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4.4 PROCEDIMENTOS DE DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

5.1.1 Análise a partir da dimensão diastrática

Como descrevemos e explicamos no capítulo 4, subitem 4.2.2. a dimensão diastrática representa, neste trabalho, os informantes topostáticos (Ts) e topodinâmicos (Td) e é a partir

58 As perguntas analisadas são as seguintes: 01, 04, 05, 06, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 30, 23, 33, 34. Algumas perguntas não foram analisadas, pois não temos a resposta de todos os informantes. Com alguns informantes a entrevista teve que ser feita de forma breve, e devido a isso não realizamos algumas perguntas. Em alguns casos, os informantes estavam adoentados ou estavam realizando alguma atividade não dispondo de muito tempo livre para a realização da entrevista.

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dela que iniciaremos a análise dos dados. Vejamos as respostas dadas à pergunta número 01 do questionário, quadro abaixo:

Quadro 2: Pergunta 01: Que língua costuma falar em família?

Masculino Feminino LEGENDA

Q

Kaingang

S

Português / Kaingang

E

Português

S S

S S

E Q

E E

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

A partir do quadro 2, percebemos que entre os quatro informantes do grupo masculino não ocorre mudança entre os grupos Ts e Td, prevalecendo o uso de Português e do Kaingang, independente da geração, pois, segundo os dados, todos disseram usar tanto o português quanto o Kaingang. Enquanto no grupo feminino, 3 disseram usar o português, duas informantes TsGI-F e TSGII-F e uma TdGII-F, e somente TdGI-F afirmou usar o Kaingang. A partir dos dados, fica visível um maior uso do português no grupo Ts, tanto na GI quanto na GII. Já no grupo Td F, a GII usa o português à medida que a GI usa o Kaingang. Dessa maneira, o fato de um grupo ser Td ou Ts parece não influenciar no uso de uma ou outra variedade.

Já na questão de gênero, o grupo masculino mantém mais a língua indígena em ambas as gerações, enquanto que o grupo feminino parece usar o português somente, pois as três informantes, TsGI-F, TsGII-F e TdGII-F, declararam que costumam falar o português, pois não aprenderam a falar o Kaingang, mas que entendem alguns vocábulos, como nos diz a informante TdGII-F: “Eu falo o português, porque eu não aprendi o Kaingang, montá a

língua, mas eu entendo assim, as palavra, só não consigo montá elas”. Estes dados vão ao

encontro do que nos diz Chambers & Trudgill (2004), de que as mulheres geralmente apresentam um maior uso da língua majoritária, no caso o português, do que os homens, e que são elas que normalmente iniciam a substituição linguística na comunidade (TRUDGILL, 2000; PILLER & PAVLENKO 2004).

Na pergunta 04, quadro abaixo, “Em que língua mais gosta de conversar? ”, obtivemos os seguintes resultados: dois informantes TdGII-M e TsGII-M afirmaram gostar de falar Português e Kaingang, e dois informantes, TsGI-M e TdGI-M, disseram gostar de falar mais o

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Kaingang. Já no grupo das mulheres, três delas, TdGII-F, TsGII-F e TsGI-F, responderam que gostam de falar mais o português, e uma delas TdGI-F afirmou gostar de usar o Kaingang.

Quadro 3: Pergunta 04: Em que língua mais gosta de conversar?

Masculino Feminino LEGENDA

Q

Kaingang

S

Português / Kaingang

E

Português

S Q

S Q

E Q

E E

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

Os dados apontam que não há uma semelhança quando olhamos para os grupos Td e Ts, tanto masculino quanto feminino. Contudo, quando se trata da língua que mais gosta de conversar, percebe-se que para o gênero masculino, a GI gosta de falar o Kaingang, ao passo que a GII gosta de falar o português e o Kaingang. Podemos associar esse dado ao fato de que a GII, ao frequentar a escola, teve apenas o ensino da língua portuguesa, pois a língua indígena era proibida (MINDLIN, 2002, p. 109; LUCIANO, 2006 p. 124), ação essa que fazia parte da política integracionista a qual incentivava o abandono da língua indígena através do casamento com o não indígena (CLAUDINO, 2015, p. 48). A GI, por sua vez, viveu uma realidade diferente. Na escola, já se ensinava o Kaingang, devido à nova lei da Constituição de 1988, e, ao mesmo tempo, à luta pelos direitos indígenas foi vivenciada por essa geração. Na pergunta 10, “Como aprendeu o português?”, um dos informantes (TdGI-M) nos diz:

“Eu... foi bem difícil de ter o contato assim né, com a fala dos não indígenas, por

causa que a escola onde eu estudei, até a escola onde eu estudei até terceira, antiga terceira série né, eu escrevia só em Kaingang. Então quando eu ia passar pra quarta série, aí que eu comecei a escrever em português e tentar falar em português”.

Já no grupo feminino, verifica-se maior tendência em usar o português, principalmente a GII. No caso da GI, a informante TdGI-F declara gostar de falar mais o Kaingang, enquanto que a informante TsGI gosta de falar o português. A informante TdGII-F nos disse: “Eu falo o

português... porque os meus pais não aprenderam, porque os avôs não ensinaram”. Neste

caso, percebemos que a opção entre uma ou outra língua não existe, pois tanto a informante TsGI-F como TsGII-F e TdGII-F não aprenderam o Kaingang, e, consequentemente, não ensinaram aos filhos.

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Ao encontro do que nos diz a informante, a pergunta 25, do quadro a seguir: “Acha importante que os filhos aprendam Kaingang dos pais? Por quê?” teve as seguintes respostas:

Quadro 4: Pergunta 25: Acha importante que os filhos aprendam Kaingang dos pais? Por

quê? Masculino Feminino

Q Q

Q Q

Q Q

Q Q

LEGENDA

Q

Sim

E

Não

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

Segundo os dados, todos os informantes acham importante ensinar a língua indígena para os filhos. Contudo, (por meio da observação) que muitos, apesar de responderem que acham importante, não ensinaram os filhos a falar ou, principalmente, não incentivam o uso da mesma. Quanto ao porquê ser importante ensinar a língua indígena, não obtivemos respostas significativas, já que simplesmente diziam que era importante. O informante TdGI- M comentou: “...por causa que hoje, o último vestibular que saiu a pouco agora na UFSC a

redação era em Kaingang... então não tem como deixar pra trás”. Este dado nos revela a

existência de uma crença, ou seja, uma forma de pensamento, uma maneira de ver e perceber o mundo e seus fenômenos (BARCELOS 2007 apud BOTASSINI, 2015, p.107) de que é importante ensinar o Kaingang aos filhos. Por outro lado, a atitude não se realiza, pois não se ensina, ou, como já mencionamos, não se incentiva o uso do Kaingang nas famílias.

Quando realizamos a pergunta 26 “Dizem que muitos jovens não falam mais a língua dos pais (Kaingang). O que acha disso?” quatro informantes afirmam que acham ruim: TdGI- M, TdGI-F, TsGI-M e TsGII-M. A informante TdGII-F respondeu da seguinte forma: “Eu

acho que tinha que ter, eu acho que deveria aprender, pra eles valorizar mais a cultura da raça”. Esse dado nos mostra que existe um pensamento, uma crença, de que a valorização da

cultura indígena está ligada ao uso da língua indígena. Porém, o que discorre a informante TsGII-F sobre o que acontece com seus netos vai contra isso: “... o dia que vão dar aula de

Kaingang não querem ir na aula. Eu digo, se você não fala Kaingang você não é nada. Em certos lugares precisa saber”. Desta forma, os dados apontam que os informantes acham

importante ensinar a língua indígena; que é ruim os jovens não usarem mais a variedade, mas não há atitudes das famílias que busquem a manutenção e promoção da língua indígena. Se, conforme Aguilera (2008, p. 106), a atitude vai mostrar a direção de uma mudança linguística,

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diante deste dado, o bilinguismo indígena na TIG está ameaçado. A necessidade de dominar a língua portuguesa, por uma questão de adaptação e sobrevivência (KONDO & FRAGA, 2013) faz com que essa, a língua majoritária, ganhe espaço por ter mais prestígio; e a língua minoritária, no caso, o Kaingang, sofra com a negação de seus falantes (KRUG, 2004, p. 10).