariedade que derivam da convivência e não do sangue. Os novos arranjos parentais privilegiam o vínculo da afetividade, priorizando a melhor solução para a criança sobre as normas positivas de direito. 2. Inexiste no ordenamento jurídico regra que proíba a inserção de dois pais e uma mãe no registro de nascimento de uma pessoa natural. A ausência de previsão legal não constitui obstáculo ao reconhecimento da multiparentalidade, não havendo que se falar em vedação implícita sem malferir os princípios constitucionais da pluralidade dos arranjos familiares, dignidade da pessoa humana, busca da felicidade e da prioridade absoluta e proteção integral da criança e do adolescente (apelação cível nº 70062692876/2014. TJRS. 8ª Câmara Cível. Relator: José Pedro de oliveira eckert. Julgada em 15/02/2015). 3. Apelação improvida. (TJAC; APL 0711965- 73.2013.8.01.0001; Ac. 16.067; Primeira Câmara Cível; Rel. Des. Adair José Longuini; DJAC 31/07/2015)173.

Tendo em vista que a família trouxe grandes transformações, passando a afirmar a afetividade e a solidariedade existente daqueles que convivem e não são de sangue,

172 PARANÁ.TJPR; ApCiv 1381669-4; Palmital; Décima Segunda Câmara Cível; Relª Juíza Conv.

Luciane Bortoleto; Julg. 03/08/2016; DJPR 26/08/2016.

173 ACRE. TJAC; APL 0711965-73.2013.8.01.0001; Ac. 16.067; Primeira Câmara Cível; Rel. Des.

Adair José Longuini; DJAC 31/07/2015.

o judiciário não poderia impedir o reconhecimento destes novos arranjos familiares, assim, é necessário reconhecer a multiparentalidade em respeito aos princípio da dignidade da pessoa humana princípios constitucionais da pluralidade dos arranjos familiares, dignidade da pessoa humana, busca da felicidade e da prioridade absoluta e proteção integral da criança e do adolescente, de acordo com o entendimento do Desembargador Adair José Longuin do Tribunal de Justiça do Acre.

APELAÇÃO. DIREITO CIVIL FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE

PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.

MULTIPARENTALIDADE. IMPOSSIBILIDADE. Em que pese tenha o STF, ao analisar a repercussão geral 622, admitido a possibilidade do reconhecimento da multiparentalidade, a alteração no registro civil de uma criança constando o nome de dois pais é situação não prevista em Lei, o que impossibilita o reconhecimento da pretensão recursal. Recurso desprovido. (TJRS; AC 0161882-68.2017.8.21.7000; Campo Bom; Sétima Câmara Cível; Relª Desª Liselena Schifino Robles Ribeiro; Julg. 16/08/2017;

DJERS 18/08/2017)174.

Muito embora a decisão do Supremo Tribunal Federal tenha se tornado repercussão geral no país, a Desembargadora Liselena Schifino Robles Ribeiro do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul não admitiu a possibilidade de constar o nome de dois pais no registro de nascimento, em sua decisão, sob a justificativa de ausência de previsão legal.

Nas pesquisas realizadas verifica-se que há um maior número de julgados pelos tribunais do Distrito Federal e de Santa Catarina.

Nota-se, ainda, que as decisões, em sua maioria, acompanharam o entendimento do Supremo Tribunal Federal acerca da possibilidade de constar dois registros de pai ou de mãe na certidão de nascimento, tendo em vista a possibilidade do reconhecimento da paternidade socioafetiva.

O registro constante na certidão de nascimento não impossibilita o outro. Isto é, o fato da pessoa possuir o registro do pai biológico, não o impossibilita de pleitear o

174 RIO GRANDE DO SUL. TJRS; AC 0161882-68.2017.8.21.7000; Campo Bom; Sétima Câmara Cível; Relª Desª Liselena Schifino Robles Ribeiro; Julg. 16/08/2017; DJERS 18/08/2017.

reconhecimento da multiparentalidade e, então, o registro do pai socioafetivo, e vice- versa.

As decisões, identificadas na busca, espalhadas pelo judiciário brasileiro, apresentam, em sua maioria, acerca do reconhecimento da multiparentalidade e do registro do pai biológico, sem substituir o registro do pai socioafetivo.

Entendem, grande parte dos Tribunais de Justiça do Brasil, que diante da existência dos dois vínculos, genético e afetivo, torna-se indiscutível a possiblidade de inclusão no registro de nascimento.

Destaca-se que, atualmente, o Conselho Nacional de Justiça, através do Provimento nº. 63 de 14 de novembro de 2017, possibilita o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade socioafetiva no Livro ―Aǁ 175. Contudo, como visto, a Portaria 63/2017 foi publicada em 14 de novembro de 2017, e as decisões analisadas no presente capítulo foram proferidas posteriormente a esta data.

175 BRASIL. CNJ - Atos Administrativos. Provimento Nº 63 de 14/11/2017. Brasília, 2017. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380>. Acesso em: 24 nov. 2017.

8 CONCLUSÃO

A Constituição Federal positivou, em 1988, o que já era de costume, ampliando o conceito de família de forma igualitária de todos os seus membros, sedimentando e reconhecendo as uniões de fato, que formavam diferentes espécies de família, muito embora não traga a indicação da família multiparental em seu teor.

Foi com base nos princípios basilares do Direito de família, o da dignidade da pessoa humana e o da afetividade, que os legisladores se inclinaram para a constituição da família baseados na afetividade, pois não é o laço biológico mais relevante que o afetivo, ambos estão lados a lado, em alguns casos o afetivo é muito mais atenuante do que o outro.

Hoje os modelos de família são norteados pelo afeto, que buscam nada mais que a felicidade, inserida neste arranjo familiar tem a multiparentalidade, que nada mais é do que a possibilidade de a criança ou adolescente ter em sua certidão de nascimento o registro de dois pais ou duas mães, um com vínculo afetivo e o outro biológico. Assim como toda relação, esta também é fonte de direitos e deveres, que geram efeitos jurídicos.

Logo, por mais que se tente evitar, os conflitos também vão existir, e quando isso acontece deve-se dar primazia ao princípio da dignidade da pessoa humana cumulado ao princípio do melhor interesse da criança para que a essência da família multiparental, que é o afeto, não seja perdida.

Deste modo, percebe-se que o judiciário vem acompanhando a evolução da sociedade, ainda que de forma paulatina, inicialmente, com o reconhecimento da multiparentalidade pelo Supremo Tribunal Federal e agora, com a possibilidade do registro da parternidade socioafetiva nos cartórios de registros civis, através do provimento 63/2017 do Conselho Nacional de Justiça.

REFERÊNCIAS

ACRE. TJAC; APL 0711965-73.2013.8.01.0001; Ac. 16.067; Primeira Câmara Cível;

Rel. Des. Adair José Longuini; DJAC 31/07/2015.

BATISTA, Débora Mayane de Ávila. A MULTIPARENTALIDADE E SEUS EFEITOS NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA: análise à luz dos princípios da dignidade da pessoa humana e do melhor interesse da criança. Monografia. Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Bacharelado em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Brasília, 2014.

BERTOLDO, Daniela Lusa; MENDES, Jennifer Helena; SILVA, Luiz Guilherme Santana; MARTINEZ, Adilson. MULTIPARENTALIDADE E FILIAÇÃO

SOCIOAFETIVA: efeitos jurídicos. In: Revista do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas V1 N1: Maio de 2017.

BRASIL. CNJ - Atos Administrativos. Provimento Nº 63 de 14/11/2017. Brasília, 2017. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380>.

Acesso em: 24 nov. 2017.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:

BRASIL. Emenda Constitucional nº 66, de 13 de julho de 2010. Dá nova redação ao §6º do art. 226 da Constituição Federal. Brasília, 2010. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc66.htm>.

Acesso em: 12 out. 2017.

BRASIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras

providências. Brasília, 1990. Disponível em: <

providências. Brasília, 1990. Disponível em: <

Documentos relacionados