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Educação: um processo de libertação

CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO E SUAS POSSIBILIDADES

2.1 Educação: o despertar da consciência

2.1.2 Educação: um processo de libertação

Para esse tipo de educação, exigi-se um educador democrático, crítico, consciente e aberto ao diálogo, contribuindo, dessa forma para tornar a educação um processo de libertação. O educador só será assim, na medida em que for capaz de estimular à pergunta, a reflexão crítica, a curiosidade epistemológica nos educandos. A tarefa da educação é romper com as manchas que guardam o indivíduo sob a condição opressora. Libertá-lo da sua condição subalterna, inferior, produzindo um processo de libertação em que se passa da inconsciência à consciência, da passividade à um ser produtor de cultura e sujeito da seu próprio destino.

Não podemos entender a opressão como um dado da natureza e, muito menos como um fruto natural das relações humanas, como algumas concepções pretendem fazer entender. A opressão é conseqüência do domínio de uma classe sobre outra, de um país sobre outro. Para se manter, a opressão exerce um forte poder de persuasão sobre as mentalidades.

Contra tudo isso, é importante que o educador desempenhe, de forma consciente, a tarefa de humanista, a fim de despertar no educando, a consciência necessária para promover sua libertação. Humanizar é despertar o sentido criativo da educação estimulante, produtiva, conscientizadora e transformadora.

Para que ocorra o processo de libertação é fundamental segundo Bittar estar sempre:

[...] instigando a mentalidade da pesquisa e da busca autônoma pelo saber, demonstrando as causas e as razões da opressão, motivando o diálogo e ouvindo o que o educando tem a dizer, assumindo eticamente sua responsabilidade profissional e social com a cidadania e a responsabilidade política, demonstrando e agindo para a vida e negando a morte abortiva das mentalidades, permitindo que a liberdade invada os modos pelos quais as prática pedagógicas se fazem, assumindo atitudes democráticas na condução dos trabalhos acadêmicos, tornando-se um educador-investigador para trazer sempre novos estímulos aos alunos e a si mesmo, combatendo toda forma de exclusão social que se possa instaurar dentro da escola ou da sala de aula, instaurando e assumindo a politicidade do mister educacional, formando e informando o educando quanto à sua própria realidade histórico-social, veiculando a paixão pela mobilização que a educação é capaz de proporcionar, vivenciando por suas atitudes o compromisso assumido com a sala de aula, são algumas formas de dar passos em direção à libertação do oprimido de sua condição, bem como em direção à formatação de uma nova conjuntura educacional capaz de motivar a superação do povo brasileiro pelas suas próprias forças”. ( 2004, p. 102- 103)

Nesse sentido, o objetivo educacional é aprimorar a consciência ética e a formação integral do estudante como pessoa humana. Educar é formar para o exercício da cidadania, que não se resume apenas no direito de todos, mas acima de tudo na emancipação de uma

sociedade. Quem defende a luta por um sistema forte de educação, luta pelo futuro da cidadania, dos direito humanos e da democracia.

As características de um povo podem ter muito a ver com sua educação. Nesse sentido a educação quando é crítica e democrática torna-se um elo de libertação importante para um povo. A cidadania que se busca aqui não é apenas o mero conjunto de direitos e deveres legais, mas a cidadania ativa, participativa, crítica, produtiva, dinâmica e libertadora.

Dissociar educação e cidadania não é criar ideologias e fundamentos para a alienação do povo? Ao separar educação de cidadania não se cria a ilusão de que o subversivo é aquele que está contra o poder estabelecido e o respeitador da ordem é aquele que defende ou reproduz esse poder, quando a realidade demonstra exatamente o contrário? Quando ocorre o adestramento do sistema educacional a um sistema politicamente dominante, provoca-se o retardo da consciência crítico-reflexiva.

A libertação de um povo de suas sujeições a diversas formas de opressão, inclusive o colonialismo cultural, se faz através do fortalecimento do sistema educacional, com incentivos concretos e paupáveis, com uma política de capacitação e valorização dos profissionais da área de educação, permitindo a ele a valorização de suas práticas tradicionais e a liberdade de organização.

Para Bittar:

Cabe seja dito: educação e cidadania, mas também: educação para a cidadania. Ainda, é legítimo dizer: cidadania na educação. Essas relações estão a denunciar a complexa trama de significações que podem assumir os dois termos se colocados em experiências laterais, de mútua cooperação e imbricação. É fundamental que se pensem essas dimensões, a ponto de, a partir delas, se analisar o próprio projeto educacional brasileiro. ( 2004, p. 110).

Educar é enriquecer o educando por dentro, é atualizar as suas potencialidades.

Educar é possibilitar os recursos, os exemplos, o ambiente, a fala, de maneira que por si mesmo, e só por si mesmo, o educando consiga se desenvolver integralmente. Portanto, a educação é cada vez mais auto-educação, pois quem atualiza suas capacidades é o próprio educando. Em educação, boas são as ações e as coisas que ajudam no desabrochar das potencialidades do educando, conforme sua natureza racional, enriquecendo-o e preparando-o para o enfrentamento das adversidades. Para Tobias (1986, p. 74): “Educação é, pois a atualização das “boas” potencialidades da pessoa, enquanto pessoa”.

Educar, segundo os princípios humanistas, necessariamente inclui amor, aliás, o amor deve formar o fundamento e vitalizar toda educação. Em educação as finalidades têm uma importância fundamental, primeiro porque a pessoa pode desconhecê-las e não usá-las,

perdendo energias do mundo educacional e, depois, porque, não possuindo a finalidade verdadeira, pode colocar finalidades deficientes ou deletérias e resultar energias que irão funcionar em sentido destrutivo, podendo prejudicar gerações inteiras e causar males à sociedade e ao bem comum.

Nesse sentido, a formação do educador, isto é, a visão de mundo do educador, o conceito de pessoa e de sociedade que ele tem e o ambiente vai determinar o fim último da educação. Afinal, a essência da educação consiste em formar integralmente o homem, em formar um cidadão eficaz. Não é de bom senso opor a educação à pessoa e ao bem geral, pelo contrário, a educação, como possibilidade que tem de desenvolver as potencialidades do ser humano, deve se colocar a favor do desenvolvimento do homem e da construção do bem comum.

Por isso, é preciso cuidar da educação para que ela eduque de verdade, mutilar a educação é mutilar o homem. A transformação da sociedade não virá de um punhado de violentos e corruptos, mas de uma multidão de educadores esclarecidos, lúcidos, corajosos e éticos, para formar, a despeito de tudo, o homem de uma humanidade melhor. Se isto é utópico por demais, não o é, querer formar um povo livre e adulto ao invés de querer formar gerações de seres infantis e alienados.

Educação que se preza como tal, se apresenta sempre como aquilo que pode formar o homem, permitindo-lhe ser adulto e cumprir sua tarefa de homem. Tem, pois, sempre, alcance moral. Ora, os valores morais, podem não ser nem sociais, nem utilitários, porém sem eles o homem não se torna homem e adulto. Porque, ser homem é, com efeito, ser capaz de coragem, discernimento, justiça e domínio de si, o que representa as virtudes cardeais apontadas por Platão: a coragem, a sabedoria, a justiça e a temperança.

Dessa forma, educar é contribuir para que o homem assuma verdadeiramente sua condição humana, como indivíduo, sociedade e espécie, a fim de que este mesmo homem alcance a humanidade em si mesmo e assuma o destino humano em suas antinomias e plenitude.