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9. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

9.3. Análise Multivariada Para Identificação das Dimensões que Exprimem Atitudes, Crenças e Valores e Distância Social em Relação aos Grupos Sociais

Pesquisados

Em seguida à análise descritiva dos resultados foram realizadas Análises Fatoriais, com o objetivo de condensar as informações contidas nos itens do questionário referentes a cada área temática de discriminação da pesquisa em um pequeno grupo de dimensões, denominados fatores. Com a análise fatorial desejou-se obter a natureza e as dimensões latentes das respostas, priorizando a redução da quantidade de variáveis de modo a melhorar a compreensão das análises subseqüentes.

A análise fatorial foi aplicada em dois conjuntos distintos de frases do questionário da pesquisa: as frases que representam as atitudes, crenças e valores dos respondentes em relação a questões pertinentes às áreas temáticas de discriminação do estudo; e as frases que expressam a distância social dos respondentes em relação aos grupos sociais pesquisados.

9.3.1. Análise Fatorial de Atitudes, Crenças e Valores

O primeiro conjunto de frases ao qual se aplicou a análise fatorial compreende as 83 frases que expressam as atitudes dos respondentes relacionadas às 7 áreas temáticas de discriminação do estudo. As 83 frases do questionário foram classificadas de acordo com as áreas temáticas de discriminação do estudo e foram aplicadas, então, 7 análises fatoriais específicas, uma para cada área temática, utilizando a técnica de componentes principais e a rotação de máxima variância, para o conjunto total de frases de cada área, o que permitiu reduzir as 83 variáveis de atitudes originais em 21 dimensões latentes representadas pelos fatores.

Para a interpretação dos fatores extraídos, foi aplicado o critério de rotação de máxima variância, que se concentra na simplificação das colunas da matriz fatorial, tornando sua leitura mais clara para o pesquisador. Com base em tal interpretação, as variáveis foram ordenadas da maior para a menor carga em cada fator e os fatores, então, foram nomeados. Os nomes dos fatores, por terem origem nas frases do questionário também expressam idéias que refletem o universo cognitivo dos respondentes, conforme as frases verbalizadas na pesquisa qualitativa.

A viabilidade e adequação do emprego da técnica de análise fatorial foram verificadas através de dois tipos de teste. O primeiro é o teste de esfericidade de Bartlett, que fornece a probabilidade estatística da presença de correlações significativas na matriz fatorial. O segundo é a medida de adequação da amostragem (Measure of Sampling Adequacy – MSA) para cada item do questionário e a medida de adequação da amostragem de KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) dos Macroconstrutos, que quantifica o grau de intercorrelações entre os itens, com o objetivo de verificar em que medida um item pode ser previsto sem erro pelo conjunto dos demais. De acordo com Hair et al. (1998), o KMO

pode ser interpretado como ótimo para valores superiores a 0,8, bom para valores entre 0,7 e 0,8, razoável para valores entre 0,6 e 0,7, aceitável para valores entre 0,5 e 0,6 e inaceitável para valores inferiores a 0,5.

Verifica-se, portanto, que os resultados da aplicação desta técnica para as 7 áreas temáticas se mostrou completamente adequada, em função dos valores altamente significativos (entre 0,754 e 0,965) para o índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) de adequação amostral e do fato que o valor do teste de esfericidade de Bartlett relativo à estrutura de correlações para efeito de aplicação da análise fatorial foi significativo a p<.000 para todas as sete análises realizadas. Observou-se também que o total da variância explicada, entre 50% e 66,6%, valores considerados satisfatórios para pesquisas sociais.

Em seguida, foram realizadas análises de confiabilidade, tanto para os macroconstrutos que representam cada área temática como para cada dimensão latente identificada na análise fatorial, através do cálculo de seu coeficiente Alpha de Cronbach. Este coeficiente é uma estimativa da correlação entre os valores obtidos por novas aplicações do teste, com o mesmo número de itens do questionário.

Todas as dimensões apresentaram valores iguais ou superiores a 0,5 para o Alpha de Cronbach, enquanto que todos os macroconstrutos de áreas temáticas de discriminação apresentaram valores iguais ou superiores a 0,727. Estes resultados indicam que as dimensões latentes e, principalmente, os macroconstrutos das áreas temáticas de discriminação apresentam confiabilidade adequada, ou seja, apresentam consistência interna dos itens do questionário que os compõem.

A tabela a seguir apresenta os resultados da aplicação das análises fatoriais, compreendendo os fatores extraídos e os indicadores de adequação, variância explicada e confiabilidade dos fatores e dos construtos.

Tabela 52 – Resultados da aplicação da análise fatorial nas sete áreas temáticas de discriminação do estudo

Área

Temática Bartlett Sig. KMO Fatores Auto-valor

Var. Explic.

(%)

Alpha de Cronbach

Fator 1: Brancos têm mais direitos e

melhor posição social 4,0 14,9 0,836 Fator 2: Superioridade inata dos brancos

em relação a negros 3,5 13,0 0,820 Fator 3: Comportamento socialmente

inadequado dos ciganos 2,5 9,3 0,748 Fator 4: Adequação dos negros para

trabalhos menos nobres 2,0 7,4 0,693 Fator 5: Inferioridade inata dos índios 1,7 6,4 0,571

Étnico-

Racial 0,000 0,965

Total - 51,1 0,919

Fator 6: Deficiente é um problema e os profissionais da educação deveriam ganhar mais

2,5 19,3 0,739 Fator 7: Os deficientes não preocupam em

função de sua baixa incidência 1,9 14,9 0,726 Fator 8: Separação dos alunos deficientes

dos demais 1,6 12,4 0,630

Fator 9: Dificuldade do professor deficiente

em dar aulas 1,6 12,1 0,615

Neces- sidades

Especiais 0,000 0,852

Total 58,8 0,809

Fator 10: Há funções na escola que só podem ser desempenhadas por um gênero específico

1,7 24,8 0,645 Fator 11: Há trabalhos que só podem ser

realizados por um gênero específico 1,7 23,7 0,665 Fator 12: Trabalho doméstico é tarefa da

mulher 1,3 18,1 0,500

Gênero 0,000 0,773

Total 66,6 0,731

Fator 13: Profissionais de educação mais

novos entendem melhor os alunos 1,8 30,6 0,671 Fator 14: Pessoas mais velhas têm maior

dificuldade de aprender 1,8 30,6 0,688

Geracional 0,000 0,754

Total 61,2 0,727

Socio-

Área

Temática Bartlett Sig. KMO Fatores Auto-valor

Var. Explic.

(%)

Alpha de Cronbach

Fator 16: Alunos pobres e da periferia são de menor qualidade e, portanto, podem ter professores de menor nível

1,9 24,2 0,651

Total 49,9 0,753

Fator 17: Estudantes do campo são mais

preguiçosos e violentos 1,6 22,5 0,521 Fator 18: Estudantes do campo têm mais

dificuldade para aprender 1,5 22,0 0,679 Fator 19: Escolas do campo não requerem

professores e instalações como as da cidade 1,5 21,8 0,621

Territorial 0,000 0,825

Total 66,3 0,763

Fator 20: Homossexuais não devem participar de ambiente escolar de heterossexuais

3,0 32,9 0,836 Fator 21: Não aceitação da

homossexualidade 2,2 23,9 0,632

Orientação

Sexual 0,000 0,884

Total 56,9 0,820

Os fatores extraídos representam as dimensões latentes subjacentes às frases de cada área temática e foram calculados a partir da matriz de correlações entre as variáveis que exprimem as atitudes dos respondentes em cada uma delas. As tabelas a seguir apresentam as variáveis que compõem cada fator, ordenadas decrescentemente em função de suas cargas fatoriais, juntamente com a média calculada a partir das respostas obtidas para o seu índice percentual de concordância (IPC % médio) e a comunalidade para cada variável na análise. A comunalidade expressa o quanto as cargas fatoriais rotacionadas dos fatores extraídos explicam da variância total de cada variável normalizada.

Tabela 53 – Análise Fatorial das Atitudes – Cargas Fatoriais, Comunalidades e Médias para o Macroconstruto da Área Temática Étnico-Racial

Dimensão

Latente Crenças, Atitudes e Valores Carga no Fator Comunal.

IPC (%)