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Análise morfossintáctica das colocações verbais

CAPÍTULO 3: COMBINATÓRIAS

8. Análise morfossintáctica das colocações verbais

Com base nas combinatórias verbais seleccionadas do nosso corpus, observamos que grande parte dos verbos usados no discurso jurídico são de uso da língua corrente, como é o verbo fazer, publicar, aprovar entre outros.

Assim, mais adiante, mostraremos que o argumento do verbo, ou seja, o colocativo, modifica ou realça o sentido do verbo, que é a base e acrescenta um valor semântico especializado ao significado do verbo dando lugar às combinatórias lexicais especializadas.

Tratando-se de verbos de uso da língua corrente, tal como nas nominalizações, interessa-nos observar o que acontece ao seu sentido, quando são usados em colocação. A seguir, apresentamos a lista das combinatórias verbais:

votar a constituição publicar a constituição cumprir a constituição fazer a constituição

prever a promulgação da constituição submeter a constituição a (referendo) estar acima da constituição

elaborar uma nova constituição decretar a constituição

aprovar a constituição

prever a sujeição da constituição

estabelecer a eleição de (o Presidente da República) recorrer à fiscalização da constitucionalidade exercer a fiscalização da constitucionalidade estabelecer a fiscalização judicial

intervir na função legislativa

recusar a promulgação da lei de divisão promover a eleição

Analisando a tabela das colocações verbais, podemos verificar que, embora apareça a verbo decretar que tem o traço específico da língua jurídica, grande parte dos nossos exemplos está constituída por verbos comummente utilizados na língua corrente, como supra referido.

Tal como vimos nas combinatórias nominais, também algumas combinatórias verbais só adquirem o valor de colocação no todo da combinatória. Exemplo: estabelecer a eleição do Presidente da República. As partes desta combinatória não têm traços de especialidade no discurso jurídico. O contágio do argumento com a base é que torna esta combinatória numa colocação.

Vejamos como o verbo prever está registado no dicionário da Língua Portuguesa:

prever [v.t. Ver com antecipação. Conjecturar. Prognosticar.

Com base nesse registo, podemos dizer que o verbo prever não tem nenhum traço de especialidade da língua jurídica. Todavia, se observarmos o exemplo que se segue, veremos que o todo da combinatória constitui uma colocação da língua jurídica.

Exemplo: prever a promulgação da constituição

Tal como acontece com as combinatórias nominais, também nas combinatórias verbais o colocativo através do contágio, pode alterar o sentido do verbo que é a base da colocação, ou reforçá-lo.

Neste exemplo, prever que é a base da combinatória é contaminado pela promulgação da constituição que é o colocativo. Esta relação de contaminação resulta numa colocação. Porque o colocativo que é constituído por dois termos de especialidade confere à base o traço de especialidade.

Do ponto de vista morfossintáctico, a estrutura desta colocação mostra-nos a base que selecciona [N + N]. Prever é um verbo transitivo, por isso, quem prevê, prevê alguma coisa; e esta coisa, neste caso, corresponde à especialidade.

A partir dessa lista de combinatórias verbais é possível observar que os mesmos colocativos se podem juntar a diferentes bases verbais.

Exemplo: decretar a constituição, votar a constituição, publicar a constituição, etc.

Tal como as combinatórias nominais, também nas combinatórias verbais, podem ocorrer após a segunda forma fiscalização uma explicação da própria fiscalização a que a combinatória se refere, que neste caso é a constitucionalidade.

Exemplo: “(…) e exercer a fiscalização da constitucionalidade.” (Miranda, 1990)

[exercer]V + a [[fiscalização]N + da + [constitucionalidade]N]

Quase todas as colocações verbais seleccionadas do nosso corpus têm no seu colocativo uma forma de especialidade, no âmbito da língua jurídica. Exemplo: votar a constituição; estabelecer a fiscalização judicial, etc.

Também, podemos dizer que alguns verbos (que são a base das colocações verbais) são verbos terminológicos, devido ao seu traço semântico e ao facto de exprimirem uma actividade própria da especialidade. Exemplos: decretar a constituição; exercer a fiscalização da constitucionalidade.

Tal como constatamos nas combinatórias nominais, também nas combinatórias verbais, notamos pouca ocorrência de a segunda forma ser seguido de um adjectivo.

Exemplo: “(…) por o ministro intervir na função legislativa”.(Miranda, 1990) [intervir + prep. + a função + adj.]

Contrariamente às combinatórias nominais nas colocações verbais encontramos combinatórias que têm como argumento uma combinatória que podemos considerar colocação nominal e dentro desta, um termo.

Ex: recusar a promulgação da lei da divisão

[[promulgação]N + da+[ [lei]N + de+ [divisão]N]T]CN [[lei]N + de + [divisão]N]T

Ainda, procuramos, no nosso corpus, algumas formas verbais das combinatórias nominais estudadas: violar, separar, abolir, elaborar e tentamos analisá-las, do ponto de vista morfossintáctico, a fim de observarmos os seus argumentos.

Para as duas primeiras formas violar/violação encontramos o seguinte:

quer ordem que manifestamente violar as garantias individuais, se n onstituição, sugerindo-se que violaria limites materiais da revisão

Violar as garantias individuais

[violar]V + art. + N + adj.]

"que educação separada é uma violação do princípio da igualdade". Fo nsabilidade, por se tratar de violação da Constituição) pela Câmara a Justiça ou, com fundamento em violação de direitos das regiões autóno

violação do princípio de igualdade

[violação]N + prep. + art. + N + prep. N]

As estruturas morfossintácticas destas duas combinatórias lexicais são diferentes, e transmitem um valor semântico diferente.

A seguir apresentamos as formas separar/separação.

peculiar que tudo aconselha a separar o seu tratamento do estudo de árias I - Desde o início, se separaram as leis constitucionais e as

Separar as leis constitucionais

[separar]V + art. + N + adj.]

rina pensando na liberdade; a separação de poderes é uma garantia da os direitos e liberdades e da separação dos poderes (conforme o art. 1 entendimento dado à teoria da separação dos poderes, não se admitindo s, ligadas ao entendimento da separação dos poderes - através de outro o, mitigado pelo princípio da separação de poderes em certa acepção, d smo tempo, entre democracia e separação de poderes. Tanto o governo co ividuais, soberania nacional, separação de poderes. São desta época as em-se o republicanismo, com a separação da Igreja do Estado, e o gover

separação de poderes [separação]N + prep. + N]

As estruturas morfossintácticas destas duas combinatórias lexicais são diferentes, e também transmitem o valor semântico diferente.

Para as duas penúltimas formas abolição/abolir encontramos o seguinte:

mediatamente. Directamente: a abolição da escravatura, a transformaçã e 1822; 3.°) De 1823 a 1826 - abolição da Constituição e regresso pre de, por MOUZINHO DA SILVEIRA (abolição dos dízimos e dos forais, sepa amarinas (art. 15.°) (I); - A abolição da pena de morte para crimes p 3.°, n.OS 8, 10 e 12) (3); a abolição da pena de morte em qualquer c s exagerados do capital; - A abolição do requisito da idoneidade pol

abolição da pena de morte

[abolição]N + prep. + art. + N + prep. + N]

.°). O Acto Adicional de 1852 aboliria a pena de morte nos crimes p abolir a pena de morte

[abolir]V + art. + N + prep. + N]

Estas combinatórias em análise mostram que o seu valor semântico é o mesmo, embora tenham estruturas morfossintácticas diferentes.

Finalmente, apresentamos as últimas formas elaboração/elaborar.

em como a origem histórica, a elaboração doutrinária levada a cabo pel cuidado posto no processo de elaboração das leis, a extensão da justi . As Cortes Constituintes e a elaboração da Constituição I - A Consti ° A Carta Constitucional 96. Elaboração e fontes I - A Carta Constitu Constituição de 1838 102. A elaboração da Constituição Como se diss Constituição de 1911 106. A elaboração da Constituição A Constituiçã Constituição de 1933 111. A elaboração da Constituição I - O interr regimento fixou um "plano de elaboração da Constituição" que consisti dos partidos. v - O plano de elaboração da Constituição foi cumprido

elaboração da constituição [elaboração]N + prep. + art. + N]

as em diversos tempos, iremos elaborar um Direito constitucional comp o, sentiu-se a necessidade de elaborar nova Constituição a fim de int que D. João VI tenha mandado elaborar um projecto de Constituição (1 s do Presidente da República, elaborar decretos-leis, elaborar os dec lica, elaborar decretos-leis, elaborar os decretos, regulamentos e in retudo, permite-se ao Governo elaborar decretos-leis não só em caso d reto, segundo lei eleitoral a elaborar pelo futuro Governo Provisório ituinte não pertencia apenas "elaborar" mas também "aprovar" a Consti °) nomeação de comissões para elaborar pareceres sobre as diferentes se fosse caso disso, poderia elaborar textos de substituição (4). O

elaborar nova constituição [elaborar]V + adj. + N]

Este último par de combinatórias, apesar de apresentar uma estrutura morfossintáctica diferente, também mostra que o seu valor semântico é o mesmo.

Para além disto, também vimos que o co-ocorrente imediato do nome é frequentemente a preposição de ou a sua contracção. Exemplo: elaboração da; abolição

da; separação de; violação do, etc. Ao passo que, o co-ocorrente imediato do verbo é mais variável. Pois, pode ser seguido por um nome, artigo, preposição, advérbio. Como exemplo, temos, na página anterior, a concordância dos termos que acabamos de ver elaboração e elaborar.

Partindo dos exemplos apresentados, podemos dizer que o autor, no seu discurso neste nosso corpus, algumas vezes, usa as combinatórias nominais, outras vezes as combinatórias verbais. Para estruturalmente não ser repetitivo ele parece cuidar do seu discurso usando verbos e os seus equivalentes nominais.

CAPÍTULO 4: PROPOSTA DE MODELO DE DICIONÁRIO

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