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2.2 A PRÁTICA: O DESENVOLVIMENTO DA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

2.2.3 A análise lingüística dos textos

O terceiro encontro ocorreu no dia 12 de novembro. Nosso objetivo, nesse dia, foi o de trabalhar, junto com os acadêmicos, uma primeira análise lingüística dos textos da primeira produção.

Antecipadamente, já havíamos realizado uma breve análise dos textos, com anotações em um espaço reservado no final da folha identificada para a produção inicial. Para nossa análise, buscamos destacar três pontos: a) avaliação do texto como artigo de opinião, em

termos de adequação às características do gênero (tema, forma composicional e estilo); b) sugestão de pontos para refletir/rever: comentários sobre problemas de coerência textual; c) indicação de “problemas gerais”, relativos à questão propriamente gramatical. Observamos aos acadêmicos que essa análise não era definitiva – portanto, não deveriam se pautar nela para fazer as suas análises – e que sua contribuição, analisando os textos dos colegas, era muito importante para a melhoria das/nas próximas versões.

Enfim, orientamos para que, nesse trabalho, procurassem deter-se em aspectos da adequação do texto ao gênero (principalmente em relação à forma e ao estilo, com base nas características que havíamos levantado na aula anterior e que eles haviam repassado às suas fichas de anotações) e relativas à textualidade (basicamente, se o texto possui coerência; se, na leitura, ele será compreendido pelo seu interlocutor/leitor). Então, pedimos aos acadêmicos para trabalharem em duplas: um analisou o texto do outro, apontando as dificuldades encontradas no texto, além de sugerir possibilidades para saná-las, em uma lista de constatações. Com isso, seguindo o previsto no planejamento, nossa pretensão era efetuar um trabalho interacional entre o professor e os acadêmicos, já que não constituía nosso objetivo, dentro da concepção da seqüência didática, analisar os textos solitária e detalhadamente, como se apenas a opinião do professor-corretor valesse nesse momento.

Fazendo uma breve análise das atividades desenvolvidas pelos acadêmicos, sentimos que houve receptividade ao trabalho e compreensão do que deveria ser feito. Percebemos também que alguns acadêmicos levaram o trabalho a sério, concentrando-se e procurando contribuir com o texto do colega, enquanto outros não deram tanta importância à atividade, muitas vezes estando distraídos ou preocupados com outras questões – uma situação normal, em vista de que não estavam realizando algo rotineiro, pois ainda há a visão de que o papel de “analista e revisor” de textos compete unicamente ao professor. Além disso, outros p ontos despertaram nossa atenção: houve várias solicitações de auxílio ao professor, para dirimir

dúvidas; alguns acadêmicos fizeram análises parciais e generalistas, mais focados em questões essencialmente gramaticais (ortografia, acentuação, concordância, por exemplo); e outros surpreenderam, pela capacidade de análise e nível de sugestões propostas, como, por exemplo, uma acadêmica observou que “a conclusão do artigo, ficou vaga, ou seja, sem argumentação, é isso e pronto (é por que é), não dando provas ou mais informações” e sugeriu à colega que revisse o texto, pois “[...] a argumentação, ou as provas do conteúdo textual são de extrema importância para convencer o leitor”. Já outra acadêmica assinalou que o título do artigo estava muito longo e propôs “d iminuir o título, centrando-o no foco principal do texto”. E outra destacou que “o uso de [da palavra] ‘cuide’ demonstra que somente o leitor deve cuidar, se isentando [o autor] do problema”. Um outro acadêmico, por sua vez, avaliou que o texto do colega estava com uma linguagem muito elaborada e sugeriu “procurar escrever em uma linguagem mais simples para leigos, entenderem melhor (interpretarem)”.

Apenas um ponto deixou a desejar: pensávamos que o trabalho em duplas favoreceria a interação e a troca de idéias entre os acadêmicos, porém sentimos que isso não ocorreu, motivado por duas situações. A primeira, cada um estava preocupado mais em fazer a sua atividade, e não em estar auxiliando o colega. A segunda, havia uma preocupação de que o trabalho do colega-leitor poderia ocorrer no sentido de depreciar o texto, desmerecê-lo. Como era um trabalho inicial e em virtude de que o texto passaria por novas versões, não nos preocupamos tanto com essas situações, apesar de que deveríamos pensar em alternativas para os módulos, em casos que envolvessem atividades em equipe.

Tanto o trabalho de análise lingüística efetuada pelos acadêmicos quanto o do professor foram muito importantes, pois possibilitaram, a partir daí, selecionar os pontos a serem trabalhados por ocasião dos módulos, objeto de estudos do quarto e do quinto encontros.

Após a atividade de análise, e como forma de descontração, propomos, para a segunda parte do encontro, uma dinâmica de equipe chamada de “argumentação e persuasão”. Então, distribuímos a turma em cinco equipes, cada uma recebendo um “produto” para ser vendido. A tarefa das equipes consistia em produzir um texto, com argumentos para convencer o interlocutor a comprar o seu produto. Após produzidos, os textos seriam socializados. Os produtos eram bem inusitados: um terreno na lua, um palito de fósforo (queimado), um bilhete de loteria (já corrido e não premiado), um monumento histórico e a praça da cidade. Ressaltamos que a equipe com o maior número de argumentos “válidos” (factíveis) seria a vencedora e receberia, conseqüentemente, “um prêmio”. Isso despertou o espírito de competição entre os acadêmicos. Durante a produção dos textos, percebemos muita interação e descontração nas equipes, afinal, sendo os produtos fora do convencional, isso provoca uma verdadeira “tempestade de idéias”, desde as realistas até as fantasiosas. Encerramos a aula com a apresentação dos textos produzidos nessa dinâmica.

Prosseguindo, estaremos apresentando o desenvolvimento dos módulos previstos na seqüência didática.