• Nenhum resultado encontrado

Nem sempre é possível explorar todos os fatores na mesma profundidade, nem mesmo certas dimensões conseguem ser exploradas em determinados locais. Mesmo assim, a abordagem pluridimensional continua sendo a mais abrangente nos dias atuais (LAMELI, 2010, p. 585). Desta maneira, em nosso trabalho, também selecionamos apenas algumas dimensões para serem analisadas54 a partir daquelas que foram expostas no capítulo anterior,

sessão 3.5: dimensão diatópica, dimensão diastrática, dimensão diageracional e dimensão

diassexual. Explanamos, de que forma trataremos cada uma delas.

4.2.1 Dimensão diatópica

Nos mapas ADDU, ALMA, ALiB, normalmente, a metodologia empregada compara dados de cidades, com características semelhantes. No nosso caso, como já mencionado, a TIG possui uma extensão de quase 24 mil hectares e nela temos a comunidade Kaingang e a comunidade Guarani, ambas nossos pontos de pesquisa. O terceiro ponto será composto por amostras oriundas das cidades mais próximas, Tenente Portela e Redentora, que possuem em seu território uma área que faz parte do território indígena. Ou seja, teremos três pontos de inquérito, dois deles compostos por comunidades indígenas e um deles por comunidade não

57

indígena. Habitualmente são analisadas variações linguísticas faladas nos diferentes pontos de inquérito por falantes da mesma variedade linguística, no entanto, nesta pesquisa, nosso foco será analisar as crenças e as atitudes quanto ao uso que cada comunidade faz de sua variedade e não, como é tradicional, analisar e comparar a variação entre estas comunidades. Ou seja, utilizaremos a dimensão diatópica para avaliar quais dos grupos acredita mais e apresenta as atitudes mais condizentes em relação a sua língua.

4.2.2 Dimensão diastrática

Como apresentado na seção 3.5, a dimensão diastrática corresponde às classes sociais alta (Ca) e baixa (Cb), de acordo com o nível de instrução educacional dos informantes. Contudo, assim como Thun (1996), em pesquisas realizadas em Rivera para o ADDU, percebeu que, se procurasse informantes sedentários (dimensão topostática), não os encontraria, pois estes eram bastante móveis, então, elaborou a dimensão topodinâmica, (que contempla os informantes mais móveis), nós também percebemos que, na dimensão diastrática de nossa pesquisa, era necessário que se fizessem algumas adaptações. Os povos indígenas não possuem uma classificação social como classe alta, média ou baixa. Para os indígenas todos são iguais, todos possuem os mesmos direitos. Nas reinvindicações feitas por povos indígenas, percebe-se claramente que não há distinção na busca por igualdade, todo o grupo é incluído, o que demonstra não haver diferenças sociais entre eles.

De acordo com as colocações de Becker (1976, p. 140), na organização dos grupos Kaingang, percebia-se três posições, a do cacique, a dos demais índios e dos eventuais prisioneiros. Como, atualmente, não existem mais prisioneiros, a organização social se estabelece com o cacique sendo o detentor de maiores poderes e os demais índios. E isso ocorre inclusive no grupo Guarani, que, por sua vez, preserva o Karaí, que também é muito respeitado, mas ainda é a cacica que governa o grupo.

Ainda, a mobilidade é um fator a ser considerado uma vez que o movimento dos indígenas ainda existe, de forma bem reduzida se comparada com o passado, mas que ocorre entre grupos indígenas de diferentes regiões bem como de indígenas que vão em busca de oportunidades de estudo fora da TIG.

Dessa forma, ao observar e analisar esse contexto diferenciado, optamos por excluir as questões pertinentes a classe social. Todavia, seria impossível de realizarmos as relações entre as dimensões, característica fiel da DP, se excluíssemos essa dimensão, além de ser

58

impossível de organizarmos os dados em forma de cruz. Como, na metodologia utilizada, temos a dimensão diatópica cinética, que analisa as diferenças entre informantes topostáticos (informantes com residência estabelecida nas localidades que são pontos de inquérito) e topodinâmicos (informantes com mudança de residência recente), incluímos esses parâmetros adaptados ao contexto, em nossa análise, no lugar da classe alta (Ca) e classe baixa (Cb). Assim, classificamos diastraticamente os grupos em: topodinâmico, doravante Td, representada pelos informantes que saíram do local e retornaram, seja devido ao estudo ou a trabalho, ou qualquer outro motivo, no caso dos Kaingang. O mesmo critério é usado para o grupo fóg/juruá. No caso do grupo Guarani, por serem mais isolados, topodinâmicos são aqueles que vão com mais frequência para a cidade, e que acabam tendo mais contato com o juruá, ou que já viveram, inclusive, em outro local, que não a comunidade do Gengibre. O outro grupo será o topostático, doravante Ts, que será composto por informantes que nunca saíram da comunidade, ou seja, viveram sempre naquele local, ou pelo menos ¾ de vida na TIG para o grupo Kaingang. O grupo fóg/juruá é composto por informantes que sempre residiram nas cidades de Tenente Portela ou Redentora, ou que tenham vivido pelo menos ¾ de vida nessas cidades. Já para os Guarani, o grupo Ts será composto por informantes que tem pouca mobilidade para outros locais próximos como a ida para a cidade e que têm pouco contato com o juruá. Assim, utilizamos as dimensões topodinâmica e topostática dentro da dimensão diastrática.

Desta forma a cruz que apresentamos na sessão 3.5 passa a ter a seguinte estrutura:

Figura 5: Cruz adaptada de Thun (1996, 1998, 2010)

Fonte: Elaborada pelo autor (a).

4.2.3 Dimensão diageracional

Análises relativas à idade dos informantes também são realizadas, nas quais temos a Geração I (GI), que compreende informantes de 18 a 36 anos, e Geração II (GII), na qual

TdGII TdGI

TsGII TsGI

59

buscamos informantes com idade acima de 52 anos55, verificando, assim, se existem diferenças na manutenção, preservação ou perda de uma geração para outra. Algumas questões são pertinentes de serem explicadas, perante a realidade indígena, no que se refere à idade. Quando era perguntado aos indígenas o seu ano de nascimento, muitos informantes demoravam a responder, como se tivessem que “lembrar” o ano que nasceram, ou ainda, recorriam aos documentos de identidade e aos familiares que se faziam presentes. Tivemos um caso em que os informantes, analfabetos, nos ofereceram a documentação e, após verificarmos o ano de nascimento, nos questionaram: “Então, quantos anos eu tenho?”. Também, em conversa com profissionais da Emater, estes nos relataram que durante a realização dos cadastros das famílias no programa que executam, muitos indígenas diziam não saber sua idade. Ocorriam casos em que os filhos tinham pouca diferença de idade dos pais, o que indica que ocorreram erros nos registros, ou que, por terem outra noção do dia, mês e ano, se estipulou uma data, para que o registro fosse feito. Segundo Becker (1976, p. 245),

A avaliação da idade parece não ter sido encarada como nós a fazemos, é mais flexível; a idade de um indivíduo pode ser contata pelas fases de crescimento da taquara, isto é, por um TAQUARÁ ou espaço de tempo que medeia entre uma ou outra floração da taquara, variável entre 25 e 30 anos.

Em outras palavras, os indígenas não lidam com a idade da mesma forma que o não indígena, o que dificultou nossa seleção de informantes. Contudo, acreditamos que encontramos os informantes ideais, no que se refere à dimensão diageracional.

4.2.4 Dimensão diassexual

Questões relativas ao gênero homem e mulher também serão relacionadas, uma vez que poderemos verificar se existem diferenças na manutenção, preservação ou perda da língua indígena perante os diferentes gêneros. Desta forma, utilizamos a letra M (masculino) para nos referirmos ao homem, e F (feminino), para mulher.