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Análise do Projeto Pedagógico

CAPÍTULO 3 ÉTICA NA EDUCAÇÃO: UM COMPONENTE DE MUDANÇA DE

3.2 A questão ética vista pelos profissionais e estudantes da escola Maria Amália

3.2.2 Análise do Projeto Pedagógico

A Direção da referida Escola e o corpo docente tomaram como base para elaboração da Proposta Político-Pedagógica, o Artigo 205 da Constituição Federal:

A educação é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (MORRO AGUDO, 2006, p. 01)

Alem de citar especificamente o Artigo 205 da Constituição Federal, a Escola faz referência, no seu Projeto Pedagógico, à lei de Diretrizes e Base da Educação, ao Estatuto da Criança e do Adolescente e aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Entretanto, não explicita quais pontos desses documentos foram usados para a elaboração da Proposta Político- Pedagógica.

Constatamos que a primeira preocupação da escola, segundo sua Proposta Político- Pedagógica, é com relação às mudanças rápidas e constantes apresentadas pelo século XXI, provocando mudanças de paradigmas provocadas pela Globalização e outros fatores de ordem político-social-econômica, o que faz surgir novas exigências do mundo do trabalho.

Conforme a Proposta, em função do novo modelo de sociedade as habilidades e competências para se viver de forma saudável e produtiva também mudaram, exigindo outras aptidões para que o aluno seja capaz de ser um cidadão dos novos tempos, plenamente integrado em seu ambiente. Assim, alguns princípios são importantes para a prática educativa da escola como: “formar a pessoa integral, capaz de tornar-se o agente de sua própria história e participante ativo da sociedade em que vive”. (MORRO AGUDO, 2006, 01)

Gostaríamos de salientar que se por um lado o Projeto Pedagógico se preocupa com a cidadania, que é uma das categorias de nossa pesquisa, por outro, ele não esclarece como a Escola vai operacionalizar esse princípio, ou seja, com quais critérios, qual método e quais recursos pretende atingi-lo.

Outro principio contemplado pelo Projeto Pedagógico: “dar condições de responder aos desafios de nosso tempo, formando cidadãos capazes de transformar a sociedade de modo a torná-la justa”. (MORRO AGUDO, 2006, p..01)

Este é mais um princípio de grandeza pedagógica, que extrapola a dimensão técnica da Escola e invade a sua dimensão política, tornando-a mais um meio de construção de uma sociedade justa. Este princípio vai de encontro a mais uma de nossas preocupações que é a justiça, pois entendemos educação como todo ato humano que provoca justiça nas relações entre as pessoas.

Considerando que vivemos atualmente numa sociedade bastante plural, com interesses muito diferentes, com prevalência do capital sobre o humano propriamente e lembrando ainda que a Escola concorre com fortes ideologias que incentivam muito mais ao consumo a aparência, ao ter e ao relativismo axiológico do que ao respeito integral à pessoa humana, a questão central é como colocar em prática esse honroso princípio.

O Projeto Pedagógico ainda propõe como meta maior para a Escola: “a formação de pessoas equilibradas, cidadãos de alto nível moral, capazes de interferir nos processos sociais, superando dificuldades, vencendo barreiras sempre dando total atenção à dignidade humana” (MORRO AGUDO, 2006, p. 01).

São metas, além de ousadas, profundamente conscientes e humanistas, já que em seu bojo, trazem a reta intenção de formação integral do ser humano, não só preparado para o mercado de trabalho como também íntegro na convivência social.

Como ficam esses princípios, ou metas, propostas pelo Projeto Pedagógico da referida Escola diante da afirmação de Gadotti (2003, p. 148): “[...] a educação numa sociedade de classes transmite os modelos sociais da classe dominante, forma os cidadão para reproduzirem essa sociedade, difunde as idéias políticas dessa classe e reproduz, por isso tudo, a dominação de classe”.

A Escola precisa desenvolver de maneira consciência o seu papel. Ter clareza sobre suas possibilidades e limites, seus profissionais precisam estar conscientes da necessidade da construção dialética do conhecimento, não apenas técnico, mas, sobretudo humano. Ainda segundo Gadotti (2003, p. 150 ): “O profissional do ensino não é um técnico, um especialista, é antes de mais nada um profissional do humano, do social, do político”.

Entre a Proposta do Projeto Pedagógico da Escola Maria Amália Volpon de

Figueiredo e a realidade do mundo atual existe um paradoxo; enquanto o Projeto Pedagógico propõe criar um ambiente educacional que enfatize o desenvolvimento da pessoa humana como um todo, levando em consideração valores como a dignidade e o respeito próprio, respeito às diferenças e a todos, respeito pela vida em todas as suas formas, respeito ao meio ambiente, acreditar que o ser é mais importante que o ter, formar um individuo solidário e equilibrado que saiba conviver em harmonia, o mundo atual, impulsionado pela lógica do capital, incentiva o materialismo, o consumismo, o relativismo ético-moral, a aparência, o prazer, o individualismo.

Ter consciência desse paradoxo é o primeiro passo para o enfrentamento dessa realidade, buscando alternativas político-pedagógicas para a superação do mesmo. Para tanto, é importante que a equipe escolar tenha conhecimento e clareza de qual é o seu papel no processo de transformação da realidade. Esse processo alem de conhecimento, exige coragem, criatividade, motivação e, acima de tudo, acreditar na libertação do homem, no sentido de torná-lo autêntico, solidário e justo.

Pela análise do Projeto verificamos que a Proposta Pedagógica da Escola tem como objetivo: a autonomia intelectual do aluno e a valorização da prática interdisciplinar, possibilitando uma visão de conjunto, o desenvolvimento de competências para a laboralidade e a busca constante de novos processos de ensino-aprendizagem e novas concepções pedagógicas.

Esses pontos do Projeto Pedagógico nos reportam ao livro do Pedro Demo Saber Pensar, quando o autor afirma:

Fala-nos de autonomia, de cidadania, de lógica, de jeito, de aprender, de saber cuidar, inovar e acreditar, mostrando-nos como temos descuidado da construção dessa autonomia, dessa cidadania e como não temos sabido cuidar dos nossos alunos. “...o problema do saber, do pensar, do saber pensar necessário às pessoas, aos professores-pesquisadores-professores e ao desenvolvimento humano no próximo milênio”. (2005, p.13)

Alem de não termos sabido cuidar dos alunos como diz Pedro Demo, será que os professores, os educadores têm sabido cuidar bem deles próprios? Será que temos sabido cuidar do meio ambiente?

Saber cuidar implica a ampliação do conhecimento, não o conhecimento colonizador, depredador da natureza, apenas técnico, capaz de interferir na realidade tão somente para tirar proveito dela, mas o conhecimento suficientemente maduro, responsável de modo que possa contribuir com a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Vivemos hoje na “sociedade do conhecimento”, porém um conhecimento que tem como principal motor o mercado liberal onde ciência e tecnologia são sua dinâmica central. Está em jogo um sistema que tem como objetivo primeiro o lucro e não o ser humano ou a natureza como tal. Sobre os riscos desse conhecimento Pedro Demo alerta: “Quando o conhecimento dorme na mesma cama do Capitalismo, o adultério é flagrante”. (2005, p. 59).

Chega de “qualidade total” para o mercado, de produtividade, precisamos de qualidade total para o ser humano. Precisamos entender que o conhecimento que nasce do ser humano não pode se voltar contra ele, há que se usar o conhecimento para libertá-lo e

não para oprimi-lo, para explorá-lo, para excluí-lo.

Portanto, a proposta do Projeto Pedagógico da Escola Maria Amália Volpon de Figueiredo, de possibilitar ao aluno o acesso ao conhecimento, não só para que ele possa compreender a realidade, mas intervir nela promovendo sua transformação, contempla as necessidades dos tempos atuais.

Sem dúvida que é papel da Escola formar tecnicamente o aluno, para que ele possa prosseguir seus estudos ou ter acesso ao mundo do trabalho, mas como lembra o Projeto Pedagógico da Escola em questão, outro grande objetivo é formar o educando com consciência crítica e capacidade para agir com responsabilidade, flexibilidade e Ética diante da sociedade.

O presente Projeto Pedagógico em linhas gerais traz propostas e idéias avançadas e coerentes com as necessidades dos tempos atuais, embora salientando mais uma vez, não deixa claro como operacionaliza essas propostas. Destacamos a importância da Escola ter planejamento, objetivos claros, ter metas e critérios para poder atingi-los. Entretanto, gostaríamos de lembrar que em educação tudo é um processo e que, educação se faz educando-se. Nesse sentido, como ele mesmo propõe, esse Projeto possibilita educar para a cidadania solidária.