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2.2 A PRÁTICA: O DESENVOLVIMENTO DA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

2.2.4 Os módulos

Com a primeira produção analisada lingüisticamente, no quarto e no quinto encontros desenvolvemos os módulos. Observa-se que os módulos, na concepção da seqüência didática, têm por objetivo principal trabalhar sobre os problemas apresentados pelos alunos em sua primeira produção. Assim, no primeiro módulo, trabalhamos com as capacidades necessárias ao domínio do gênero artigo de opinião, através de atividades centradas em dois pontos: a) o trabalho com problemas de níveis diferentes e b) a capitalização de aquisições.

No trabalho com problemas de níveis diferentes, discutimos novamente com os acadêmicos a representação da situação de comunicação, ou seja, qual a imagem que fazemos do destinatário/interlocutor do texto, a finalidade visada com nosso texto – convencer a comunidade sobre a urgência em discutir soluções para os problemas ambientais –, a questão da autoria – a escrita como aluno do curso de Engenharia Florestal – e o gênero a ser explorado, o artigo de opinião, que prevê um texto no qual o objetivo é o de convencer o outro de uma determinada idéia, influenciá-lo, transformar os seus valores por meio de um processo de argumentação a favor de uma determinada posição. Ressaltamos, nesse momento, que a autoria prevê responsabilidade, compromisso e conhecimento sobre o que se escreve.

Também tratamos da elaboração dos conteúdos, questionando os acadêmicos sobre duas situações: se eles possuem as informações necessárias para escrever ou se precisam buscá-las em outras fontes e, nesse caso, como podem buscar essas informações. Instigados pelo professor/pesquisador, os acadêmicos levantaram possibilidades para obter as informações, sugerindo a leitura de jornais e revistas, além da pesquisa in loco onde os problemas ambientais ocorrem. Outra possibilidade para ter maiores conhecimentos sobre os problemas ambientais, sugerida pelo professor/pesquisador, é a conversa ou entrevista com um especialista no assunto. Nesse sentido, articulamos um debate, que acontecerá na próxima aula, com uma professora da área ambiental (como segundo módulo da seqüência didática). Orientamos, então, a pensarem em perguntas a serem feitas no debate, vinculadas às suas situações problematizadoras.

E sobre o planejamento e a realização do texto, discutimos sobre a estrutura que o artigo de opinião deve conter, tendo em vista a finalidade que desejamos atingir e os destinatários visados pelo nosso texto, além de alguns meios de linguagem mais eficazes para escrever o texto: vocabulário apropriado (títulos e palavras acessíveis à compreensão do leitor), utilização de verbos no tempo presente (para presentificar as nossas idéias, situá-las

aqui e agora) e o cuidado com a unidade do texto, mantida através da coesão e da coerência nas idéias trabalhadas. Nessa atividade, utilizamos o levantamento feito pelo professor/pesquisador e pelos acadêmicos durante a análise lingüística, juntamente com as características sobre o gênero, levantadas na discussão ocorrida no segundo encontro – estas características estão relatadas na subseção 2.2.2 A primeira produção: hora de escrever.

Nesse momento, com a finalidade de capitalizar as aquisições, isto é, observar uma das questões relativas ao encaminhamento de decomposição e de trabalho sobre os problemas apresentados – conforme o procedimento seqüência didática –, solicitamos que os acadêmicos fizessem anotações na lista de constatações dos conhecimentos que eles adquiriram sobre o gênero artigo de opinião e sobre a norma padrão.

Em seguida, tratamos da organização da publicação, compondo equipes de trabalho: projeto gráfico e diagramação, digitação dos textos, custos/negociação e revisão. Salientamos que cada equipe é responsável pela sua área e do compromisso de estarmos trabalhando de forma integrada. Sentimos um envolvimento maior dos acadêmicos, com sugestões, motivação e disposição para que o nosso (do professor/pesquisador e dos acadêmicos) projeto coletivo de produção do artigo de opinião atingisse seus resultados.

Já no segundo módulo, desenvolvido no quinto encontro, realizamos o debate com a professora da Unoesc, Gerusa Panigalli, mestre em Ciências Biológicas (Zoologia). Nossa intenção foi a de fornecer mais subsídios aos acadêmicos sobre a problemática ambiental do Brasil – com destaque para a região Sul –, para facilitar a retomada do texto, em sua próxima versão. Previmos em torno de 150 minutos (três horas-aula) para a realização dessa atividade. Antes da chegada da professora, distribuímos as fichas de anotações para tomarem nota dos pontos discutidos.

O encontro ocorreu de forma descontraída e proveitosa. Após cumprimentarmos a professora, que agradeceu o convite formulado, ela sugeriu que utilizássemos um sistema bem

descontraído: iria expondo e, à medida que surgissem dúvidas, os acadêmicos podiam intervir. Ao final dos trabalhos, agradecemos, em nome da turma, as informações prestadas e foi dada uma salva de palmas para a professora.

Em nossa avaliação, o encontro foi muito proveitoso. Dinâmica, a professora também demonstrou muito conhecimento sobre os temas abordados, utilizando transparências para apresentar dados estatísticos sobre os problemas ambientais. Além das informações que foram de fundamental importância para os acadêmicos, forneceu sugestões de leitura, nas quais eles poderiam encontrar mais subsídios para desenvolver seus textos de acordo com suas situações problematizadoras.

Aproveitamos o tempo restante para desenvolver um novo módulo (o terceiro), agora centrado nos meios de linguagem mais eficazes para escrever o artigo de opinião. Aqui, nosso objetivo foi o de trabalhar as dificuldades na escrita dos textos, através da análise de aspectos pontuais da gramática, efetuada sobre a primeira produção dos acadêmicos. Em outros termos, procuramos analisar o emprego da gramática (norma padrão) na produção do gênero artigo de opinião.

Diferente da atividade anterior, o módulo três não saiu a contento. Houve muita dispersão dos acadêmicos, devido, segundo depoimento deles próprios, ao fato de a gramática ser muito “abstrata” e “chata”; portanto, difícil de se r compreendida. Além disso, na noite desse mesmo dia, eles teriam aula e queriam descansar um pouco antes – até compreensível, pois o encontro da tarde finaliza às 17h55min, apenas um pouco mais de uma hora até a próxima jornada, de mais quatro horas-aula.

As questões que trabalhamos diziam respeito à acentuação (diferenças entre “influencia” e “influência”, entre outras), uso de aspas (para os casos de ironia/palavras estrangeiras/termos técnicos/realce), regras básicas de concordância verbal e nominal, crase, diminutivos, separação silábica, ortografia, pontuação (incluindo o trema), uso dos porquês,

repetição de palavras, uso pronominal (“esta” x “está”, por exemplo) e usos verbais (regência verbal). Portanto, efetivamente pontuais, e não generalizações e definições abstratas (substantivo é isso... pronome é aquilo..., por exemplo) ou exercícios “fechados” (assinale a alternativa correta... siga o modelo..., por exemplo). Ou seja: promovemos mais uma explicação rápida, descomplicada, de como deveriam utilizar certas situações da gramática pela necessidade de manter/estabelecer a coerência do texto, sua compreensão por parte do interlocutor.

Porém, sentimos (o professor/pesquisador) dificuldades, pois não conseguimos nem a colaboração dos acadêmicos (havia muita dispersão e conversas paralelas), nem o interesse deles pelos aspectos estudados. Notamos que se fazia presente uma das dificuldades que o professor enfrenta em seu cotidiano: não são raras as vezes em que o professor de português, em sua lida diária, depara-se com o desinteresse dos alunos por conteúdos que envolvem a gramática, mesmo que ele procure variar as atividades, utilizando estratégias que fujam do tradicionalismo da “regra pela regra”.

Assim, nesse momento pelo menos duas questões nos preocupavam: como que isso vai refletir na continuidade da seqüência didática? Será que vai prejudicá-los na próxima versão do texto, por faltar um “suporte” gramatical mais consistente?

Para tentar amenizar nossa dúvida, disponibilizamos, na central de cópias da universidade, uma espécie de mini-apostila, que solicitamos fizessem cópia para estudo em casa. Além disso, sugerimos que, após a leitura desse material, poderíamos rever alguns tópicos, para esclarecer dúvidas específicas.

Como finalização desse encontro, propomos a escolha de um nome para a publicação. Para isso, pedimos que escrevessem, em um pedaço de papel, uma sugestão, que foi depositada em uma urna “improvisada”. Ao final, tínhamos 33 sugestões, algumas mais criativas e inusitadas, tais como “Jorn al Verde”, “Cerne”, “Consciência Ambiental”, “Diário

Florestal”, “Informativo Vegetal”, “Jornal Capoeirão”, “O Mensageiro Ambiental”, “Jornal Preservado” e “Tribuna Florestal”. Após várias divergências sobre os nomes sugeridos, só chegamos a um consenso após a proposta, feita pelo professor-pesquisador, de que fizéssemos uma votação. Depois de apurados os resultados, o vencedor foi o nome “Engenharia Florestal em Opinião”. Ao final, lembramos que nosso próximo encontro será reservado à reescrita dos textos.