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Análise jurisprudencial

No documento JACKS RODRIGUES FERREIRA FILHO (páginas 32-37)

3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO

3.4 Análise jurisprudencial

A omissão específica do Estado deve caracterizar sua responsabilidade objetiva, fazendo com que a Administração haja com cautela quando a ausência de um determinado serviço acarreta a reparação dos danos causados por essa ausência a partir da comprovação apenas do nexo causal e do dano provocado, pois se torna dispensável a análise subjetiva da conduta omissiva do agente público.

Os tribunais, cada vez mais, vêm reconhecendo responsabilidade por omissão específica do Estado, inclusive com reparação de danos morais, conforme jurisprudência a seguir:

EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. UFRJ. PINEL. AGRESSÃO. CONFIGURADO NEXO ETIOLÓGICO. ART.37 § 6º, DA CF/88. DANO MORAL. -Trata-se de ação de rito comum ordinário, ajuizada em face da UFRJ e da UNIÃO FEDERAL, objetivando a condenação das rés ao pagamento de indenização por danos morais a serem fixados pelo juízo, bem como danos materiais no valor de 1.000 salários mínimos para cada autor, alegando que 2º demandante é portador de uma doença psiquiátrica crônica – TRANSTORNO BIPOLAR DE HUMOR – CID 10, e que a 1ª demandante, recebeu uma ligação do hospital PINEL em que o mesmo se encontrava, dizendo que seu filho teria sofrido um acidente e, por isso, teve que ser transferido para o Hospital Miguel Couto, contudo, após, foi informada que, na verdade, seu filho foi agredido por um outro paciente com uma telha, tendo seus dentes quebrados e o rosto deformado, necessitando assim, de uma cirurgia reparadora. -Para configuração da responsabilidade civil do Estado, fulcrada no artigo 37, §6º da Carta Magna, é necessário que haja um dano, uma ação administrativa, aqui entendida como conduta comissiva, ou omissiva, sendo esta última calcada em uma específica falta de serviço , traduzida em um dever jurídico, e uma possibilidade fática de atuar, e que entre ambos exista um nexo de causalidade, informado pela teoria do dano direto, e imediato (STF RE 130764, DJ 7/8/92). -In casu, diante da situação fático-probatória, efetivamente, autoriza o reconhecimento de conduta omissiva estatal, bem como de nexo-etiológico do dano sofrido pela parte autora, na media que restou demonstrado que o evento danoso originou-se de omissão específica do Estado. Assim sendo, diante do epigrafado, a meu juízo, restando configurado o nexo etiológico, correto o deslinde da questão, salvo quanto ao valor arbitrado do dano moral. -O fundamento do dano moral, não é apenas aquela idéia de compensação – substituir a tristeza pela alegria; a indenização pelo dano moral tem também de assumir o caráter punitivo. Entretanto, há de se orientar-se o órgão julgador pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela

jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e às peculiaridades de cada caso. Assim sendo, atento que a fixação do valor do dano moral tem duplo conteúdo, de sanção e compensação, entendo ser o valor arbitrado desproporcional ao caso, razão pela qual reduzo-o para R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por demandante. -No que tange à condenação de honorários advocatícios, tal pleito merece, outrossim respaldo, a teor do § 4º, do artigo 20 do CPC, hei por bem arbitrá-la em R$ 4.000,00 (quatro mil reais). - Remessa Necessária e recursos parcialmente providos, nos termos epigrafados.24

Demonstrando maturidade no assunto, o mesmo tribunal que prolatou a decisão supracitada também reconheceu a responsabilidade por omissão específica do Estado, ordenando a reparação dos danos causados:

EMENTA: “ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO

ESTADO. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ATROPELAMENTO DE ANIMAL EM RODOVIA FEDERAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO (POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL) E DO DNIT. NEXO DE CAUSALIDADE. PROVA. DANOS MATERIAIS. DIREITO À INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS INDEVIDOS. 1. (…) 2. A orientação que vem prevalecendo nas Turmas da Suprema Corte é no sentido de que subsiste a responsabilidade objetiva em se tratando de conduta omissiva, devendo esta ser apurada pela existência de um dever jurídico, inadmitindo-se a designada omissão genérica (RE 109615 e RE-AgR 481110, Rel. Min. Celso de Mello; AI 350074 AgR, Relator Min. Moreira Alves). 3. In casu, a situação fático-probatória autoriza o reconhecimento, quer de conduta omissiva estatal, quer de nexo-etiológico do dano sofrido, eis que restou demonstrado que o evento danoso (acidente em virtude do abalroamento do veículo com um animal que adentrou na Rodovia) originou-se de omissão específica do Estado. 4. (…) 5. As informações carreadas aos autos dão conta da omissão da ação estatal esperada, eis que, avisada da presença do animal na rodovia, a Polícia Rodoviária Federal não diligenciou rapidamente para a retirada do mesmo a tempo de evitar algum acidente. Conforme destacado com acerto pelo MM. Juiz a quo, “não há como conceber uma simples omissão pura. Concordando que o Estado não é onipresente, no caso em tela, porém, a Polícia Rodoviária Federal já tinha sido avisada da presença do animal na pista, tendo ciência do perigo iminente, e, nada fez, quando podia e devia ter recolhido o animal, ou então, pelo menos, providenciar a imediata informação aos condutores que trafegavam na via do perigo que se avizinhava”. (…). Portanto, relativamente à responsabilização do DNIT, esta existe, sim, e deve ser analisada à luz do dever de fiscalização das pistas de rolamento, por não haver demonstrado haver placas de sinalização alertando o tráfego de animais, nem evitado tal circunstância mediante a colocação de barreiras ou cercas, sobretudo, considerando-se haver tráfego intenso de semoventes à margem das pistas de rolamento. 6. A omissão do DNIT está caracterizada pela ausência tanto de sinalização alertando aos condutores acerca do tráfego de animais como pela inexistência de barreiras ou cercas protetivas à margem das pistas de rolamento, as quais evitariam ou minimizariam a circulação de animais na rodovia. Já a omissão da União Federal está consubstanciada na negligência da Polícia Rodoviária Federal na fiscalização da BR-101, pois não agiu na forma preconizada pelo art. 144, § 2º, da Constituição Federal, e pelo art. 20, VI, do Código de Trânsito Brasileiro, permitindo que animais perambulassem pela estrada, o que contribuiu para a ocorrência do acidente. Dessa forma, o acidente foi ocasionado pela conjunção de dois fatores omissivos, cada um relacionado a uma atribuição específica dos demandados. Assim, demonstrado o nexo causal entre a omissão específica da

24 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. APELREEX RJ nº 2006.51.01.021701-0. Relator:

Polícia Rodoviária Federal e do DNIT em fiscalizar, iluminar, recolher animais da rodovia e aparelhar a rodovia em tela (BR-101) com placas de sinalização de tráfego de animais, além de outras medidas acautelatórias à prevenção de acidentes, a impedir (ou dificultar) a invasão de animais na pista, nasce o dever da Administração de indenizar os prejuízos materiais sofridos, aplicando-se, por conseguinte, o disposto no art. 37, §6º, da Constituição da República. 7. (…) 8. Outrossim, a responsabilidade civil somente é elidida pelo caso fortuito ou pela culpa exclusiva da vítima, hipóteses que não se acham caracterizadas no caso em exame. 9. A título de dano material, foi fixado valor em montante razoável, correspondente aos gastos comprovados para o conserto da Land Rover, ano 1996, no total de R$ 22.832,00, sendo certo que, ao contrário do que sustenta o DNIT, foram acostadas aos autos todas as notas fiscais. (…) Nesse sentido, confira-se: EDREsp 671964, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 31/08/2009. 12. “Remessa necessária e apelos conhecidos e parcialmente providos.” 25

Com relação aos furtos de veículos no interior de estabelecimentos de ensino, a jurisprudência é pacífica no sentido de responsabilizar objetivamente o administrador que possui vigilância especializada em estacionamentos, não aplicando a teoria objetiva para os casos em que tal vigilância não é oferecida, conforme jurisprudência a seguir exposta:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. FURTO DE VEÍCULO OCORRIDO EM ESTACIONAMENTO DE EDIFÍCIO PÚBLICO FEDERAL. AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL. CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIROS. 1. A responsabilidade do Estado, embora objetiva, por força do disposto no artigo 37, § 6º, da Constituição da República, não dispensa a demonstração do nexo de causalidade entre a ação ou a omissão atribuída aos agentes estatais e o dano causado a terceiros. A responsabilidade civil objetiva pressupõe, necessariamente, que o dano suportado esteja relacionado, direta e imediatamente, com a ação ou a omissão do agente do Estado, sem o que não se forma o nexo de causalidade, indispensável à configuração do dever de indenizar. 2. Inexistência, no caso, de relação direta e imediata entre o dano suportado e a ação ou a omissão imputável aos agentes da ré, uma vez que os danos experimentados pelo autor, em virtude de colisão de veículo de sua propriedade, que fora furtado por alunos da instituição de ensino onde leciona, não decorreram de ação ou omissão de preposto do Estado. O veículo estava estacionado em estacionamento público gratuito, sem vigilância, para facilitar o acesso à escola técnica, não havendo responsabilidade legal ou contratual do Estado pela sua guarda. Nessas circunstâncias, não há como imputar a ocorrência de omissão ou de culpa "in vigilando" aos agentes estatais. Precedentes desta Corte. 4. Dá-se provimento ao recurso de apelação para julgar improcedente o pedido e inverter os ônus de sucumbência.26

No entanto, é grande a discussão a respeito do que seria vigilância especializada para a configuração da responsabilidade objetiva, pois há julgados em que a simples presença de guarita e o controle de entrada e saída de veículos no interior de universidades já ensejam a objetivação da responsabilidade do Estado, é o que traz a jurisprudência atualizada a respeito do assunto:

25 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. APELREEX RJ nº 2006.51.02.005267-4. Relator:

Desembargador Federal José Antônio Lisboa. Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2010.

26 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Apelação Cível n° 1999.32.00.002827-0. Relator: Juiz

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANO MATERIAL. FURTO DE VEÍCULO. ESTACIONAMENTO DISPONIBILIZADO NAS DEPENDÊNCIAS DE UNIVERSIDADE FEDERAL. CABIMENTO. 1. O Poder Público deve assumir a guarda e responsabilidade do veículo em área de estacionamento pertencente a estabelecimento público apenas quando dotado de vigilância especializada para esse fim. 2. In casu, o exame das circunstâncias revela que o estacionamento possuía guarita, bem como controle de entrada e saída de veículos. 3. Responsabilidade configurada.27

Em 2009, o Tribunal Regional da 5ª Região julgou a respeito de dano ocasionado a veículo no interior da Universidade Federal do Ceará, e, há época, não foi reconhecida a responsabilidade objetiva do Estado, como passa a expor:

EMENTA: CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. FURTO DE VEICULO EM ESTACIONAMENTO DA UFC. RESPONSABILIDADE OBJETIVA NÃO CONFIGURADA. CONDENAÇÃO DA UNIVERSIDADE AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS. INVERSÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. 1. Sentença que condenou a Universidade Federal do Ceará - UFC, ao pagamento, em favor da Autora, do montante equivalente ao valor dos aparelhos eletrônicos que foram subtraídos do interior do veículo que se encontrava estacionado no estacionado no campus da UFC. 2. Os estacionamentos ofertados pelas Universidades Federais visam facilitar o acesso ao Campus dos professores e dos alunos, não se destinando à guarda e à conservação dos veículos respectivos. 2. A responsabilidade civil do Estado depende de uma conduta estatal, ativa ou passiva, que produza efeito danoso à terceiro. Deve existir uma relação de causalidade necessária e suficiente entre a ação ou omissão estatal e o resultado danoso, não verificados no caso concreto. 3. Hipótese em que a Apelante - a Universidade do Ceará -, não oferece serviço de parqueamento privativo, tampouco qualquer tipo de controle dos veículos que entram e saem do estacionamento gratuito, o que afasta a sua responsabilidade de indenizar a Autora, em decorrência do furto de bens no interior do seu veiculo. 4. Descabe imputar responsabilidade a UFC por um serviço cuja prestação é gratuita, pois além de oferecer uma vantagem aos servidores -sem qualquer ônus-, estar-se-ia cobrando da entidade uma obrigação sem a correspondente contra-prestação. 5. Apelação da UFC e Remessa Necessária providas. Inversão do ônus da sucumbência.28

Diante dessa análise jurisprudencial, abordaremos, no próximo capítulo, argumentos que propiciam o reconhecimento da responsabilidade objetiva do Estado por omissão a furtos de veículos no interior de universidades públicas que contenham vigilância especializada ou não.

27 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Apelação Cível n° 2001.03.99.052149-9. Relator:

Desembargador Federal Mairan Maia. São Paulo, 6 de maio de 2010.

28 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Apelação Cível n° 2002.81.00.015539-5. Relator:

Argumentos esses pautados no dever de segurança e educação que o Estado tem para com os cidadãos que usufruem das universidades para seu desenvolvimento intelectual e social.

4. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO POR DANOS OCORRIDOS A

No documento JACKS RODRIGUES FERREIRA FILHO (páginas 32-37)

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